terça-feira, 30 de janeiro de 2024



Funções da palavra Se:




A palavra "SE" em português pode pertencer a várias categorias gramaticais, podendo ser: 1. Conjunção: quando relaciona entre si duas orações. Neste caso, não exerce função sintática. Enquanto conjunção a palavra SE pode ser:

1.1. Conjunção subordinativa integrante: quando inicia uma oração subordinada substantiva.

Exemplo: Perguntei se ela estava bem.

1.2. Conjunção subordinada condicional: quando inicia uma oração subordinada adverbial condicional. 

Exemplo: Se todos tivessem estudado, as notas seriam altas.

2. Partícula expletiva ou realce: quando pode ser retirada da frase sem prejuízo algum no sentido da oração. Exemplo: Passavam-se dias e nada acontecia.

Partícula de realce ou expletiva

O uso do “se” enquanto partícula de realce é opcional. O fato de ele não ser usado não causa nenhum tipo de prejuízo ao sentido da frase.

Além do “se”, o “que” também pode exercer função de partícula expletiva.

Ambos têm o papel destacar; realçar determinada informação de uma frase.

Exemplos:Riu-se da piada do irmão.
Foi-se embora para nunca mais voltar.
O senhor estava cansado e se sentou.
Do que que ele está falando?
Os dias se passavam e nada de notícias dele.

3. Parte integrante do verbo: faz parte dos verbos pronominais: queixar-se; apiedar-se, arrepender-se, zangar-se; romper-se, etc.




Exemplo: Romperam-se os laços que uniam a colônia à metrópole.




4. Partícula ou pronome apassivador: quando ligada a verbo transitivo direto, torna a oração passiva.




Exemplo: Vendem-se casas. 5. Índice de indeterminação do sujeito: quando vem ligada a um verbo que NÃO é transitivo direto, tornando o sujeito indeterminado. Exemplo: Trabalha-se de dia.



Índice de indeterminação do sujeito ou pronome indefinido

Quando exerce a função de pronome indefinido, o “se” é utilizado com verbos flexionados na terceira pessoa do singular.

Esses verbos podem ser intransitivos, transitivos indiretos ou de ligação.

O pronome indefinido é utilizado quando não se quer ou não se pode identificar o sujeito da frase.

Exemplos:Fala-se muito do coronavírus.
Morre-se de fome e sede naquela região.
Acreditava-se que tudo terminaria bem.
Vive-se com dificuldade neste país.
Confia-se no que foi prometido.


3. Parte integrante do verbo

Essa classificação dá-se quando o “se” faz parte de verbos pronominais.

Exemplos:Bianca se machucou ao cair do escorrega.
As crianças se perderam no parque.
Eles se encantaram com a beleza da cidade.
A professora se aborreceu com a turma.
Ela se envolveu na discussão desnecessariamente.

. Pronome reflexivo

Quando desempenha essa função, o “se” faz parte de verbos pronominais reflexivos, ou seja, de verbos que indicam que o sujeito da frase praticou e recebeu a ação.

Exemplos:Giulia se cortou com a tesoura.
Paula se furou em um alfinete.
Natália está se penteando para sair.
O filhote de gato estava se lambendo.
Vanessa já se arrumou para a premiação.



5. Pronome reflexivo recíproco

Quando exerce a função de pronome reflexivo recíproco, o “se” é usado em frases na voz passiva recíproca e indica que uma ação verbal ocorreu de forma mútua, ou seja, um fez um ao outro e vice-versa.

Exemplos:Eles se abraçaram e tudo terminou bem.
Depois da festa, os amigos se despediram e foram embora.
Aline e Leonardo se olharam apaixonados.
As crianças desta turma se entendem muito bem.
Naquela família, todos se amam muito.



Pronome apassivador ou partícula apassivadora

Ao exercer a função de pronome apassivador/partícula apassivadora, o “se” é indicativo de voz passiva sintética e estabelece relação com verbos transitivos diretos ou verbos transitivos diretos e indiretos.

Exemplos:Venderam-se várias casas.
Compra-se ouro.
Alugam-se quartos para estudantes.
Entregam-se encomendas.
Poupou-se dinheiro com a compra de roupas usadas.

Para confirmar se a função do “se” é de partícula apassivadora, basta converter a frase na voz passiva sintética para a voz passiva analítica:Várias casas foram vendidas.
Ouro é comprado.
Quartos para estudantes são alugados.
Encomendas são entregues.
Dinheiro foi poupado com a compra de roupas usadas.




