Eu, que entoava na delgada avena
Rudes canções, e egresso das florestas,
Fiz que as vizinhas lavras contentassem
A avidez do colono, empresa grata
Aos aldeãos; de Marte ora as horríveis
Armas canto, e o varão que, lá de Tróia
Prófugo, à Itália e de Lavino às praias
Trouxe-o primeiro o fado. Em mar e em terra
Muito o agitou violenta mão suprema,
E o lembrado rancor da seva Juno;
Muito em guerras sofreu, na Ausônia quando
Funda a cidade e lhe introduz os deuses:
Donde a nação latina e albanos padres,
E os muros vêm da sublimada Roma.
Assim começa o épico "A Eneida" de Virgílio. Bem parecida com "As armas e barões assinalados, que da Ocidental praia lusitana..." - Lusíadas de Camões.
Todos já ouvimos falar da criação da cidade de Roma pelos gêmeos Rômulo e Remo que foram amamentados por uma loba.
A Eneida de Públio Virgílio Maro ou Marão, poeta romano nascido em 15 de Outubro de 70 a.C. a morto em 19 a.C. conta a história de Enéas, herói troiano que sobreviveu o incêndio da cidade e salvou seu filho e seu pai.
Seu fundamento é a lenda segundo a qual Enéas, após a queda de Tróia e longas viagens erráticas, fundou uma colônia troiana no Lácio, a fonte da raça romana. A característica marcante do poema é a concepção da Itália como uma única nação, e da história romana como um todo contínuo desde a fundação da cidade até a expansão completa do Império.
A grandeza do tema impressionou profundamente o povo romano; o tom elevado e sua apresentação sublimada tornam-se mais salientes graças ao delicado espírito contemplativo do autor, à sua simpatia em relação à humanidade sofredora e à sua sensibilidade diante da natureza.
Ao compor a "Eneida", Virgílio inspirou-se em muitas fontes, primeiro na "Ilíada" e na "Odisseia", combinando em seu poema as peripécias de uma viagem constante da segunda com as proezas marciais da primeira, e modelando muitos episódios em Homero.
Virgílio levou 12 anos par completar sua obra de 30 a.C até 19 a.C. (ano de sua morte).
Foi um poema feito a pedido do primeiro imperador de Roma, Otavio Augusto, que junto com seu conselheiro e ministro Caio Mecenas, (mecenato)que ajudavam jovens artistas talentosos.
Enéas foge para Cartago, lá conhece Dido, rainha daquele reino que se apaixona por ele.
Enéas narra a Guerra de Troia para Dido e como conseguiu fugir com seu pai e filho por ordem da Deusa Vênus.
Prontos à escuta calaram-se todos, dispostos a ouvi-lo. O pai Enéias, então, exordiou do seu leito elevado: Mandas, Rainha, contar-te o sofrer indizível dos nossos, como os aquivos a grande potência dos teucros destruíram, reino infeliz, espantosa catástrofe que eu vi de perto, e de que fui grande parte. Quem fora capaz de conter-se sem chorar muito, mirmídone ou dólope ou cabo de Aquiles? A úmida noite do céu já descamba, e as estrelas, caindo devagarinho no poente, os mortais ao repouso convidam. Mas, se realmente desejas ouvir esses tristes eventos, breve relato do lance postremo da guerra de Tróia, bem que a lembrança de tantos horrores me deixe angustiado, principiarei. — Pela guerra alquebrados, dos Fados repulsos em tantos anos corridos, os cabos de guerra da Grécia
Interessante que Eneias conta o que aconteceu ao final da Guerra de Tróia, do cavalo idealizado por Odisseu, de Príamo que foi reclamar o corpo de seu filho Heitor e de sua fuga da cidade.
Durante uma caçada, houve uma grande tempestade. Nesse momento, Dido e Enéas se abrigaram numa caverna e se amaram ali.
Após o evento, Enéas recebe uma mensagem do Deus Júpiter que lhe revela seu destino. Ele precisava deixar Cartago e fundar uma cidade na região do Lácio. A ideia central era substituir a cidade arrasada de Troia.
Ele tenta fugir da cidade sem que a rainha perceba. Todavia, Dido vê os navios saindo da cidade e acaba por se suicidar.
