quarta-feira, 31 de março de 2021

 The Fifth Column de Ernest Hemingway.



A Quinta Coluna foi a única peça teatral escrita pelo escritor norte-americano Ernest Hemingway. A peça é composta de três atos e se passa durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) durante a invasão do General Francisco Franco, que a partir Marrocos deu um golpe de estado contra o governo republicano.



Hemingway vivia em Madrid na época, participando ao lado de outros intelectuais progressistas de esquerda de toda a Europa e EUA, da defesa da cidade.





Quinta Coluna foi o termo usado para designar os madrilenos apoiadores do golpe que invadiam Madrid.


Franco atacou com quatro colunas do exército e a quinta coluna foi a de apoiadores àqueles que invadiam e destruíam a cidade.



A partir desse evento o termo "quinta coluna" é usado de forma jocosa indicando os vira casacas e traidores da pátria.


Hemingway descreve de forma dura e realista os combates na cidade de Madrid, sua destruição por canhões.


 As forças inimigas que avançavam sobre Madri não tinham o hábito de poupar seus prisioneiros. Da mesma forma, os membros da Quinta-Coluna que fossem apanhados dentro da cidade nas semanas iniciais da Guerra Civil eram também eliminados sumariamente. Com o correr do tempo, passaram a ser submetidos à Justiça e condenados a trabalhos forçados ou à morte, dependendo da gravidade dos crimes que houvessem cometido contra a República. Nos primeiros dias, entretanto, eram sempre fuzilados. Mereciam isso, pelas regras de luta, e por certo o esperavam. Alguns defensores fanáticos da República Espanhola — note-se que fanáticos jamais conseguem trazer novos adeptos para as causas que defendem — criticarão minha peça pelo fato de ela deixar claro que os membros da Quinta-Coluna eram fuzilados. 


A peça foi escrita no outono de 1937, quando todos esperavam uma grande ofensiva.

Ato I - cena I

"São sete e meia da noite. Um corredor no primeiro andar do Hotel Flórida em Madrid. Um grande papel branco escrito à mão está afixado na porta do apartamento 109, onde se lê em inglês: Working do not disturb (Trabalhando não perturbem)"



Ato 1 -  Cena II

Interior do quarto 109. ...Um aquecedor elétrico ligado brilha vivamente. e uma jovem bela, alta e loira, encontra-se sentada numa das cadeiras. A jovem é Dorothy Bridges. Um homem de cerca de 35 anos com uma jaqueta de couro, calça de veludo e botas enlameadas, está de pé olhando um mapa. seu nome é Preston.




A peça faz parte do livro "Short stories of Hemingway. A minha edição é da Modern Library - New York e se encontra no original em inglês.





Hemingway se opunha firmemente ao regime fascista de Franco, aliado do nazismo de Hitler, que usou sua força área para bombardear impiedosamente civis na cidade Guernica, cidade de Biscaia no país basco em abril de 1937.

Famosa obra de Pablo Picasso - Guernica




Fontes:
docero.com.br
books.google.com.br
google.com
The short stories of Ernest Hemingway - The Modern Library - New York
wikipedia.org

terça-feira, 30 de março de 2021

Vamos falar hoje de uma forma de comunicação muito popular da língua portuguesa falada, os pregões.


A palavra pregão significa, ato ou efeito de apregoar, divulgar produtos, oferecer mercadorias.


As bolsas de valores até pouco tempo atrás personificavam a forma mais genuína do pregão.


Pregão Viva Voz

Vamos nos ater, entretanto, na forma mais genuína de pregão, o pregão das ruas, das feiras-livres.

Segundo o poeta e cronista Álvaro Moreyra, no texto "Pregões musicavam a rua" : "Todas as manhãs e de tarde e de noite, a raça brasileira passa pela minha porta na voz dos pregões cariocas..."


"Alguns, cheios de madrugada, ainda:

- Vai frango...
Vai galinha gor?da...
- Olha a laranja suletra...
Olha a boa tangerina...

E vem vindo cada um com o seu tom diferente, o seu ritmo inconfundível:

- A freguesa quer ovos
- Jabuticaba mineira...mineira...mineira...



O conhecido "pamonhas, pamonhas, pamonhas"







Feira de Mangaio - Clara Nunes e Sivuca


A fala do feirante envolve, aproxima e passa credibilidade mesmo sem ter a técnica de um script de atendimento. Tem origem nos bazares, quando as negociações imperavam e estimulavam barganhas nos rituais de compra e venda. E tem inspiração nos pregões de antigamente, entoados em feiras livres pelo país, como este de João de Barro: “Amendoim torradinho, tá quentinho, também.


" Os pregões dos vendedores ambulantes têm em mim um amigo enternecido. Gosto de ouvi-los, pela manhã, quando enchem minha rua de ritmos desencontrados, anunciando frutas e galinhas, peixes e legumes, vassouras e ovos..."(cidade mulher - Álvaro Moreyra - p.70)

A linguagem popular, por vezes de forma errada, desconexa, engraçada, mas que comunicam àquilo que tem de ser comunicado é um exemplo das diversas formas de comunicação da cultura brasileira.