6. Pronome reflexivo: quando equivale a "si mesmo". Com o pronome reflexivo a ação recai sobre o próprio sujeito: Exemplo: Ele cortou-se com a faca.




A classificação do "se" enquanto conjunção subdivide-se em causal, condicional e integrante.
1. Conjunção subordinativa causal

Conforme a classificação já demonstra, essa conjunção é indicativa de causa.

Ela é bastante usada, mas muitas vezes confundida com a conjunção subordinativa condicional; a que indica condição.

Para se certificar de que o “se” de uma determinada frase é uma conjunção subordinativa causal, basta substituí-lo por “já que” ou “uma vez que”.

Exemplos:Se não tinha dinheiro, não deveria ter viajado.
Deveria ter feito o trabalho se estava disponível.
Se ela diz que é neutra, não deveria tomar partido de ninguém.
Não deveria ter se intrometido se ninguém pediu a sua opinião.
Se eles não entraram em contato, você poderia telefonar para o escritório.

Observe que, mesmo quando fazemos a substituição do “se” por “já que” ou “uma vez que”, as frases continuam fazendo sentido:Já que não tinha dinheiro, não deveria ter viajado.
Deveria ter feito o trabalho uma vez que estava disponível.
Uma vez que ela diz que é neutra, não deveria tomar partido de ninguém.
Não deveria ter se intrometido já que ninguém pediu a sua opinião.
Uma vez que eles não entraram em contato, você poderia telefonar para o escritório.
2. Conjunção subordinativa condicional

Conforme se subentende pelo nome, ela indica a existência de uma condição para que algo ocorra.

Exemplos:Se eu pudesse, teria ficado mais tempo.
Ele disse que vai comprar uma casa se ganhar na loteria.
Se eles conseguirem passar no teste, começarão a trabalhar semana que vem.
Ela disse que não virá se chover.
Se você me esperar, posso te dar carona.

Observe que nas frases acima, a oração com “se” indica a condição necessária para que a ação da outra oração se concretize.

3. Conjunção subordinativa integrante

Sob essa classificação, o “se” introduz uma oração que desempenha papel de substantivo. Esse papel é uma função do "que" e do "se".

As frases introduzidas por conjunções subordinativas integrantes funcionam como sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo, complemento nominal ou aposto de outra oração.

Exemplos:

É necessário que eles terminem o relatório. (sujeito)
Ele conferiu se ela tinha chegado. (objeto direto)
Ele se convenceu de que eu estava certa. (objeto indireto)
Certifique-se de que ele faz o trabalho. (complemento nominal
Minha dúvida é se ele aceitará a proposta. (predicado)
Essa é a minha vontade: que você seja feliz. (aposto)


Fontes :


educacao.uol.com.br
todamateria.com.br

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

 Vamos falar hoje do poeta Augusto dos Anjos.





Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, conhecido como Augusto dos Anjos, nasceu no engenho "Pau d'Arco", na Paraíba, no dia 22 de abril de 1884. Era filho de Alexandre Rodrigues dos Anjos e de Córdula de Carvalho Rodrigues dos Anjos.

Recebeu do pai, formado em Direito, as primeiras instruções. No ano de 1900 ingressou no Liceu Paraibano e nessa época compôs seu primeiro soneto, "Saudade".

Augusto dos Anjos estudou na Faculdade de Direito do Recife entre 1903 e 1907. Formado em Direito retornou para João Pessoa, capital da Paraíba, onde passou a lecionar Literatura Brasileira, em aulas particulares.

Saudade

Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
E o coração me rasga atroz, imensa,
Eu a bendigo da descrença, em meio,
Porque eu hoje só vivo da descrença.

À noute quando em funda soledade
Minh’alma se recolhe tristemente,
P’ra iluminar-me a alma descontente,
Se acende o círio triste da Saudade.

E assim afeito às mágoas e ao tormento,
E à dor e ao sofrimento eterno afeito,
Para dar vida à dor e ao sofrimento,
Da saudade na campa enegrecida
Guardo a lembrança que me sangra o peito,
Mas que no entanto me alimenta a vida.


Nesse poema o autor incorpora a dor da saudade como uma benção, que ao mesmo tempo que lhe faz sangrar a alma, o alimenta sua vida.

