terça-feira, 29 de novembro de 2022

Vamos falar do livro de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, "Como as democracias morrem".




Daniel Ziblatt e Steven Levitsky são professores de ciência política da Universidade de Harvard. O foco da pesquisa de Levitsky é na América Latina e em países em desenvolvimento, enquanto Ziblatt estuda a Europa do século XIX. Depois da eleição de Donald Trump, os dois professores uniram seus conhecimentos para realizar, no livro Como as democracias morrem, uma análise sobre o enfraquecimento das democracias ao redor do mundo na atualidade, comparando-os com casos passado. Ziblatt e Levitsky focam seus estudos na história da democracia norte-americana, descrevendo sua formação, momentos de crise e como o sistema de freios e contrapesos da Constituição dos Estados Unidos, bem como as regras não escritas, serviram para defender a manutenção da democracia mais antiga do mundo moderno, agora possivelmente ameaçada por um presidente de fora do establishment político que apresenta traços autoritários.

Podemos visualizar isso também no Brasil com o Governo de Jair Bolsonaro, esse sim um político experiente com vários mandatos de deputado federal, que sempre foi uma figura do chamado "baixo clero", e que, de repente, tornou-se presidente do Brasil.

A subversão democrática na maioria das vezes se daria através de medidas graduais e se iniciaria, na verdade, já através de medidas simbólicas e discursos polarizadores que buscam construir a ideia de ilegitimidade dos opositores. E prossegue através da captura ou neutralização de instituições de controle, tais como Procuradorias, Cortes de Justiça ou Tribunais de Contas, removendo seus membros mais independentes e/ou preenchendo-as com lealistas fanáticos, tanto para diminuir os riscos e limitações que tais instituições representariam aos objetivos do autocrata, quanto pelo potencial que representam na coerção dos adversários, que passam a enfrentar um campo de atuação cada vez mais desnivelado. E, apesar de as tendências autoritárias de líderes autocráticos serem frequentemente reconhecíveis e por vezes mesmo explicitamente anunciadas, desde muito antes de suas chegadas ao poder, tais líderes acabam sendo "normalizados" por parte de elites políticas que neles enxergam a possibilidade de se livrar de adversários incômodos. Minimizando os riscos ao próprio regime democrático, aproveitam-se de maneira interessada dos abusos contra seus adversários e terminam na maioria.

Estamos vivenciando, infelizmente isso em nosso país, onde o conceito de democracia é visto de forma enviesada e elitista por alguns brasileiros.





Democracia é um regime para todas as pessoas e não para um grupo determinado da sociedade. A democracia não é um regime que atenda os meus desejos e sim o que atende todos os cidadãos.

O livro coloca os partidos como os legítimos guardiões da democracia, pois são os responsáveis por escolher os candidatos que vão concorrer aos cargos públicos. Dessa forma, é necessário ter muita cautela e um processo seletivo rigoroso que impeça indivíduos despreparados ou com discursos autoritários de serem eleitos. Como citado anteriormente, os autores mostram exemplos em que essas “grades de proteção” (sic) falharam. Mas também demonstra casos em que os partidos conseguiram afastar autocratas de chegarem ao poder.Nos Estados Unidos, muitos autocratas já tentaram concorrer à presidência, porém os mecanismos de seleção dos partidos Democrata e Republicano ajudaram a impedir que isso ocorresse. Henry Ford, um magnata outsider conquistou bastante fama utilizando-se do seu semanário “Dear Born Independent” para disseminar suas opiniões contra banqueiros, judeus e comunistas, publicando artigos que afirmavam haver uma conspiração de bancários judeus contra o povo americano. Suas visões radicais se popularizaram rapidamente, e Ford era cotado para disputar a presidência. Os caciques do Partido Democrata consideraram a ideia absurda, e se mostraram totalmente contrários a terem um outsider com ideais preconceituosos como candidato à presidência. Ao perceber que dificilmente conseguiria a indicação dos Democratas, Ford desistiu da ideia. 


Henri Ford tinha ideais antissemitas e apoiava o regime totalitário nazista. 



