quinta-feira, 8 de abril de 2021

 A chave de Salomão - Gilberto Amado.






Gilberto de Lima Azevedo Sousa Ferreira Amado de Faria, político, ensaísta, memorialista e diplomata, nasceu em Estância, SE, em 7 de maio de 1887, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 27 de agosto de 1969.

Era o primeiro dos 14 filhos do casal Melchisedech Amado e Ana Amado. Fez os estudos primários em Itaporanga, também no interior do Sergipe. Depois estudou Farmácia na Bahia e diplomou-se pela Faculdade de Direito de Recife, da qual se tornou, ainda muito moço, catedrático de Direito Penal.






Em 1910, transferiu-se para o Rio de Janeiro, iniciando a sua colaboração na imprensa, no Jornal do Commercio com um estudo sobre Luís Delfino. Passou depois a ocupar uma coluna semanal, em O País. Em 1912, realizou sua primeira viagem à Europa assunto de um de seus livros de memórias e em 1913, pronunciou, no salão nobre do Jornal do Commercio, a convite da Sociedade dos Homens de Letras, uma conferência em que fez o elogio do espírito contemplativo A chave de Salomão, que no ano seguinte, juntamente com outros escritos, seria publicada em livro.


Fausto e Mefistófeles



No dia 19 de junho de 1915, no Rio de Janeiro, no final da cerimônia de inauguração da Sociedade Brasileira dos Homens de Letras (criada por Olavo Bilac e sediada no prédio do Jornal do Commercio), os conferencistas Gilberto Amado e o poeta Aníbal Teófilo (1873-1915), autor do livro Rimas (1911), se desentenderam por causa das críticas jornalísticas de Gilberto a amigos escritores de Aníbal. Gilberto sacou um revólver e matou o poeta no salão nobre do Jornal do Commercio, no Rio. O julgamento do júri foi presidido pelo juiz Manuel da Costa Ribeiro, que também presidiu o júri que julgou Dilermando de Assis, que matara Euclides da Cunha e o júri que julgou e condenou Manso Paiva, que assassinou o senador Pinheiro Machado no hall do Hotel dos Estrangeiros, na Praça José de Alencar, no Rio de Janeiro. Gilberto foi absolvido na justiça, mas jamais o foi pela opinião pública, enquanto durou a memória do acontecido.

A chave de Salomão e outros escritos logo no início começa dom desculpas do autor:

"Antes de tudo, devo pedir-vos desculpas da obscuridade do título sob a qual foi anunciada a conferência."

Diz o autor que o livro de magia com esse nome não tem nenhuma importância, mas sim, segundo ele,  na obsessão de Goethe no segundo Fausto, na cena da Galeria obscura.

Mefistófeles a Fausto: - Toma essa chave, e não te esqueças que o seu poder é sobrenatural. Com ela verás o que nunca vistes; com ela sentirás o que nunca sentiste; com ela irás aonde quiseres.

Depois disso o autor começa dissertando sobre as belezas da Natureza e o efeito que elas traçam no ser humano.

Ele diz: "E que maravilhosa perfeição! as coisas belas que a Natureza tem laboriosamente composto com graça e enlevo, não são assim tão puras. .... todas as coisas belas, são ainda mais belas na luz do sol. 

Para mim, bastava essa maravilha para me dar felicidade. Mas eu contemplava o mar.... A praia estava deserta. Na estrada corriam automóveis, uns atrás dos outros, na vertigem da vida moderna. Nenhum parou, nenhum passageiro se deteve à beira do mar.

Perguntei: aonde eles vão, aonde vamos nós ? Eles vão conquistar tesouros, vão em direção do futuro, eles não contemplam, eles correm."  (p.8)

Num certo trecho do livro ele compara o Velho Testamento com suas crueldades e um Deus vingativo e onipotente e opressor com Cristo, no Novo Testamento: "Cristo foi um deus pouco dramático, apesar das cenas complicadas em que o envolveram." (p.12)

Ele discorre sobre a enorme necessidade do Homem viver o futuro e buscar novos conhecimentos e ganhos e deixar de viver coisas belas que se lhes apresenta na Natureza e no dia a dia.

"Quando vejo os homens voraginosos, consumidos nos tormentos estéreis, e observo a insatisfação que eles encontram no fundo de todos os cálices e no extremo de todas as estradas, e contemplo o mundo que fácil e rico se oferta, uma tristeza me vem do transvio deles. O artista, o poeta, o pensador, quão mais feliz ele é !" (p.13)

Ao ser acusado de conformista e não ver que o mundo caminha para frente acompanhando o progresso ele diz:

"Não quero reformar o mundo, não quero converter ninguém à religião da ociosidade, nem quero deter a marcha de meu país na célere estrada do progresso. Erro que nunca cometerei será o de querer passar aos outros a minha opinião." (p.15)

Remete-nos depois ao estudo da  Educação do Homem, que antes era calcada na religião e na educação militar, o homem levava o nome de seus antepassados, e perseguia a sua honra. Depois veio o modelo da educação comercial, que segundo ele deprime o capital humano, e alça as esperanças, o dinheiro e a cobiça como virtudes máximas.

"O capitalista Rockefeller é o arquétipo. No prodigioso desiquilíbrio histórico que resultou na descoberta da América se abismaram todas as estratificações laboriosamente acumuladas pelo esforço humano. Um escravo, um degredado na Europa tornava-se um rei na América." (p.16)

Continua falando sobre como o mundo se curvou à sociedade americana e aos seus costumes, deixando de lado a cultura acumulada durante séculos.

O tema da chave de Salomão, para o autor e a busca por algo genuinamente humano, a busca de algo inédito e inusitado.

"O tédio só existe verdadeiramente para os previamente fatigados." (p.23)

"Felicidade é sinônimo de tranquilidade. Ser feliz é ser tranquilo." (p.23)

O autor continua exaltando as pequenas coisas e a simplicidade que é relegada pelo homem ante a ambição de procurar por grandes feitos, que por vezes, passam os anos de suas vidas sem conquistar.

"O Infinito! O homem limita as coisas à sua visão, e o homem moderno que vai ao dorso de uma tempestade vê muito menos que o homem antigo. O sapo não vê se não o charco onde vive e a estrela que o ilustra de longe." ( p.27)

"É preciso que cada um de nós possa brandir a 'Chave de Salomão', e fazer de novo as experiências de Fausto. Detenham-nos diante da vida  para lhe ouvir a voz profunda. Ela nos dará os segredos luminosos que possui."






Fontes:

Amado, Gilberto - A chave de Salomão - Liv. José Olympio
google.com
academia.org.br
wikipedia.org

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