Fontes:
wikipedia.org
google.com
mundodomarketing.com.br
youtube.com
rio.rj.gov.br - cidade mulher
Silveira, Maria Marta - português para o ginásio



segunda-feira, 29 de março de 2021

 Vamos falar do gênero literário - Conto.


O cavalo e o burro - contos infantis


Conto: É uma narrativa curta. O tempo em que se passa é reduzido e contém poucas personagens que existem em função de um núcleo. É o relato de uma situação que pode acontecer na vida das personagens, porém não é comum que ocorra com todo mundo. Pode ter um caráter real ou fantástico da mesma forma que o tempo pode ser cronológico ou psicológico.








Classicamente, diz-se que o conto se define pela sua pequena extensão. Mais curto que a novela ou o romance, o conto tem uma estrutura fechada, desenvolve uma história e tem apenas um clímax. Num romance, a trama desdobra-se em conflitos secundários, o que não acontece com o conto. O conto é conciso.


A rosa e o sapo

“A rosa se emocionava quando a elogiavam. No entanto, ela queria que a vissem mais de perto; não entendia por que todos a observavam à distância.

Um dia ela percebeu que a seus pés sempre estava um enorme sapo escuro. Ele não tinha nada de bonito, com sua cor opaca e suas manchas feias. Além disso, seus olhos eram bem esbugalhados, assustando a todos. A rosa entendeu que as pessoas não se aproximavam por causa desse animal.

Imediatamente, ela ordenou que o sapo fosse embora. Ele não percebia que dava a ela uma imagem negativa? O sapo, muito humilde e obediente, aceitou prontamente. Ele não queria incomodá-la e então foi embora.

Alguns dias depois, a rosa começou a se deteriorar. Suas folhas e pétalas começaram a cair. Ninguém queria mais olhar para ela.

Perto dela passava um lagarto que a viu chorando. Ele perguntou o que estava errado e ela respondeu que as formigas a estavam matando. Então o lagarto disse o que a rosa já sabia: “Era o sapo que comia as formigas e mantinha a sua beleza“.



A literatura brasileira é  repleta de grandes contistas como: Machado de Assis, Dalton Trevisan, Nélida Piñon, Cora Coralina, Rubens Fonseca, Clarice Lispector e tantos outros.



Fontes:
wikipedia.org
google.com
infoescola.com
todamateria.com.br
educacao.uol.com.br
youtube.com

domingo, 28 de março de 2021

Noticia de Jornal - crônica de Fernando Sabino.




A crônica é um gênero textual curto escrito em prosa, geralmente produzido para meios de comunicação, por exemplo, jornais, revistas, etc.

Além de ser um texto curto, possui uma "vida curta", ou seja, as crônicas tratam de acontecimentos corriqueiros do cotidiano.

Do latim, a palavra “crônica” (chronica) refere-se a um registro de eventos marcados pelo tempo (cronológico); e do grego (khronos) significa “tempo”.

Portanto, elas estão extremamente conectadas ao contexto em que são produzidas, por isso, com o passar do tempo ela perde sua “validade”, ou seja, fica fora do contexto.


Fernando Sabino



Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, trinta anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante setenta e duas horas, para finalmente morrer de fome.

Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos de comerciantes, uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome.

Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era alçada da Delegacia de Mendicância, especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome.

O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Médico Legal sem ser identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome. Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa – não é homem. E os outros homens cumprem deu destino de passantes, que é o de passar. Durante setenta e duas horas todos passam, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem perdão.

Não é de alçada do comissário, nem do hospital, nem da radiopatrulha, por que haveria de ser da minha alçada? Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome.

E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de fome, diz o jornal. Louve-se a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome, pedindo providências às autoridades. As autoridades nada mais puderam fazer senão remover o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse, para escarmento dos outros homens. Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome.

E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição em plena rua, no centro mais movimentado da cidade do Rio de Janeiro, um homem morreu de fome.

Morreu de fome.



Fontes:
contosbrasileiros.com.br
todamateria.com.br
google.com

sábado, 27 de março de 2021

 

Gol de Ghiggia na final de 1950



Como esse gol pôde marcar toda a brilhante carreira de um homem ?




Moacir Barbosa do Nascimento, mais conhecido como Barbosa (Campinas 27 de março de 1921 — Praia Grande, 7 de abril de 2000), foi um futebolista brasileiro que atuou como goleiro.



Embora tenha sido considerado um dos maiores goleiros de sua época, Barbosa é mais lembrado por sua participação na derrota da Seleção Brasileira na final da Copa do Mundo de 1950, contra o Uruguai, em particular pelo segundo gol uruguaio, marcado por Alcides Ghiggia. Por causa da derrota, conhecida como "Maracanazo", o goleiro Barbosa foi acusado de ter falhado ao levar o gol da derrota e carregou até a morte o fardo da derrota. Barbosa morreu de tristeza por ser considerado o motivo da derrota brasileira. Após a Copa do Mundo de 1950, ele retornou ao Vasco da Gama, onde foi ovacionado por ser uma referência na história do time, porém a nação brasileira sempre o crucificou pelo gol sofrido na Copa do Mundo de 1950.




