quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Vamos abordar o lindo poema épico "Canto Geral" (Canto Generale) do escritor chileno, Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto , conhecido mundialmente como Pablo Neruda, lançado no México em 1950.

Neruda



O livro Canto general, de Pablo Neruda, é uma das mais importantes obras poéticas do século XX. Escrito em plena Guerra Fria, almeja abordar a totalidade do continente americano sob a égide do engajamento político de seu autor, importante militante do Partido Comunista à época da composição da obra. Este trabalho pretende discutir as escolhas feitas pelo autor quanto à politização de sua poesia e suas consequências estéticas e políticas, com particular interesse no processo de mitificação da História e das lutas sociais operado por Neruda em seu livro. 




Para tanto, a análise dos poemas busca integrar em uma só leitura a ponderação dos elementos míticos mobilizados pelo autor e sua interação com a mensagem ideológica e política explícita na obra, caracterizando o conjunto de Canto general como um exemplo de arte de intervenção. A análise se completa na leitura de Alturas de Macchu Picchu, principal conjunto de poemas do livro e considerado a melhor chave para entender a particular conjunção entre mito e política na obra do poeta chileno.


Canto I 
A lâmpada mágica


Amor América (1400) 

Antes do chinó e do fraque 
foram os rios, rios arteriais:
 foram as cordilheiras em cuja vaga puída
 o condor ou a neve pareciam imóveis;
 foi a umidade e a mata, o trovão,
 sem nome ainda, as pampas planetárias. 
O homem terra foi, vasilha, pálpebra
 do barro trêmulo, forma de argila,
 foi cântaro caraíba, pedra chibcha, 
taça imperial ou sílica araucana.
 Terno e sangrento foi, porém no punho
 de sua arma de cristal umedecido 
as iniciais da terra estavam escritas. 


XXIX -

Castro Alves do Brasil

 Castro Alves do Brasil, para quem cantaste?
 Para a flor cantaste? Para a água 
cuja formosura diz palavras às pedras?
 Cantaste para os olhos, para o perfil recortado
 da que então amaste? Para a primavera?

 Sim, mas aquelas pétalas não tinham orvalho,
 aquelas águas negras não tinham palavras, 
aqueles olhos eram os que viram a morte,
 ardiam ainda os martírios por detrás do amor, 
a primavera estava salpicada de sangue. 



Em Canto Geral, o abundante vocabulário a descrever vida e chão, personagens e intenções, e a narração, a recompor fatos históricos, se embaraçam num exuberante entrelaçamento de raízes, troncos, galhos, folhas, planícies, montanhas, heróis, traidores…

O som e o ritmo dos versos embalam a audição e projetam na retina do leitor paisagens monumentais e cenas de contornos e volumes quase palpáveis, nas quais os dramas humanos se configuram e nas quais a água e o sangue jorram das cordilheiras e dos homens com igual generosidade.




Canto Geral fala do povo latino-americano, de sua miséria, de sua esperança, de sua alegria, de sua solidariedade. Fala das belezas naturais como no Canto I sobre os rios: Amazonas, Orinoco, Tequendama, Bio bio.

Fala sobre os conquistadores como Cortês, Alvarado. Fala dos libertadores como Tupac-Amaru, O`Higgins, San Martin, Sucre, Sandino, Luiz Carlos Prestes.

Tupac-amaru



XL

 Prestes do Brasil (1949) 

Brasil augusto, quanto amor quisera 
para estender-me em teu regaço,
 para envolver-me em suas folhas gigantes,
 em desenvolvimento vegetal, em vivo
 detrito de esmeraldas: espia-te


Neruda morreu em 23 de setembro de 1973, oficialmente de câncer de próstata. Depoimentos de seu motorista particular, no entanto, dizem que ele morreu envenenado. O corpo foi exumado em 2013 e não foi comprovado o envenenamento.

No seu enterro milhares de militantes comunistas foram ao cemitério e entoaram "A Internacional". A maioria foi presa e morta após o enterro.

Enterro de Neruda e a emocionante interpretação da Internacional



Quando a Academia Sueca de Letras lhe outorgou o prêmio Nobel de literatura de 1971, justificou a concessão com estas palavras: “Por sua obra poética, que, com o efeito de uma força natural, vitaliza o destino e os sonhos de um continente”. Aos sessenta e sete anos, era o segundo chileno a conquistar o prêmio, depois de Gabriela Mistral (1945), amiga que lhe revelou o mundo dos romancistas russos.



O Nobel foi apenas uma amostra do reconhecimento internacional que a poesia de Neruda de há muito gozava. Filiado ao comunismo, a preocupação política permeou sua obra desde a experiência da Guerra Civil Espanhola, quando se empenhou na resistência ao fascismo, convertendo-se, segundo suas palavras, numa espécie de guerreiro que protesta contra a injustiça. 



Canto II

 Alturas de Machu Pichu


Do ar ao ar como uma rede 
vazia, ia eu entre as ruas e a atmosfera chegando e despedindo, 
no advento do outono a moeda estendida
 das folhas, e entre a primavera e as espigas,
 o que maior amor, como dentro duma luva
 que cai, nos entrega qual uma longa lua.




Fontes:
dialogosliterarios.files.wordpress.com
vermelho.org.br
bdtd.ibict.br
wikipedia.org
google.com
youtube.com

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