sexta-feira, 26 de abril de 2024

Batalha naval de Diu







A batalha naval de Diu teve lugar a 3 de fevereiro de 1509,  nas águas próximas a Diu na Índia. 

Com a chegada dos portugueses ao Índico em 1498, os comerciantes muçulmanos solicitaram a ajuda do monarca Mameluco do Egipto que, apoiado pela República de Veneza, organizou uma expedição que visava a presença portuguesa no Malabar. Em 1508, a frota muçulmana, sob o comando do Emir Hussein, deu combate aos portugueses em Chaul.




A ação dos portugueses no Índico no sentido de controlar o comércio e de canalizar as especiarias para a Europa pela Rota do Cabo, entrava em rota de colisão com as redes mercantis muçulmanas na região e com as potências que lhes estavam de alguma forma associadas, como o sultão do Cairo, o reino do Guzerate, o império otomano ou Calecute.

Desde a viagem de Pedro Álvares Cabral que a guerra era um risco crescente, que se agravou com as ordens de D. Manuel para bloquear a navegação muçulmana para o Mar Vermelho e o Golfo Pérsico.

Deste primeiro combate resultou, para os portugueses a perda de uma nau e de 200 homens, entre os quais o filho do Vice-Rei, D. Lourenço de Almeida. Ainda que tivesse vencido a batalha, esquadra egípcia ficou sem capacidade ofensiva, face às suas perdas. A 25 de novembro saiu de Cananor uma esquadra portuguesa, tendo por capitão-mor o Vice-rei D. Francisco de Almeida. O objetivo era atacar os navios egípcios, fundeados em Diu. A 2 de fevereiro de 1509 chega à barra de Diu a armada portuguesa composta de 5 naus grossas e 4 naus menores, além de caravelas redondas, caravelas latinas, galés e um bergantim, contando entre 1000 e os 1500 homens, apoiados por cerca de 400 malabares de Cochim. A armada egípcia era composta por 6 naus grossas, 6 galés turcas e outras 110 embarcações, de fustas e paraus.






Embora a batalha se tenha revestido de um caráter de vingança pessoal para Francisco de Almeida, vice-rei da Índia, que perdera o seu filho D. Lourenço no desastre de Chaul em 1508, o efeito psicológico desta vitória foi aniquilador, pois mostrava aos indianos que a marinha portuguesa não era só invencível para eles mas também para os muçulmanos e venezianos cuja aliança, até então, havia controlado o comércio oceânico.




Foi uma batalha de aniquilamento semelhante às batalhas de Lepanto (1571), do Nilo (1798), de Trafalgar (1805)e de Tsuchima (1905) e em termos de impacto, esta batalha assinalou o início do domínio europeu dos mares do Oriente, que haveria de durar até à Segunda Guerra Mundial. Como consequência, o poder muçulmano na Índia foi seriamente abalado, permitindo a que as forças Portuguesas, após esta batalha conquistassem rapidamente os portos e localidades costeiras nas margens do Índico, como por exemplo Mombaça, Mascate, Ormuz, Goa, Colombo e Malaca.

O monopólio português no Índico duraria até à chegada dos Ingleses (Companhia Britânica das Índias Orientais) afirmada na batalha de Swally, perto de Surate em 1612.]


Fontes:

wikipedia.org
google.com
ensino.rtp.pt
com.marinha.pt

quinta-feira, 25 de abril de 2024

 



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O dia 25 de abril marca um dos eventos mais importantes da história de Portugal, que ocorreu em 1974. Conhecido como Revolução dos Cravos ou Revolução de 25 de Abril, o movimento eclodiu a partir do profundo descontentamento com o regime ditatorial do Estado Novo de António de Oliveira Salazar, vigente desde 1933.





Na noite do dia 24 de abril de 1974, 50 anos atrás, o capitão Delgado Fonseca ouviu pelo rádio a canção "E Depois do Adeus". Era o primeiro sinal para que as tropas ficassem a postos. "Na época, eu era diretor do curso de operações especiais em Lamego. Quando saiu a senha da revolução, às 11 da noite, neutralizei o comandante e marchei para o Porto com uma companhia reforçada com armas pesadas. Chegamos lá às seis da manhã", conta o ex-militar.