Foi um goleiro seguro e elástico, dotado de excelente senso de colocação, que jamais temeu mergulhar nos pés dos adversários. Barbosa começou a carreira como ponta-esquerda no extinto Comercial da Capital, mas transferiu-se já como goleiro ao C. A. Ypiranga, extinto clube de futebol de São Paulo. Suas ótimas atuações no clube, por onde jogou por três anos, atraíram a atenção do Vasco, que o contratou em 1945, substituindo o goleiro Rodrigues. Ele só iria conseguir a vaga de titular em 1946, permanecendo dono da posição até meados de 1956.







Barbosa entrou em um momento muito especial do Vasco, que na época montava um de seus maiores times, o chamado Expresso da Vitória. Pelo clube, ganhou os Cariocas de 1945, 1947, 1949, 1950, 1952 e 1958. Teve também ativa participação na conquista do Campeonato Sul-Americano de Campeões (precursor da atual Libertadores da América) em 1948.


Timaço do Vasco da Gama - Expresso da Vitória


Ele também jogou pelo Santa Cruz F.C. do Recife e os clubes Bonsucesso F.C. do Rio de Janeiro e em junho de 1962 a Campo Grande A.C também do Rio de Janeiro. Foi bicampeão brasileiro pela seleção carioca em 1950 e campeão sul-americano pela seleção brasileira em 1949.

Após a derrotada seleção brasileira diante da Alemanha por 7 x 1, sua filha, Tereza Borba, a filha adotiva de Barbosa, declarou: "Sou brasileira, queria que o Brasil ganhasse, mas estou vendo de outra forma agora. Muita gente está dizendo que o Barbosa hoje está sendo inocentado. Acho que ele lavou a alma agora. Ele não passou essa vergonha."
Segundo o falecido cronista Armando Nogueira, Barbosa foi "certamente, a criatura mais injustiçada na história do futebol brasileiro. Era um goleiro magistral. Fazia milagres, desviando de mão trocada bolas envenenadas. O gol de Ghiggia, na final da Copa de 50, caiu-lhe como uma maldição. E quanto mais vejo o lance, mais o absolvo". Pois agora, tanto Tereza quanto seu pai, onde quer que esteja, podem ficar tranquilos: a 'maldição' foi enterrada nesta terça. A sete palmos abaixo da terra. Em cada um dos sete gols alemães. Descanse em paz, Barbosa.

Barbosa costuma dizer que no Brasil a pena máxima por um crime é de 30 anos, no entanto ele estava pagando por sua falha por muito mais tempo que isso.




Apesar da sólida carreira e dos títulos conquistados, Barbosa não fez fortuna com o futebol. Após pendurar as luvas, o então ex-goleiro se tornou funcionário da Suderj — órgão do Estado do Rio responsável pela administração de complexos esportivos — e trabalhou como instrutor de natação para jovens e adultos nas piscinas do Maracanã.

Já aposentado, foi viver em Praia Grande, litoral de São Paulo, quando ganhava mensalmente algo em torno de R$ 130, como revelou em uma entrevista ao Esporte Espetacular em 1999. À época, Tereza procurava um novo lar para Barbosa, que teria alguns dias para sair de onde morava, e recorreu a Eurico Miranda. O dirigente, que pouco depois se tornaria presidente, respondeu prontamente.

"Ele tinha uns dez dias para sair de onde estava morando e estávamos correndo atrás. O Eurico ligou aqui para casa para chamar para um evento que aconteceria em São Januário, para os campeões de 48 [Sul-Americano]. No dia seguinte ao evento, estava tendo uma reunião em São Januário com ex-jogadores e alguns vascaínos ilustres. Eu expliquei ao Eurico a situação e ele disse: 'Tereza, deixa comigo. Não é dinheiro do Vasco, não'. Ele começou a dar uma ajuda mensal".

A relação de Eurico Miranda com Barbosa, e outros integrantes do "Expresso da Vitória", era antiga.



A família de Barbosa mantém sua memória viva e sempre está na mídia em defesa da história do goleiro, de quem querem que seja lembrado pelo que fez no Clube Carioca e não apenas pelo revés na Copa de 1950. Em recente entrevista, a filha do jogador defendeu que o Centro de Treinamento do Vasco, que está em construção, tenha o nome do ex-goleiro, que segundo ela, jogou por amor e honrou a camisa cruzmaltina.




Fontes:
wikipedia.org
google.com
youtube.com
uol.com.br/esportes


sexta-feira, 26 de março de 2021



Vamos falar hoje do romance Jane Eyre de Charlotte Brontë.




Charlotte Brontë (Thornton, 21 de Abril de 1816 de — Haworth, 31 de Março de 1855) foi uma escritora e poetisa inglesa, a mais velha das três irmãs Brontë que chegaram à idade adulta e cujos romances são dos mais conhecidos da literatura inglesa. Escreveu o seu romance mais conhecido, Jane Eyre com o pseudônimo Currer Bell.