Fontes:
ojs.ufpi.br/
periodicos.uff.br
google.com
wikipedia.org
aventurasnahistoria.uol.com.br

domingo, 27 de novembro de 2022

 Nossa bandeira jamais será vermelha !


O pior é que já foi!





O cruzador Almirante Barroso partira do Rio de Janeiro em 27 de outubro de 1888  para uma grande aventura. O objetivo era completar em menos de dois anos a circum-navegação do globo terrestre, jornada de 36.691 milhas náuticas ou cerca de 68 mil quilômetros.  Após mais de um ano navegando o navio atracou no porto de Colombo no antigo Ceilão, hoje Sri Lanka.




Lá, o comandante Custódio de Melo recebeu um telegrama para trocar a bandeira do império, trocando a coroa tradicional por uma estrela vermelha. O Brasil havia se tornado uma República.




Segundo as instruções oficiais enviadas do Rio de Janeiro, a bandeira nacional continuava praticamente a mesma, com seu largo retângulo verde sobreposto por um losango amarelo.

Desaparecia apenas a coroa imperial, que até então ocupava o centro do pavilhão. Até aquele momento, porém, ninguém sabia
exatamente o que colocar no lugar da coroa. O comunicado avisava que o navio só receberia a nova e definitiva bandeira republicana quando chegasse a Nápoles, na Itália, meses mais tarde. Um segundo telegrama dizia que, até lá, o comandante teria de improvisar:

Ice agora mesma (bandeira) nacional, substituindo coroa estrela
vermelha.

Em resumo, enquanto não se soubesse exatamente que símbolo haveria no centro da bandeira republicana, Custódio de Mello deveria apenas trocar a coroa imperial por uma estrela vermelha.

Na bandeira atual  o campo verde e o losango dourado da bandeira imperial anterior foram preservados — o verde representava a Casa de Bragança de Pedro I, o primeiro imperador do Brasil, enquanto o amarelo representava a Casa de Habsburgo de sua esposa, a imperatriz Maria Leopoldina. O círculo azul com 27 estrelas brancas de cinco pontas substituiu o brasão de armas do Império. As estrelas, cuja posição na bandeira refletem o céu visto na capital Rio de Janeiro em 15 de novembro de 1889, representam as unidades federativas — cada estrela representa um estado específico, além do Distrito Federal.

A lema "Ordem e Progresso" foi inspirado no lema positivista de Auguste Comde - " O amor por princípio e a ordem por base.O progresso por fim."



Portanto em 133 anos de República, e mesmo durante o Império nossa bandeira nunca foi vermelha, tampouco alguém sugeriu que mudasse o padrão e as cores atuais.



Fontes:
wikipedia.org
veja.abril.com.br
google.com
Gomes, Laurentino - 1889 - editora Globo
odiarioimperial.blogspot.com



sábado, 26 de novembro de 2022

Vamos abordar aqui o significado de algumas músicas brasileiras, interpretando suas letras.


Começamos com a música "Drão" de Gilberto Gil.


Drão - Gilberto Gil

Drão, o amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra geminar
Plantar n'algum lugar
Ressuscitar no chão nossa semeadura
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Nossa caminhadura?
Dura caminhada
Pela estrada escura
Drão, não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão
Estende-se infinito, imenso monolito
Nossa arquitetura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Nossa caminhadura?
Cama de tatame
Pela vida afora
Drão, os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão
Não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há
De haver mais compaixão
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Se o amor é como um grão?
Morre e nasce trigo
Vive e morre pão
Drão, Drão, ah-ah-ah
Drão, Drão, oh-oh-oh
Drão, Drão, ah-ah-ah
Drão, Drão, oh-oh-oh

A música foi lançada em 1982 como uma homenagem de Gil para sua terceira esposa, Sandra Gadelha, apelidada de Drão por Maria Bethânia.


Gil e Maria Gadelha

Ela foi escrita no período de separação do casal. Gilberto Gil afirmou sobre a canção:

 "Sua criação apresentou altos graus de dificuldades porque ela lidava com um assunto denso – o amor e o desamor, o rompimento, o final de um casamento; porque era uma canção para Sandra e para mim. “Como é que eu vou passar tantas coisas numa canção só?”, eu me perguntava."

