quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

No dia 23 de dezembro de 1636 nascia, em Salvador (BA), o escritor Gregório de Matos Guerra, conhecido como Boca do Inferno ou Boca de Brasa. Morto no dia 26 de novembro de 1695, ele é considerado um dos grandes poetas barrocos do Brasil e também ficou conhecido pelas suas críticas corrosivas contra a Igreja Católica, políticos e a cidade de Salvador.

Salvador (BA) 1640



Nascido em um família com boa situação financeira, Gregório de Matos mudou-se para Portugal em 1652 para estudar na Universidade de Coimbra, onde se formou cânone, em 1661. A partir daí, assume alguns funções jurídicas no governo português. Em 1682 foi nomeado por D. Pedro II, o Pacifico,  de Portugal, tesoureiro mor da Sé. No ano seguinte, retornou ao Brasil.




Sua vida começou a mudar em seguida, após seu desentendimento com o arcebispo na Bahia a quem Gregório de Matos deveria se reportar e foi destituído do cargo. A partir de então, ele começa a satirizar em seus poemas a Igreja, os costumes e a cidade de Salvador. Desenvolve uma poesia corrosiva, erótica/pornográfica e, por conta disso, foi colecionando inimizades. Gregório de Matos passou a receber ameaças e, em 1694, acusado por vários lados, foi deportado para Angola. 


A obra de Gregório de Matos reúne mais de 700 textos de poemas líricos, satíricos, eróticos e religiosos.






Inseridas no movimento do barroco, reúnem pitorescos jogos de palavras, variedade de rimas, além de uma linguagem popular e termos da língua tupi e outras línguas africanas.

No entanto, Gregório não publicou seus poemas em vida, tendo muita controvérsia sobre a autoria de alguns escritos.

Inicialmente, alguns de seus poemas foram publicados pelo historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, visconde de Porto-Seguro, no livro "Florilégio da Poesia Brasileira" (1850) editado em Lisboa.



A D. Ângela

Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara?

Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?

Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.

Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.


Lá, ele ajudou o governo local a combater uma conspiração militar e recebeu a permissão de voltar ao Brasil. Contudo, decidiu morar em Recife, onde morreu no dia 26 de novembro de 1695 por conta de uma doença contraída em Angola.

Gregório de Mattos foi crítico feroz da sociedade baiana e brasileira da época, assim como da própria igreja católica. Seus versos e poemas que tomam alvos diversos, pois eles variam entre acusações de maricas, críticas contra a bazófia de pretensos fidalgos, passando por epítetos desrespeitosos para algumas mulheres, e indo de encontro a ricos que eram sistematicamente ridicularizados pela pena ferina de Gregório, passando, por fim, ao ataque contra certos aspectos da vida clerical, e temos Gregório então definido como um crítico político e social, e que era poeta e fazia esta crítica com poesia.




Inda está por decidir,
meu Padre Provincial,
se aquele sermão fatal
foi de chorar, se de rir :
cada qual pode inferir,
o que melhor lhe estiver,
porque aquela má mulher
da perversa sinagoga
fez no sermão tal chinoga,
que o não deixou entender.


Nesse poema ele crítica a Igreja por tentar se fazer como a única verdadeira, desprezando outras religiões e crenças.

 





À cidade da Bahia

“A cada canto um grande conselheiro.
que nos quer governar cabana, e vinha,
não sabem governar sua cozinha,
e podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um frequentado olheiro,
que a vida do vizinho, e da vizinha
pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
para a levar à Praça, e ao Terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
trazidos pelos pés os homens nobres,
posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usuras nos mercados,
todos, os que não furtam, muito pobres,
e eis aqui a cidade da Bahia.”





Fontes:
wikipedia.org
todamateria.com.br
history.uol.com.br
google.com
seculodiario.com.br
brasilescola.uol.com.br

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