terça-feira, 8 de dezembro de 2020

 Teogonia de Hesíodo




Hesíodo foi um dos maiores poetas gregos da Idade Arcaica. Viveu aproximadamente no ano 800 a.C. na Beócia, no centro da Grécia. Passou parte de sua vida na sua cidade natal, a aldeia de Ascra.





Sua obra se encontra ao lado da de Homero, e os dois se destacam por serem os pilares da cultura grega antiga.

De acordo com as informações dadas pelo próprio poeta, na obra Trabalhos e Dias, depois da morte do pai, entrou em confronto com seu irmão Perses, pois este corrompeu os juízes locais e tomou a maior parte da herança que correspondia aos dois. Esse fato marcou sua vida e, em suas obras, Hesíodo enaltece a virtude da justiça, cujo símbolo atribui a Zeus.





Na obra Teogonia, Hesíodo descreve a criação do mundo e a seguir relaciona, cronologicamente, cada uma das gerações divinas.

Após um hino às Musas, Hesíodo relata como as deusas inspiraram seu canto ao cuidar de ovelhas perto do Monte Hélicon. As musas então deram a ele um conhecimento sobrenatural capaz de conhecer as coisas presentes, passadas e futuras e ensinaram-no a cantar, para que ele cantando celebrasse os deuses imortais, as façanhas dos homens antigos e também a elas próprias no começo e no fim das canções.

Segue-se, daí, a narração a origem dos primeiros deuses, que personificavam os elementos primordiais do Universo: Caos, o vazio primitivo; Gaia, a terra; Eros, a atração amorosa.

Os descendentes imediatos são também relacionados: Hemêra, o dia; Nix, a noite; Urano, o céu; Ponto, a água primordial.

Há três grandes linhagens divinas: a descendência do Caos, a do Mar e a do Céu. Do Caos provêm todos os males que atormentam a vida humana; os mais importantes deles são os terríveis filhos da deusa Noite. Na família do deus Mar há monstros de estranhas formas, que habitam as águas marinhas e as regiões subterrâneas. Na família do Céu há a sucessão dos reis divinos Cronos e Zeus









O Livro a Teogonia de Hesíodo, tradução do Professor Doutor José Antônio Alves Torrano da FFLCH USP, de quem tive o privilégio de ser aluno de Literatura Grega - Letras USP,  traz, segundo o Professor Torrano, um documento do pensamento religioso grego, sob quatro aspectos interligados, a saber:


1)A noção mítica da linguagem como manifestação divina. As Deusas Musas, filhas de Zeus e de Mnemosýne ("Memória"), manifestam-se no canto e na dança e em forma de canto e de dança. Elas constituem o fundamento transcendente dos cantos e, ao mesmo tempo, a garantia divina da verdade que nesses cantos se revela. 

2)A noção mítica da verdade como "revelações" (alethéa). A epifania das Musas a Hesíodo coloca em termos míticos o problema lógico e ontológico da verdade. Entre "muitas mentiras símeis aos fatos", as Musas, quando querem, sabem dizer a verdade, ou melhor: "revelações" (alethéa). Quem poderia distinguir entre tais "mentiras" e "revelações"? - Para a piedade hesiódica, a Verdade é um dom dos Deuses, e assim depende da vontade deles se ela se apresenta ou não aos homens -, mas, apresentando-se, ela traz consigo o sinal inequívoco de sua autenticidade: o esplendor divino. Quem poderia jamais deixar de percebê-lo, se assim querem as Deusas? 

3)A noção mítica do tempo como temporalidade da Presença divina. Os gregos hesiódicos vivem na proximidade dos Deuses, num tempo cujos dias não se deixam medir por quaisquer números, pois cada dia então se mostra com as características e qualidades mesmas do Deus que nesse dia se manifesta e se comemora. 