Embora influenciado pelos movimentos Simbolistas e Naturalista, o poeta não pertence a nenhum deles. Pertence à classe dos poetas Pré-Modernistas. É tido como o poeta mais sombrio da Literatura Brasileira. Seus versos sofridos e melancólicos expressam sua dor, mas ao mesmo tempo trazem beleza com suas construções originais.


Versos íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!





Em 1908, Augusto dos Anjos foi nomeado para o cargo de professor do Liceu Paraibano, mas em 1910 foi afastado da função por se desentender com o governador. Nesse mesmo ano casou-se com Ester Fialho e mudou-se para o Rio de Janeiro depois que sua família vendeu o engenho Pau d'Arco.

No Rio de Janeiro, Augusto dos Anjos lecionou literatura em diversos cursinhos. Lecionou Geografia na Escola Normal, depois, no Instituto de Educação e no Ginásio Nacional. Em 1911 foi nomeado professor de Geografia no Colégio Pedro II. Durante esse período publicou vários poemas em jornais e periódicos.


"Augusto dos Anjos foi poeta de um livro só, intitulado Eu. Isso se deu em parte por sua morte prematura, em parte pelo gosto literário da época, que deliberadamente ignorou seu volume de poemas, ou o rechaçou veementemente. Olavo Bilac, bastante famoso em sua época, tomou conhecimento da existência do poeta apenas depois de sua morte e ao ouvir declamado um dos poemas de Augusto dos Anjos, disse: “Fez bem em morrer, não se perde grande coisa”.

A arrogância, petulância e insensibilidade do “príncipe dos poetas” parnasiano não poderia se provar mais errada: Augusto dos Anjos obteve fama póstuma. A terceira edição de seu livro de poemas, publicada em 1928, adicionou mais alguns escritos à coletânea, passando a se chamar Eu e outras poesias e vendeu 3 mil exemplares em 15 dias e 5.500 exemplares em dois meses. O livro já ultrapassa as 40 edições e Augusto dos Anjos segue sendo um dos poetas mais lidos do Brasil."






Psicologia de um Vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro da escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – esse operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!


Fontes:

culturagenial.com
ebiografia.com
recantodasletras.com.br
brasilescola.uol.com.br
wp.ufpel.edu.br

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

 A outra volta do parafuso ( "The turn of screw") - Henry James


"The story had held us, round the fire, sufficiently breathless, but except the obvious remark that it was gruesome, as, on Christmas Eve in an old house, a strange tale should essentially be, I remember no comment uttered till somebody happened to say that it was the only case he had met in which such a visitation had fallen on a child"

"A história nos mantivera em suspense em torno do fogo, mas à parte da óbvia reflexão de que era horrível, como essencialmente deve ser toda história estranha contada na véspera de Natal, numa velha casa, não me lembro que sobre ela se fizesse algum comentário, até que alguém lembrou que era o único caso assim sobre uma criança...."

 

Henry James

Assim começa "The turn of screw" em português" A outra volta do parafuso, do escritor americano Henry James. O título em si parece um pouco inexplicável, já no começo do livro o autor apresenta uma justificativa: " a child is menaced by some ghostly terror, a party guest suggests that the fact that the story's protagonist was a child is what gives a certain "turn of the screw" – that is, it tightens the dramatic tension".

Seria mais ou menos como quando ouvimos ou assistimos um conto ou uma cena de tensão, ou terror apertássemos algo com as mãos, um lençol, um travesseiro, a mão do/da acompanhante. Me lembro do filme "Um dia depois de amanhã onde o personagem no avião durante uma grande turbulência aperta a mão da garota ao seu lado.




Este clássico do terror conta a história de uma governanta que é contratada para cuidar de duas crianças em uma grande casa inglesa. Até que ela descobre que a casa é frequentada por fantasmas. O suspense aumenta: ela começa a desconfiar que as crianças, de uma beleza mais que terrena e bondade absolutamente incomum, não só enxergam esses espíritos, como também convivem com eles.







Na véspera de Natal, um narrador não identificado ouve Douglas, um amigo, ler um manuscrito escrito por uma antiga governanta a quem Douglas afirma ter conhecido e que agora está morta. O manuscrito conta a história de como a jovem preceptora fora contratada no passado por um homem que se tornara responsável por duas crianças, um sobrinho e uma sobrinha, depois da morte de seus pais, mas que não tivera interesse em criá-los, preferindo deixá-los a cargo de uma governanta. Ele vive em Londres, mas também tem uma casa de campo, Bly.




