quarta-feira, 9 de janeiro de 2019




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No dia 9 de janeiro de 1920 nascia no Recife, em Pernambuco, João Cabral de Melo Neto, poeta, diplomata e autor do clássico "Morte e Vida Severina" (1966). 

Avesso ao romantismo e à paixão em suas poesias, seu trabalho é basicamente racional, com a construção elaborada e pensada da linguagem, preocupado em transformar toda a percepção em imagem de algo concreto, relacionado aos sentidos, em especial ao tato. Melo Neto convivia em um influente círculo relacionado à arte. Era irmão do historiador Evaldo Cabral de Melo e primo do poeta Manuel Bandeira e do sociólogo Gilberto Freyre. Entre seus amigos estavam o pintor Joan Miró e o poeta Joan Brossa. Membro da Academia Brasileira de Letras (1968), recebeu importantes prêmios como o Camões (1990), o Neustadt International Prize for Literature (1992) e o Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana (1994). Melo Neto morreu no dia 9 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro.



O Relógio

Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.

Se são jaulas não é certo;
mais perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quadradiço de forma.

Umas vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.

Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;

e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade.



“Morte e Vida Severina” foi, sem dúvida, a obra que o consagrou. Além disso, seus livros foram traduzidos para diversas línguas (alemão, espanhol, inglês, italiano, francês e holandês) e sua obra é conhecida em diversos países.



O título da obra faz referência ao sofrimento que Severino passa durante a viagem, relatada através de um poema dramático que fez de João Cabral de Melo Neto um dos poetas mais prestigiados da Literatura Brasileira.

                             Morte e vida Severina (trailer)


Em sua viagem Severino se depara com situações de morte, de desespero, de miséria e fome, causadas principalmente pela seca. O livro faz também uma crítica ao descaso dos governantes quanto a esta situação, vivida por tantos outros nordestinos.

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Encontra situações como a dos dois homens que carregam um defunto até sua última morada, pois este havia sido assassinado por expandir um pouco suas terras, e assim vai tendo seus encontros com a vida e com a morte. Em outro momento houve uma cantoria, e ao aproximar-se percebe que se tratava da encomendação de um corpo. Pensa algumas vezes em interromper a viagem e voltar, pensa que poderá não conseguir chegar ao destino pretendido, ou pensa ainda em interromper a viagem e procurar algum tipo de trabalho pelo meio do caminho. Ao pensar nesta possibilidade de trabalho, descobre que os únicos que poderiam lhe dar algum dinheiro seriam aqueles de pessoas que ajudam na morte, como médico, farmacêutico, coveiro, rezadeira, etc. Vê-se como um inútil, já que nada daquilo sabia fazer, e para o que sabia fazer não encontrava nenhum trabalho.

Escreveu um lindo poema para o "Divino" Ademir da Guia.

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ADEMIR DA GUIA

Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo.

Ritmo líquido se infiltrando
no adversário, grosso, de dentro,
impondo-lhe o que ele deseja,
mandando nele, apodrecendo-o.

Ritmo morno, de andar na areia,
de água doente de alagados,
entorpecendo e então atando
o mais irrequieto adversário.


Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entre tendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.



Fon
tes:

seuhistory.com
todamateria.com.br
infoescola.com
youtube.com
escritas.org/pt
google.com.br

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