sexta-feira, 2 de abril de 2021

Vamos falar hoje do romance Romance D´a pedra do reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta do escritor paraibano Ariano Suassuna.




O romance foi transformado em minissérie pela Globo de 12 a 16 de junho de 2007, tendo como atores principais : 


IRANDHIR SANTOS – Dom Pedro Dinis Quaderna
CACÁ CARVALHO – Juiz Corregedor
MILLENE RAMALHO – Margarida Torres Martins
RENATA ROSA – Maria Safira
MARCÉLIA CARTAXO – Tia Felipa
LUIZ CARLOS VASCONCELOS – Arésio Garcia-Barreto
JESSIER QUIRINO – Euclydes Villar
FRANK MENEZES – Samuel Wandernes




A pedra do reino 2007 - Trailer




O romance é inspirado em um episódio ocorrido no século XIX, no município sertanejo de São José do Belmonte, a 470 quilômetros do Recife, onde uma seita, em 1836, tentou fazer ressurgir o rei Dom Sebastião - transformado em lenda em Portugal depois de desaparecer na África (Batalha de Alcacér-Quibir - معركة القصر الكبير  ): sob domínio espanhol, os portugueses sonhavam com a volta do rei que restituiria a nação tomada à força. O sentimento sebastianista ainda hoje é lembrado em Pernambuco, durante a Cavalgada da Pedra do Reino, por manifestação popular que acontece anualmente no local onde inocentes foram sacrificados pela volta do rei.

Suassuna iniciou o Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, seu nome completo, em 1958, para concluí-lo somente uma década depois, quando o autor percebeu o que o levou a escrever o romance: a morte do pai, quando tinha apenas três anos de idade – tragédia pessoal presente na literatura de Suassuna, e a redenção do seu "rei" – uma reação contra o conceito vigente na época, segundo o qual as forças rurais eram o obscurantismo (o mal) e o urbano o progresso (o bem).

A história, baseada na cultura popular nordestina e inspirada na literatura de cordel, nos repentes e nas emboladas, é dedicada ao pai do autor e a mais doze “cavaleiros”, entre eles Euclides da Cunha, Antônio Conselheiro e José Lins do Rêgo.

“Quem não sabe que o digno Príncipe, o Senhor Dom Pedro III, tem poder legitimamente constituído por Deus para governar o Brasil? Das ondas do mar Dom Sebastião sairá com todo o seu exército. Tira a todos no fio da Espada deste papel da República e o sangue há de ir até a junta grossa.”

 

DOM ANTÔNIO CONSELHEIRO, profeta e regente do Império do Belo-Monte de Canudos, Sertão da Bahia, 1897




A primeira vez em que Ariano Suassuna me falou na Pedra do Reino disse que estava escrevendo “um romance picaresco¹”. Me interessei logo — lembrei-me das astúcias, da picardia, das artes graciosas do meu querido amarelinho João Grilo, e de certa forma fiquei esperando novas e mirabolantes aventuras deste ou de outro amarelinho parecido, desenvolvidas ao longo de uma história em muitos capítulos — porque ele me avisara também de que o romance era comprido
1 - picaresco - burlesco, satírico, .

(Rachel de Queiróz - prefácio do romance)



Folheto I

"DAQUI DE CIMA, no pavimento superior, pela janela gradeada da Cadeia onde estou preso, vejo os arredores da nossa indomável Vila sertaneja. O Sol treme na vista, reluzindo nas pedras mais próximas. Da terra agreste, espinhenta e pedregosa, batida pelo Sol esbraseado, parece desprender-se um sopro ardente, que tanto pode ser o arquejo de gerações e gerações de Cangaceiros, de rudes Beatos e Profetas, assassinados durante anos e anos entre essas pedras selvagens, como pode ser a respiração dessa Fera estranha, a Terra — esta Onça-Parda em cujo dorso habita a Raça piolhosa dos homens. Pode ser, também, a respiração fogosa dessa outra Fera, a Divindade, Onça-Malhada que é dona da Parda, e que, há milênios, acicata a nossa Raça, puxando-a para o alto, para o Reino e para o Sol." (Romance da Pedra do reino p.25).


O personagem-narrador, Quaderna, é preso em Taperoá por subversão, faz sua própria defesa perante o corregedor e, para tanto, relata a história de sua família, escrita na prisão. Declara-se descendente de legítimos reis brasileiros, castanhos e "cabras" da Pedra do Reino - sem relação com os "imperadores estrangeiros e falsificados da Casa de Bragança" - e conta o seu envolvimento com as luas e as desavenças políticas, literárias e filosóficas no seu reino.

O personagem narrador, Dom Pedro Dinis Quaderna, que se intitula como o genuíno monarca do Brasil.

Dinis nos apresenta um pouco mais de sua formação, a saber, de sua formação intelectual, curiosamente equilibrada entre Esquerda e Direita, representadas em seus posicionamentos, respectivamente, nas pessoas do Professor Clemente Hará e do Doutor Samuel Wandernes. Clemente é negro, adotado por um padre, que lhe deu educação, advogado, comunista, ateu, realista, nativista, e afeito às escritas teóricas. Dinis cita algumas de suas ideias ao explicar, em outro momento do livro, porque se considera “monarquista de Esquerda”:²

2 - erika-bastista.medium.br

Ora, segundo Clemente, as pessoas da História brasileira e sertaneja que fazem essas coisas, são sempre da Esquerda e do Povo! A Direita das cidades, a “Burguesia urbana” (para usar a expressão do genial Epaminondas Câmara), o que quer é viver tranquilamente, roubando, na vida pacata e ordeira de quem já está bem instalado e só deseja mesmo é ordem pra poder furtar mais à vontade.

A pedra do reino é apresentado como um romance autobiográfico narrado por Dom Pedro Dinis Ferreira-Quadrena, o autoproclamado Rei do Quinto Império e do Quinto Naipe, Profeta da Igreja Católico-Sertaneja e pretendente ao trono do Império do Brasil . Quaderna, obcecado em criar uma versão essencialmente nordestina para o livro Compêndio narrativo do peregrino da América Latina , de Nuno Marques Pereira, se descreve como descendente dos verdadeiros reis brasileiros - que nenhuma relação têm com aqueles imperadores estrangeirados e falsificados da Casa de Bragança . Seus antepassados são, na verdade, os legítimos reis castanhos e cabras da Pedra do Reino do Sertão, que fundaram a sagrada Coroa do Brasil. As desventuras de Quaderna e a trágica história de sua família na cidade de São José do Belmonte, no interior de Pernambuco, funcionam como o ponto de partida para Suassuna promover suas misturas perfeitas - o rico com o pobre, a arte com o cotidiano, a ingenuidade com a malícia, a realidade com a fantasia, a odisseia com a sátira, a Europa com o sertão.




Fontes:
wikipedia.org
google.com
youtube.com
kbook.com.br
erika-bastista.medium.br
skoob.com.br

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