Uncle Tom's Cabin; or, Life Among the Lowly, em português "A cabana do Pai Tomás, livro da escritora estado-unidense Harriet Beecher Stowe.
Maior fenômeno literário do século XIX, A cabana do pai Tomás (1852) chegou aos nossos dias um pouco obscurecido, sendo mais comum encontrá-lo em versões adaptadas para o público infanto-juvenil do que em seu texto original. No entanto, o romance da americana Harriet Beecher Stowe (1811-1896), publicado inicialmente em forma capítulos na imprensa, não economiza esforços em produzir emoções, mesmo para os leitores de hoje. Conta a história do escravo Tom – ou Tomás, como se consagrou traduzir no Brasil – se entrelaçam episódios de ação, humor e sentimentalismo, além do mais importante, sérias discussões sobre a escravidão. Foi afinal como marco do abolicionismo que A cabana do pai Tomás ganhou fama e proeminência, a ponto de alguns historiadores o apontarem como um dos deflagradores da Guerra Civil Americana (1861-1865), pelo papel de libelo que exerceu.
Conta a história de que quando Abraham Lincoln conheceu Stowe no início da Guerra Civil, e lhe disse: "Então é esta a pequena senhora que deu início a esta grande guerra." A citação não é reconhecida; só apareceu impressa em 1896, e tem sido alvo de discussão: "A longa presença da saudação de Lincoln como uma anedota em estudos literários e estudos sobre Stowe, pode talvez ser explicada em parte pelo desejo entre muitos intelectuais contemporâneos ... de afirmar o papel da literatura como agente de mudança social."
Stowe
O livro começa com um agricultor do Kentucky chamado Arthur Shelby perante a perda da sua quinta por causa de dívidas. Mesmo acreditando que ele e a sua esposa Emily Shelby têm um relacionamento amável com os seus escravos, Shelby decide arranjar o dinheiro necessário vendendo dois deles—Uncle Tom, um homem de meia-idade com mulher e filhos, e Harry, filho da criada de Emily Shelby, Eliza—a um comerciante de escravos. Emily Shelby é contra esta ideia porque tinha prometido à sua criada que o seu filho nunca seria vendido; o filho de Emily, George Shelby, detesta a ideia de ver Tom a ir embora pois olha para ele como seu amigo e mentor.
Tom parte num barco pelo Rio Mississipi, vendido aos St.Claire.
Depois de viver alguns anos com a família St.Claire, Tom é novamente vendido ao perverso senhor de escravos Simon Legree.
Legree começa a odiar Tom quando este se recusa a obedecer à ordem de Legree de chicotear um outro escravo. Legree bate em Tom brutalmente e decide deitar por terra a sua crença em Deus.
Apesar da crueldade de Legree, Tom recusa deixar de ler a sua Bíblia e de dar conforto aos outros escravos o melhor que pode. Na plantação, Tom conhece Cassy, uma escrava de Legree. Cassy tinha sido separada do seu filho e da sua filha quando estes foram vendidos; incapaz de suportar a dor de ver outra criança vendida, decide matar o seu terceiro filho.
Tom convence Cassy a fugir, o que ela faz, levando Emmeline com ela. Quando Tom se recusa a dizer a Legree para onde é que Cassy e Emmeline foram, Legree diz aos seus homens para matar Tom. Às portas da morte,Tom perdoa os seu assassinos que o espancaram selvaticamente. Tocados pelo ato do homem que mataram, ambos se convertem ao cristianismo. Pouco depois da morte de Tom, George Shelby (filho de Arthur Shelby) chega para libertar Tom, mas descobre que é tarde demais.
Rute de Souza e Sérgio Cardoso
O livro foi encenado como peça teatral, levado aos cinemas e telenovela. No Brasil "A cabana do pai Tomás" fez grande sucesso na Rede Globo entre julho de 1969 e fevereiro de 1970, com Sérgio Cardoso (Pai Tomás e mais dois papéis) Rute de Souza, Paulo Goulart e Miriam Mehler.
