sexta-feira, 23 de abril de 2021



Poema só para Jayme Ovalle

Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...
- Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.



Azulão (Jayme Ovalle e Manuel Bandeira) - Nara Leão


Modinha -(Jayme Ovalle e Manuel Bandeira ) Orlando Silva



Jayme Rojas de Aragón y Ovalle ou Jayme Ovalle (Belém do Pará, 6 de agosto de 1894 - Rio de Janeiro, 9 de setembro de 1955) foi um compositor e poeta brasileiro. Grande conhecedor da música popular, tocava violão em choros e serestas.


Jayme Ovalle

No início da década de 1910, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Frequentava os bairros cariocas da Lapa, Glória, onde se encontrava com amigos nos cafés Lamas, Central ou Suísso, redutos de intelectuais e jornalistas. Era também conhecido como Canhoto, pela forma de tocar violão. Seu estilo era muito elogiado por Sinhô e Pixinguinha. Pertence à 2ª geração de compositores nacionalistas.



Jayme Ovalle, Otto Lara Rezende e Vinícius de Moraes



Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira, Augusto Frederico Schmidt, Dante Milano, Murilo Mendes e o próprio Fernando Sabino escreveram sobre Ovalle, ou sobre (e sob) sua influência. Cada um tinha uma história curiosa para contar, como a de quando Jayme Ovalle se apaixonou por uma pomba. Ou de como chorava para convencer seus amigos de que estava certo. “Você está errado. Quer que eu chore, para provar?” E ele caía em pranto. Aos soluços, dizia: “Está convencido agora? Tenho ou não tenho razão?”.



Jayme Ovalle



Mas, também, como não folclorizar um homem que se apaixonou por uma pomba que o visitava num hotel do Rio e por um manequim de uma vitrine,  que costumava abraçar postes de luz com ternura, usava monóculo e passava graxa de sapato no cabelo?
As características faziam parte de uma personalidade sedutora. Lendo só jornais e a Bíblia, tendo estudado pouquíssimo na Belém natal, era capaz de se expressar com força poética nas conversas cotidianas e elaborar teorias complexas na mesa de bar -como a "nova gnomonia", divisão dos seres humanos em cinco tipos que virou febre entre intelectuais a partir de seu registro por Bandeira, numa crônica de 1931.
Fernando Sabino registrou frases suas e pôs na boca de Germano, personagem de "O Encontro Marcado" inspirado em Ovalle: "O passarinho é o soneto de Deus"; "O silêncio das coisas tem um sentido". E havia sua mania por diminutivos: "Deixa eu usar o meu lutinho!", disse certa vez, de preto, a Bandeira, que adotou o jeito de falar até na sua obra ("Meu Jesus Cristinho!"); Vinicius foi outro contaminado.


Conhecido como "O místico" ou "O Santo da Ladeira", cultivou um catolicismo muito particular, que incluía sessões de autoesbofeteamento diante da cruz e uma oração em agradecimento "por mais uma noite de minha vida, bebendo, moderadamente, com soda e gelo, o meu uísque". A biografia, escrita pelo jornalista e escritor Humberto Werneck, recupera sua vida familiar e amorosa, a boêmia na Lapa e seu trabalho como servidor público da Alfândega, no Rio de Janeiro. Para quem nunca ouviu falar de Ovalle, é uma história que se lê como um romance e revela a "presença silenciosa" do compositor na cultura brasileira.



Murilo Mendes, Anibal Machado, Jayme Ovalle, Manuel Bandeira, Augusto Frederico Schmidt.

Vinícius contava que certa vez Ovalle o chamou para beber num bar e chorava copiosamente, dizendo que uma pomba que morava, segundo ele, junto à sua janela, e a quem ele devotava uma imensa paixão, apareceu um dia, enamorada de uma outra pomba. Chorava como se tivesse sido traído por uma outra mulher.

Se estivesse vivo, Fernando Sabino elogiaria efusivamente a publicação de O santo sujo, biografia de Jayme Ovalle escrita por Humberto Werneck. Na crônica Um gerador de poesia, escrita para homenagear o amigo falecido, e de onde foi retirado o “caso do choro”, Fernando diz:

Muito antes de estarmos juntos eu já havia lido os poemas de Bandeira nele (ou por ele) inspirados. E a crônica “O Místico”, a propósito de sua partida para Londres. E a “Nova Gnomonia”, sobre sua classificação de todos os seres humanos em cinco categorias. Schmidt já me falara das “noivas de Jayme Ovalle”, não só através de seu belo poema, mas pessoalmente, contando casos pitorescos com ele vividos em noites de boemia na Lapa. Já ouvira de Di Cavalcanti as suas histórias de Paris. Conhecia “Azulão”, “Berimbau”, “Modinha”, sabia de sua fama de músico e poeta. Mas era ainda um mito, de contornos imprecisos, cuja existência eu atribuía em parte à imaginação criadora de seus amigos.



Fontes:
musicabrasilis.org.br
google.com
folha.uol.com.br
rascunho.com.br
wikipedia.org
youtube.com
amazon.com.br

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