Vamos falar hoje do romance Jane Eyre de Charlotte Brontë.
Charlotte Brontë (Thornton, 21 de Abril de 1816 de — Haworth, 31 de Março de 1855) foi uma escritora e poetisa inglesa, a mais velha das três irmãs Brontë que chegaram à idade adulta e cujos romances são dos mais conhecidos da literatura inglesa. Escreveu o seu romance mais conhecido, Jane Eyre com o pseudônimo Currer Bell.
Filha de um pastor anglicano, era irmã de Emily Brontë, autora do "Morro dos Ventos Uivantes" (Wuthering Heights).
Jane Eyre é a autobiografia ficcional da personagem principal.
O tema abordado por Charlotte é bastante avançado para sua época (Era Vitoriana), onde as mulheres deviam se submeter aos homens, e não tinham quaisquer direitos ou regalias, exceto àquelas permitidas pela sociedade patriarcal.
Jane Eyes, representa o feminismo numa época em que isso nem era cogitado.
As irmãs Brontë, foram criadas de forma severa por seu pai, e estudaram numa escola ponde a epidemia de tuberculose se alastrou tirando a vida de suas duas irmãs mais velhas; Emily e Anne. Charlotte se casou anos mais tarde com um assistente de seu pai Arthur Bell Nicholls.
A narrativa acompanha a personagem Jane Eyre da infância à vida adulta. Durante sua trajetória, ela mora em diversas casas que foram importantes para o desenvolvimento de sua personalidade e de seus valores morais. Em um primeiro momento, Jane é apresentada enquanto uma menina de dez anos, selvagem e desobediente, que vive na mansão de Gateshead Hall sob a tutela de sua tia.
– Você não tem nada que ficar pegando os nossos livros, a mamãe diz que você é uma dependente. Não tem dinheiro, seu pai não lhe deixou nada, você devia estar pedindo esmolas, e não vivendo aqui com filhos de cavalheiros como nós, comendo a mesma comida e vestindo as roupas que a mamãe lhe dá. Agora vou lhe ensinar a remexer nas minhas estantes, porque elas são minhas, está ouvindo? Toda esta casa me pertence, ou vai pertencer em pouco tempo. Vá e fique junto da porta, longe do espelho e das janelas. Fui me colocar ali, sem me dar conta, a princípio, de sua intenção. Mas quando o vi levantar o livro, equilibrá-lo e parar no ato de arremessá-lo contra mim, imediatamente me joguei para o lado, gritando alarmada. Mas não fui rápida o bastante. O livro foi atirado, me atingiu e eu caí, batendo a cabeça contra a porta e fazendo um corte. Comecei a sangrar e senti uma dor aguda, mas o terror passou do limite e outros sentimentos tomaram o seu lugar. (Jane Eyre - p.15/16)
Após um confronto com esta, Jane é enviada para uma escola, Lowood, onde conhece os primeiros momentos de felicidade.
– Você é uma menina estranha, Miss Jane – disse ela, enquanto me olhava – uma coisinha um tanto solitária e arredia. Está indo para a escola, então? Assenti com a cabeça. – E não vai lamentar deixar a pobre Bessie? – Lamentar por quê? Bessie vive ralhando comigo. – Porque você é uma coisinha muito estranha, tímida e assustada. Devia ser mais corajosa... – O quê? Para apanhar mais? – Bobagem! Você vai se sair bem, tenho certeza. Minha mãe me disse, quando veio me ver na semana passada, que não gostaria de ter uma filha dela na sua situação... Agora venha, tenho boas notícias para você. – Acho que não tem, Bessie. – Menina! O que quer dizer? Por que me olha com esses olhos tão tristes? Venha, a senhora, o senhor John e as meninas vão sair para tomar chá esta tarde, e você vai tomar chá comigo. Vou pedir à cozinheira para fazer um pequeno bolo e então você vai me ajudar a examinar as suas gavetas. Tenho que fazer a sua mala logo, a senhora quer que você parta dentro de um dia ou dois, e você tem que escolher os brinquedos que quer levar.(Jane Eyre -p. 52)
Sua educação é rigorosa e ela passa por diversas transformações durante os oito anos que vive na instituição. Formada e depois de ter trabalhado dois anos como professora da mesma escola, Jane resolve seguir outros caminhos, aceitando trabalhar como preceptora da jovem Adèle, na casa de Thornfield Hall, pertencente ao sr. Edward Rochester. É em Thornfield Hall que a história encontra seu clímax. Jane será confrontada por dilemas éticos e morais e deverá tomar decisões a partir de tudo o que viveu e amadureceu nos anos anteriores.
