quarta-feira, 14 de abril de 2021

Confederação dos Tamoios
Gonçalves de Magalhães

Como da pira extinta a labareda,
Ainda o rescaldo crepitante fica,
Assim do ardente moço a mente acesa
Na desusada luta que a excitara,
Ainda, alerta e escaldada se revolve!
De um lado e de outro balanceia o corpo,
Como após da tormenta o mar banzeiro;
Alma e corpo repouso achar não podem.
Debalde os olhos cerra; a igreja, as casas,
A vila, tudo ante ele se apresenta.
Das preces a harmonia inda murmura
Como um eco longínquo em seus ouvidos.
Os discursos do tio mutilados,
Malgrado seu, assaltam-lhe a memória.
No espontâneo pensar lançada a mente,

Redobrando de força, qual redobra
A rapidez do corpo gravitante,
Vai discorrendo, e achando em seu arcanos
Novas respostas às razões ouvidas.
Mas a noite declina, e branda aragem
Começa a refrescar. Do céu os lumes
Perdem a nitidez desfalecendo.
Assim já frouxo o Pensamento do índio,
Entre a vigília e o sono vagueando,
Pouco a pouco se olvida, e dorme, sonha,

Como imóvel na casa entorpecida,
Clausurada a crisálida recobra
Outra vida em silêncio, e desenvolve
Essas ligeiras asas com que um dia
Esvoaçará nos ares perfumados,
Onde enquanto réptil não se elevara;
Assim a alma, no sono concentrada,
Nesse mistério que chamamos sonho,
Preludiando a vista do futuro,
A póstuma visão preliba às vezes!
Faculdade divina, inexplicável
A quem só da matéria as leis conhece.

Ele sonha... Alto moço se lhe antolha
De belo e santo aspecto, parecido
Com uma imagem que vira atada a um tronco,
E de setas o corpo traspassado,
Num altar desse templo, onde estivera,
E que tanto na mente lhe ficara,
— "Vem!" lhe diz ele e ambos vão pelos ares.
Mais rápidos que o raio luminoso
Vibrado pelo sol no veloz giro,
E vão pousar no alcantilado monte,
Que curvado domina a Guanabara.

Cerrado nevoeiro se estendia
Sobre a vasta extensão de espaço em torno,
Cobertando o verdor da imensa várzea;
E o topo da montanha sobranceiro
Parecia um penedo no Oceano.

Mas o velário de cinzenta névoa
Pouco a pouco, subindo adelgaçou-se,
E rarefeito enfim, em brancas nuvens.
Foi flutuando pelo azul celeste.

Que grandeza! Que imensa majestade!
Que espantoso prodígio se levanta!
Que quadro sem igual em todo o mundo,
Onde o sublime e o belo em harmonia
O pensamento e a vista atrai, enleva
E f az que o coração extasiado
Se dilate, se expanda, e bata, e impila
O sangue em borbotões pelas artérias!
Os olhos encantados se exorbitam,
Como as vibradas cordas de uma lira,
De almo prazer os nervos estremecem;
E o espírito pairando no infinito,
Do belo nos arcanos engolfado,
Parece alar-se das prisões do corpo.

Niterói! Niterói! como és formosa!
Eu me glorio de dever-te o braço!
Montanhas, várzeas, lagos, mares, ilhas,
Prolífica Natura, céu ridente,
Léguas e léguas de prodígios tantos.
Num todo tão harmônico e sublime,
Onde olhos o verão longe deste Éden?

O último tamoio - Rodolfo Amoedo - 1883


O poema acima de Gonçalves de Magalhães trata de um fato histórico no Brasil ocorrido entre os anos de 1554 e 1567. Foi a resistência de um povo contra o colonialismo a opressão.


Quando as caravelas de Pedro Alvares Cabral chegaram ao Brasil, encontraram os ameríndios que aqui habitavam há muitos anos. 




As relações foram pautadas tanto por alianças quanto por guerras. Num primeiro contato, muitos índios morreram por conta de doenças trazidas pelos europeus. Em relação às guerras e conflitos, as tribos travavam muitas disputas por questões como territórios, retaliações e diferenças culturais. Então, a fim de destruir o inimigo, os índios muitas vezes se aliavam aos europeus. Ao lado de todo esse processo, houve também a exploração dos índios, a escravização para mão de obra na extração do pau-brasil. As missões dos padres jesuítas também interferiram muito a cultura dos indígenas. Ao contrário do que se aprende nos anos escolares, os índios não foram pacíficos com sua exploração pelos portugueses e europeus de forma geral. 




Havia formas de resistência como as fugas, as guerras, a manutenção de sua cultura e até mesmo o suicídio. A chamada Confederação dos Tamoios foi uma dessas resistências.

Ao contrário do que muita gente pensa, o processo de exploração dos portugueses no Brasil não se deu de forma pacífica. Houve muitas fugas, guerras, e até mesmo o suicídio coletivo foi utilizado como uma forma de resistência entre os indígenas e a Confederação dos Tamoios surge como mais um dos movimentos de revolta.

Quando os europeus vieram ao Brasil, eles buscavam formas de conquistar a aliança e garantir a confiança dos povos originários. Uma das formas de criar laços e se infiltrar nas aldeias para garantir a mão de obra era através do casamento.

Pensando nisso, João Ramalho, amigo de Brás Cubas (governador da Capitania de São Vicente), casou-se com uma indígena do grupo dos Guaianases. Esse povo tinha uma tradição de que quando um português se unia a uma indígena ele passava a fazer parte do grupo. Com a aliança formada, portugueses e Guaianases organizaram um ataque aos tupinambás para escravizá-los.

João Ramalho e Bartira






O chefe do povo, Caiçuru, foi capturado nesse episódio e por conta dos maus tratos que sofreu, ele não sobreviveu. Seu filho e sucessor, Aimberê, assumiu o comando e declarou guerra aos Guaianases e portugueses. Mas ele não fez isso sozinho. Junto com chefes de outros grupos (Araraí, Koakira, Pindobuçu, Cunhambembe, líder dos Tamoios) ele partiu em direção à batalha, assim se formava a Confederação dos Tamoios.

Na língua dos Tupinambá “Tamuya” quer dizer “o avô, o mais antigo”, por isso recebeu o nome de Confederação dos Tamuya, que os portugueses transformaram em Confederação dos Tamoios.

Na mesma ocasião, um grupo de franceses de Villegaigon desembarcava no Rio de Janeiro e percebendo que o conflito poderia ser uma oportunidade para combater os portugueses e garantir sua permanência na cidade, se aliaram aos Tupinambás e deram armas a Cunhambebe para lutar contra os portugueses. No meio do conflito, os povos Termiminó também se aliaram aos Tupinambá.



Villegaigon




Infelizmente, por conta do contato com o povo europeu, um surto de doenças se alastrou pelos indígenas, e a epidemia matou centenas de indígenas, inclusive Cunhambebe. Mas Aimberê, que havia tomado a liderança deu continuidade ao conflito.


Cunhambebe



Aimberê conseguiu mais uma aliança, agora com o líder Tibiriçá, mas ele não contava com a traição que viria a seguir. O grupo Tibiriçá se aliou aos portugueses e dizimou uma grande parte dos Guaianases.


Tibiriça



A disputa entre esses dois grandes grupos só teve fim em 1567 com a chegada de Estácio de Sá. O militar português expulsou os franceses do Rio de Janeiro e acabou com o conflito.



Fontes:
educamaisbrasil.com.br
escritas.org
google.com
infoescola.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vamos falar hoje de objeto direto e objeto indireto. O objeto direto e o indireto são termos integrantes da oração que completam o se...