Nos Estados Unidos e também na Europa e América do Sul, o romance chegou a provocar uma espécie de fenômeno de massa, com a proliferação de versões teatrais e circenses e produtos como pinturas, bibelôs e jogos infantis. O posfácio aborda a reação negativa imediata de escritores escravistas ao romance de Harriet Beecher Stowe e as diferentes estratégias antiescravistas que alimentaram o debate em torno dele. Nas críticas recebidas pelo livro no Brasil, não faltam comparações entre as condições de vida dos escravos norte-americanos e a realidade brasileira, de um cativeiro supostamente mais benévolo e humanitário.
A cabana do pai Tomás é também um marco histórico por ter sido escrito por uma mulher, fato menos comum no tempo de sua publicação, mas principalmente por trazer uma discussão sobre a questão feminina. Stowe, em sua argumentação de narradora e no modo como retrata suas personagens, permitiu às mulheres a reivindicação do lugar de intelectuais aptas a participar do debate político. Embora esse retrato seja moderado e mesclado com a conformidade aos padrões domésticos da época, foi o suficiente para despertar questionamentos, até mesmo em relação à adequação das mulheres ao papel de escritoras.
Harriet Beecher Stowe fundamenta a defesa da causa abolicionista em valores cristãos, amplamente evocados no decorrer do romance e formulados em tom fortemente moralizante. A escritora, nascida no estado de Connecticut, vinha de uma das famílias mais renomadas do protestantismo norte-americano. Seu pai era um expoente do calvinismo reformado, e o marido, Calvin Stowe, era teólogo e pregador. Harriet atuava como professora, escrevia inicialmente para o deleite limitado de seu círculo social, e foi mãe de sete filhos.
O que a fez colocar a escravidão no centro de seu interesse pessoal e literário foi a indignação com a aprovação, em 1850, da Lei do Escravo Fugitivo, que previa punição aos cidadãos que acolhessem escravos em fuga, mesmo nos estados “livres”, ao mesmo tempo em que facilitava os procedimentos jurídicos para seu reenvio aos proprietários do Sul escravista. Conhecida nos ambientes que frequentava por suas posições, Stowe aceitou o convite para publicar seu romance no jornal National Era, de linha abolicionista moderada (isto é, não aprovava estratégias conformacionais).
Publicado em livro em 1852, o romance alcançou em menos de um ano a marca de 300 mil exemplares comercializados, quando a maioria não passava de 2 mil.
O livro e as peças de teatro nele inspiradas ajudaram a tornar popular vários esteriótipos sobre os negros. Destaque-se a afetuosa "Mammy"! (mãezinha) negra; o esteriótipo "pickaninny" referente a crianças negras; e o "Uncle Tom" (pai Tomás), ou o obediente e serviçal sofredor devoto ao seu patrão ou patroa brancos. Em anos mais recentes, as associações negativas a Uncle Tom's Cabin, esconderam, até um certo ponto, o impacto histórico do livro como um "instrumento essencial anti-escravatura.
Foi o livro mais vendido do século XIX e, entre todos os outros, só perdeu para a Bíblia. Nos estados do Sul a veracidade do romance foi frequentemente questionada, e alguns estados chegaram a proibir a circulação e a posse do volume. Escritores sulistas produziram mais de vinte romances “anti-Tom”. A autora, que já havia dedicado o último capítulo do romance a creditar suas fontes, escreveu um volume a respeito de todo o material em que se baseou para retratar a escravidão, de suas experiências pessoais a relatos de escravos publicados em livro. As restrições de que "A cabana do pai Tomás" foi alvo não lhe tiraram interesse. Na Inglaterra, o livro vendeu 1 milhão de exemplares antes de completar um ano de publicação, e em poucos anos houve traduções para dezenas de línguas. No Brasil, a primeira tradução saiu em 1893, mas a repercussão já vinha de décadas, graças à circulação de edições portuguesas.
Harriet Stowe
Com o passar do tempo, em particular no auge da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, em meados do século XX, A cabana do pai Tomás passou a sofrer duras críticas dos líderes negros, por eleger como símbolo do abolicionismo um personagem submisso, passivo e idealizado ao ponto da santificação. Outros personagens também foram identificados com estereótipos da população negra. Dessa forma, o símbolo do abolicionismo do século XIX ficou, um século depois, marcado como um romance de traços racistas.
Fontes:
wikipedia.org
carambaia.com.br
google.com.br
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