domingo, 20 de dezembro de 2020

 Todos sabemos que a Semana de Arte Moderna que aconteceu entre 11 e 18 de Fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo foi um marco na Literatura, Pintura, Escultura e na arte como um todo.





O poema "os sapos" de Manuel Bandeira, que não era um grande entusiasta do movimento literário, foi um marco no evento declamado por Ronald de Carvalho num teatro lotado embaixo de vaias e protestos.


Ronald de Carvalho

O poema foi publicado em 1919 no livro "Carnaval" faz uma dura critica aos parnasianos preocupados com a métrica e colocando normas e regras na Arte.




Poema Os sapos





Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...



Bandeira consegue em Os sapos reproduzir as características essenciais defendidas pelos parnasianos. Trata-se, portanto, de um poema que carrega métrica regular e preocupação com a sonoridade, imitações que neste caso estão a serviço da rejeição à poesia parnasiana.

Manuel Bandeira



Os sapos mencionados (o boi, o tanoeiro, o pipa) são metáforas dos diferentes tipos de poetas. O sapo-tanoeiro é um típico exemplar do poeta parnasiano, que destila as regras de composição:


O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!

Para ele, a grande poesia é como o ofício de um joalheiro, há que se lapidar com precisão e paciência:


Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

O sapo-cururu, por sua vez, é uma representação do poeta modernista que aspira por liberdade e reivindica a simplicidade e o uso de uma linguagem cotidiana. Quando entra em cena, ele apresenta-se com uma opinião divergente se comparada a todos os outros sapos.

Não se pode deixar de lembrar também a semelhança do nome escolhido para o sapo modernista com a cantiga de roda Sapo-cururu. Os últimos dois versos do poema de Bandeira recuperam os dois primeiros versos da composição popular:


Sapo-cururu
Da beira do rio
Quando o sapo canta, Ó maninha,
É que sente frio.
A mulher do sapo
Deve estar lá dentro
Fazendo rendinha, Ó maninha,
Para o casamento

Bandeira, através da paródia, critica a preocupação excessiva dos parnasianos com o aspecto formal da linguagem. Segundo o poeta e seus companheiros modernistas, esse estilo de poesia deveria ser ultrapassado.



Um só coração 2004 - Semana de Arte Moderna




Fontes:
culturagenial.com
conhecimentocientifico.r7.com
gauchazh.clicrbs.com.br
socialistamorena.com.br
youtube.com
google,com

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