-"Tem de morrer para germinar...."

A semente deve ser germinada para tornar-se fruto, para desabrochar.

"...cama de tatame..."

Sandra era companheira de Gil pela vida afora, especialmente durante seu exílio em Londres durante a ditadura. Já a cama de tatame é literal: segundo Sandra, dormiam sempre em um tatame no início do casamento.


Mesmo que tenham passado por momentos muito difíceis, essas situações tornaram o amor dos dois ainda mais forte e infinito.

Drão!
Os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus

Nesse ponto, o compositor lembra que seus filhos estão bem e qualquer culpa é, na verdade, dele mesmo. E continua:

Deus sabe a minha confissão
Não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão.


Preta, Pedro e Maria



Gilberto Gil e Sandra Gadelha começaram o namoro em 1968, em pleno movimento Tropicalista. Em dezembro, Gil e Caetano foram presos devido ao AI-5, quando a ditadura militar atingiu seu ápice.

Pouco tempo depois, Gilberto se casou com Drão e eles fugiram em exílio para Londres. Com Sandra, teve três filhos: Pedro, Preta e Maria Gil. Em 1979, o casal começou o seu processo de separação.

O filho Pedro  morreu num gravíssimo acidente de carro em 1990.


Outra linda música e para alguns de difícil interpretação é Gita do fantástico Maluco Beleza, Raul Seixas.

Música lançada em 1974 em parceria com Paulo Coelho.





Gita

Eu, que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando
Foi justamente num sonho que Ele me falou
Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado
Não falo de amor quase nada
Nem fico sorrindo ao seu lado
Você pensa em mim toda hora
Me come, me cospe, me deixa
Talvez você não entenda
Mas hoje eu vou lhe mostrar
eu sou a a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar
Eu sou o medo do fraco
A força da imaginação
O blefe do jogador
Eu sou, eu fui, eu vou
Eu sou o seu sacrifício
A placa de contramão
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição
Eu sou a vela que acende
Eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo
Eu sou o tudo e o nada
Por que você me pergunta?
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra
Do fogo, da água e do ar
Você me tem todo o dia
Mas não sabe se é bom ou ruim
Mas saiba que eu estou em você
Mas você não está em mim
Das telhas eu sou o telhado
A pesca do pescador
A letra "A" tem meu nome
Dos sonhos eu sou o amor
Eu sou a dona de casa
Nos "peg-pagues" do mundo
Eu sou a mão do carrasco
Sou raso, largo, profundo
Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão
É, mas eu sou o amargo da língua
A mãe, o pai e o avô
O filho que ainda não veio
O início, o fim e o meio
O início, o fim e o meio
Eu sou o início, o fim e o meio
Eu sou o início, o fim e o meio



A ideia da música veio de um texto escrito no século IV antes de Cristo da cultura indiana chamado de Bhagavad Gita.

A obra fala sobre quais seriam os caminhos para o homem evoluir espiritualmente, apresentados através de um diálogo entre Krishna, a representação de Deus, e Arjuna, um discípulo guerreiro.


Arjuna e Krishna

Grande parte da letra é baseada num diálogo entre Arjuna e Krishna, quando Arjuna pergunta quem é Krishna.

Ele então responde :  - " Entre as estrelas sou a lua… entre os animais selvagens sou o leão… dos peixes eu sou o tubarão…. de todas as criações eu sou o início e também o fim e também o meio."

Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado
Não falo de amor quase nada
Nem fico sorrindo ao teu lado


Você pensa em mim toda hora
Me come, me cospe, me deixa
Talvez você não entenda
Mas hoje eu vou lhe mostrar

As interpretações dessas duas estrofes soam ambíguas; estaria o cantor falando sobre ele mesmo ou sobre a presença do divino, onipresente e onipotente. Toda hora os que creem pensam nele, muitas vezes sem entende-lo.

Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar

Trecho da letra tirada do texto no diálogo entre Arjuna e Krishna.