                           E depois do adeus - Paulo de Carvalho


Mais tarde, passando um pouco da meia noite do dia 25 de abril, veio o segundo sinal, também em forma de melodia. A canção "Grândola, Vila Morena" foi tocada, dando a confirmação para que cada tropa avançasse. "A missão inicial era tomar o quartel da polícia política, a PIDE, mas quando chegamos tinham falhado alguns camaradas e então nos pediram para ir reforçar na cidade. As minhas forças acabaram por ter que ocupar todas as rádios e, portanto, foi a força principal que atuou no Porto", relembra o ex-capitão.



Grândola - Vila Morena - Zeca Afonso






A Revolução dos Cravos é o nome dado à revolta militar de 25 de abril de 1974 que provocou a queda em Portugal da ditadura de Antônio Oliveira Salazar, quem dominava o país desde 1926, a mais longeva da Europa. O fim deste regime, conhecido como Estado Novo, permitiu que as últimas colônias portuguesas conseguissem sua independência após uma longa guerra colonial contra a metrópole, e que Portugal mesmo se convertesse em um estado de direito democrático. As ações militares foram lideradas pelo comandante Salgueiro Maia, quem, à frente das forças da Escola Prática de Cavalaria, ocupou o Terreiro do Paço nas primeiras horas da manhã do dia 25. Posteriormente, o comandante Maia fez o cerco do quartel do Carmo, onde, com a renúncia do primeiro ministro português Marcelo Caetano, pôs-se fim ao regime salazarista.






Em 1974, Portugal vivenciava a era das guerras coloniais. "Havia corpos militares em todas as colônias portuguesas, mas os palcos de guerra mais importantes e com mais soldados eram a Guiné-Bissau, Angola e Moçambique, com mais confronto direto. Mas havia militares em Cabo Verde, em São Tomé, Macau, Timor. Portugal tinha um império enorme na época", conta o historiador Luís Farinha.


Os movimentos independentistas eram contidos com o envio de centenas de militares de Portugal para as colônias ao longo de anos. As tensões crescentes nos locais de maior conflito deram origem ao Movimento das Forças Armadas — MFA, em 1973, formado em sua maioria por capitães que buscavam o fim dos confrontos. "Foi uma consequência natural das guerras, que estavam perdidas", lembra o ex-capitão Delgado Fonseca, que chegou a comandar 600 homens em Angola. "Estávamos à beira de uma derrota geral nas colônias e nem os generais nem o poder político arranjavam solução para aquilo, se recusavam. Tivemos que ser nós, os jovens comandantes", complementa.






Depois de uma primeira tentativa frustrada, no mês de março, as lideranças do MFA conseguiram por em prática um plano bem coordenado por todo o país, começando no fim da tarde do dia 24 de abril. "A operação militar foi simples e todos reagiram bem dentro de uma estrutura nacional. Todo mundo se mexeu na mesma hora. Foi um golpe militar simples, barato e fácil", conta o ex-capitão Delgado Fonseca.

As ações consistiam em deter comandantes e ocupar quartéis e outras instalações ligadas ao regime ditatorial, como as sedes da PIDE, órgãos de censura e da imprensa partidária. Também foram ocupadas sedes de rádios, televisão e o aeroporto.

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Antes do amanhecer do dia 25, os objetivos estavam alcançados. O governo tentou reagir, mas os oficiais se recusaram a lutar contra o movimento. "Foi uma revolução muito curiosa, porque o povo estava muito atrasado politicamente. As forças políticas que existiam estavam clandestinas, que era o Partido Comunista Português, e mais nada. O Partido Socialista tinha acabado de se formar na Alemanha e só tinham quadros fora. Aqui havia o partido do poder, de forma que foi realmente o povo na rua que mexeu as coisas. O bonito começou quando a população se integrou e começou a revolução a sério", lembra o ex-capitão Delgado Fonseca.

