quarta-feira, 14 de outubro de 2020

 Decameron de Bocacccio

Boccaccio



Em uma referência ao que existiu nas escrituras bíblicas em propagar, por meio dos santos homens da igreja, a criação do mundo em seis dias (Hexameron), Giovanni Boccaccio criou o seu próprio jeito de contar a (re)criação de uma nova sociedade, a partir da narrativa, pelo qual vinha acontecendo na Europa com a vastidão ao qual a peste negra (1348) vinha atuando.




"Esta peste foi de extrema violência: pois ela atirava-se contra os sãos, a partir dos doentes, sempre que doentes e sãos estivessem juntos"

Estamos vivenciando algo parecido na atualidade, mas estamos falando aqui da peste negra.



Escrito em meados do século XIV (1353), ‘Decameron’ estabelece um padrão para o que viria a ser o conto ficcional. O livro reúne cem narrativas contadas por sete damas e três cavalheiros que, a fim de escapar da peste que assolava Florença, se recolhem e, para passar o tempo e celebrar a vida, narram histórias uns aos outros. 


Giovanni Boccaccio nasceu em 1313 em Certaldo, Itália. Foi um filho fora do casamento que desde muito cedo precisou aprender o oficio pelo qual a família se subsidiava, sendo bancário. O ainda não renomado escritor, pertencente de uma família rica teve seus primeiros contatos com a corte por conta do seu emprego e dali em diante, por ter sido autodidata, amante da literatura e voraz nas leituras, foi se acostumando com o lugar de onde mantinha contatos nobres até se tornar, na literatura, em primeiro lugar, poeta.


Considerado o escritor participante da tríade das coroas da literatura, junto de Dante e Petrarca, seu nome é muito famoso na literatura por ser o fundador da narrativa moderna, não restritiva somente na Itália, mas sim em toda a Europa.

É trazido para sua obra, muito do que estava sendo vivenciado na Europa, a peste negra. Assim como os jovens , Boccaccio também precisou fugir da peste negra para escrever Decamerão e, ao acabar todo o seu trabalho, sofreu várias críticas da Igreja por ter escrito tamanha obra, mas sábio foi Petrarca que o aconselhou a deixar as críticas de lado, afinal, o que ele tinha escrito era literatura.

Totalmente irônico na crítica à sociedade da época e detalhista em retratar os direitos do povo, Boccaccio cria um mundo repleto de interpretações mil. 


Não vai faltar amor do começo ao fim da leitura, afinal, é isso o que esses jovens, além de contar causos, buscam: criar um mundo a partir de um amor carnal, mas também humano.


A edição que possuo é uma edição da Editora Abril de 1979, traduzida por Torrieri Guimarães.




O Decamerão, rompendo com a mítica literatura medieval, é considerado o primeiro livro realista da literatura.

Como as obras da idade medieval em geral, Decamerão tem material sobre numerologia e misticismo. Acredita-se, por exemplo, que as Sete Moças representem as Quatro Virtudes Cardinais – Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança – e as Três Virtudes Teologais – Fé, Esperança e Caridade. Os três homens significariam a divisão da alma em três partes: Razão, Ira e Luxúria da tradição helênica.

O livro começa com uma descrição terrível da peste e suas consequências:

"Em Florença, apareciam no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou na axila, algumas inchações. Algumas delas cresciam como maçãs; outras como um ovo; cresciam umas mais, outras menos; chamava-as o populacho de bubões."

O autor continua narrando que o número de mortes e a velocidade como ocorrem deixaram várias famílias exterminadas e as cidades vazias.

Na Igreja de Santa Maria Novela, numa tarde de terça-feira, sete jovens se achavam praticamente sozinhas no templo onde tinham acabado de ouvir, com "roupas lúgubres" os ofícios religiosos.
"Eram todas bem comportadas  e de sangue nobre; bonitas de forma, costumes prendados, e de comportamento honesto."

Tinham entre 18 e 28 anos, e o autor querendo omitir suas verdadeiras identidades dá-lhes outras denominações. Lembremos que elas estavam na Igreja sozinhas, ou por que tinham sido abandonadas por suas famílias ansiosas para se salvarem da pandemia, ou mesmo porque seus familiares sucumbiram perante a peste.

"Agrupadas ali, não por prévia combinação, mas por acaso, em uma das dependências da igreja, sentaram-se formando quase um círculo." 


Ficaram conhecidas então como: Pampinéia ( a mais velha); Fiammetta; Filomena; Emília; Laurinha; Neífile e Elisa.

Pampinéia, a mais velha, assume um discurso em favor de que todas procurem um abrigo seguro longe da cidade, e como isso será difícil, por questões de comportamento e da moral da época, sete jovens mulheres e solteiras vivendo num lugar sozinhas.

"Não pode haver nenhuma censura ao ato de se seguir o meu conselho...". "... Lembro-lhes que o ato de nos afastarmos honestamente desta cidade não nos traz nenhum desdouro mais do que à maioria das demais mulheres o de aqui ficarem desonestamente."