Continuam as relações com o divino:

Krishna e Arjuna


Você me tem todo dia
Mas não sabe se é bom ou ruim
Mas saiba que eu estou em você
Mas você não está em mim


Das telhas, eu sou o telhado
A pesca do pescador
A letra A tem meu nome
Dos sonhos, eu sou o amor

Eu sou a dona de casa
Nos pegue-pagues do mundo
Eu sou a mão do carrasco
Sou raso, largo, profundo
(Gita! Gita! Gita! Gita! Gita!)

No início da década de 70 ainda eram raros os grandes supermercados como conhecemos hoje em dia. A marca que inicio as grandes redes de supermercados foi a Peg-Pag do grupo Pão de Açúcar, inaugurada em São Paulo em 1954. a rede terminou em 1978.




Não existe distinção entre as funções que cada um desempenha na sociedade, nem importa o local onde se está agora. Deus pode ser acessado em qualquer lugar, mas sempre dentro de você mesmo.

Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão


Eu, mas eu sou o amargo da língua
A mãe, o pai e o avô
O filho que ainda não veio
O início, o fim e o meio
O início, o fim e o meio
Eu sou o início, o fim e o meio
Eu sou o início, o fim e o meio


As estrofes finais de Gita deixam isso bem claro ao mencionar eu sou o início, o fim e o meio. Lembre-se que, no início da música, logo na primeira estrofe, temos Raul afirmando que Deus falou com ele através de um sonho.


Fontes:

letras.musicas.br
google.com
wikipedia.org
lyricfind.com
youtube.com
tvprime.ig.com.br







terça-feira, 22 de novembro de 2022

Morreu  aos 81 o tremendão, Erasmo Carlos. Ídolo da jovem Guarda e parceiro de Roberto Carlos. 


Erasmo Esteves nascido no bairro da Tijuca - Rio de Janeiro em 5 de junho de 1941.




Amigo de infância de Tim Maia com quem fundou a banda The Sputniks, junto também de Roberto Carlos.

Sentado à beira do caminho

Fez parte da chamada Jovem Guarda, junto com Roberto Carlos, Martinha, Vanderléa e tantos outros.

Gatinha Manhosa

Erasmo morreu no Rio de Janeiro, hoje 22 de novembro de 2022.


Fontes:
wikipedia.org
google.com
youtube.com






segunda-feira, 21 de novembro de 2022

 


Hoje vamos falar do poeta e compositor de hoje é : Catulo da Paixão Cearense.







Nasceu em São Luís do Maranhão em 08 de Outubro de 1863, e faleceu no Rio de janeiro em 10 de Maio de 1946.

Filho de Amâncio José da Paixão Cearense (natural do Ceará) e de Maria Celestina Braga (natural do Maranhão).

Aos 10 anos mudou-se com a família para o Ceará, e aos 17 anos para o Rio de Janeiro, na Rua São Clemente, 37, endereço da relojoaria e ourivesaria do pai, com quem trabalhou como relojoeiro.

Começou a frequentar uma república de estudantes, onde conheceu estudantes de músicas e grandes "chorões" da época.
Por influencia de um estudante de medicina trocou a flauta, seu instrumento preferido pelo violão.

Autodidata, aperfeiçoou seus conhecimentos no colégio Teles de Menezes, além de ser um leitor contumaz.

Com a morte do pai passou a trabalhar no cais como estivador, e à noite frequentava a boêmia carioca, onde conheceu Anacleto de Medeiros e Viriato Figueira da Silva. Começou também a frequentar a casa do Senador do Império, Gaspar da Silveira Martins, em famosos saraus.

Tinha a fama de mulherengo, devido ao seus relacionamentos e as composições dedicadas a suas amadas.

Para a atriz Apolônia Pinto dedicou "os olhos dela", mas sua grande paixão, foi a filha do Senador Hermenegildo de Morais, paixão essa não correspondida.


Olhos dela - Orquestra Mocambo
Catullo da Paixão e Irineu de Almeida


Em 1908, introduziu o violão, até então visto como instrumento mundano, num salão da elite carioca. Ainda nesse ano fez um recital no Palácio do Catete, residência oficial do presidente da República, Hermes da Fonseca.