Filha de um pastor anglicano, era irmã de Emily Brontë, autora do "Morro dos Ventos Uivantes" (Wuthering Heights).

Jane Eyre é a autobiografia ficcional da personagem principal.

O tema abordado por Charlotte é bastante avançado para sua época (Era Vitoriana), onde as mulheres deviam se submeter aos homens, e não tinham quaisquer direitos ou regalias, exceto àquelas permitidas pela sociedade patriarcal.

Jane Eyes, representa o feminismo numa época em que isso nem era cogitado.

As irmãs Brontë, foram criadas de forma severa por seu pai, e estudaram numa escola ponde a epidemia de tuberculose se alastrou tirando a vida de suas duas irmãs mais velhas; Emily e Anne. Charlotte se casou anos mais tarde com um assistente de seu pai Arthur Bell Nicholls.

Charlotte Brontë





A narrativa acompanha a personagem Jane Eyre da infância à vida adulta. Durante sua trajetória, ela mora em diversas casas que foram importantes para o desenvolvimento de sua personalidade e de seus valores morais. Em um primeiro momento, Jane é apresentada enquanto uma menina de dez anos, selvagem e desobediente, que vive na mansão de Gateshead Hall sob a tutela de sua tia.



– Você não tem nada que ficar pegando os nossos livros, a mamãe diz que você é uma dependente. Não tem dinheiro, seu pai não lhe deixou nada, você devia estar pedindo esmolas, e não vivendo aqui com filhos de cavalheiros como nós, comendo a mesma comida e vestindo as roupas que a mamãe lhe dá. Agora vou lhe ensinar a remexer nas minhas estantes, porque elas são minhas, está ouvindo? Toda esta casa me pertence, ou vai pertencer em pouco tempo. Vá e fique junto da porta, longe do espelho e das janelas. Fui me colocar ali, sem me dar conta, a princípio, de sua intenção. Mas quando o vi levantar o livro, equilibrá-lo e parar no ato de arremessá-lo contra mim, imediatamente me joguei para o lado, gritando alarmada. Mas não fui rápida o bastante. O livro foi atirado, me atingiu e eu caí, batendo a cabeça contra a porta e fazendo um corte. Comecei a sangrar e senti uma dor aguda, mas o terror passou do limite e outros sentimentos tomaram o seu lugar. (Jane Eyre - p.15/16)





Após um confronto com esta, Jane é enviada para uma escola, Lowood, onde conhece os primeiros momentos de felicidade.



– Você é uma menina estranha, Miss Jane – disse ela, enquanto me olhava – uma coisinha um tanto solitária e arredia. Está indo para a escola, então? Assenti com a cabeça. – E não vai lamentar deixar a pobre Bessie? – Lamentar por quê? Bessie vive ralhando comigo. – Porque você é uma coisinha muito estranha, tímida e assustada. Devia ser mais corajosa... – O quê? Para apanhar mais? – Bobagem! Você vai se sair bem, tenho certeza. Minha mãe me disse, quando veio me ver na semana passada, que não gostaria de ter uma filha dela na sua situação... Agora venha, tenho boas notícias para você. – Acho que não tem, Bessie. – Menina! O que quer dizer? Por que me olha com esses olhos tão tristes? Venha, a senhora, o senhor John e as meninas vão sair para tomar chá esta tarde, e você vai tomar chá comigo. Vou pedir à cozinheira para fazer um pequeno bolo e então você vai me ajudar a examinar as suas gavetas. Tenho que fazer a sua mala logo, a senhora quer que você parta dentro de um dia ou dois, e você tem que escolher os brinquedos que quer levar.
(Jane Eyre -p. 52)



Sua educação é rigorosa e ela passa por diversas transformações durante os oito anos que vive na instituição. Formada e depois de ter trabalhado dois anos como professora da mesma escola, Jane resolve seguir outros caminhos, aceitando trabalhar como preceptora da jovem Adèle, na casa de Thornfield Hall, pertencente ao sr. Edward Rochester. É em Thornfield Hall que a história encontra seu clímax. Jane será confrontada por dilemas éticos e morais e deverá tomar decisões a partir de tudo o que viveu e amadureceu nos anos anteriores.

– Pode me dizer o que significa essa inscrição sobre a porta? O que é Instituição Lowood? – É esta casa para onde você veio. – E por que chamam de Instituição? Ela é diferente das outras escolas? – É em parte uma escola de caridade: você, eu e todas as outras somos asiladas. Creio que você é órfã, não é? Seu pai ou sua mãe não morreram? – Ambos morreram antes que eu tivesse entendimento. – Bem, todas as meninas aqui perderam o pai ou a mãe, ou ambos, e por isso Lowood é chamado de uma instituição para a educação de órfãs. – Não pagamos nada? Vivemos aqui de graça? – Pagamos, ou nossos parentes pagam, quinze libras por ano cada uma. – Então porque somos consideradas asiladas? – Porque quinze libras não são quase nada para pagar o estudo, abrigo e refeições. A diferença vem dos doadores.

