“A minha classe precisa de lacaios. A burguesia exige definições!”
“Acenda todas as velas! Economia em regressão. As grandes empresas estão voltando à tração animal! Estamos ficando um país modesto. De carroça e vela! Também já hipotecamos tudo ao estrangeiro, até a paisagem! Era o país mais lindo do mundo. Não tem agora uma nuvem desonerada… Mas não irá ao suicídio… Isso é para mim.”
“Manter vigilância rigorosa nas fábricas. Evitar a propaganda comunista. Denunciar e perseguir os agitadores. Prender. Esse negócio de escrever livros de sociologia com anjos é contraproducente. Ninguém mais crê. Fica ridículo para nós, industriais avançados. Diante dos americanos e dos ingleses.”
Esses trechos foram extraídos da peça "O Rei da Vela" de Oswald de Andrade, escrita em 1933 e publicada quatro anos mais tarde em 1937, porém só foi encenada pelo Grupo Oficina dirigida por José Celso Martinez em 1967.
José Celso Martinez
A montagem tece uma crítica contundente à elite brasileira. Ela se dá por meio de personagens decadentes, inescrupulosos, falidos, verdadeiros representantes da mescla da tradição, da família e da propriedade. Em tom farsesco, mostra as falcatruas do personagem central, o agiota Abelardo I, fabricante de velas e credor que mantém seus clientes endividados em jaulas, açoitados por Abelardo II, seu sócio.
A peça foi reencenada em 2017, ao atravessar o espaço-tempo desse intervalo, a remontagem de O Rei da Vela discute ainda o anacronismo do país, sua subserviência ao capital estrangeiro, a manutenção de estruturas arcaicas o convívio entre oligarcas, fascistas e capitalistas globais. O espetáculo celebra também os 80 anos do diretor José Celso Martinez Correia e do ator Renato Borghi, que retornam ao elenco, assim como o cenógrafo Hélio Eichbauer, criador do cenário original.
José Celso e Renato Borghi
Oswald de Andrade escreveu a peça no auge da crise financeira mundial com a queda da Bolsa de N.York em 1929, e baseado na sua própria situação financeira claudicante naquela época.
Oswald de Andrade
Suas personagens, membros da elite burguesa e rural, são retratadas como ridículas e decadentes, envolvidas em falcatruas, exploração, falta de moralidade e sexualidade conturbada.
A peça trata de assuntos tidos como proibidos na época como homossexualidade.
No segundo ato, por exemplo:
O segundo ato tem como cenário uma ilha tropical, presente de Abelardo I à noiva. Instala-se ali um clima de grande liberdade sexual: Heloísa troca intimidades com Mr. Jones, americano com quem seu noivo mantém alguns negócios e que desperta interesse em Totó Fruta-do-Conde, irmão homossexual de Heloísa. Abelardo I vive uma noite de amor com a sogra, Dona Cesarina, e acerta outro encontro sexual com a tia da noiva, Dona Poloca, cuja virgindade sexagenária é proclamada a todo momento. Há ainda a presença de João dos Divãs, na verdade Joana, a irmã lésbica de Heloísa, e de seu primo Perdigoto, que arranca um empréstimo de Abelardo I, destinado a montar uma milícia fascista para combater os camponeses que insistem em invadir sua propriedade.
Como vemos, os temas como a hipocrisia burguesa, o fascismo e o uso da força contra os mais humildes, além da ganância e da falta de escrúpulos de uma classe dominante elitista e reacionária, são temas atuais até os dias de hoje.
Fontes:
wikipedia.org
google.com.br
educacao.globo.com
culturadoria.com.br
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