Sua composição mais conhecida é Luar do Sertão em parceria com João Pernambuco em 1908.




Outra composição famosa na qual ela colocou a letra foi "Flor amorosa" de Joaquim Calado.





Também repentista e escritor de cordel, além de dramaturgo, e poeta.

Dentre seus livros estão : Mata Iluminada, Meu sertão, Sertão em flor, e obras teatrais como "Um boêmio no céu".




Poesia do caboclo - Catulo da Paixão Cearense
interprete - Rolado Boldrin





Nos últimos anos morou numa casinha simples em Engenho de Dentro, onde recebia personalidades da música e da literatura, além de seus fãs.

As divisórias da casa eram feitas de lençóis, e a recepção era feita com feijoada e cachaça.
Morreu aos 83 anos, seu corpo baixou à sepultura do cemitério São Francisco de Paula, ao som de "Luar do Sertão".




Fontes:


jornalpequeno.blog.br/dinacycorrea
blogdomimica.blogspot.com.br
www.letras.com.br/biografia/catulo-da-paixao-cearense
youtube.com
google.com

sábado, 19 de novembro de 2022

Vamos falar da escritora Alfonsina Storni, nascida na Suíça em 29 de maio de 1892, e que viveu toda sua vida na Argentina, para onde se mudou com 4 anos, junto com seus pais.




Começou trabalhar cedo para ajudar a família. Aos 16 a menina ficou órfã e foi trabalhar como operária numa fábrica de chapéus. Lá conheceu organizações sindicais, movimentos feministas e anarquistas. Em seguida, incentivada pela mãe, ficou em turnê por um ano viajando com uma companhia de teatro, como atriz. Sem suportar o assédio dos homens, retornou à casa da mãe e decidiu tornar-se normalista na escola recém-aberta.

Já professora rural e envolvida afetivamente com um político de Rosário, Alfonsina engravidou. Decidiu assumir sozinha a maternidade e rumou a Buenos Aires, cidade grande na qual poderia ser mãe solteira, com algo menos de dificuldades. Nesse período de formação, estavam dadas as bases da formação intelectual de Alfonsina: as línguas e as leituras que adquirira com a família, a experiência com atriz, a frequentação do mundo proletário e, agora, a solidão da maternidade independente Aos 19 anos encerrada num escritório ela diz:  "Me acalanta uma canção de teclas; as divisórias de madeira se erguem como diques para além da minha cabeça; barras de gelo refrigeram o ar às minhas costas; o sol passar pelo telhado mas não posso vê-lo; baforadas de asfalto quente entram pelos vãos e a campainha do bonde chama ao longe. Cravada na minha cadeira, ao lado de um horrível aparelho para imprimir discos, ditando ordens e correspondências para a datilógrafa, escrevo meu primeiro livro de versos. Deus te livre, meu amigo, de A inquietude do roseiral…! Mas eu o escrevi para não morrer.”

O eu lírico de Alfonsina é feminino, do primeiro ao último verso de sua obra, e a perspectiva que nele adota é – não raro – sensual ou demolidora. Com obra tão potente, Storni apresentou-se com desenvoltura em teatros, balneários, bares e sindicatos, conquistando um público bastante diverso ao longo dos anos.

Com forte inspiração em Baudelaire e no italiano Gagriele D`Annuzzio, escrevia uma poesia avançada, fato que lhe renderam criticas do poeta Jorge Luís Borges, ironicamente uma escultura sua ao lado de Carlos Gardel e de Borges é destaque no Café Tortoni em Buenos Aires.

Borges, Gardel e Alfonsina  - Café Tortoni




Soledad

Podría tirar mi corazón
desde aquí, sobre un tejado:
mi corazón rodaría
sin ser visto.

Podría gritar
mi dolor
hasta partir en dos mi cuerpo:
sería disuelto
por las aguas del río.

Podría danzar
sobre la azotea
la danza negra de la muerte:
el viento se llevaría
mi danza.



Podría,
soltando la llama de mi pecho,
echarla a rodar
como los fuegos fatuos:
las lámparas eléctricas

la apagarían…



Melancolia Oh muerte



Yo te amo,
pero te adoro, vida...
Cuando vaya en mi caja para siempre dormida,
Haz que por vez postrera
Penetre mis pupilas el sol de primavera.


