A chave de Salomão - Gilberto Amado.
Gilberto de Lima Azevedo Sousa Ferreira Amado de Faria, político, ensaísta, memorialista e diplomata, nasceu em Estância, SE, em 7 de maio de 1887, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 27 de agosto de 1969.
Era o primeiro dos 14 filhos do casal Melchisedech Amado e Ana Amado. Fez os estudos primários em Itaporanga, também no interior do Sergipe. Depois estudou Farmácia na Bahia e diplomou-se pela Faculdade de Direito de Recife, da qual se tornou, ainda muito moço, catedrático de Direito Penal.
Em 1910, transferiu-se para o Rio de Janeiro, iniciando a sua colaboração na imprensa, no Jornal do Commercio com um estudo sobre Luís Delfino. Passou depois a ocupar uma coluna semanal, em O País. Em 1912, realizou sua primeira viagem à Europa assunto de um de seus livros de memórias e em 1913, pronunciou, no salão nobre do Jornal do Commercio, a convite da Sociedade dos Homens de Letras, uma conferência em que fez o elogio do espírito contemplativo A chave de Salomão, que no ano seguinte, juntamente com outros escritos, seria publicada em livro.
No dia 19 de junho de 1915, no Rio de Janeiro, no final da cerimônia de inauguração da Sociedade Brasileira dos Homens de Letras (criada por Olavo Bilac e sediada no prédio do Jornal do Commercio), os conferencistas Gilberto Amado e o poeta Aníbal Teófilo (1873-1915), autor do livro Rimas (1911), se desentenderam por causa das críticas jornalísticas de Gilberto a amigos escritores de Aníbal. Gilberto sacou um revólver e matou o poeta no salão nobre do Jornal do Commercio, no Rio. O julgamento do júri foi presidido pelo juiz Manuel da Costa Ribeiro, que também presidiu o júri que julgou Dilermando de Assis, que matara Euclides da Cunha e o júri que julgou e condenou Manso Paiva, que assassinou o senador Pinheiro Machado no hall do Hotel dos Estrangeiros, na Praça José de Alencar, no Rio de Janeiro. Gilberto foi absolvido na justiça, mas jamais o foi pela opinião pública, enquanto durou a memória do acontecido.
A chave de Salomão e outros escritos logo no início começa dom desculpas do autor:
"Antes de tudo, devo pedir-vos desculpas da obscuridade do título sob a qual foi anunciada a conferência."
Diz o autor que o livro de magia com esse nome não tem nenhuma importância, mas sim, segundo ele, na obsessão de Goethe no segundo Fausto, na cena da Galeria obscura.
Mefistófeles a Fausto: - Toma essa chave, e não te esqueças que o seu poder é sobrenatural. Com ela verás o que nunca vistes; com ela sentirás o que nunca sentiste; com ela irás aonde quiseres.
Depois disso o autor começa dissertando sobre as belezas da Natureza e o efeito que elas traçam no ser humano.
Ele diz: "E que maravilhosa perfeição! as coisas belas que a Natureza tem laboriosamente composto com graça e enlevo, não são assim tão puras. .... todas as coisas belas, são ainda mais belas na luz do sol.
Para mim, bastava essa maravilha para me dar felicidade. Mas eu contemplava o mar.... A praia estava deserta. Na estrada corriam automóveis, uns atrás dos outros, na vertigem da vida moderna. Nenhum parou, nenhum passageiro se deteve à beira do mar.
Perguntei: aonde eles vão, aonde vamos nós ? Eles vão conquistar tesouros, vão em direção do futuro, eles não contemplam, eles correm." (p.8)
Num certo trecho do livro ele compara o Velho Testamento com suas crueldades e um Deus vingativo e onipotente e opressor com Cristo, no Novo Testamento: "Cristo foi um deus pouco dramático, apesar das cenas complicadas em que o envolveram." (p.12)
Ele discorre sobre a enorme necessidade do Homem viver o futuro e buscar novos conhecimentos e ganhos e deixar de viver coisas belas que se lhes apresenta na Natureza e no dia a dia.
"Quando vejo os homens voraginosos, consumidos nos tormentos estéreis, e observo a insatisfação que eles encontram no fundo de todos os cálices e no extremo de todas as estradas, e contemplo o mundo que fácil e rico se oferta, uma tristeza me vem do transvio deles. O artista, o poeta, o pensador, quão mais feliz ele é !" (p.13)
Ao ser acusado de conformista e não ver que o mundo caminha para frente acompanhando o progresso ele diz:
"Não quero reformar o mundo, não quero converter ninguém à religião da ociosidade, nem quero deter a marcha de meu país na célere estrada do progresso. Erro que nunca cometerei será o de querer passar aos outros a minha opinião." (p.15)
Remete-nos depois ao estudo da Educação do Homem, que antes era calcada na religião e na educação militar, o homem levava o nome de seus antepassados, e perseguia a sua honra. Depois veio o modelo da educação comercial, que segundo ele deprime o capital humano, e alça as esperanças, o dinheiro e a cobiça como virtudes máximas.
"O capitalista Rockefeller é o arquétipo. No prodigioso desiquilíbrio histórico que resultou na descoberta da América se abismaram todas as estratificações laboriosamente acumuladas pelo esforço humano. Um escravo, um degredado na Europa tornava-se um rei na América." (p.16)
Continua falando sobre como o mundo se curvou à sociedade americana e aos seus costumes, deixando de lado a cultura acumulada durante séculos.
O tema da chave de Salomão, para o autor e a busca por algo genuinamente humano, a busca de algo inédito e inusitado.
"O tédio só existe verdadeiramente para os previamente fatigados." (p.23)
"Felicidade é sinônimo de tranquilidade. Ser feliz é ser tranquilo." (p.23)
O autor continua exaltando as pequenas coisas e a simplicidade que é relegada pelo homem ante a ambição de procurar por grandes feitos, que por vezes, passam os anos de suas vidas sem conquistar.
"O Infinito! O homem limita as coisas à sua visão, e o homem moderno que vai ao dorso de uma tempestade vê muito menos que o homem antigo. O sapo não vê se não o charco onde vive e a estrela que o ilustra de longe." ( p.27)
"É preciso que cada um de nós possa brandir a 'Chave de Salomão', e fazer de novo as experiências de Fausto. Detenham-nos diante da vida para lhe ouvir a voz profunda. Ela nos dará os segredos luminosos que possui."
Fontes:
Amado, Gilberto - A chave de Salomão - Liv. José Olympio
google.com
academia.org.br
wikipedia.org
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