sábado, 1 de junho de 2019

Vamos falar hoje do poeta maranhense, José de  Ribamar Ferreira, ou Ferreira Gullar.

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José de Ribamar Ferreira nasceu em 10 de setembro de 1930 na cidade de São Luís, no Maranhão. Era filho de Newton Ferreira e Alzira Ribeiro Goulart. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 4 de dezembro de 2016.

O pseudônimo tirou do sobrenome da mãe, Goulart e o transformou em Gullar e Ferreira é o sobrenome de família.


O primeiro livro de poesias, Um pouco acima do chão, foi publicado em 1949 quando o poeta tinha apenas dezenove anos. Nessa fase, Gullar, em período de formação, mostrou-se influenciado pelas estéticas simbolistas e parnasianas.





Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,



está fechado:
“não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira







Posteriormente, no início da década de 1950, escreveu os poemas de "A luta corporal", livro no qual é possível notar certa semelhança com a poesia dos poetas paulistas que, em 1956, lançaram o Concretismo. 


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Explorando propriedades gráficas e vocais das palavras, rompendo com a ortografia e com as convenções da lírica tradicional, Ferreira Gullar integrou de maneira circunstancial o movimento concretista, movimento contemporâneo que se iniciou em meados da década de 50 com Décio Pignatari e os irmãos Campos (Haroldo e Augusto). Esse estilo de poesia tem como característica uso de linguagem verbal e não verbal, supressão do verso e da estrofe, uma poesia mais visual.





No início da década de 50, Gullar mudou-se para o Rio de Janeiro e se envolveu com o movimento de vanguarda do concretismo.

Na cidade maravilhosa trabalhou nas revistas “O Cruzeiro” e “A Manchete”, e ainda nos jornais: “Jornal do Brasil” e “Diário Carioca”.

Abandonou as experiências de vanguarda e engajou-se na política por meio do Centro Popular de Cultura (CPC), grupo de intelectuais de esquerda criado em 1961, no Rio de Janeiro, cujo objetivo era defender o caráter coletivo e didático da obra de arte, bem como o engajamento político do artista.



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Ferreira Gullar presidia o Centro Popular de Cultura, quando em 1964, veio o golpe militar. Filiado ao PC e um dos fundadores do grupo Opinião, após a edição do Ato Institucional n.º 5, em 1969, foi preso junto com intelectuais e músicos, como Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Ele sempre se apresentou contrário à luta armada idealizada pelo partido PC do B. Ele dizia que intelectuais, artistas e estudantes não seriam páreo para o aparato do regime militar.


Em 1971, mudou-se para Paris. Morou em seguida no Chile, Peru e Argentina.

Exilado por cinco anos, publicou duas obras muito importantes: “Dentro da Noite Veloz” (1975) e "Poema Sujo" (1976) obras que representam a solução dos problemas vividos por todos os intelectuais do período, que viram seus ideais populistas serem sufocados pela revolução de 1964. Em 1977 é absolvido pelo STF e retorna ao Brasil.


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Agosto de 1964 ( de "Dentro da Noite Veloz")

Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo
num ônibus Estrada de Ferro-Leblom
Volto do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentira.

O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógios de lilases, concretismo,
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
que a vida
eu a compro a vista aos donos do mundo. (...)

Leilão (de "Poema Sujo")

-Quando dão? Quando dão?
-Quem dá mais? grita mais o leiloeiro.
Essa bengala de castão de ouro!
(Onde ainda sem leva-la o dono antigo?)
Essa arca colonial!
(Falam dedicatórias de retratos,
falam cartas de amor, a voz trancada.)
-Essa mobília de jacarandá! (...)

No exílio em Buenos Aires, escreveu Poema sujo, considerado uma obra-prima da literatura brasileira. Gravado em uma fita cassete, o poema foi trazido para o Brasil pelo amigo, o também poeta Vinícius de Moraes, e no ano de 1976 foi, finalmente, publicado.

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Teatro e Novela

Para o teatro, Ferreira Gullar escreveu, em 1966, em parceria com Oduvaldo Vianna Filho, a peça "Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come". Em parceria com Arnaldo Costa e A.C. Fontoura, escreveu, em 1967, "A Saída? Onde Fica a Saída?". Junto com Dias Gomes, em 1968, escreveu "Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória". Para a televisão, colaborou para as novelas Araponga em 1990, Irmãos Coragem, em 1995 e Dona Flor e Seus Dois Maridos, em 1998.

Em 9 de outubro de 2014 ele foi eleito para cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras.


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Ferreira Gullar morreu em 4 de dezembro de 2016, de problemas respiratórios e pneumonia.


Fontes:
wikipedia.org/wiki/Ferreira_gullar
mundoeducacao.bol.uol.com.br/literatura/ferreira-gullar
todamateria.com.br/ferreira-gullar/
todamateria.com.br/poesia-concreta/
ebiografia.com/ferreira_gullar

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