A população saiu às ruas e distribuía cravos vermelhos ( a flor nacional) para os soldados rebeldes.





O presidente Marcelo Caetano, foi deposto e se exilou no Brasil.


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Depois de  meio século, a democracia voltou para Portugal.


Fontes:
wikipedia.org
seuhistory.com
br.sputniknews.com
infoescola.com
youtube.com.br
google.com.br
fflch-usp.br


segunda-feira, 22 de abril de 2024



Voltando a falar sobre a República, hoje vamos falar da Era Vargas, o Estado Novo.





Hoje falaremos do período de 1930 até 1945.


Como dissemos antes nas eleições de 1930, foi eleito Julio Prestes, um político de S.Paulo, cessando assim a política do café-com-leite.
Julio Prestes não toma posse devido a um golpe de estado, Getúlio Vargas, um político de São Borja - RS assume o governo provisório.







Apoiado pelos militares Getúlio Vargas começou com reformas que centralizavam o poder, eliminando órgãos legislativos, federais, estaduais e municipais.

Ele indicou representantes para governarem os estados da federação, fato que desagradou, sobremaneira, as oligarquias que dominavam o Brasil, dentre elas a oligarquia cafeeira de São Paulo.

Com isso São Paulo declarou guerra à união com a Revolução Constitucionalista de 1932.

Essa revolução durou menos de três meses, (09.07.32 a 04.10.1932) com São Paulo derrotado, Getúlio prendeu e exilou seus principais lideres.

Getúlio convocou a Constituinte em 1934, deu maiores poderes ao executivo, criou reformas trabalhistas que davam garantias ao empregador (CLT), sancionou o voto secreto e o voto da mulher.
Com apoio do Congresso, Getúlio Vargas, conseguiu mais um mandato que durou de 1934 até 1937.









Nesse segundo mandato foram destaques a luta de duas correntes de pensamento político (fascista, inspirado em Mussolini da Itália) através do Ação Integralista Brasileiro (A.I.B), e a democrática, representada pela ANL - Aliança Nacional Libertadora, que defendia a reforma agrária, a luta contra o imperialismo, e a luta trabalhadora.



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Plínio Salgado, principal líder da A.I.B.    Luiz Carlos Prestes, principal líder da A.N.L.


A A.N.L apoiada por militares com orientações do movimento comunista internacional, tentou um golpe de estado contra Getúlio Vargas (Intentona Comunista) em 1935.

O movimento foi sufocado pelas tropas leais ao governo.
Por causa desse movimento da esquerda, frustrado por Getúlio, ele determinou o cancelamento das eleições presidenciais prevista para 1937, fechou o Congresso, perseguiu seus inimigos políticos e principalmente o partido comunista, e governou o país numa ditadura chamada de "Estado Novo" que durou até 1945.


Durante esse período uma nova Constituição foi criada, baseada na Constituição da Polônia de tendência fascista.
Getúlio aprimorou as leis de proteção ao trabalhador, como descanso semanal remunerado, salário mínimo, Código Penal, e o Código de Processo Penal.


Sob o mote do perigo comunista, ele obteve apoio da classe média.


Em princípio apoiando os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) ele mudou radicalmente de opinião e depois de um encontro com o presidente americano Franklin Delano Roosevelt, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (F.E.B) que foi lutar contra as forças do Eixo na Itália.




O acordo de apoio do Brasil aos aliados deu-se também devido ao apoio financeiro dos EUA para construção da Cia. Siderúrgica Nacional com um empréstimo de 20 milhões de dólares.


Com a derrota das forças nazifascistas, um movimento de forte oposição começou no Brasil, dando por fim a Era Vargas, que convocou eleições diretas vencidas pelo General Eurico Gaspar Dutra.

Vargas voltou ao poder em 1951, sendo eleito pelo voto popular. Esse mandato terminou abruptamente em Agosto de 1954 co,m o suicídio de Getúlio.


