quinta-feira, 29 de outubro de 2020




Boris Pasternak


Em 29 de outubro de 1958, o autor russo Boris Pasternak recusou o Prêmio Nobel de Literatura daquele ano. No dia 23 do mesmo mês, ele havia sido anunciado pela Academia Sueca como o vencedor da premiação. A recusa aconteceu devido à pressão do governo soviético, que se opunha ao escritor.

Após saber da premiação, Pasternak enviou no dia 25 de outubro um telegrama à Academia Sueca se dizendo "infinitamente grato, emocionado, orgulhoso, surpreso, maravilhado". Nesse mesmo dia, o Instituto Literário de Moscou exigiu que todos os seus alunos assinassem uma petição denunciando Pasternak e seu romance "Doutor Jivago", considerado antissoviético. Além disso, Pasternak foi informado de que, se viajasse para Estocolmo para receber seu Nobel, ele seria impedido de entrar novamente na União Soviética.




Apesar de conter passagens escritas nas décadas de 1910 e 1920, Doutor Jivago apenas foi concluído em 1956. O romance foi submetido à revista literária Novy Mir (Новый Мир). No entanto, os editores rejeitaram o romance de Pasternak pela sua rejeição implícita do Realismo Socialista. Pasternak enviou várias cópias do manuscrito em russo para amigos que viviam no ocidente. Em 1957, o editor italiano Giangiacomo Feltrinelli conseguiu que o romance fosse extraído da União Soviética por Sergio D'angelo. Após entregar o manuscrito, Pasternak brincou: "Você fica convidado a ver-me frente ao pelotão de fuzilamento." Apesar dos esforços desesperados da União dos Escritores Soviéticos para impedir a publicação, Feltrinelli publicou uma tradução italiana do livro em novembro de 1957. Tão grande foi a procura por Doutor Jivago que Feltrinelli conseguiu ceder os direitos de tradução para dezoito línguas, muito antes da publicação do romance. O PCI expulsou Feltrinelli em retaliação pelo seu papel na publicação de um romance que consideravam como crítico do comunismo.

Cópia da edição original de Doutor Jivago, publicada secretamente pela CIA. A capa frontal e o frontispício identificam o livro em russo; a capa traseira do livro indicava que fora impresso em França.

A Central Ingelligence Agency dos EUA rapidamente percebeu que o romance representava uma oportunidade para embaraçar o governo soviético. Um memorando interno elogiava "o grande valor propagandístico" do livro: não só o texto tinha uma mensagem humanista central, mas ter o governo soviético suprimido uma grande obra da literatura poderia levar o cidadão comum a questionar "o que há de errado com o seu governo". A CIA decidiu publicar o livro em língua russa e providenciou para que fosse distribuído no pavilhão do Vaticano na Feira Mundial de Bruxelas em 1958.

Durante a Guerra Fria, as noticiais que chegavam para nós no Ocidente eram àquelas que os EUA permitiam através do domínio da imprensa por órgãos de inteligência americana; aos poucos noticiais de atrocidades cometidas pelos EUA também foram estampadas por jornais e revistas, certamente a mando da URSS.

O certo é que o autoritarismo nunca foi ou será uma boa forma de governo. Ele pode se sustentar por algum tempo, através da violência e da truculência, mas a democracia e a informação correta e verdadeira sempre prevalecerão sobre os desmandos.




O livro foi transformado em filme dirigido por David Lean em 1965, com Omar Shariff, Julie Chistrie e Geraldine Chaplin.

Dr. Zhivago - trailer



Depois das ameaças, Pasternak enviou um segundo telegrama ao Comitê do Nobel: "Em vista do significado dado à premiação pela sociedade em que vivo, devo renunciar a essa distinção imerecida que me foi conferida. Por favor, não entendam mal a minha renúncia voluntária". O fato deixou o autor emocionalmente abalado. "Não pude reconhecer meu pai quando o vi naquela noite. O rosto pálido e sem vida, olhos cansados e doloridos e falando apenas da mesma coisa: 'Agora nada mais importa, recusei o prêmio'", disse seu filho, Yevgenii Pasternak.


Apesar de sua decisão de recusar o prêmio, o Sindicato dos Escritores Soviéticos continuou a demonizar Pasternak na imprensa estatal. Além disso, ele foi ameaçado de ser mandado ao exílio no Ocidente. Em resposta, o autor escreveu diretamente ao líder soviético Nikita Khrushchev para que ele não tomasse essa medida extrema. Em 31 de outubro de 1958, o sindicato anunciou a expulsão de Pasternak da entidade. Seus membros também assinaram uma petição exigindo que Pasternak fosse despojado de sua cidadania soviética e exilado para "seu paraíso capitalista". O autor morreu dois anos depois. 


Quando uma grande chance bate à porta de sua vida,  frequentemente o faz sem um barulho mais alto que as batidas de seu coração; e assim, é muito fácil perde-la.





Em dezembro de 1989, Yevgenii Pasternak foi autorizado a viajar para Estocolmo para receber o Prêmio Nobel de seu pai. Na cerimônia, o aclamado violoncelista e dissidente soviético Mstislav Rostropovich executou uma obra de Bach em homenagem ao seu falecido compatriota.


Fontes:
seuhistory.com
google.com
youtube.com
wikipedia.org

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