(Jane Eyre - p.65) 

A instituição de Lowood é onde Jane passa pela sua formação e amadurecimento, as características selvagens e voluntariosas da garota vão perdendo a intensidade e ela adquire uma personalidade mais contida. O lugar é praticamente inóspito, habitado por algumas professoras e criadas além das muitas alunas. Estas estudantes vivem em uma rotina extremamente regulada, com a aparência uniformizada e pouca comida.



A direção do sr. Brocklehurst é severa e as garotas vivem em alto grau de miséria. Além dos conflitos gerados pela própria instituição, o diretor descreve Jane para o grande grupo enquanto uma mentirosa e aconselha as outras garotas que se afastem de sua presença. É neste momento de incerteza que Jane faz amizade com Helen Burns, uma garota mais velha, que impactaria o restante de sua vida.

Jane Eyre passa oito anos em Lowood. Em seis deles ela completou a sua instrução e em dois deles desempenhou a função de professora ao lado da srta. Temple. Durante esses anos, Jane passa por mudanças significativas, muitas das quais são atribuídas a essa amizade partilhada com a antiga professora, considerada por Jane um modelo a ser seguido. No fim desses oito anos, a srta. Temple casa-se e deixa a instituição, o que acaba deixando Jane deslocada e com a necessidade de mudar de ares. É quando Jane resolve disponibilizar seus serviços enquanto preceptora para as famílias que estivessem à procura. Ela recebe a resposta da sra. Fairfax, que faz a proposta que Jane venha morar em Thornfield Hall, uma mansão em que ela seria acolhida enquanto trabalharia com a instrução da da jovem Adèle, pupila do senhor da casa.

Na mansão Thornfield Jane passa bons momentos de sua vida e descobre o amor. Ela se apaixona pelo Sr. Rochester.  O relacionamento entre eles só não se concretiza como casamento porque Jane descobre que ele já é casado. Sua esposa insana, Bertha Mason, é mantida trancada no sótão da mansão.

Numa tarde, Jane foi chamada à sala para falar com um homem trajando luto fechado que queria ter com ela. Percebeu tratar-se do empregado de algum nobre.

– Creio que não se lembra de mim, Miss – disse ele, levantando-se ao me ver entrar – mas meu nome é Leaven. Fui cocheiro de Mrs. Reed quando a senhorita estava em Gateshead, há oito ou nove anos, e ainda vivo lá. – Oh,- Robert! Como vai? Lembro-me de você muito bem. Costumava me deixar montar o pônei baio de Georgiana. E como vai Bessie? Casou-se com ela, não é? – Sim, Miss. Minha esposa está muito bem, obrigado. Deu-me outro filhinho, dois meses atrás – agora temos três. Tanto a mãe quanto o pequeno estão muito bem. – E como estão as pessoas na mansão, Robert? – Lamento não poder dar-lhe notícias melhores, Miss. Estão muito mal no momento, em grande aflição. – Espero que ninguém tenha morrido – disse, olhando para sua roupa preta. Ele também olhou para a faixa no chapéu e disse: – Ontem fez uma semana que Mr. John morreu, no seu apartamento em Londres. (Jane Eyre p.276)


– A patroa anda doente há bastante tempo. Ela sempre foi muito robusta, mas não era forte o bastante para tudo isso. A perda de dinheiro e o medo da pobreza estão aniquilando-a. A notícia da morte de Mr. John – e o tipo de morte que teve – veio de repente. Ela teve uma crise. Ficou três dias sem falar, mas na última terça-feira melhorou. Parecia querer dizer alguma coisa, murmurava e fazia sinais para minha mulher. Foi só ontem pela manhã que Bessie entendeu que ela pronunciava o seu nome. Por fim ela conseguiu dizer: “Tragam Jane Eyre... Busquem Jane Eyre. (p.277)

Na quarta parte do enredo, Jane vai parar em uma pequena cidade no interior onde é acolhida pelos Rivers, família com configuração semelhante à do início da narrativa. Os Rivers são duas irmãs e um irmão (bem como no caso dos Reeds). Ademais, o seu primo do início da narrativa se chama John Reed, enquanto o irmão da família Rivers, St. John. Também pode-se relacionar essa proximidade com o próprio nome das famílias: ambos os nomes são parecidos fonética e graficamente e, em relação ao significado, a palavra reed se refere às plantas que nascem geralmente nas encostas dos rios, a palavra river significa rio. Ou seja, há um retorno em relação aos eventos do enredo. A protagonista está desamparada e é acolhida pelos Rivers (que posteriormente descobre que são seus primos também). Então ela começa a lecionar na escola paroquial e quase se casa, mas agora com seu primo St. John, que tem o intuito de formar com ela um casal de missionários. Jane praticamente recomeça sua trajetória.

Jane se recusa a casar com St. John e resolve procurar Rochester, porque ela escuta misteriosamente um chamado dele, mesmo sabendo que não havia ninguém além de seu primo em casa e nem nos arredores da casa. Ela tem certeza de ter ouvido a voz de Rochester, mesmo sabendo da impossibilidade.