O menino, Miles, frequenta um colégio interno, enquanto sua jovem irmã, Flora, vive na casa de campo em Essex, aos cuidados da caseira, Mrs. Grose. O tio de Miles e Flora, o patrão da nova governanta, dá a ela o cuidado completo da educação das crianças, deixando-lhe ordens explícitas de não incomodá-lo com qualquer tipo de informação, em nenhuma circunstância, e a governanta então se muda para a casa de campo para iniciar seu trabalho.

Miles retorna para casa no verão, após a chegada de uma carta da direção da escola, informando que ele foi expulso. Miles jamais fala sobre tal acontecimento, e a governanta hesita em falar sobre a questão, pois teme que haja algum terrível segredo atrás dessa expulsão, e ao mesmo tempo sente-se cativada pelo adorável garoto, evitando pressioná-lo para descobrir mais. Começa, porém, a observar nos passeios na propriedade, a presença de um homem e de uma mulher que ela não conhece. Tais personagens vêm e vão sem serem notados por outros serviçais da casa, e são sentidos pela governanta como sobrenaturais. Ela descobre através de Mrs. Grose que a governanta sua predecessora, Miss Jessel, e um outro empregado, Peter Quint, tinham tido um relacionamento sexual, e percebe que, após suas mortes, Jessel e Quint costumam conviver com Flora e Miles, o que lhe convence do sinistro significado, de que as duas crianças estão secretamente conscientes da presença dos fantasmas.

Uma tarde, sem sua permissão, Flora deixa a casa enquanto Miles toca piano, e a governanta acompanhada de Mr. Grose a procura, indo encontrá-la à margem do lago, o que convence a governanta de que Flora foi falar com o fantasma da Miss Jessel, porém ao confrontar Flora, ela nega ter visto Miss Jessel. Por sugestão da governanta, Mrs. Grose leva Flora para seu tio, deixando a governanta com Miles, que naquela noite finalmente fala com ela sobre sua expulsão do colégio; o fantasma do Quint aparece para a governanta na janela. A governanta então protege Miles, que tenta ver o fantasma. A governanta percebe então que ele já não está controlado pelo espírito, mas morreu em seus braços, e o fantasma desapareceu.

No capítulo II o autor deixa muito claro a  displicência do tio das crianças que as deixou aos cuidados da governa e de outros criados sem nem mesmo querer saber noticias de ambos.





"The postbag, that evening—it came late—contained a letter for me, which, however, in the hand of my employer, I found to be composed but of a few words enclosing another, addressed to himself, with a seal still unbroken. “This, I recognize, is from the headmaster, and the headmaster’s an awful bore. Read him, please; deal with him; but mind you don’t report. Not a word. I’m off!” I broke the seal with a great effort—so great a one that I was a long time coming to it; took the unopened missive at last up to my room and only attacked it just before going to bed. I had better have let it wait till morning, for it gave me a second sleepless night. With no counsel to take, the next day, I was full of distress; and it finally got so the better of me that I determined to open myself at least to Mrs. Grose.


“What does it mean? The child’s dismissed his school.”





"O correio - que chegou com atraso - trouxe-me uma carta de meu patrão. Continha poucas palavras e encerrava outras palavras que não tinha sido aberta, endereçada para ele próprio. Logo reconheci a letra do diretor do colégio. Dizia-me o meu patrão - ele é uma pessoa enfadonha, leia a carta e entenda-se com ele. Mas não me diga nada, nem uma palavra, estou de viagem. Abri com dificuldade o envelope lacrado, não querendo lê-lo de imediato. Levei-o para o meu quarto e li antes de dormir, talvez fosse melhor ter deixado para lê-lo no dia seguinte. Passei mais uma noite em claro."

"O que significa isso ! A criança foi expulsa da escola ?"




O livro de Henry James se passa na era vitoriana, de costumes rígidos e pragmáticos. A governanta, pouco a pouco, vai descobrindo o mistério em torno das duas crianças que se relacionam com dois ex empregados da casa a Sra. Jessel e Peter Quint.

A casa com ares sombrios também ajudava a tornar o ambiente carregado e fantasmagórico.

