Vamos falar hoje do poeta maranhense, José de Ribamar Ferreira, ou Ferreira Gullar.
José de Ribamar Ferreira nasceu em 10 de setembro de 1930 na cidade de São Luís, no Maranhão. Era filho de Newton Ferreira e Alzira Ribeiro Goulart. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 4 de dezembro de 2016.
O pseudônimo tirou do sobrenome da mãe, Goulart e o transformou em Gullar e Ferreira é o sobrenome de família.
O primeiro livro de poesias, Um pouco acima do chão, foi publicado em 1949 quando o poeta tinha apenas dezenove anos. Nessa fase, Gullar, em período de formação, mostrou-se influenciado pelas estéticas simbolistas e parnasianas.
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira
Posteriormente, no início da década de 1950, escreveu os poemas de "A luta corporal", livro no qual é possível notar certa semelhança com a poesia dos poetas paulistas que, em 1956, lançaram o Concretismo.
Explorando propriedades gráficas e vocais das palavras, rompendo com a ortografia e com as convenções da lírica tradicional, Ferreira Gullar integrou de maneira circunstancial o movimento concretista, movimento contemporâneo que se iniciou em meados da década de 50 com Décio Pignatari e os irmãos Campos (Haroldo e Augusto). Esse estilo de poesia tem como característica uso de linguagem verbal e não verbal, supressão do verso e da estrofe, uma poesia mais visual.
No início da década de 50, Gullar mudou-se para o Rio de Janeiro e se envolveu com o movimento de vanguarda do concretismo.
Na cidade maravilhosa trabalhou nas revistas “O Cruzeiro” e “A Manchete”, e ainda nos jornais: “Jornal do Brasil” e “Diário Carioca”.
Abandonou as experiências de vanguarda e engajou-se na política por meio do Centro Popular de Cultura (CPC), grupo de intelectuais de esquerda criado em 1961, no Rio de Janeiro, cujo objetivo era defender o caráter coletivo e didático da obra de arte, bem como o engajamento político do artista.
Ferreira Gullar presidia o Centro Popular de Cultura, quando em 1964, veio o golpe militar. Filiado ao PC e um dos fundadores do grupo Opinião, após a edição do Ato Institucional n.º 5, em 1969, foi preso junto com intelectuais e músicos, como Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Ele sempre se apresentou contrário à luta armada idealizada pelo partido PC do B. Ele dizia que intelectuais, artistas e estudantes não seriam páreo para o aparato do regime militar.
Ele sempre se apresentou contrário à luta armada idealizada pelo partido PC do B. Ele dizia que intelectuais, artistas e estudantes não seriam páreo para o aparato do regime militar.
Em 1971, mudou-se para Paris. Morou em seguida no Chile, Peru e Argentina.
Exilado por cinco anos, publicou duas obras muito importantes: “Dentro da Noite Veloz” (1975) e "Poema Sujo" (1976) obras que representam a solução dos problemas vividos por todos os intelectuais do período, que viram seus ideais populistas serem sufocados pela revolução de 1964. Em 1977 é absolvido pelo STF e retorna ao Brasil.
Agosto de 1964 ( de "Dentro da Noite Veloz")
Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo
num ônibus Estrada de Ferro-Leblom
Volto do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentira.
O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógios de lilases, concretismo,
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
que a vida
eu a compro a vista aos donos do mundo. (...)
Leilão (de "Poema Sujo")
-Quando dão? Quando dão?
-Quem dá mais? grita mais o leiloeiro.
Essa bengala de castão de ouro!
(Onde ainda sem leva-la o dono antigo?)
Essa arca colonial!
(Falam dedicatórias de retratos,
falam cartas de amor, a voz trancada.)
-Essa mobília de jacarandá! (...)
No exílio em Buenos Aires, escreveu Poema sujo, considerado uma obra-prima da literatura brasileira. Gravado em uma fita cassete, o poema foi trazido para o Brasil pelo amigo, o também poeta Vinícius de Moraes, e no ano de 1976 foi, finalmente, publicado.
Teatro e Novela
Para o teatro, Ferreira Gullar escreveu, em 1966, em parceria com Oduvaldo Vianna Filho, a peça "Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come". Em parceria com Arnaldo Costa e A.C. Fontoura, escreveu, em 1967, "A Saída? Onde Fica a Saída?". Junto com Dias Gomes, em 1968, escreveu "Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória". Para a televisão, colaborou para as novelas Araponga em 1990, Irmãos Coragem, em 1995 e Dona Flor e Seus Dois Maridos, em 1998.
Em 9 de outubro de 2014 ele foi eleito para cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras.
Ferreira Gullar morreu em 4 de dezembro de 2016, de problemas respiratórios e pneumonia.
Fontes:
wikipedia.org/wiki/Ferreira_gullar
mundoeducacao.bol.uol.com.br/literatura/ferreira-gullar
todamateria.com.br/ferreira-gullar/
todamateria.com.br/poesia-concreta/
ebiografia.com/ferreira_gullar
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