 Esse fato sobrenatural e nada realista faz, então, com que Jane busque o Sr. Rochester, a quem ama de fato. Ela o encontra em Ferndean Manor, uma antiga casa de caça da família.




Contudo, agora ele está cego e teve uma mão amputada devido a um incêndio provocado por Bertha Mason, no qual a esposa de Rochester morre. A narrativa então chega ao fim quando ele, agora viúvo, e Jane se casam. Esse fim pode ser lido como uma reivindicação de novos valores, visto que agora Jane está mais no controle da situação do que na ocasião anterior em que ambos se casariam. Agora a protagonista agora é independente economicamente, está bem física e psicologicamente, possui um conhecimento de mundo maior e tem experiências de trabalho.




Jane alcançou o que queria por vontade própria e tornou-se, simbolicamente, os olhos, os braços de Rochester, reforçando o ideal burguês insurgente no século XIX. 


A passagem do pai ao marido não significava, é claro, apenas uma transição de jurisprudência, mas também a passagem de uma propriedade a outra. Este marco do lugar político-social da mulher ser dentro de propriedades é exemplificado com habilidade pelos romances góticos ingleses. 

Jane Eyre e Catherine Earnshaw (Morro dos ventos uivantes) são duas mulheres em busca de liberdade e apegadas aos ambientes frios e úmidos das mansões onde foram criadas.


Jane Eyre foi levado ao cinema numa produção de 2011, com direção de Cary Fukunaga com : Mia Wasikowska - Jane Eyre; Michael Fassbender - Edward Rochester.


Jane Eyre - trailer 2011



Fontes:
wikipedia.org
google.com
ufmg.br/jane-eyre
amazon.com.br
folha.uol.com.br
core.ak.uk
valkirias.com.br/jane-eyre
youtube.com


quinta-feira, 25 de março de 2021


“O rio Tamaduateí corria ao lado da via, abaixo do Mosteiro de São Bento, e tinha em seu percurso sete voltas. No final da sétima volta ficava o Porto Geral, onde eram desembarcados os produtos importados que vinham do porto de Santos. O nome do Porto foi dado à conhecida Ladeira Porto Geral, uma das travessas da 25 de Março. Em janeiro de 1850, os moradores do local enfrentaram uma enchente histórica, que destruiu dezenas de casas. No final do século XIX, o rio Tamanduateí foi drenado, e a região passou a se chamar rua de baixo, conhecida atualmente como o baixo de São Bento. Somente em novembro de 1865 o nome da rua foi alterado para 25 de Março.” ( Livro - Mascates e sacoleiros - Lineu Francisco de Oliveira)


Considerado o maior centro comercial da América Latina, a data de hoje marca o aniversário da conhecida Rua 25 de Março, no Centro de São Paulo. Recentemente, o livro Mascates e Sacoleiros (Scortecci Editora, 158 páginas), de Lineu Francisco de Oliveira, publicado em 2010, afirma que o primeiro ofício de registro do local é de 1865, em substituição à Rua de Baixo. O novo nome foi escolhido em uma homenagem da Câmara Municipal e do Poder Executivo ao dia em que foi redigida a primeira Constituição brasileira de 1824, outorgada pelo imperador D. Pedro I.




A história da rua também é marcada pela forte presença de imigrantes, especialmente sírios, libaneses e chineses.

Atualmente, a região, que passou por uma modernização, recebe um misto de consumidores, deste a sacoleira até a madame. Ali, encontram todo o tipo de produto: caro, barato, sofisticado, simples, nacional e importado, no varejo e atacado. Às vésperas de feriados importantes, o comércio da 25 de Março chega a receber 1 milhão de pessoas.






Enquanto muitos consumidores e comerciantes celebram as boas compras e vendas, por outro lado a 25 de Março sofre com alguns problemas desde seus primórdios. Um deles são as enchentes, um obstáculo registrado pela primeira vez em 1850 e que assola a região até os dias atuais. Também, desde os tempos mais antigos, a segurança do local não é das melhores e quem passa por ali sabe que tem que ficar de olhos bem atentos aos seus pertences. 



Rua XXV de Março - 1973.




Nos dias atuais, o comércio local é conhecido pelo alto volume de barracas de camelôs que disputam espaço com as lojas comerciais, shoppings e galerias. Esses estabelecimentos ofertam os mais diversos produtos tanto nacionais quanto importados. Embora a região seja de extrema importância econômica, social e cultural para a sociedade, casos de irregularidades com mercadoria, baixa segurança pública e outros crimes também fazem parte da história da rua 25 de Março.