Déjame algún momento bajo el calor del cielo,
Deja que el sol fecundo se estremezca en mi hielo...
Era tan bueno el astro que en la aurora salía
A decirme: buen día.


No me asusta el descanso, hace bien el reposo,
Pero antes que me bese el viajero piadoso
Que todas las mañanas,
Alegre como un niño, llegaba a mis ventanas.



Descobre-se portadora de câncer de mama em 1935. O suícidio de um amigo, o também escritor Horacio Quiroga, em 1937, abala-a profundamente.

Em 1938, três dias antes de se suicidar, envia de um hotel de Mar del Plata para um jornal, o soneto “Voy a Dormir”.

Voy a dormir

 DIENTES de flores, cofia de rocío,
 manos de hierbas, tú, nodriza fina,
 tenme prestas las sábanas terrosas
 y el edredón de musgos escardados.

 Voy a dormir, nodriza mía, acuéstame.
 Ponme una lámpara a la cabecera;
 una constelación, la que te guste;
 todas son buenas: bájala un poquito.

 Déjame sola: oyes romper los brotes..
 te acuna un pie celeste desde arriba
 y un pájaro te traza unos compases

para que olvides... Gracias. Ah, un encargo: 
si él llama nuevamente por teléfono
 le dices que no insista, que he salido...



Alfonsina y el mar - Mercedez Sosa



Consta que suicidou-se lançando-se ao mar — o que foi poeticamente registrado na canção "Alfonsina y el mar", gravada por Mercedez Sosa; seu corpo foi resgatado do oceano no dia 25 de outubro  de 1938. Alfonsina tinha 46 anos.



Fontes:

revistacult.uol.com.br
wikipedia.org
google.com
youtube.com
escamandro.wordpress.com
ingenieria.unam.mx

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Viva la vida - Coldplay



A maioria das pessoas já ouvi a bela canção "Viva la vida" da banda britânica Coldplay, mas o que ela quer dizer ?


A canção por si só já é uma referência a uma pintura de Frida Kahlo, também intitulada Viva La Vida. É considerada a última obra da artista antes de falecer: adoecida e de cama, a pintora teria inscrito viva a vida em sua arte.


pintura Viva la vida de Frida Kahlo




Em sua segunda visita ao México, o vocalista Chris Martin ficou marcado pela história da obra e pela força de Frida. Assim, decidiu usar a frase em seu trabalho seguinte.






Segundo o baixista Guy Berryman, as letras foram escritas sob uma perspectiva antiautoritária, revoltada com figuras de poder. Foi o que ele disse à revista Rhino: “Somos seres humanos com emoções e vamos todos morrer e é uma estupidez o que temos que aguentar todos os dias”. Daí vem o conceito Viva La Vida.



Dá pra sentir esse clima no vídeo e na capa do álbum, que usa a obra A Liberdade Guiando O Povo, de Eugene Delacroix. A imagem é bastante icônica e é um marco da Revolução Francesa.



Viva La Vida trata do poder em primeira pessoa, como se fosse a própria autoridade cantando sobre sua vida. Vejam:

I used to rule the world, seas would rise when I gave the word

(Eu costumava dominar o mundo, oceanos se abriam quando eu ordenava)

Nesse verso, existem duas possíveis referências: a primeira é a Moisés, conhecido no conto bíblico por dividir o Mar Vermelho.





A segunda é do conto de Canuto, o Grande, Rei da Dinamarca. O monarca teria mandado colocar seu trono à beira do mar e ordenado ao mar que não a molhasse.

Canuto e as ondas


Now in the morning I sleep alone, sweep the streets I used to own
(Agora pela manhã durmo sozinho, varro as ruas que já foram minhas
)


Nesse verso ele se mostra impotente. Alguém que já foi tão importante agora se sente abandonado e varrendo as ruasA frase também mostra como a vida pode ser, ora você está por cima, e outras vezes por baixo.