 

Filomena, que era a mais discreta de todas exclamou, então: 

"Recordo-lhes que somos todas mulheres. Nenhuma mulher há tão tola, que não saiba bem como as mulheres, quando se juntam. são pouco providas de juízo, e mal sabem governar-se sem o auxílio de um homem."


Ao que concluiu Elisa:

"- Realmente são os homens a cabeça das mulheres; sem a ordem deles, raramente chega alguma obra nossa a um fim digno de elogio"

Nos dias de hoje essas palavras fariam estarrecer quaisquer mulheres, mas naquela época o homem era realmente tido como superior, pela sociedade, pela igreja e pelas próprias mulheres. Encontramos aqui um traço da sátira do autor, retratando o pensamento feminino do século XIV.

No momento em que as mulheres discutiam, entraram na igreja três rapazes, sendo que o mais novo devia beirar os 25 anos, não sendo assim, para época, tão jovens assim.

Seus nomes eram : Pânfilo; Filóstrato; e Dionéio, os três procuravam refúgio e por acaso, encontraram dentre as sete mulheres, três que eram suas amadas. Todos eram conhecidos, e alguns parentes entre si.

Estava pois resolvido o receio das mulheres de procurarem refúgio desprotegidas.

Combinaram, no dia seguinte irem para um sítio, sem que as aflições sobre os costumes a honestidade e a honra delas e o que as outras pessoas iriam falar, importasse mais que a própria sobrevivência.



No sítio, começa realmente a novela. Lá,  Pampinéia, foi eleita a primeira chefe, a rainha, como se estivessem num castelo, distribui as tarefas corriqueiras de cada um para a boa convivência de todos. Cada um tinha uma tarefa específica na cozinha, na arrumação em conseguir alimentos e água. Também foi acertado que deveriam tentar viver sem as lembranças terríveis que deixaram pra trás. Assim a forma que acharam para se divertirem foi contar histórias um para o outro.



A primeira novela coube a Pânfilo, e ele contou sobre um certo Senhor Ciappelletto que engana um santo frade fazendo-lhe uma falsa confissão; e morre. Em vida tendo sido um homem muito mau, e considerado santo após a morte, passando a ser chamado São Ciappelletto.

Outra crítica de Boccaccio contra a Igreja e suas famosas indulgências que tornava santo os poderosos ou seus filhos, desde que pudessem pagar.



A Segunda Jornada (Segundo Dia)  de Decameron começa sob o império de Filomena.

Nesse dia mais dez novelas são contadas, coube a Laurinha contar a quarta novela, sobre Landolfo Ruffolo que depois de ficar muito pobre torna-se corsário. Preso pelos genoveses, foge para o mar. Salva-se em cima de uma caixa cheia de joias caríssimas. Em Corfu salva-o uma mulher; e ele retorna para casa riquíssimo.






Durante os dias dias em que passam no sítio 100 histórias (novelas) são contadas, algumas eróticas que chegam a corar as moças presentes, como a contada por Filóstrato, sobre Masetto de Lamporecchio que finge-se de mudo e torna-se jardineiro num convento de mulheres que disputam entre si para deitarem-se com ele.

"Pobre de mim! exclamou a outra - que coisas diz você? Ignora, então, que prometemos a nossa virgindade a Deus ?

Ora! comentou a outra - quantas contas que lhe são prometidas todos os dias, sem que se cumpram nenhuma promessa ?"

" A jovem, como companheira leal, assim que recebeu o que queria receber cedeu o seu posto à outra; e Mansetto, mesmo continuando a parecer simplório, fez a vontade das duas; pois, antes de se afastarem dali, mais de uma vez elas quiseram constatar que o mudo sabia cavalgar.."




O livro recebeu diversas críticas, especialmente da Igreja Católica, devido às críticas ironias recebidas e ao seu conteúdo erótico.




Finda a última novela, Dionéio toma as providências para a partida no dia seguinte. Após o jantar o grupo cantou e dançou, entoando Fiammeta, por ordem "real", uma canção. Após ela, outras tantas foram entoadas. No dia seguinte, todos voltaram a Florença, onde se despediram.




A obra encerra-se com este último item, em que Boccaccio diz ter seguido a narrativa de algo como se tivera ocorrido de fato: "Contudo, eu não podia nem devia escrever senão as novelas narradas" e "...ainda que se queira pressupor que eu seja o inventor e o escritor delas - coisas que não fui -, declaro que não sentiria vergonha do fato de nem todas serem lindas".

Conclui Boccaccio sua obra, com uma exortação: "E vocês, agradáveis mulheres, vivam na paz de Deus; e lembrem-se de mim, se, por alguma coisa, alguma de minhas novelas lhes deu a recompensa de a terem lido". 








Fontes:
lelivros.com
wikpedia.org
google.com
umadosedecacto.com.br
mundodelivros .com
Deamerão - Boccaccio, Giovanni - editora Abril - 1979
enchantedbooklet.com/decameron/

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