O especialista em literatura inglesa Oliver Elton escreveu em 1907 que “Há... dúvida, levantada e mantida em suspenso, se, afinal, os dois fantasmas que podem escolher para quais pessoas eles aparecerão, são fatos, ou delírios da jovem preceptora que narra a história”. Edmund Wilson foi outro que propôs o questionamento da sanidade da governanta, postulando a repressão sexual como a causa de suas experiências. Wilson eventualmente mudou sua opinião, após considerar a descrição pormenorizada de Quint do ponto de vista da governanta. John Silver, porém, salientou questões na história que levariam a creditar que a governanta poderia ter conhecimento prévio da aparência de Quint de forma não-sobrenatural. Isso induziu Wilson a retornar à sua opinião original, de que a governanta estava delirando e que os fantasmas existiam apenas na sua imaginação.


William Veeder vê a eventual morte de Miles como induzida pela governanta. Em uma complexa leitura psicanalítica, Veeder conclui que a governanta expressa a raiva reprimida por seu pai e pelo mestre de Bly sobre Miles.


Outros críticos, no entanto, têm defendido a governanta. Eles defendem que as cartas de James no prefácio da Edição de Nova Iorque, e o seu Notebooks of Henry James não contêm nenhuma evidência definitiva de que The Turn of the Screw tenha sido concebido como algo diferente de uma simples história de fantasmas, e James certamente escreveu outras histórias de fantasmas que não dependem da imaginação do narrador. Por exemplo, Owen Wingrave inclui um fantasma que causa a morte súbita de seu personagem-título, embora ninguém realmente possa vê-lo. James, em seus Notebooks indica que ele se inspirou originalmente em um conto que ouvira de Edward White Benson, o Arcebispo da Cantuária. Há indícios de que a história referida por James foi sobre um incidente ocorrido em Hinton Ampner, quando em 1771 uma mulher chamada Mary Rickettsse mudou de sua casa depois de ver as aparições de um homem e uma mulher, dia e noite, olhando através das janelas, curvando-se sobre as camas e fazendo-a sentir que seus filhos estavam em perigo.


Há vários filmes adaptados e baseados na novela. O criticamente aclamado The Innocents (1961), dirigido por Jack Clayton, e o filme de Michael Winner, The Nightcomers (1972) foram dois exemplos dessa adaptação ao cinema.

The innocents 1961 - trailer


Outras adaptações para o cinema foram The Turn of the Screw de Rusty Lemorande, em 1992; o filme em língua espanhola de Eloy de la Iglesia, Otra vuelta de tuerca (The Turn of the Screw, 1985); e ainda os filmes Presence of Mind (1999), dirigido por Atoni Aloy; In a Dark Place (2006), dirigido por Donato Rotunno e o filme em língua portuguesa de Walter Lima Jr. Através da Sombra (Through the Shadow, 2016). The Others (2001) não é uma adaptação, porém possui alguns elementos em comum com a obra de James. Em 2018, a diretora Floria Sigismondi filmou uma adaptação da novela, denominada The Turning, na Kilruddery House, na Irlanda.


Os outros 2001



Fontes:

cafeinaliteraria.com.br
companhiadasletras.com.br
wikipedia.org
gutemberg.org
shmoop.com
queridoclassico.com
google.com
youtube.com







terça-feira, 23 de janeiro de 2024

 



Quando Eugene O’Neill terminou Longa Jornada Noite Adentro, em 1941, decidiu que a peça não poderia ser lida nem montada senão vinte e cinco anos após a sua morte. Indagado sobre as razões dessa exigência, O’Neill respondeu apenas que uma das personagens ainda vivia. Raros amigos tiveram o privilégio de ler os originais, antes que eles fossem enviados para os cofres da Randon House, a editora que publicava as obras de O’Neill, e para a Biblioteca da Universidade de Yale. Mas a vontade do autor não foi cumprida. Em 1956, três anos depois de sua morte, a viúva de O’Neill, Carlotta Monterey, liberou a publicação e a montagem da peça. Soube-se então por que o dramaturgo não desejava que a Longa Jornada Noite Adentro viesse a público. Com essa autobiografia dramática, como tantos a chamariam, ele ressuscitava seus mortos o pai, a mãe, o irmão —, traçando um comovente retrato da família O’Neill, no qual o autor se identificava com o personagem Edmund. Em 1941, ao concluir a peça, apenas Edmund-Eugene estava vivo. Apesar de seu caráter autobiográfico, Longa Jornada Noite Adentro é muito mais do que um retrato do artista quando jovem. Ainda que O’Neill tenha reproduzido na obra parte de sua vida, também é certo que determinados aspectos da realidade foram omitidos e outros simplesmente inventados. A aventura desse homem singular chamado Eugene O’Neill, tuberculoso na juventude, dominado pelo medo de se tornar um alcoólatra como o irmão, filho de uma mulher que se abandonou ao vício das drogas e de um ator famoso que aviltou seu talento em peças de sucesso comercial, tem paralelos muito estreitos com a realidade de Longa Jornada Noite Adentro. Mas esse destino particular, ao ser recriado por meio do teatro, ganhou dimensão maior — graças, precisamente, ao caráter inconfundível das experiências pessoais do autor —, transfigurando-se e revestindo-se de um sentido comum e universal.