Fontes:


wikipedia.org
google.com
brasilescola.uol.com.br
todamateria.com.br

sexta-feira, 19 de abril de 2024


Carinho triste


A tua boca ingênua e triste E voluptuosa, que eu saberia fazer
Sorrir em meio dos pesares e chorar em meio das alegrias,
A tua boca ingênua e triste
É dele quando ele bem quer.

Os teus seios miraculosos,
Que amamentaram sem perder
O precário frescor da pubescência,
Teus seios, que são como os seios intatos das virgens,
São dele quando ele bem quer.

O teu claro ventre,
Onde como no ventre da terra ouço bater
O mistério de novas vidas e de novos pensamentos,
Teu ventre, cujo contorno tem a pureza da linha de mar e céu ao pôr do sol,

É dele quando ele bem quer.

Só não é dele a tua tristeza.
Tristeza dos que perderam o gosto de viver.
Dos que a vida traiu impiedosamente.
Tristeza de criança que se deve afagar e acalentar.
(A minha tristeza também!...)
Só não é dele a tua tristeza, ó minha triste amiga!
Porque ele não a quer.

1913


Num dia como hoje, 19 de abril de 1886, nascia um dos maiores poetas da literatura brasileira, Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho.




Manuel Bandeira iniciou seus estudos no Recife. Em 1896, com 10 anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, concluindo o curso secundário no Colégio Pedro II. Em 1903 ingressou no curso de Arquitetura da Escola Politécnica de São Paulo, mas interrompeu os estudos para tratar de uma tuberculose.




Dez anos depois, ainda doente, foi para a Suíça em busca da cura, onde permaneceu durante um ano, de 1913 a 1914, eliminando definitivamente a doença. Nesse período, conviveu com o poeta francês, internado na mesma clínica, Paul Éluard, sem a menor esperança de sobreviver, conforme confessou posteriormente no poema Pneumotórax, do livro Libertinagem.


Pneumotórax [Manuel Bandeira]


Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:

— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.

……………………………………………………………………….

— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

[Libertinagem]



Em 1917, Manuel Bandeira publicou seu primeiro livro, "A Cinza das Horas", de nítida influência Parnasiana e Simbolista, no qual os poemas são contaminados pela melancolia e pelo sofrimento, como no poema :    Desencanto:


Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

Eu faço versos como quem morre.



Primeiro livro de Manuel Bandeira, A Cinza das Horas, é marcado pelo tom
fúnebre, e traz poemas parnasiano-simbolistas. São poesias compostas durante o
período de sua doença. Do ano em que o poeta adoece até 1917, quando publica A
Cinza das Horas, é que se daria a etapa decisiva e a inusitada gestação de
um dos maiores escritores da língua portuguesa.

Segundo ele próprio, Manuel Bandeira, quando publica esse livro não tinha a
intenção de começar carreira literária: “desejava apenas dar-me a ilusão de
não viver inteiramente ocioso”.
O eu-lírico vivencia o ato de morrer à medida que (des)escreve
sua agonia em seus versos que são seu sangue.


EPÍGRAFE

Sou bem-nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.

Veio o mau gênio da vida,
Rompeu em meu coração,
Levou tudo de vencida,
Rugia e como um furacão,

Turbou, partiu, abateu,
Queimou sem razão nem dó –
Ah, que dor!
Magoado e só,
– Só! – meu coração ardeu:

Ardeu em gritos dementes
Na sua paixão sombria…
E dessas horas ardentes
Ficou esta cinza fria.
– Esta pouca cinza fria.

1917.


Apesar de dizer não apoiar o Movimento Modernista, é dele um dos poemas que foi declamado embaixo de vaias no palco do Teatro Municipal de São Paulo por Ronald de Carvalho de nome "Os Sapos".


Os Sapos

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos. (...)



Manuel Bandeira foi cada vez mais se engajando no ideário modernista e sua adesão às novas técnicas deu-se gradativamente, à medida que via na renovação a única alternativa à sua poesia.

Em 1924 publicou "Ritmo Dissoluto", obra de transição. A partir de 1925, escreveu crônicas para jornais quando faz críticas de cinema e música.

