sexta-feira, 14 de junho de 2019







Elogio da Sombra

A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão)
pode ser o tempo de nossa felicidade.
O animal morreu ou quase morreu.
Restam o homem e sua alma.
Vivo entre formas luminosas e vagas
que não são ainda a escuridão.
Buenos Aires,
que antes se espalhava em subúrbios
em direção à planície incessante,
voltou a ser La Recoleta, o Retiro,
as imprecisas ruas do Once
e as precárias casas velhas
que ainda chamamos o Sul.
Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas;
Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar;
o tempo foi meu Demócrito.
Esta penumbra é lenta e não dói;
flui por um manso declive
e se parece à eternidade.
Meus amigos não têm rosto,
as mulheres são aquilo que foram há tantos anos,
as esquinas podem ser outras,
não há letras nas páginas dos livros.
Tudo isso deveria atemorizar-me,
mas é um deleite, um retorno.
Das gerações dos textos que há na terra
só terei lido uns poucos,
os que continuo lendo na memória,
lendo e transformando.
Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte
convergem os caminhos que me trouxeram
a meu secreto centro.
Esses caminhos foram ecos e passos,
mulheres, homens, agonias, ressurreições,
dias e noites,
entressonhos e sonhos,
cada ínfimo instante do ontem
e dos ontens do mundo,
a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,
os atos dos mortos,
o compartilhado amor, as palavras,
Emerson e a neve e tantas coisas.
Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,
a minha álgebra e minha chave,
a meu espelho.
Breve saberei quem sou.





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Homenagem no Café Tortoni - Buenos Aires, junto com Gardel e a poetisa Alfonsina.





No dia 14 de junho de 1986 morria, em Genebra, na Suíça, Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo, escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta. Nascido em 24 de agosto de 1889, em Buenos Aires, na Argentina, sua fama internacional começou a partir da década de 60, quando recebeu o primeiro prêmio internacional de editores, o Prêmio Formentor. Seu trabalho foi traduzido e publicado extensamente nos EUA e Europa. Fluente em vários idiomas, sua obra abrange "o caos que governa o mundo e o caráter de irrealidade em toda a literatura". Seus livros mais famosos são “Ficciones” (1944) e “O Aleph” (1949), coletâneas de histórias curtas interligadas por sonhos, labirintos, bibliotecas, escritores fictícios e livros fictícios, religião e Deus. Seus trabalhos têm contribuído significativamente para a literatura fantástica. Estudiosos afirmam que a progressiva cegueira de Borges o ajudou a criar novos símbolos literários, pois "os poetas, como os cegos, podem ver no escuro". Os poemas de seu último período dialogam com vultos culturais como Spinoza, Luís de Camões e Virgílio.

Entre os seus contos mais conhecidos e comentados podemos citar A Biblioteca de Babel, O Jardim de Veredas, a Biblioteca de Babel, "Pierre Menard, Autor do Quixote" (para muitos a pedra angular de sua literatura) e Funes, o Mentiroso, todos do livro Ficções (1944)- além de "O Zahir", "A escrita do Deus" e O Aleph (que dá seu nome ao livro de que consta, publicado em 1949). A partir da década de 50, afetado pela progressiva cegueira, Borges passou a dedicar-se à poesia, produzindo obras notáveis como "A cifra" (1981), "Atlas" (um esboço de geografia fantástica, 1984) e "Os conjurados" (1985), a sua última obra. Também produziu prosa ("Outras inquisições", ensaios, 1952; "O livro de areia", contos, 1975), notando-se o claro influxo da cegueira.

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Parece-me fácil viver sem ódio, coisa que nunca senti, mas viver sem amor acho impossível.


Não odeies o teu inimigo, porque, se o fazes, és de algum modo o seu escravo. O teu ódio nunca será melhor do que a tua paz.


As ditaduras fomentam a opressão, as ditaduras fomentam o servilismo, as ditaduras fomentam a crueldade; mas o mais abominável é que elas fomentam a idiotia.


Fontes:
seuhistory.com
wikipedia.org
pensador.com/poemas
google.com

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