I used to roll the dice (Eu costumava rolar os dados)

Feel the fear in my enemy’s eyes (Sentir o medo nos olhos dos meus inimigos)

Listened as the crowd would sing (Ouvia enquanto a multidão cantava)

Now the old king is dead! Long live the king! (Agora o velho rei está morto! Vida longa ao rei!)


De novo, mais uma referência a uma figura de poder. A expressão rolar os dados vem de Júlio César, que disse alea iacta est (os dados foram jogados/ rolados) 

Palavras famosas atribuídas por Suetônio a Júlio César, quando se preparava para atravessar o Rubicão; esta frase emprega-se quando se toma uma decisão enérgica e grave, geralmente irreversível, depois de se ter hesitado muito.

O rei está morto, vida longa ao rei, frase muito usada pelos povos governados por um monarca. Na verdade o que importava era a figura do rei, o significado de seu poder e de sua força. A pessoa que ocupava o cargo não era assim tão importante, tanto que quando morria logo era substituído e a população o aclamava com votos de vida longa.

Assim  o título da música, Viva la vida, viva a vida da melhor forma possível!

One minute I held the key , next the walls were closed on me (Em um minuto eu segurava a chave, no outro as paredes estavam fechadas contra mim).

Outra alusão à Bíblia quando Jesus dá a chave do reino para Pedro.

• Jesus disse a Pedro: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja”. (Mateus 16:18).


Luís XVI sendo levado para guilhotina


And I discovered that my castles stand upon pillars of salt and pillars of sand (E eu descobri que meus castelos se apoiavam sobre pilares de sal e pilares de areia)

No quadro acima o Rei Luís XVI sendo conduzido  para a guilhotina. O outrora monarca absolutista da França, caiu em desgraça e foi executado em 21 de Janeiro de 1793.




I hear Jerusalem bells are ringing (Eu ouço os sinos de Jerusalém tocando)

Roman Cavalry choirs are singing (Corais da cavalaria romana estão cantando)

Be my mirror, my sword and shield (Seja meu espelho, minha espada e escudo)

My missionaries in a foreign field (Meus missionários em um campo estrangeiro)

Quando os sinos de Jerusalém tocam, algo importante aconteceu. Nesse momento, a vida do narrador está de ponta-cabeça, com corais da cavalaria cantando. Desprotegido e em crise, ele precisa de um espelho para refletir e de espada e escudo para se defender. Jerusalém foi tomada e perdida pelos cavaleiros cruzados, até que finalmente em 1187 ela foi tomada por Saladino, dando fim às Cruzadas.

For some reason I can’t explain (Por algum motivo que não sei explicar)

I know Saint Peter won’t call my name (Eu sei que São Pedro não chamará o meu nome)

Once you’d gone there was never (Desde que você se foi, nunca mais houve)

Never an honest word (Nunca houve uma palavra honesta)

That was when I ruled the world (Isso foi quando eu dominava o mundo)

Assim, ele não consegue compreender como perdeu o título. Mas ele mesmo afirma: desde que alcançou o poder, foi corrupto e desonesto.



São Pedro com as chaves do Céu




Ele fala da lista de nomes lida por São Pedro para entrar no céu. Dessa forma, reconhece que, quando morrer, irá para o inferno. Agora, entra a revolução e o conflito. Segundo a crença se seu nome não estiver na lista de São Pedro você não entrará no Paraíso.


It was the wicked and wild wind (Foi o vento cruel e selvagem que)

Blew down the doors to let me in (Derrubou as portas para me deixar entrar)

Shattered windows and the sound of drums (Janelas estilhaçadas e o som de tambores)

People couldn’t believe what I’d become (O povo não podia acreditar no que eu havia me tornado)


Nessa descrição, ele conta como usou da força como tentativa de manter o poder. Com violência, janelas estilhaçadas e o som de tambores, ele se torna um tirano.

Revolutionaries wait (Revolucionários esperam)

For my head on a silver plate (Pela minha cabeça numa bandeja de prata)

Just a puppet on a lonely string (Apenas uma marionete numa corda solitária)

Oh who would ever want to be king? (Oh, quem jamais desejaria ser rei?)

