Dando prosseguimento às postagens dos clássicos, hoje vamos falar de o Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wild.
No ensaio "Por que Ler os Clássicos" do livro que leva o mesmo nome, o escritor e crítico italiano Ítalo Calvino (1923-1985) nos oferece quatorze definições para o termo "clássico" na literatura. Entre elas, “um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”. O autor referia-se à “inesgotabilidade de sentido” de narrativas que, por esse e outros motivos, são consideradas imortais — pelo menos até o momento em que este texto é escrito. O que equivale a dizer que são inesgotáveis o prazer e o assombro que algumas dessas obras nos causam, não importando a geração a que pertencemos. Publicado pela primeira vez em 1890, O Retrato de Dorian Gray, do britânico Oscar Wilde, é uma dessas obras: após quase 129 anos, está longe de se calar.
Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde nasceu em Dublin, Irlanda, no dia 16 de outubro de 1854. Filho do médico Willian Wilde e da escritora Jane Francesca Elgee, defensora do movimento para independência irlandesa, cresceu rodeado de intelectuais.
Criado no protestantismo converteu-se ao catolicismo. Estudou na Pastora Royal School de Enniskillen e no Trinity College de Dublin.
Em 1891 publicou sua obra prima "O Retrato de Dorian Gray", seu único romance, que retrata a hipocrisia da sociedade inglesa vitoriana, um de seus livros mais lidos.
Em 1895, o marquês de Queenberry iniciou uma campanha difamatória em periódicos e revistas acusando Wilde de tentar um caso amoroso com Lord Alfred Douglas, filho do marquês. Wilde tentou defender-se com um processo contra Queenberry, mas sem sucesso.
No dia 27 de maio de 1895, Oscar Wilde foi condenado a dois anos de prisão e trabalhos forçados por atentado ao pudor. As inúmeras petições de clemencia solicitadas por setores progressistas e pelos mais importantes círculos literários europeus não foram suficientes para sua soltura.
No prefácio do livro, Wild escreve:
" O artista é o criador de coisas belas.
Revelar a arte e ocultar o artista é a finalidade da arte....
...A aversão do século XIX ao Realismo é a cólera de Calibã por não ver o seu próprio rosto no espelho."
"A mais elevada, tal como a mais rasteira, forma de crítica é um modo de autobiografia. Os que encontram significações torpes nas coisas belas são corruptos sem sedução, o que é um defeito. Os que encontram significações belas nas coisas belas são os cultos, Para esses há esperança."
O romance foi recebido com muita polêmica e com críticas severas de obscenidade e taxado de imoral.
O Retrato de Dorian Gray inicia em um ensolarado dia de verão na Inglaterra da Era Vitoriana, onde Lord Henry Wotton, um homem opinativo, observa o sensível artista Basil Hallward a pintar o retrato de Dorian Gray, seu anfitrião, e um lindo jovem que é a musa final de Basil. Depois de ouvir a visão de mundo hedonista de Lorde Henry, Dorian começa a pensar que a beleza é o único aspecto da vida que vale a pena seguir, e deseja que o retrato de Basil envelheça em seu lugar.
O romance aborda de forma “sem moral” o tema da moralidade. O autor não julga seus personagens, não atribui valores aos seus atos, mas faz incidir sobre eles as consequências de seus atos, situando os sob o signo da responsabilidade, não da culpa. Enquanto Oscar descrevia no livro cenas de atos condenáveis pela sociedade, de orgias a assassinatos, muitas vezes sem culpa, a personagem de Dorian, ou melhor, o rapaz retratado na pintura, pagava o preço de seus atos, tornando-se cada vez uma figura mais deplorável e desfigurada, sofrendo pequenas “mortes da alma”. Graças às influências de Lorde Henry, o rapaz doce e ingênuo se torna uma figura monstruosa, cuja vida é movida pela vaidade e por seus vícios. Apesar de ter sido adido pelo lorde, Dorian aceitou sua influência, por isso não é colocado como vítima, mas como responsável.
Sob a influência hedonista¹ de Lord Henry, Dorian explora plenamente a sua sensualidade. Ele descobre a atriz Sibyl Vane, que atua em peças de teatro de Shakespeare num teatro sombrio da classe trabalhadora. Dorian se aproxima e a corteja, e logo propõe casamento. A apaixonada Sibyl o chama de "Príncipe Formoso", e desmaia com a felicidade de ser amada, mas seu irmão protetor, James, um marinheiro, adverte que, se seu "Príncipe Formoso" a magoasse, iria matá-lo.