Eugene O´Neill



Eugene Gladstone O'Neill (Nova York, 16 de Outubro de 1888 – Boston, 27 de Novembro de 1953) foi um dramaturgo anarquista e socialista estadunidense. Recebeu o Nobel de Literatura de 1936 e o Prêmio Pulitzer por várias vezes. Suas peças estão entre as primeiras a introduzir as técnicas do realismo influenciado principamente por Anton Chekhov, Henrik Ibsen e August Strindberg. Sua dramatugia envolve personagens que habitam as margens da sociedade, com seu comportamento desregrado, tentando manter inalcançáveis aspirações e esperanças do 'milagre norte-americano'. Tendo escrito apenas uma comédia, (Ah, Wilderness!, todas as suas peças desenvolvem graus de tragédia pessoal e pessimismo. Sua dramaturgia influencia reconhecidamente um importante dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues).

A peça é dividida em quatro atos, cada um em um determinado momento de um dia na família Tyrone, desde o café da manhã, no primeiro ato, até meia-noite, no ultimo ato. Por isso o título, realmente é uma longa jornada noite adentro.
Assim como na família de O'Neill, o pai da família Tyrone é um ator irlandês, em fase de decadência e extremamente avarento. O próprio Eugene é representado no papel de Edmund, um jovem diagnosticado com tuberculose. Seu irmão, Jamie, vive uma vida desregrada, regada a álcool e casos com prostitutas. E sua mãe, Mary, acaba de retornar à casa depois de um tratamento de sua dependência de morfina. Ela aparenta estar melhor, mas conforme o fim do dia se aproxima, Mary volta a usar a substância e fica cada vez mais envolta em memórias do passado, até que, no último ato, ela perde totalmente a consciência devido a uma overdose e perde-se no esquecimento, que vem como um alívio para ela, mas um tormento para a sua família, já fragmentada.


A peça foi encenada algumas vezes no Brasil, numa delas por Cleyde Yacónes e Sérgio Brito.


Folha de S.Paulo - Teatro: Peça reitera valor da leitura na ...




LONGA JORNADA NOITE ADENTRO - 1980 - 1 - Foto Autor desconhecido

Nathalia Timberg, Mauro Mendonça, Wolf Maya e Otavio Augusto também encenaram essa obra de O´Neill.




A peça transformou-sem em filme em 1962 com Katherine Hepburn e Ralph Richardson.

Trailer de 1962




Fontes:

textodramatico.com
skoob.com.br
oprazerdaliteratura.com.br
todoteatrocarioca.com.br
google.com
wikipedia.org
youtube.com

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Moscou, 1902. Diante do Teatro Artístico de Moscou, uma pequena multidão se comprimia sob o olhar vigilante dos guardas do czar, fortemente armados. Ninguém sabia, ao certo, se Pequenos Burgueses chegaria a estrear.


Máximo Gorki


Hoje vamos falar do dramaturgo russo, Máximo Gorki, (Максим Горький), e de sua peça "Os pequenos burgueses".



Seu nome verdadeiro era Aleksei Maksimovich Peshkov. Nasceu em Nijni Nóvgorod, cidade na  Russia, que passou a chamar Gorki em 1932, por ordem de Stálin,  em 28 de março de 1868 e morreu em Moscou em 18 de junho de 1936.


“A história do trabalho e da ação humana é bem mais interessante e significativa do que a história do homem como individualidade.” Esta frase, que inicia o texto Como aprendi a escrever, de Máximo Gorki, define os rumos básicos que estruturam sua obra literária.

Gorki nasce de uma família humilde,  órfão de pai foi criado pelo avô materno que era tintureiro. Em 1878 quando sua mãe faleceu teve que deixar a casa do avô para ir trabalhar. Foi sapateiro, desenhista, lavador de pratos num navio que percorria o Volga, onde teve contato com alguns livros emprestados pelo cozinheiro, o que acabou despertando sua consciência política.