– Pode me dizer o que significa essa inscrição sobre a porta? O que é Instituição Lowood? – É esta casa para onde você veio. – E por que chamam de Instituição? Ela é diferente das outras escolas? – É em parte uma escola de caridade: você, eu e todas as outras somos asiladas. Creio que você é órfã, não é? Seu pai ou sua mãe não morreram? – Ambos morreram antes que eu tivesse entendimento. – Bem, todas as meninas aqui perderam o pai ou a mãe, ou ambos, e por isso Lowood é chamado de uma instituição para a educação de órfãs. – Não pagamos nada? Vivemos aqui de graça? – Pagamos, ou nossos parentes pagam, quinze libras por ano cada uma. – Então porque somos consideradas asiladas? – Porque quinze libras não são quase nada para pagar o estudo, abrigo e refeições. A diferença vem dos doadores.
(Jane Eyre - p.65)
A instituição de Lowood é onde Jane passa pela sua formação e amadurecimento, as características selvagens e voluntariosas da garota vão perdendo a intensidade e ela adquire uma personalidade mais contida. O lugar é praticamente inóspito, habitado por algumas professoras e criadas além das muitas alunas. Estas estudantes vivem em uma rotina extremamente regulada, com a aparência uniformizada e pouca comida.
A direção do sr. Brocklehurst é severa e as garotas vivem em alto grau de miséria. Além dos conflitos gerados pela própria instituição, o diretor descreve Jane para o grande grupo enquanto uma mentirosa e aconselha as outras garotas que se afastem de sua presença. É neste momento de incerteza que Jane faz amizade com Helen Burns, uma garota mais velha, que impactaria o restante de sua vida.
Jane Eyre passa oito anos em Lowood. Em seis deles ela completou a sua instrução e em dois deles desempenhou a função de professora ao lado da srta. Temple. Durante esses anos, Jane passa por mudanças significativas, muitas das quais são atribuídas a essa amizade partilhada com a antiga professora, considerada por Jane um modelo a ser seguido. No fim desses oito anos, a srta. Temple casa-se e deixa a instituição, o que acaba deixando Jane deslocada e com a necessidade de mudar de ares. É quando Jane resolve disponibilizar seus serviços enquanto preceptora para as famílias que estivessem à procura. Ela recebe a resposta da sra. Fairfax, que faz a proposta que Jane venha morar em Thornfield Hall, uma mansão em que ela seria acolhida enquanto trabalharia com a instrução da da jovem Adèle, pupila do senhor da casa.
Na mansão Thornfield Jane passa bons momentos de sua vida e descobre o amor. Ela se apaixona pelo Sr. Rochester. O relacionamento entre eles só não se concretiza como casamento porque Jane
descobre que ele já é casado. Sua esposa insana, Bertha Mason, é mantida trancada no sótão
da mansão.
Numa tarde, Jane foi chamada à sala para falar com um homem trajando luto fechado que queria ter com ela. Percebeu tratar-se do empregado de algum nobre.