Em 1930, Manuel Bandeira publicou "Libertinagem", obra de plena maturidade modernista, com todas as suas implicações (verso livre, língua coloquial, irreverência, liberdade criadora etc.), e o alargamento da lírica nacional pela sua capacidade de extrair a poesia das coisas aparentemente banais do cotidiano.

Os temas mais comuns da obra de Bandeira são: a paixão pela vida, a morte, o amor e o erotismo, a solidão, a angústia existencial, o cotidiano e a infância.

Na obra Libertinagem se destacam os poemas: "O Cacto", "Pneumotórax", "Evocação ao Recife", nos quais tematiza a infância fazendo uma descrição da cidade do Recife no fim do século XIX, e Vou-me Embora pra Pasárgada, uma espécie de autobiografia lírica:

Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.



Nesse poema, Bandeira acentua suas vontades, por vezes negadas por sua doença, como :montar em burro brabo, tomar banho de mar, subir em pau de sebo.



Foi como poeta que Manuel Bandeira conquistou sua posição de relevo na literatura brasileira, mas se dedicou também à prosa, crônicas e memórias. Em 1938, Manuel Bandeira foi nomeado professor de Literatura do Colégio Pedro II.

Em 1940 foi eleito para Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de n.º 24. Em 1943 foi nomeado professor de Literatura Hispano-Americana da Faculdade Nacional de Filosofia.

Manuel Bandeira faleceu no Rio de Janeiro, no dia 13 de outubro de 1968. Suas poesias haviam sido reunidas, pouco antes, em Estrela da Vida Inteira (1966).

Manuel Bandeira foi homenageado no Recife com uma estátua localizada na Rua da Aurora nas margens do rio Capibaribe. Na casa onde morou, um prédio tombado, funciona “O Espaço Pasárgada”, um centro cultural onde se realizam várias atividades voltadas à literatura, como lançamento de livros, recitais poéticos e visitas guiadas para as escolas, além de promover um cineclube, o Cine Pasárgada.

Na faculdade estudei por um semestre a obra desse grande poeta, e quando estive no Recife a primeira coisa que fiz foi visitar a casa de Bandeira na Rua da União, 263, hoje Espaço Pasárgada.

Rua da União, 263



Evocação do Recife


Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritssatd dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois —
Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância

A Rua da União onde eu brincava de chicote-queimado e partia as vidraças da casa de Dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincené na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras, mexericos, namoros, risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:

Coelho sai!
Não sai!

A distância as vozes macias das meninas politonavam:

Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão
(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão...)

De repente
nos longes da noite
um sino

Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era São José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva se ser menino porque não podia ir ver o fogo

Rua da União...
Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame do Dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...
... onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...
... onde se ia pescar escondido
Capiberibe
— Capibaribe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento

Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redomoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras

Novenas
Cavalhadas

Eu me deitei no colo da menina e ela começou a passar a mão nos meus cabelos

Capiberibe
— Capibaribe

Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avó morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro como a casa de meu avô

Rio, 1925



Bandeira transmitia a imagem de homem solitário, frágil e convalescente de uma tuberculose contraída na juventude. Morreu aos 82 anos sem nunca ter se casado. Só os amigos próximos tomaram conhecimento de sua conturbada vida sentimental. Ela foi recheada de aventuras, o que ajuda a explicar uma poesia tão sensual. Durante uma parte da vida, Bandeira amou três mulheres ao mesmo tempo, embora não vivesse com nenhuma delas: a holandesa Frédy Blank, que era casada, a pernambucana Dulce Pontes, que também escrevia poesia, e a mineira Maria de Lourdes de Souza, filha de um ministro do Supremo Tribunal Federal. Como Bandeira era elegante e discreto, suas mulheres conviviam de forma harmoniosa.