"Pérfido ! Então esperavas de mim ocultar essa infâmia, e às escondidas deixares meus reinos sem nada dizer-me? Não te abalou nem a destra que outrora te dei, nem a morte que a Dido aguarda, inamável, tão próxima já do seu termo? Como se nada isso fora, teus barcos aprestas no inverno, quadra infeliz, pretendendo cortar os furiosos embates dos aquilões? Que crueldade ! Se acaso moradas estranhas não procurasses, nem campos, e Tróia ainda em pé se encontrasse, navegarias no rumo de Tróia e o mar bravo cortaras? Foges de mim? Por meu pranto e também pela mão que me deste — Mísera ! pois perdi tudo, sem nada me ter reservado — por nosso enlace, o sagrado himeneu que de pouco nos une, se algo mereço de ti ou se alguma ventura me deves, doces lembranças, apiada-te ao menos de um lar ora esfeito. Muda de idéia, no caso de as preces contigo valerem."
Ao chegar na região do Lácio, o rei Latino lhe oferece aliança e a mão de sua filha. Entretanto, isso gera grande polêmica sobretudo em Turno, que amava Lavínia, a filha do rei.
Turno tenta atingir os troianos cercando o acampamento e colocando fogo. Com a ajuda do deus Netuno, o fogo é apagado.
Após esse evento, há um combate entre Turno e Enéas, que acaba com a morte de Turno. Por fim, Enéas funda uma colônia troiana no Lácio e se casa com Lavínia. Durante seu governo ele conseguiu unir os romanos e os troianos.
Já no século V a.C. autores gregos, como Helânico de Mitilene, associaram a fundação de Roma ao herói Eneias. Por volta de 200 a.C., Quinto Fábrio Pictor criou a primeira história de Roma, onde associava a criação da cidade a Rômulo, tendo sua versão dos fatos sido aprimorada por outros autores romanos como Tito Lívio, Ovídio, Virgílio, Plutarco e Dionísio de Halicarnasso.
Rômulo e Remo seriam filhos do deus Marte com Reia Sílvia, filha de Numitor, o rei de Alba Longa, descendente de Eneias. Reia Sílvia fora transformada por Amúlio, que destronou o irmão Numitor e ascendeu ao poder, em vestal, uma sacerdotisa virgem, para que não pudesse gerar filhos. Porém, Réia Sílvia engravidou, gerando os irmãos.
Mais uma vez acontece na mitologia a história de uma mulher virgem, que gera filhos. Mais uma vez os filhos são deixados num cesto num rio, como o caso de Moisés. Vemos, pois, que assim como a Ilíada e a Odisseia inspiraram Virgílio na sua Eneida, outras mitologias foram inspiradas umas nas outras.
Nestes domínios a gente de Heitor manterá o comando trezentos anos, até que a princesa Ília,¹ sacerdotisa, de Marte grávida, à luz há de dar os dois gêmeos preditos. Rômulo, então, mui vaidoso da pele fulgente da loba, dominará nestes povos e o burgo mavórcio' erigindo, de fortes muros, seu nome dará aos romanos ditosos. Prazo nem metas imponho às conquistas do povo escolhido. Dou-lhes o império sem fim. Até Juno, a deidade ofendida, que à terra, ao céu e ao mar bravo trabalhos sem pausa ocasiona com seus temores, mudada em melhor há de em breve os romanos favorecer, os senhores do mundo, esse povo togado
¹ - Outro nome de Tróia (Ilíada)
Tais autores tentaram encontrar explicações racionais para passagens improváveis do mito de criação da cidade, como por exemplo a loba capitolina. Os romanos designavam pela mesma palavra, lupa, a fêmea do lobo e a prostituta. Dessa forma, historiadores afirmam que na realidade a ama dos gêmeos teria sido Aca Larência, mulher de Fáustulo que teria exercido o ofício de prostituta.
O historiador Dominique Briquel afirma que muitos elementos encontrados no mito de fundação são resquícios de rituais etruscos que foram incorporados pelos romanos. Tim Cornell reforça essa ideia, afirmando que a explicação racional para a correlação entre a cidade e o herói troiano Eneias seria resquício do contato entre a Itália primitiva e os micênicos.
Fontes:
ebooksbrasil.org
wikipedia.org
educacao.uol.com.br
todamateria.com.br
infoescola.com
google.com
brasilescola.com
academia.edu
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