Fontes:
history.uol.com.br
google.com
diariodotransporte.com.br
wikipedia.org


quarta-feira, 24 de março de 2021







No dia 24 de março de 1905 morria em Amiens, na França, Júlio Verne, escritor famoso pelas suas histórias de aventuras. O autor é considerado um dos pais da ficção científica. Ele ficou muito conhecido pela série Voyages Extraordinaires e, entre seus notórios livros estão "Viagem ao Centro da Terra" (1864), "Da Terra à Lua" (1865), "Vinte Mil Léguas Submarinas" (1870) e "A Volta ao Mundo em Oitenta Dias" (1873), esta última considerada sua obra mais importante.
Tudo o que um homem pode imaginar, outros homens poderão realizar.




Seus livros abordavam novos avanços científicos que só se concretizariam muitos anos depois, como os submarinos, máquinas voadoras e viagem à Lua. Seus livros ainda servem de inspiração ou são adaptados para produções no cinema, teatro e televisão.

Ele é considerado o primeiro escrito de ficção científica da História.




Seus relatos são tão impressionantes que versavam sobre foguetes; escafandros, submarinos em pleno século XIX. Em meio de suas obras ele transmitia informações sobre matemática e física importantes; como em "Volta ao mundo em 80 dias" em que o personagem começou a viagem aleatoriamente em direção ao leste (direção do Sol) e com isso ganhou um dia a mais. Ou em "viagem ao centro da Terra", quando ele se perde do sobrinho e pede para que esse fale com ele bem alto. Assim com o som da voz do sobrinho como guia ele calcula em quantos segundos o som se propaga pela caverna, sabendo que a velocidade do som é 337m/s, logo ele descobre qual a distância dele para o sobrinho.




Nascido em Nantes, na França, no dia 8 de fevereiro de 1828, Júlio Verne se formou em Direito em Paris, mas desistiu da profissão de advogado para escrever peças teatrais. Até hoje ele é o escritor cuja obra foi mais traduzida em toda a história, sendo publicado em 148 idiomas .


Fontes:
history.uol.com.br
google.com
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terça-feira, 23 de março de 2021

Vamos falar hoje do romance do grande escritor baiano Jorge Amado - Terra dos sem fim.




O escritor baiano 

Jorge Amado de Farias nasceu na Fazenda Auricídia, em Ferradas, município de Itabuna, Bahia, no dia 10 de agosto de 1912. Filho de João Amado de Faria e Eulália Leal Amado, fazendeiros de cacau.

Em janeiro de 1914 mudou-se com a família para a cidade de Ilhéus, onde passou a infância. Com 11 foi estudar no Colégio Antônio Vieira, em Salvador, onde aprendeu o gosto pela leitura com o padre Cabral.




Aos 12 anos fugiu do internato e foi para Itaporanga, em Sergipe, onde morava seu avô. Depois de alguns meses, seu pai mandou buscá-lo e sem desejar voltar para a escola, Jorge foi plantar cacau.

Depois de seis meses no meio do povo, tomou conhecimento da luta entre fazendeiros e exportadores de cacau, que iria marcar fortemente sua obra de romancista.

Em 1930, Jorge Amado mudou-se para o Rio de Janeiro. Em 1931 ingressou na Faculdade de Direito.

Em 1932, publicou seu primeiro romance O País do Carnaval, que narra a tentativa frustrada de um intelectual brasileiro, de formação europeia, de participar da vida política e cultural brasileira. Tendo fracassado regressa à Europa.

Em 1933 lança seu segundo livro Cacau, que teve vários exemplares apreendidos. Em 1936, Jorge foi preso, por pertencer à Aliança Libertadora Nacional, junto com outros intelectuais, entre os quais Graciliano Ramos.

Em 1937 publica Capitães de Areia, que retrata a vida de menores delinquentes da Bahia. A obra é apreendida pela censura do Estado Novo, e ele é novamente preso.

Em 1941 refugia-se na Argentina e começa a redigir O Cavaleiro da Esperança, que relata a vida de Luiz Carlos Prestes.







Filiado ao partido comunista se elegeu deputado federal em 1945, cassado três anos depois mudou-se para Paris.





O romance Terras do sem fim, foi escrito em 1942 durante um dos seus exílios em Montevidéu. Mais uma vez o autor de Gabriela e Capitães da areia retrata o sul da Bahia e as plantações de cacau.

" Há dez anos passados escrevi um romance, pequeno e violento, sobre o mesmo tema o cacau, ao qual volto hoje. Tinha eu então dezenove anos e iniciava a minha vida de romancista.
Nesses dez anos escrevi sete romances, duas biografias, alguns poemas, centenas de artigos, dezenas de conferência. Nesses dez anos lutei diariamente, viajei, fiz discursos, vivi com meu povo a sua vida. Constato com imensa alegria que uma linha de unidade jamais quebrada liga não só toda a minha obra realizada nesses dez anos como a vida que durante eles vivi: a esperança -  mais que a esperança, certeza -  de que o dia de amanhã será melhor e mais belo. Em função desse amanhã, cuja madrugada já se levanta sobre a noite da guerra nos campos do Este europeu, tenho vivido e escrito."

Montevidéu, agosto de 1942.


Prefácio do romance Terras do sem fim.