Sem frequentar escolas, tudo o que aprendeu lhe foi ensinado pelo que chamou ironicamente de “minhas universidades”: a vida.

Pechkov adotou o pseudônimo de Gorki (significa “amargo”) em Tifilis, ao publicar sua primeira novela, em 1892. Considerado o maior escritor soviético, Gorki vai além do realismo tradicional e, escritor eminentemente proletário, abriu uma nova fase na literatura, dando continuidade ao grande realismo burguês do século 19, de Balzac, Stendhal e Flaubert. Ele inaugurou um realismo de tipo novo, que alguns chamaram de “socialista”. O povo pobre, principalmente os marginalizados, são os personagens centrais de sua obra.




Em 1902, escreve Pequenos Burgueses, peça teatral, a qual, segundo críticos atuais, se Gorki escrevesse hoje, não mudaria uma única palavra. A estréia de Pequenos Burgueses foi no Teatro de Arte de Moscou, e a peça obteve um grande sucesso, mesmo com os cortes impostos pela censura. O texto foi concebido em 1900, quando ainda se encontrava preso, e Gorki trabalhou algum tempo na peça, até que ela atingisse uma forma satisfatória. No início tinha o título de: Cenas em Casa dos Bessemov, Esboço Dramático em Quatro Atos. Na verdade, a peça não segue uma linha de ação única, mas é antes um mosaico de situações e personagens representativas da vida russa da época. As personagens de Pequenos Burgueses vivem num meio mesquinho, revelando-se quase sempre impotentes para vencer as barreiras desse meio. A impotência, em vários níveis, é o único elemento comum a todas elas. Cada um por seus motivos não consegue romper o asfixiante círculo familiar. A peça mostra o conflito entre os membros de uma família de comerciantes, dominada pela figura do pai autoritário que reprime os impulsos do filho intelectual e da filha deprimida. O único insurgente é o filho adotivo, o ferroviário Nill, que Gorki elege como uma espécie de operário do ano, isto é, um herói que vai conduzir a Rússia à revolução.

Logo  no primeiro ato, Gorki aborda de maneira vigorosa o conflito de gerações, a oposição entre os poderosos, representantes de um modo de vida tradicional, e os grupos sociais emergentes que a eles se opunham.

O velho Bessemenov, sua mulher Akoulina, os filhos Pietr e Tatiana pertenciam a uma nova classe social emergente chamada de "Meschane", que não pertenciam nem a nobreza, nem ao campesinato e nem ao clero. Eram habitantes da cidade (burgo, do latim burgus, pequena fortaleza) e nesse sentido poderiam ser denominado burgueses.

Em 1963, estrearia a peça “Pequenos Burgueses”, de Máximo Górki, que teria grande repercussão e seria censurada dois dias após o golpe militar de 1964.

A direção foi de José Celso Martinez. A peça estreou no Teatro Oficina. O elenco contava com :  







José Celso Martinez



Cecília Rabelo [Akoulina Ivanovna] ; Célia Helena [Tatiana] ; Eugênio Kusnet [Bessemenov] ; Ittala Nandi [Tzvetaieva] ; Libero Ripoli Filho [Pertchikin] ; Miriam Mehler [Polia] ; Moema Brum [Stepanida] ; Raul Cortez [Teteriev] ; Renato Borghi [Piotr] ; Ronaldo Daniel [Nil] ; Rosamaria Murtinho [Elena Nikolaievna]


Os pequenos burgueses - Teatro Oficina




A peça, faz uma crítica à classe pequena burguesa em seus atavios de opulência, e suas incoerências demagógicas, onde todos vivem para aparentar uma realidade que não existe e que só serve como uma máscara,  portanto, se faz como as reflexões de Gorki sobre o mundo pequeno-burguês. 

Trata-se de um "drama familiar" que, ao recriar o cotidiano de uma típica família russa do começo do século XX, examina toda uma cosmovisão social, a qual ele classifica como a "mentalidade pequeno-burguesa". Sobre a peça, Tchékov afirmou: "O mérito da peça consiste em justamente em ser a primeira, na Rússia, e até no mundo inteiro, a desdenhar a mentalidade pequeno-burguesa, justamente no exato momento em quem a sociedade estava preparada para esse protesto."