Claramente, o monarca reconhece que o povo não o quer lá. Pensando ainda na referência francesa, o próprio Luís XVI foi decapitado, o que se relaciona bem com o verso revolucionários esperam pela minha cabeça numa bandeja de prata.

Apesar de falar em primeira pessoa sobre o poder, a música critica o poder exagerado, despótico e arrogante. Mostra que a vida nos leva para caminhos de opulência e miséria; de alegrias e tristezas;  de amor e de ódio.


Viva a vida!


Fontes:
wikipedia.org
google.com
youtube.com
letras.mus.br
super.abril.com.br
churchofjesuschrist.org







terça-feira, 15 de novembro de 2022

 


Resultado de imagem para proclamação da republica 1889




No dia 15 de novembro de 1889, Marechal Deodoro da Fonseca, militar e político, proclamava a República do Brasil. Primeiro presidente da história do país, seu governo foi marcado por grande instabilidade política e também econômica. A crise teve seu auge com o fechamento do Congresso Nacional, que resultou na sua renúncia no dia 23 de novembro de 1891. Seu sucessor foi Floriano Peixoto. A República foi estabelecida em todo o país praticamente sem lutas, com exceção ao estado do Maranhão, onde antigos escravos reagiram em apoio ao Império. A primeira nação a reconhecer o novo governo foi a Argentina, em 20 de novembro de 1889.

O quadro 'Proclamação da República', de Benedito Calixto




Meses após o Marechal Deodoro da Fonseca enganar a própria mulher, burlar as recomendações médicas e levantar da cama - onde havia passado a madrugada daquele 15 de novembro febril - para proclamar a República brasileira, o país já conhecia a primeira crítica articulada sobre o processo que havia removido a monarquia do poder em 1889.

Escrito pelo advogado paulistano Eduardo Prado, o livro Fastos da Ditadura Militar no Brasil, de 1890, argumentava que a Proclamação da República no Brasil tinha sido uma cópia do modelo dos Estados Unidos aplicada a um contexto social e a um povo com características distintas.

A monarquia, segundo ele, ainda era o modelo mais adequado para a sociedade que se tinha no país. Prado também foi o primeiro autor a considerar a Proclamação da República um "golpe de Estado ilegítimo" aplicado pelos militares.


Resultado de imagem para proclamação da republica 1889


Hoje, 133 anos depois, o tema ainda suscita debates: enquanto diversos historiadores apontam a importância da chegada da República ao Brasil, apesar de suas incoerências e dificuldades, um movimento que ganhou força nos últimos anos - principalmente nas redes sociais - ainda a contesta.

"A proclamação foi um golpe de uma minoria escravocrata aliada aos grandes latifundiários, aos militares, a segmentos da Igreja e da maçonaria. O que é fato notório é que foi um golpe ilegítimo", disse à BBC News Brasil o empresário e deputado federal,  Luiz Philippe de Orleans e Bragança, tataraneto de D. Pedro 2º, o último imperador brasileiro.



No Brasil, em 1889, a instauração da República não conta com a participação do povo, como ocorrido na França. A República brasileira vem substituir o Regime Monárquico e é instaurada pelos militares que entrariam em crise com a Monarquia. A construção da ideia republicana já vinha sendo feita e vários manifestos republicanos surgiram a partir de 1870 influenciados pelos outros países da América que já tinham se federalizado. A participação política da população ainda era bastante restrita, controlada pelos dois únicos partidos, o Liberal e o Conservador.


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A Abolição do trabalho escravo com a Lei Áurea em 1888 agrava a crise entre a Monarquia e os fazendeiros das oligarquias paulistas e do Nordeste. A questão militar é o ponto final para o nascimento da República no Brasil. Após D.Pedro II punir alguns militares, o Marechal Deodoro da Fonseca se reúne com Quintino Bocaiúva, líder do PRP (Partido Republicano Paulista) e com seus soldados, lidera a derrubada da Monarquia em 15 de novembro de 1889.


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Por fim, mais uma vez as mudanças institucionais e políticas no Brasil surgem de movimentos da elite em busca de seus próprios interesses.


Fontes:
seuhistory.com
bbc.com
escolaeducacao.com.br
google.com

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