A exploração do cacau trouxe para a região de Ilhéus, no sul da Bahia, o desenvolvimento e com este os mais diversos tipos humanos que ali aportavam, atraídos pelas histórias de terras férteis e dinheiro em abundância. Para todos, que chegavam, Ilhéus era a primeira ou a última esperança.





Dentre as pessoas vindas de longe, iludidas por essa febre, encontravam-se, no mesmo navio, o lavrador Antônio Vítor que sonhava com uma roça de cacau só sua, o aventureiro João Magalhães, jogador de cartas trapaceiro e falso engenheiro militar, que se via ganhando muito dinheiro no carteado, graças ao "azar" dos velhos coronéis milionários, e a prostituta Margot que deixara Salvador para encontrar o amante, o advogado Dr. Virgílio que, na esperança de riqueza fácil, já se encontrava em Ilhéus, esperando colocar seu conhecimento de leis a serviço da ambição dos coronéis.

Após o desembarque, encontraram em Ilhéus e vilarejos adjacentes: Ferradas e Taboca, sociedades em formação, conturbadas pela ganância dos poderosos, onde a lei era a dos mais fortes e corajosos, tornando-se por isso selvagens e violentas. Depararam-se com o conflito entre dois grandes latifundiários: o Coronel Horácio e a família Badaró que, em busca de expansão do patrimônio e força política, lutavam pela posse das matas do Sequeiro Grande, que ficavam entre as duas propriedades.

Coronel Horácio, ex-tropeiro e empregado de uma roça no Rio-do-Braço, enriquecera plantando cacau. Como próspero fazendeiro, ajudara a construir a capela de Ferrada e a igreja de Taboca, mantendo assim sua força política no local. Viúvo, casara-se novamente com a bela e jovem Ester, que lhe deu um filho, seu orgulho. Tudo o que fazia era em nome de um futuro brilhante para esse menino. Seu grande amor era a esposa, mulher fina, inteligente e culta; falava o francês e adorava música. Era feliz pelo que ela representava. Ester, no entanto, não o amava. Para ela, a vida na fazenda era um tédio, um martírio; vivia apavorada com medo de insetos e cobras. Isso se refletia no frio relacionamento sexual com o marido, que tudo relevava, em nome da paixão.

Os advogados eram bem vindos em Ilhéus, onde faziam fortunas. Os grandes latifundiários, quando queriam se apossar de um roçado vizinho, para, gananciosamente, aumentar seu patrimônio, solicitavam de um advogado um "caxixe", documento falso de propriedade, que expulsava, o pequeno lavrador de seu roçado. Assim, de um dia para outro, este se via forçado a deixar sua lavoura, conquistada, na maioria das vezes, com muito sacrifício. Se, no entanto, punha resistência, era morto pelos jagunços do coronel que, em "tocaia", esperavam-no passar por uma das estradas solitárias do sertão.

Virgílio e Margot viviam em casas separadas para evitar comentários do preconceituoso povoado de Tabocas. Apesar disso, ele passava a maior parte do dia em companhia da amante. Pareciam felizes. Ao contratar os serviços de Virgílio para regularizar a medição e os documentos de posse das terras de Sequeiro Grande, o coronel Horácio convida-o para um jantar em sua casa. Durante esse evento, Virgílio conhece Maneca Dantas, compadre e amigo de Horácio, e Ester que, ao final, aceitara tocar piano para eles. Fica fascinado por ela que, por sua vez, encantara-se com a voz, a cabeleira loira, o olhar lânguido e as maneiras finas do jovem doutor. Nessa noite, Horácio se surpreendeu com a mudança da mulher na cama; mais calorosa e receptiva, entregava-se com paixão; achou que ela ainda o amava.





Terras do sem-fim é considerado por muitos críticos, entre eles Antonio Candido, como a mais alta realização literária de Jorge Amado. A força ficcional do romance concentra-se no retrato social profundo, inspirado nas experiências de infância e juventude do próprio autor, nascido em uma fazenda de cacau em Ferradas, distrito de Itabuna.

O livro integra, ao lado de Cacau (1933) e São Jorge dos Ilhéus (1944) o ciclo de romances de Jorge Amado que tematizam a cultura cacaueira. O desbravamento das matas do litoral baiano, as disputas em torno da posse da terra e a vida social das cidades da região marcariam de tal forma a vida do escritor que ele voltaria a esse universo, desdobrando o tema e mudando sua perspectiva, em livros como Gabriela, cravo e canela (1958) e Tocaia grande (1984), assim como nas memórias de O menino grapiúna (1981).

Terras do sem-fim foi o primeiro livro de Jorge Amado a ganhar as telas de cinema, em 1948, numa adaptação feita pela companhia cinematográfica Atlântida, com o título Terra violenta e direção do americano Eddie Bernoudy. O texto também viraria novela de TV: na Tupi, em 1966, e na Globo, em 1981.

Novela 1981 (Claudio Cavalcante e Nívea Maria)



Fontes:
wikipedia.org
Amado, Jorge - Terras do sem fim - Círculo do livro
google.com
ebiografia.com
nilc.icmc.usp.br/nilc/literatura/terrasdosemfim1
jorgeamado.com.br




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