Dorian convida Basil e Lord Henry para ver Sibyl atuar em Romeu e Julieta. Sibyl, cujo único conhecimento do amor foi através do amor ao teatro, renuncia a sua carreira de atriz para experimentar o amor verdadeiro com Dorian Gray. Desanimado por ela ter abandonado o palco, Dorian rejeita Sibyl, dizendo-lhe que atuar era a sua beleza; sem isso, ela já não era interessante.
Ao voltar para casa, Dorian percebe que o retrato foi alterado; seu desejo realizado, e o homem do retrato carrega um sorriso sutil de crueldade.
Conscientemente ferido e solitário, Dorian decide se reconciliar com Sibyl, mas é tarde demais, enquanto Lord Henry informa que Sibyl se matou por engolir ácido cianídrico.
Dorian então, entende que, a partir daí, sua vida dirigida pela luxúria e boa aparência seria suficiente. Nos dezoito anos seguintes, as experiências de Dorian, com todos os seus vícios, são influenciados por um romance francês moralmente venenoso, um presente recebido do decadente Lord Henry Wotton.
Uma noite, antes de partir para Paris, Basil vai à casa de Dorian lhe perguntar sobre os rumores de seu sensualismo autoindulgente.
Dorian não nega sua devassidão, e leva Basil a um quarto fechado para ver o retrato, que havia se tornado hediondo pela corrupção de Dorian. Na raiva, Dorian culpa seu destino sobre Basil, e o apunhala até morrer. Dorian depois calmamente chantageia um velho amigo, o químico Alan Campbell, para destruir o corpo de Basil Hallward em ácido nítrico.
Para escapar da culpa de seu crime, Dorian vai para um antigo antro de ópio, onde James Vane está inconscientemente presente. Ao ouvir alguém se referir a Dorian como "Príncipe Encantado", James o procura e tenta atirar em Dorian. Em seu confronto, Dorian engana James ao fazê-lo acreditar que é muito jovem para ter conhecido Sibyl, que se suicidou dezoito anos antes, já que seu rosto ainda é o de um jovem. James cede e libera Dorian, mas depois é abordado por uma mulher do antro de ópio que reprova James por não matar Dorian. Ela confirma que o homem era Dorian Gray e explica que ele não envelheceu em dezoito anos; compreendendo demasiado tarde, James corre atrás de Dorian, que se foi.
Uma noite, durante o jantar em casa, Dorian espiona James rondando a casa. Dorian teme por sua vida. Dias depois, durante uma caçada, um dos caçadores acidentalmente atira e mata James Vane, que estava escondido em um matagal. Ao retornar a Londres, Dorian diz para Lord Henry que irá ser um homem bom a partir de então; começa por não partir o coração da ingênua Hetty Merton, o seu interesse romântico atual.
Dorian se pergunta se sua bondade recém-descoberta teria revertido a sua corrupção no retrato, mas ele só vê uma imagem mais feia de si mesmo. A partir daí, Dorian entende que seus verdadeiros motivos para o auto sacrifício de reforma moral foram provocados pela vaidade e a curiosidade pela busca de novas experiências.
Decidindo que só a completa confissão iria absolvê-lo de delitos, Dorian decide destruir o último vestígio de sua consciência.
Enfurecido, Dorian pega a faca com que ele assassinou Basil Hallward e apunhala o retrato. Os servos da casa acordam ao ouvir um grito do quarto fechado; na rua, os transeuntes também ouvem o grito e chamam a polícia. Ao entrarem na sala trancada, os servos encontram um velho desconhecido, esfaqueado no coração, seu rosto e figura estão secas e decrépitas. Os servos identificam o cadáver desfigurado pelos anéis nos dedos que pertencem ao seu mestre; ao lado deles está o retrato de Dorian Gray, que regressou à sua beleza original.
O ato de esfaquear o retrato é visto como uma forma de se redimir de seus pecados. O retrato é uma forma de retratar seu inconsciente e um desejo inerente a todo ser humano de ser eterno e jovem.
¹ - Hedonismo - Busca incessante pelo prazer como bem supremo.
Fontes:
revistagalileu.globo.com
ebiografia.com
psicanaliseearte.wordpress.com
google.com
wikipedia.org
materiasdoenem.com.br
o retrato de dorian gray - Wild, Oscar - Editora Abril - 1980
dicio.com.br
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