– Creio que não se lembra de mim, Miss – disse ele, levantando-se ao me ver entrar – mas meu nome é Leaven. Fui cocheiro de Mrs. Reed quando a senhorita estava em Gateshead, há oito ou nove anos, e ainda vivo lá. – Oh,- Robert! Como vai? Lembro-me de você muito bem. Costumava me deixar montar o pônei baio de Georgiana. E como vai Bessie? Casou-se com ela, não é? – Sim, Miss. Minha esposa está muito bem, obrigado. Deu-me outro filhinho, dois meses atrás – agora temos três. Tanto a mãe quanto o pequeno estão muito bem. – E como estão as pessoas na mansão, Robert? – Lamento não poder dar-lhe notícias melhores, Miss. Estão muito mal no momento, em grande aflição. – Espero que ninguém tenha morrido – disse, olhando para sua roupa preta. Ele também olhou para a faixa no chapéu e disse: – Ontem fez uma semana que Mr. John morreu, no seu apartamento em Londres. (Jane Eyre p.276)
– A patroa anda doente há bastante tempo. Ela sempre foi muito
robusta, mas não era forte o bastante para tudo isso. A perda de dinheiro e
o medo da pobreza estão aniquilando-a. A notícia da morte de Mr. John – e
o tipo de morte que teve – veio de repente. Ela teve uma crise. Ficou três
dias sem falar, mas na última terça-feira melhorou. Parecia querer dizer
alguma coisa, murmurava e fazia sinais para minha mulher. Foi só ontem
pela manhã que Bessie entendeu que ela pronunciava o seu nome. Por fim
ela conseguiu dizer: “Tragam Jane Eyre... Busquem Jane Eyre. (p.277)
Na quarta parte do enredo, Jane vai parar em uma pequena cidade no interior
onde é acolhida pelos Rivers, família com configuração semelhante à do início da narrativa.
Os Rivers são duas irmãs e um irmão (bem como no caso dos Reeds). Ademais, o seu primo
do início da narrativa se chama John Reed, enquanto o irmão da família Rivers, St. John.
Também pode-se relacionar essa proximidade com o próprio nome das famílias: ambos os
nomes são parecidos fonética e graficamente e, em relação ao significado, a palavra reed se
refere às plantas que nascem geralmente nas encostas dos rios, a palavra river significa rio.
Ou seja, há um retorno em relação aos eventos do enredo. A protagonista está desamparada e
é acolhida pelos Rivers (que posteriormente descobre que são seus primos também). Então ela
começa a lecionar na escola paroquial e quase se casa, mas agora com seu primo St. John, que
tem o intuito de formar com ela um casal de missionários. Jane praticamente recomeça sua
trajetória.
Jane se recusa a casar com St.
John e resolve procurar Rochester, porque ela escuta misteriosamente um chamado dele,
mesmo sabendo que não havia ninguém além de seu primo em casa e nem nos arredores da
casa. Ela tem certeza de ter ouvido a voz de Rochester, mesmo sabendo da impossibilidade.
Esse fato sobrenatural e nada realista faz, então, com que Jane busque o Sr. Rochester,
a quem ama de fato. Ela o encontra em Ferndean Manor, uma antiga casa de caça da família.
Contudo, agora ele está cego e teve uma mão amputada devido a um incêndio provocado por
Bertha Mason, no qual a esposa de Rochester morre. A narrativa então chega ao fim quando
ele, agora viúvo, e Jane se casam.
Esse fim pode ser lido como uma reivindicação de novos valores, visto que agora Jane
está mais no controle da situação do que na ocasião anterior em que ambos se casariam.
Agora a protagonista agora é independente economicamente, está bem física e
psicologicamente, possui um conhecimento de mundo maior e tem experiências de trabalho.
Jane alcançou o que queria por vontade própria e tornou-se, simbolicamente, os olhos, os
braços de Rochester, reforçando o ideal burguês insurgente no século XIX.
A passagem do pai ao marido não significava, é claro, apenas uma transição
de jurisprudência, mas também a passagem de uma propriedade a outra. Este marco
do lugar político-social da mulher ser dentro de propriedades é exemplificado com
habilidade pelos romances góticos ingleses.
Jane Eyre e Catherine Earnshaw (Morro dos ventos uivantes) são duas mulheres em busca de liberdade e apegadas aos ambientes frios e úmidos das mansões onde foram criadas.
Jane Eyre foi levado ao cinema numa produção de 2011, com direção de Cary Fukunaga com : Mia Wasikowska - Jane Eyre; Michael Fassbender - Edward Rochester.
Jane Eyre - trailer 2011
Fontes:
wikipedia.org
google.com
ufmg.br/jane-eyre
amazon.com.br
folha.uol.com.br
core.ak.uk
valkirias.com.br/jane-eyre
youtube.com
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