sexta-feira, 24 de maio de 2019

Construção


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Chico Buarque



Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último


Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado 






"Construção" é uma canção do cantor e compositor brasileiro Chico Buarque, lançada em 1971 para seu álbum homônimo. Junto com "Pedro Pedreiro", é considerada uma das canções mais emblemáticas da vertente crítica do compositor, "podendo-se enquadrar como um testemunho doloroso das relações aviltantes entre o capital e o trabalho".

A letra foi composta em versos dodecassílabos (alexandrinos), que sempre terminam numa palavra proparoxítona. Os 17 versos da primeira parte (quatro quartetos, acrescidos de um verso-desfecho) são praticamente os mesmos dezessete que compõem a segunda parte, mudando apenas a última palavra.

Verso alexandrino é o verso composto por doze sílabas poéticas. No contexto geral, é o segundo verso mais longo, em estrofes isométricas, apenas superado pelos versos alexandrinos arcaicos, com quatorze sílabas. Conhecido também como Alexandrino Clássico ou Alexandrino Francês, está presente em poesias extremamente trabalhadas gramática e foneticamente, como as parnasianas, porém continuam e são utilizadas largamente até os dias de hoje. Em Língua Portuguesa o verso Alexandrino Francês foi sistematizado por António Feliciano de Castilho e o primeiro poeta a utilizar esse verso em larga escala no Brasil foi Machado de Assis, ainda no período estético do Romantismo.



O tema da canção de Chico Buarque é o cotidiano de uma trabalhador na construção civil. A forma que os versos são cadenciados nos dão a ideia de uma construção, de um movimento que começa, abranda e volta.

Outra característica importante no ritmo da letra é que todos os versos terminam com proparoxítonas. São dezessete proparoxítonas que se intercalam nos 41 versos que compõem a canção.

A repetição das palavras gera um efeito de homofonia, no qual os sons iguais que se repetem causam uma unidade rítmica, e também corroboram com o tema do cotidiano, no qual dias vão passando, uns seguidos dos outros, com pequenas variações. Os arranjos são do maestro Rogério Duprat, em uma melodia repetitiva, desenvolvida inicialmente sobre dois acordes. A música, entretanto, tem harmonia bem mais complexa.


A canção foi feita em um dos períodos mais severos da ditadura militar brasileira, em meio à censura e à perseguições políticas. Chico Buarque havia retornado da Itália em março de 1970, país onde vivia desde o início de 1969, ao tomar distância voluntária da repressão política brasileira. 

A canção já foi eleita em enquete da Folha de S.Paulo como a segunda melhor canção brasileira de todos os tempos e, por eleição na revista Rolling Stone, a "maior canção brasileira de todos os tempos".





                         Construção - Chico Buarque de Hollanda





O narrador observa, organiza e comunica os acontecimentos, ocorridos numa história circular, cantada em melodia reiterativa e que modifica o ângulo de observação a cada repetição da letra com a troca de comparações ("Ergueu no patamar quatro paredes sólidas/mágicas/flácidas"), mas que no final encaminha para o mesmo fim, uma morte.

A letra contém uma forte crítica à alienação do trabalhador na sociedade capitalista moderna e urbana, reduzido a condição mecânica - intensificado especialmente por seus atos no terceiro bloco da canção ("máquina", "lógico"). Quando esse trabalhador ("um pacote flácido/tímido/bêbado") morre, a constatação é de que sua morte apenas atrapalha o "tráfego", o "público" ou o "sábado"; ou seja, a letra trata da invisibilidade do trabalhador comum, do gari, do varredor, do morador de rua, que só são notados quando "atrapalham" o cotidiano da cidade. Esse tema também foi abordado no filme "A hora da  Estrela" de 1985, de Suzana Amaral, baseado num conto de Clarice Lispector.

Ainda assim, Chico declarou, em entrevista concedida à revista Status, em 1973, que "Construção" não era para ele uma música de denúncia ou protesto. "(...) Em Construção, a emoção estava no jogo de palavras. Agora, se você coloca um ser humano dentro de um jogo de palavras, como se fosse... um tijolo - acaba mexendo com a emoção das pessoas."

Chico foi agraciado com o prêmio 31 º Prêmio Camões, pelo conjunto de sua obra que inclui, ficção, teatro e é claro o vastíssimo conjunto de suas produções musicais, que o qualifica como um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos.



O Camões foi criado em 1988 e é considerado o principal prêmio da literatura em língua portuguesa. Chico é o 13º brasileiro a levar a honraria, que premia escritores pelo conjunto da obra com 100.000 euros. 


Fontes:
wikipedia.org
gamaell.com.br
google.com.br
youtube.com
culturagenial.com
veja.abril.com.br

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