De julho de 1924 a fevereiro de 1927, a Coluna Prestes atravessou 11 estados brasileiros, pregando reformas políticas e sociais. Cerca de 1.500 homens a pé e a cavalo marcharam em terra batida, mata virgem, caatinga e pantanal, enfrentando tropas mais numerosas, aviões, jagunços a serviço do governo e doenças que causaram mais baixas do que os próprios combates. O movimento de características guerrilheiras teve início com a união de brigadas rebeldes de São Paulo e do Rio Grande do Sul, chefiadas, respectivamente, por Miguel Costa e Luiz Carlos Prestes. Derrotados, os jovens tenentes e capitães que ficaram à frente dos levantes somaram forças.
A tropa paulista rumou para o Paraná, onde ocupou várias cidades e se juntou aos amotinados gaúchos, em abril de 1925. A Coluna seguiu para Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Bahia, retornando ao Centro-Oeste para depor armas na Bolívia, sem rendição. Contava, então, com pouco mais de 600 homens. A Coluna Prestes estimulou a propagação de ideias contrárias ao modelo político que mantinha o poder concentrado pelas oligarquias rurais. Três anos depois da marcha, a República Velha foi derrubada pelos revolucionários de 1930, muitos deles egressos do movimento. A exceção foi Prestes, que ganhou na época o apelido de Cavaleiro da Esperança e aderiu ao comunismo.
Marcha da Coluna Prestes
Para efeito de comparação, a Grande Marcha da China (1934-1935), com 100 mil revolucionários sob o comando de Mao, percorreu 10 mil quilômetros. O percurso da Coluna Prestes foi de 25 mil quilômetros. Mesmo tendo fracassado em seu objetivo, a Coluna, comandada pelo capitão Prestes, nunca sofreu derrota para as forças legalistas, dando ao seu líder prestígio na área militar e na política. Anos mais tarde, a coluna também foi alvo de polêmicas e críticas, rebatidas por familiares e "prestistas". Entre elas, a violência de alguns rebeldes integrantes do movimento. Por ordem do comando da coluna, soldados chegaram a ser fuzilados depois de saquearem casas e estuprarem mulheres em cidades por onde passaram.
Cinco anos após a Revolução de 30, que levou Getúlio Vargas ao poder, Prestes assumiu a presidência de honra da Aliança Nacional Libertadora (ANL). A organização, uma frente ampla antifascista que incluía tenentes decepcionados com Vargas, comunistas, socialistas e liberais, organizou o levante de novembro de 1935, conhecido como Intentona Comunista — que teria sido ordenado por Stálin, em Moscou. Derrotado, ao lado de cerca de 10 mil revoltosos, Presos foi preso e passou nove anos na cadeia. Sua companheira, a alemã de origem judaica Olga Benario, foi entregue, grávida, pelas autoridades brasileiras ao governo nazista da Alemanha, onde morreu executada numa câmara de gás. A filha do casal, Anita Leocádia Prestes, nascida numa prisão de Berlim, acabou sendo resgatada por sua avó paterna, após intensa campanha internacional.
Olga Benário Prestes
Após a ditadura do Estado Novo (1937-45) implantado por Vargas, de quem o líder comunista acabou se aproximano visando à união nacional e à redemocratização do país, Prestes foi eleito senador pelo Rio, então Distrito Federal, participando da Constituinte no ano seguinte. Em 1947, porém, o registro do PCB foi cancelado no governo Dutra e, um no ano depois, o senador e os outros parlamentares da bancada foram cassados. O secretário-geral do PCB entrou na clandestinidade e nunca mais teria uma mandato parlamentar, já que o seu partido continuaria proscrito por décadas. Ficou neutro na eleição de Getúlio em 1950, surpreendeu-se com o suicídio do líder trabalhista quatro anos depois, apoiou JK e Jango e, após o golpe de 64, foi o primeiro nome da lista do AI-1. O ato institucional revogou, por dez anos, os direitos políticos do principal dirigente do Partidão. Perseguido, Prestes se exilou na União Soviética, voltando ao país com a anistia assinada pelo presidente João Batista Figueiredo, em 1979.
Anita Leocádia Prestes
No dia 7 de março de 1990, Prestes morreu no Rio de Janeiro, aos 92 anos, vítima de leucemia. Acompanhado por uma multidão, o velório foi realizado na Assembleia Legislativa (ALERJ), no Centro. Entre os primeiros a chegar estava o advogado Sobral Pinto, amigo que o defendera a partir da Intentona de 35. Nascido no século anterior (no dia 3 de janeiro de 1898), em Porto Alegre, o Cavaleiro da Esperança foi sepultado no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul carioca. Em maio de 2013, o Senado realizou sessão especial para devolver, simbolicamente, o mandato do ex-senador comunista, cassado em 1948.
Luiz Carlos Prestes
Fontes:
acervo.oglobo.globo.com
google.com
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