segunda-feira, 18 de março de 2019

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O anjo de Hamburgo


Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa (Rio Negro, 5 de dezembro de 1908 — São Paulo, 28 de fevereiro de 2011) foi uma poliglota brasileira que prestou serviços ao Ministério das Relações Exteriores. Foi agraciada pelo governo de Israel com o título de "Justa entre as Nações" pela ajuda que prestou a muitos judeus a entrarem ilegalmente no Brasil durante o governo de Getúlio Vargas. Apenas um outro brasileiro, Souza Dantas, foi distinguido com este reconhecimento.

A homenagem de inclusão do nome de Aracy de Carvalho no Jardim dos Justos entre as Nações do Yad Vashem (Museu do Holocausto), em Israel, foi prestada em 8 de julho de 1982, ocasião em que também foi homenageado o embaixador Souza Dantas. Ela é uma das pessoas homenageadas também no Museu do Holocausto de Washington (EUA). É conhecida pela alcunha de O Anjo de Hamburgo. Várias pessoas foram agraciadas com essa distinção a mais conhecida, devido ao filme, é Oskar Schindler, industrial alemão que salvou mais de 1.100 judeus, durante a 2ª Guerra Mundial.



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A história de Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa foi sendo descoberta aos poucos. Há alguns anos se sabe que ela, como chefe do setor de passaportes do consulado brasileiro em Hamburgo, na Alemanha, burlou orientação da diplomacia brasileira e arriscou-se diante do regime nazista para salvar judeus. Talvez uma centena deles. A conta é incerta. A própria Aracy, que morreu em 2011, aos 102 anos, evitava comentar. Mas os detalhes vão surgindo. Alguns revelam ironias históricas: na Alemanha, seu único filho, Eduardo Tess, entrou em uma fila com outras crianças para cumprimentar Adolf Hitler.

A revelação é feita por Plínio de Arruda Sampaio – que morou na mesma rua e era colega de Eduardo – no documentário Esse Viver Ninguém me Tira, longa de estreia do ator Caco Ciocler. “O Edu me contou uma vez que ele cumprimentou Hitler”, diz Plínio no filme. Hoje com 85 anos, o filho de Aracy confirma. Diz que ficou indeciso, até que resolveu se enfileirar para cumprimentar o líder alemão. “Ele perguntou de onde eu era”, recorda Eduardo. Outra coincidência histórica entre personagens tão distantes: Aracy (1908) e Hitler (1889) nasceram no mesmo dia, 20 de abril, com 19 anos de diferença. “Em meio ao horror inventado por ele, Aracy descobriu quem era ela”, escreveu a jornalista e escritora Eliane Brum em 2008, quando Aracy completou 100 anos e há muito tempo era conhecida como “anjo de Hamburgo”.


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Aracy e Guimaraes Rosa

Paranaense de origem, Aracy foi cedo para São Paulo, onde teve uma criação de classe média alta. Em 1934, aos 26 anos, separada e com um filho de 5, deixou o Brasil e foi morar na Europa (sua mãe era alemã), na casa de uma tia. Depois de algum tempo, foi trabalhar no consulado em Hamburgo, onde conheceria João Guimarães Rosa, o cônsul adjunto, que tinha duas filhas (Vilma e Agnes) do primeiro casamento (com Lygia Cabral Penna). Já estavam juntos, mas casaram-se por procuração, no México, em 1942 – ainda não havia o divórcio. E ficariam juntos até a morte dele, em 1967. O livro Grande Sertão: Veredas, de 1956, começa com esta dedicatória: “A Aracy, minha mulher, Ara, pertence este livro”. Ela era Ara. Ele era Joãozinho.

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                              Aracy e Guimarães Rosa


Havia orientação do governo brasileiro para não conceder, ou dificultar, vistos para a entrada de judeus no Brasil. Antes de romper com o Eixo e declarar guerra a Alemanha, Itália e Japão, o governo Vargas flertou com esses países. Decol, filho de sobreviventes do Holocausto, cita a Circular Secreta 1.127, de junho de 1937 – ano em que Guimarães Rosa chega à Alemanha, após passar em concurso –, sobre recusa de vistos a “indivíduos de origem semita”. Já sob o impacto da perseguição e violência contra os judeus na Alemanha, Aracy resolve burlar as ordens do Itamaraty.

Não se sabe bem que “técnicas” ela usou para isso. Misturava os pedidos à papelada do dia, conseguia passaportes sem o J vermelho que identificava os judeus. Teria “cúmplices” na administração pública de Hamburgo para conseguir falsos atestados de residência em Hamburgo para que judeus de outras regiões pudessem pedir vistos. Aracy também chegou a transportar gente no carro diplomático.

O cônsul, Joaquim de Souza Ribeiro, desconhecia as ações de sua chefe da área de passaportes. Um mérito do filme, senão o maior, é trazer depoimentos de pessoas salvas pela ação solidária de Aracy. Ou de pessoas que descobriram histórias de seus pais – e talvez nem existissem se isso não tivesse acontecido. A Segunda Guerra começara em 1939, mas as ações contra os judeus já haviam começado bem antes. As chamadas Leis de Nuremberg, por exemplo, são de 1935.
Imigração

Até 1942, quando declarou guerra ao Eixo, o Brasil mantinha boas relações com a Alemanha. Chegou a ser o principal parceiro comercial daquele país na América Latina, aponta o jornalista Lira Neto no segundo volume da recente trilogia sobre Getúlio Vargas. O pesquisador cita a mudança de política da diplomacia brasileira para “disciplinar” a emissão do visto a judeus.

“Em vez de incentivar a imigração judaica, as novas regras do Itamaraty tinham como objetivo declarado reduzi-la drasticamente”, escreve Lira Neto à página 362. Deu certo, conforme afirmava o próprio ministro das Relações Exteriores, Oswaldo Aranha: “O número de indivíduos de origem semita entrados no Brasil em 1939 foi de 2.289, o que representa uma diminuição considerável em relação aos números anteriores, 4.900 em 1938; 9.263 em 1937”, disse o ministro ao embaixador brasileiro em Berlim, Ciro de Freitas Vale, primo de Aranha. Segundo o livro, Vale se queixa da “displicência” do governo em relação à “invasão de judeus no Brasil”.

“A gente tinha muito pouca documentação relativa ao propósito do filme”, conta Caco Ciocler, que durante uma exibição do documentário dedicada à comunidade judaica, em novembro, fez uma comparação com Tubarão, de Steven Spielberg, ao dizer que em determinado momento das filmagens, nos anos 1970, a equipe concluiu que não poderia mostrar o robô que representava o animal, por ser muito ruim – e optaram por mostrar apenas a barbatana. “Deixa de ser um filme sobre tubarão e passa a ser sobre fobia, instinto”, observa Caco. “Não procurem pelo tubarão Aracy. A gente visitou a ausência de Aracy, tentou filmar essa ausência.”

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Aracy morreu em São Paulo em 28 de fevereiro de 2011 aos 102 anos.




Fontes:
wikipedia.org.
redebrasilatual.com.br
google.com.br

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