4)A noção mítica do mundo como um conjunto único, uno e múltiplo de teofanias. O mundo, para os gregos hesiódicos, é um conjunto único de inesgotáveis aparições divinas (teofanias); no entanto, é um mundo lógico, em termos míticos e na lógica própria do pensamento mítico - um mundo real e perigoso, que se deixa conhecer através das genealogias divinas, das linhagens e famílias de Deuses ciosos de suas prerrogativas e vigilantes de que elas sejam observadas.




Há na Teogonia duas formas de procriação: por união amorosa e por cissiparidade (relação assexuada). 

Mais tarde na mitologia cristã, a cissiparidade volta a ser descrita no Novo Testamento.




Os primeiros seres nascem todos por cissiparidade: uma Divindade originária biparte-se, permanecendo ela própria ao mesmo tempo que dela surge por esquizogênese uma outra Divindade. Assim Érebos e Noite nasceram do Kháos (v. 123). Assim Terra primeiro pariu igual a si mesma o Céu constelado, pariu as altas Montanhas e depois o Mar infértil (vv. 126-32). Toda a descendência de Kháos nasce por cissiparidade, exceto Éter e Dia, que constituem exceção também por serem dentro desta linhagem os únicos positivos e luminosos. Tudo o que provém de Kháos pertence à esfera do não-ser; todos os seus filhos, netos e bisnetos (exceto Éter e Dia) são potências tenebrosas, são forças de negação da vida e da ordem. Seus filhos são Érebos e Noite. Érebos é uma espécie de antecâmara do Tártaro e do reino do que é morto. Noite, após parir Éter e Dia unida a Érebos em amor, procria por cissiparidade as forças da debilitação, da penúria, da dor, do esquecimento, do enfraquecimento, da aniquilação, da desordem, do tormento, do engano, da desaparição e da morte — em suma, tudo o que tem a marca do Não-Ser. Estas potências negativas, toda a linhagem de Kháos, são geradas por cissiparidade; Éter e Dia, potências positivas, são exceções desta linhagem e geradas por união amorosa.



O poeta também descreve a Criação do Mundo e dos Deuses. como Cronos assumiu o poder e inadvertidamente deu origem a Afrodite, deusa do amor sensual; relaciona os descendentes de Nix, entre eles Tânato, a morte, Hipno, o sono, e Morfeu, o sonho.

Os descendentes de Ponto, entre eles Nereu, o mais antigo deus do mar e pai das nereidas e Fórcis, progenitor de monstros como as Górgonas, Equidna, com tronco de mulher e cauda de serpente, e a Esfinge.

Os descendentes de Oceanos, entre eles os rios e fontes, as ninfas da terra firme, os ventos, Métis, a sabedoria, e Hélio, o sol; os descendentes de Ceos, especialmente Hécate, a dádiva.






Uma profecia da Terra e do Céu avisara de que era destino de Cronos ser destronado por um filho e ele engolindo-os prevenia-se.

Quando Réia, sua esposa, devia dar à luz Zeus, ela suplicou a seus pais, Terra e Céu, que lhe aconselhassem um refúgio para que ela pudesse salvar esse filho. Eles atenderam ao seu pedido e, encoberta pela noite, Réia escondeu seu filho em uma gruta em Creta, confiando-o à deusa Terra, para que ela o nutrisse e criasse. Seguindo as instruções de seus pais, Réia envolveu uma grande pedra em um pano e entregou-a a Cronos. O deus, implacável, engoliu-a, sem desconfiar de nada.

Zeus cresceu rapidamente, libertou das prisões subterrâneas os seus tios paternos Ciclopes e Centímanos, e aliando-se a eles travou contra seu pai Cronos a luta pelo poder. Vencido, o velho deus Cronos vomitou primeiro a pedra por último engolida. Zeus a cravou em Delfos, para que os homens mortais aí a admirassem.





Fontes:
assisprofessor.com.br
infoescola.com
google.com
wikipedia.org
mundoeducacao.uol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vamos falar hoje de objeto direto e objeto indireto. O objeto direto e o indireto são termos integrantes da oração que completam o se...