Fontes:

educacaouol.com.br
ctalmada.pt/a-mae-2
wikipedia.org
vermelho.org.br
digestivocultural.br
kdfrases.com/autor/máximo-gorki
bjks-opac.museus.gov.br
memorialdademocracia.com.br
blooks.com.br




domingo, 21 de janeiro de 2024

 



Don Quixote de la Mancha, escrito por Miguel de Cervantes Saavedra, teve sua primeira edição publicada no dia 16 de janeiro de 1605. É uma das obras-primas da literatura espanhola e da literatura universal e também o livro mais traduzido. A inspiração de Cervantes para compor essa obra originou-se, ao que tudo indica, do chamado Entremez dos romances, de uma época anterior (embora isso seja discutível). Seu argumento ridiculariza um lavrador que enlouquece acreditando ser herói de romances. O lavrador abandonou sua esposa e partiu como fez Don Quixote. Esse entremez possui uma leitura dupla: também é uma crítica a Lope de Veja, que, depois de compor numerosos romances autobiográficos nos quais contava seus amores, abandonou sua esposa e partiu para a Armada Invencível.



Capa da primeira edição de Dom Quixote





Considerada a maior obra da literatura espanhola e o segundo livro mais lido da História, seu tributo para a cultura ocidental é incalculável. Dom Quixote é apontado como o primeiro romance moderno, tendo influenciado várias gerações de autores que se seguiram.





"Capítulo VIII — Do bom sucesso que teve o valoroso D. Quixote na espantosa e jamais imaginada aventura dos moinhos de vento, com outros sucessos dignos de feliz recordação.

Quando nisto iam, descobriram trinta ou quarenta moinhos de vento, que há naquele campo. Assim que D. Quixote os viu, disse para o escudeiro:
— A aventura vai encaminhando os nossos negócios melhor do que o soubemos desejar; porque, vês ali, amigo Sancho Pança, onde se descobrem trinta ou mais desaforados gigantes, com quem penso fazer batalha, e tirar-lhes a todos as vidas, e com cujos despojos começaremos a enriquecer; que esta é boa guerra, e bom serviço faz a Deus quem tira tão má raça da face da terra.
— Quais gigantes? — disse Sancho Pança.
— Aqueles que ali vês — respondeu o amo — de braços tão compridos, que alguns os têm de quase duas léguas.
— Olhe bem Vossa Mercê — disse o escudeiro — que aquilo não são gigantes, são moinhos de vento; e os que parecem braços não são senão as velas, que tocadas do vento fazem trabalhar as mós."



A obra narra as aventuras e desventuras de Dom Quixote, um homem de meia idade que resolveu se tornar cavaleiro andante depois de ler muitos romances de cavalaria. Providenciando cavalo e armadura, resolve lutar para provar seu amor por Dulcineia de Toboso, uma mulher imaginária. Consegue também um escudeiro, Sancho Pança, que resolve acompanhá-lo, acreditando que será recompensado. 


Dulcineia de Toboso




Quixote mistura fantasia e realidade, se comportando como se estivesse em um romance de cavalaria e transformando obstáculos banais (como moinhos de vento ou ovelhas) em gigantes e exércitos de inimigos.

É derrotado e espancado inúmeras vezes, sendo batizado de "Cavaleiro da Fraca (ou triste) Figura", mas sempre se recupera e insiste nos seus objetivos. 

Só volta para casa quando é vencido em batalha por outro cavaleiro e forçado a abandonar a cavalaria. Longe da estrada, fica doente e acaba morrendo. Nos seus momentos finais, recupera a consciência e pede perdão aos seus amigos e familiares.





A História de Dom Quixote de La Mancha é uma história de superação e de persistência. Ele persegue seu sonho de galantaria e de defensor dos mais fracos e oprimidos. Luta contra moinhos de ventos, contra rebanhos de carneiro, contra sombras que surgem nas suas alucinações, tudo em nome de um amor e de conseguir as glórias que estariam à altura desse Amor idealizado.

Sancho Pança , por sua vez é a voz da razão, em princípio tentando fazer o seu senhor tomar consciência de sua loucura. Com o tempo o grau de amizade e de compaixão o faz anuir com as desvarios  de seu mestre.

Em certa medida todos aspiramos à grandes conquistas, sempre nos achamos, pelo menos por alguns momentos, capazes de grandes feitos como um Quixote qualquer. Todos em alguma hora de nossas vidas lutamos contra moinhos de vento.



Wilhelm Marstrand




Fontes:
culturagenial.com
seuhistory.com
wikipedia.org
google.com
dominiopublico.gov.
issocompensa.com

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