Bandeira e Gertrud Bühler



Uma passagem até hoje desconhecida da vida de Bandeira foi sua relação com a alemã Gertrud Bühler, com quem manteve um romance de maturidade na década de 1960. A evidência do affaire repousa bem guardada na cidade medieval de Esslingen, no sudoeste da Alemanha. São 30 cartas de amor que Bandeira escreveu para Gertrud. Elas falam de beijos ardentes, amor e literatura. Gertrud as preservou numa pasta encadernada com o tecido do vestido usado na última noite que os amantes passaram juntos. O material está com a filha de Gertrud, Francisca Janus, de 66 anos, que pretende escrever um romance sobre a vida da mãe.







Fontes:

ebiografia.com
poemassemerros.wordpress.com
passeiweb.com/a_cinza_das_horas
escritas.org.pt
google.com
epoca.globo.com

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Hoje vamos falar do romance de José de Alencar, um romance de sua fase urbana, onde ele escrevia sobre hábitos e costumes, especialmente da sociedade carioca do século XIX.







Lucíola foi publicado em 1862, e conta a história de Lúcia uma cortesã de luxo da sociedade carioca; e de Paulo um rapaz simples de Olinda Pernambuco, que logo que encontra Lúcia numa festa na Glória, Rio de Janeiro, se apaixona por ela, julgando-a meiga e angelical.

Lucíola é um romance urbano, em que Alencar transforma a cortesã em heroína, quando esta tem sua alma “purificada” com o amor de Paulo. Ela não se permite amar, por acreditar que seu corpo é sujo e vergonhoso, e ao fim da vida, quando admite seu amor, declara-se pertencente a Paulo

Seu amigo Couto, o alerta sobre a verdadeira profissão de Lúcia.

Com o tempo Paulo percebe que a mulher que ama não é tão angelical como ele imaginava.

Numa festa, ele a viu com outros homens, e ficou com ciúmes.
Ela então lhe disse que havia uma diferença entre a Lúcia que ele conheceu e a Lucíola, uma prostituta de luxo, que ganhava a vida agradando os homens.

Nessa festa, Lucíola foi paga para ficar inteiramente nua, na frente de todos os homens que lá estavam.
Isso decepcionou muito Paulo, que saiu da festa desnorteado.

Dias mais tarde Lúcia foi ao encontro dele, decidida a mudar de vida, pois Paulo a amava perdidamente.
Ela então contou a ele a sua verdadeira história; dizendo que seu nome era Maria da Glória, e que em 1850 toda a sua família caiu doente pela febre amarela.
Sem recursos para os remédios ela foi introduzida pelo amigo dele, Couto, na vida de prostituição.
Mudou o nome para Lúcia, que era o nome de uma grande amiga, que morreu em decorrência da febre amarela.
Quando seu pai descobriu sua profissão a expulsou de casa.
A ela só restou a vida de meretriz, e com o dinheiro ganho custeou os estudos de sua irmã mais nova, Ana.
Lucíola, vendeu a mansão em que morava e foi morar numa casa modesta.
Paulo sempre a visitava, onde viviam noites se amando.
Lúcia ficou grávida, mas teve um aborto que a levou a morte assim como da criança que levava no ventre.

Paulo passou a cuidar de Ana, como se fosse sua filha. Com o tempo ela se casou com um homem de bem, e viveu com a herança deixada por Lúcia.

Paulo, por sua vez, continuou triste com a morte do grande amor de sua vida.

Nesse romance José de Alencar retrata a sociedade carioca no período do Segundo Império. Uma sociedade mais preocupada com ascensão social e o valor do dinheiro com o qual alcançavam esse status.

O romance mostra também o conflito do individuo entre o preconceito e o amor.
Esses conceitos estão enraizados numa sociedade hipócrita, cujos valores estão acima da fraternidade e do amor.

Lucíola é narrado em primeira pessoa, visto através da perspectiva individual do personagem Paulo.







Dessa fase do autor fazem parte ainda os romances; Diva, Senhora e Pata da Gazela.



Fontes:
guiadoestudanteabril.com.br
mundovestibular.com.br
mundovestibular.com.br
google.com

Vamos falar hoje de objeto direto e objeto indireto. O objeto direto e o indireto são termos integrantes da oração que completam o se...