terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Vamos falar hoje do romance autobiográfico "Memórias do Cárcere" de Graciliano Ramos.




Graciliano Ramos nasceu em 27 de Outubro de 1892 em Quebrangulo, Alagoas.

Entre 1914 e 1915 trabalha no Rio de Janeiro em diversos jornais e se vê obrigado a retornar para Alagoas devido à morte de seus irmãos pela peste bubônica.

Em 1928 assume a prefeitura de Palmeiras dos Índios em Alagoas e em 1936 é preso sem acusação formal devido a sua simpatia por ideais do Partido Comunista Brasileiro, na esteira das inúmeras prisões ocorridas devido a chamada "Intentona Comunista" de 1935.


Graciliano Ramos



Dessa prisão de 1936 a 1937 na Ilha Grande , Rio de Janeiro, nasce a obra "Memórias do Cárcere" escrita 10 anos após a prisão e publicada após a sua morte em 1953.


“O mundo se tornava fascista. Num mundo assim, que futuro nos reservariam? Provavelmente não havia lugar para nós, éramos fantasmas, rolaríamos de cárcere em cárcere, findaríamos num campo de concentração. Nenhuma utilidade representávamos na ordem nova. Se nos largassem, vagaríamos tristes, inofensivos e desocupados, farrapos vivos, fantasmas prematuros; desejaríamos enlouquecer, recolhermo-nos ao hospício ou ter coragem de amarrar uma corda ao pescoço e dar o mergulho decisivo. Essas ideias, repetidas, vexavam-me; tanto me embrenhara nelas”




Escrito em quatro volumes (sem o capítulo final, pois Graciliano faleceu antes de concluí-lo), Memórias do Cárcere narra acontecimentos da vida de Graciliano Ramos e de outras pessoas que estiveram presas durante o Estado Novo. A narrativa é amarga, mas sem exageros ou invenções, nessa obra Graciliano Ramos é fiel aos acontecimentos. Se há amarguras e sordidez, é porque as situações vividas foram sórdidas e amarguradas.

A narrativa de Graciliano Ramos, pela exposição de motivos contida no capítulo de abertura da obra, dá ao texto uma autenticidade autobiográfica, sobretudo se a ela somarmos a "explicação final" de Ricardo Ramos, na qual ficam esclarecidas as dificuldades que impediram o autor de dar definitivamente o texto por concluído. Essa narrativa, característica do relato autobiográfico, oferece a típica junção autor-narrador-personagem, sendo possível percebê-la como resultado da experiência vivida, o que aproxima Graciliano Ramos da noção de narrador clássico.

'Realmente há entre os meus companheiros sujeitos de mérito, capazes de fazer sobre os sucessos a que vou referir-me obras valiosas. Mas são especialistas, eruditos, inteligências confinadas à escrupulosa análise do pormenor, olhos afeitos a investigações em profundidade. Há também narradores, e um já nos deu há tempo excelente reportagem, dessas em que é preciso dizer tudo com rapidez. Em relação a eles, acho-me por acaso em situação vantajosa. Tendo exercido vários ofícios, esqueci todos e assim posso mover-me sem nenhum constrangimento. [...] Posso andar para a direita e para a esquerda como um vagabundo, deter-me em longas paradas, saltar passagens desprovidas de interesse, passear, correr, voltar a lugares conhecidos. Omitirei acontecimentos essenciais ou mencioná-los-ei de relance, como se os enxergasse pelos vidros pequenos de um binóculo; ampliarei insignificâncias, repetidas até cansar, se isto me parecer conveniente.'
O período em que se passa a ação é a década de 30, após a revolução tenentista e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder culminando com o Estado Novo de 1937 a 1945. Um período onde imperava o autoritarismo e a opressão.

Graciliano Ramos é também o autor de Caetés, São Bernardo, Angustia e Vidas Secas.


Fontes:
passeiweb.com
wikipedia.org
google.com
record.com.br
dhnet.org.br
algosovbre.com.br


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