terça-feira, 7 de maio de 2019

"Alguém certamente havia caluniado Josef K. pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum. A cozinheira da senhora Grubach, sua locadora, era a pessoa que lhe trazia o café todos os dias por volta de oito horas, mas dessa vez ela não veio. Isso nunca tinha acontecido antes. K. esperou mais um pouquinho, olhou de seu travesseiro a velha senhora que morava em frente e que o observava com uma curiosidade nela inteiramente incomum, mas depois, sentindo estranheza e fome ao mesmo tempo, tocou a campainha. Imediatamente bateram à porta e entrou um homem que ele nunca tinha visto antes naquela casa. Era esbelto e no entanto de constituição sólida,vestia uma roupa preta justa que, como os trajes de viagem, era provida de diversas pregas, bolsos, fivelas, botões e um cinto, razão pela qual parecia particularmente prática, sem que se soubesse ao certo para o que ela servia.... "



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"Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregório Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto. Estava deitado sobre o dorso, tão duro que parecia revestido de metal, e, ao levantar um pouco a cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em duros segmentos arqueados, sobre o qual a colcha dificilmente mantinha a posição e estava a ponto de escorregar. Comparadas com o resto do corpo, as inúmeras pernas, que eram miseravelmente finas, agitavam-se desesperadamente diante de seus olhos. Que me aconteceu ? — pensou. Não era nenhum sonho. O quarto, um vulgar quarto humano, apenas bastante acanhado, ali estava, como de costume, entre as quatro paredes que lhe eram familiares. Por cima da mesa, onde estava deitado, desembrulhada e em completa desordem, uma série de amostras de roupas: Samsa era caixeiro-viajante, estava pendurada a fotografia que recentemente recortara de uma revista ilustrada e colocara numa bonita moldura dourada."


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Os trechos acima pertencem aos livros "O Processo" e "A Metamorfose" do escritor do Império Austro-Húngaro, atual República Tcheca, Franz Kafta.


Kafka



Kafta nasceu 3 de julho de 1883 e morreu em 3 de junho de 1924.
Na adolescência, declara-se socialista e ateu. Participa de reuniões com grupos anarquistas e, no fim da vida, engaja-se no movimento sionista. Cursa Direito em Praga, formando-se em 1906. Passa a trabalhar em companhias de seguros e, em paralelo, dedica-se à Literatura. Em 1917, é obrigado a afastar-se do trabalho devido à tuberculose. A maior parte das suas obras foram publicadas postumamente.
Fez parte, junto com outros escritores da época, da chamada Escola de Praga. Esse movimento era basicamente uma maneira de criação artística alicerçada em uma grande atração pelo realismo, uma inclinação à metafísica e uma síntese entre uma racional lucidez e um forte traço irônico. Além do realismo, seu estilo é marcado pela crueza e pelo detalhamento com que descreve situações incomuns – como em O Processo , de 1925, cujo personagem principal é preso, julgado e executado por um crime que desconhece. Em seus livros, é constante o confronto entre os personagens e o poder das instituições, demonstrando a impotência e a fragilidade do ser humano. Escreve ainda A Metamorfose (1916) e O Castelo (1926).




Em "A metamorfose" , por exemplo, Gregor Samsa, assim, era visto como um peso para a família, a qual deveria suportar. Kafka, aqui nos mostra a realidade da sociedade, sobretudo, capitalista que restringe o valor do ser humano ao que produz e às aparências, uma vez que, quando "normal", era Gregor o responsável pelo provimento da família. Contudo, ao metamorfosea-se em inseto, tornou-se impossibilitado de prover a sua família, de modo que, na medida em que Gregor não pode os prover, perde o seu valor.


A metamorfose de Gregor evidencia que as relações sociais são pautadas pelos interesses, pois, embora o protagonista seja uma pessoa altruísta, preocupada com o bem estar da família, ele passa a ser excluído pela mesma, dado que o que os interessava em Gregor não é possível naquela situação. Essa exclusão gera um sentimento de solidão em Gregor, a qual alimenta o seu sentimento de impotência e tristeza e, por conseguinte, diversos problemas psicológicos (típicos do homem contemporâneo).


Assim sendo, o que importa são os resultados, ou seja, somente relações que possam trazer benefícios são necessárias, de tal maneira que uma relação que traga apenas custo é vista como um peso que deve ser jogado fora na primeira oportunidade. Aquele inseto gigantesco, o qual Gregor acreditava que ainda fosse ele, para a família não passava de um peso que tinham que suportar.




Na obra O Processo, de Franz Kafka, avultam as figuras do Estado e as imbricações do sistema jurídico, além do espaço pré-determinado da subjetividade em um mundo em transformação, onde o recrudescimento dos direitos e garantias perde espaço para os elementos de policiamento estatal.


Em Kafka, há uma “ordem da desordem”, um mundo que se estilhaça e põe em discussão da razão do Estado e a não razão do Direito, uma concepção que subsidia, de forma totalitária, interpretações absurdas e distorcidas da lei. Não se criam espaços para que sejam questionadas as leis aplicadas/aplicáveis, tampouco a legitimação das autoridades em suas várias estratificações. A ordem jurídica é cúmplice da intervenção estatal opressora, na medida em que legitima sua atuação pela perseguição, por um desvario circular que não cessa e que, em razão disso, não permite a revisão do sistema de justiça.


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Como podemos ver nessas duas obras, dentre as outras compostas por esse escritor de tcheco de língua alemã, escritas no início do século XX, ainda trata de temas bastante atuais e relevantes nos dias de hoje.






Fontes:
obviousmag.org
wikipedia.org
google.com.br
pensador.com

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