terça-feira, 2 de março de 2021

 Vamos falar hoje do escritos gaúcho Augusto Meyer e seu ensaios de memórias "No tempo da Flor".


Augusto Meyer



Augusto Meyer (Porto Alegre, 24 de janeiro de 1902 - Rio de Janeiro 10 de julho de 1970) foi um jornalista, ensaísta, poeta, memorialista e folclorista brasileiro. Foi membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filologia.

Augusto Meyer - imortal da ABL



Era filho de Augusto Ricardo Meyer e de Rosa Meyer. Fez seus estudos na cidade natal, mas logo deixou os cursos regulares para estudar línguas e literatura, dedicando-se a escrever. Colaborou, com poemas e ensaios críticos, em diversos jornais do Rio Grande do Sul, especialmente Diário de Notícias e Correio do Povo. Estreou na literatura em 1920, com o livro de poesias intitulado "A ilusão querida", mas foi com os livros Coração verde, Giraluz e Poemas de Bilu que conquistou renome nacional. 

Esses livros e outras produções posteriores foram depois reunidos em Poesias (1957). Pseudônimo: Guido Leal.

Foi diretor da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul, de 1930 a 1936. Organizou o Instituto Nacional do Livro, em 1937, tendo sido seu diretor por cerca de trinta anos.


Detentor do Prêmio Filipe de Oliveira (memórias) em 1947 e do Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, em 1950, pelo conjunto da sua obra literária. Dirigiu a cadeira de Estudos Brasileiros na Universidade de Hamburgo, Alemanha, e foi adido cultural do Brasil na Espanha.

Augusto Meyer faz parte do modernismo gaúcho, introduzindo uma feição regionalista na poesia. Há também em seus versos uma linha lírica, quando evoca a infância, num misto de memória e autobiografia. 


Completa com Raul Bopp e Mário Quintana a trindade modernista do Rio Grande do Sul.

Como ensaísta, deixou no estudo sobre Machado de Assis um dos trabalhos exegéticos mais importantes sobre o escritor maior das letras brasileiras, que ele tanto admirava. Sua obra de crítico abrange uma vasta gama de interpretações, de autores nacionais e estrangeiros, sendo responsável pela sua divulgação no Brasil.

A literatura e o folclore do Rio Grande do Sul também foram estudados em obras fundamentais. Cultivou uma espécie de memorialismo lírico em Segredos da infância e No tempo da flor, as conhecidas obras-primas de Augusto Meyer. Com recursos de poeta e de pintor, o memorialista nos impõe, persuasivo, a presença de seus fantasmas familiares, e daí passa aos da sua roda, aos da cidade, aos do mundo.



A edição que tenho é da Editora Cruzeiro do Rio de Janeiro de 1966.


"Vejo a Praça da Matriz, em Porto Alegre, desandar para as feições que ainda mostrava aos meus olhos de menino e moço. Mas é claro que estas praças vão mudando, enquanto a gente mudou. Nesse jogo vertiginoso, mudam as cousas por dentro e por fora e, ao passo que as paisagens lentamente se desmancham, recompostas noutra forma, também o espectador vai trocando de alma e de pele, apesar de conservar o mesmo nome, confiado as certidões de registro civil. O Eu da gente é um inquilino que se imagina dono de si mesmo, proprietário do nariz, e dentro dele moram não sei quantos locatários irresponsáveis, que acabam entregando a casa. De vez em quando, ao cair o último andar do seu devaneio, o dono de si mesmo descobre que foi logrado, vagamente se dá conta do embuste... “Muda, muda, que eu também já mudei”, dizem-lhe as casas, as ruas, as posturas municipais. E de mudanças vamos vivendo, enquanto não vem a hora da grande mudança. "(MEYER, 1966, p.7)


 

Praça da matriz - 1900

No tempo da flor, Augusto Meyer traz a narrativa de um “eu” que brota, que vive o tempo de poda, que muda... e não mais muda, não percebe que é flor. Uma flor da terra, do solo da capital. 



Uma flor da cultura da cidade, do cultivo de uma rotina que aduba e faz florescer as ruas da capital. A cidade e o seu porto alegre. Ah, o porto: o espaço que delineia a origem para o infinito, para o infixo, ele conduz à incerteza do mar...É no porto que a embarcação pode ancorar. Ele simboliza a segurança. 

Rio Guaíba - década de 50


Simboliza a alegria de estar em casa. Porto Alegre Porto. Às margens do rio Guaíba, funda-se o belo sol de Porto Alegre, acompanhada pela Rua da Praia. Uma rua da praia sem praia, que contorna um rio que não é rio.


Rua da praia - Porto Alegre





A representação engrandece os símbolos. Na reconfiguração das suas identidades, tornam-se maiores, mais vívidos, alcançam a grandiosidade com que são sentidos. Como afirma Paul Ricoeur (1976, p. 81):“Os símbolos têm raízes. Os símbolos mergulham na experiência umbrosa do poder”. O poder de uma narrativa marcada pelas memórias. Memórias de vida, memórias de criação, memórias que sinalizam os rastros de um tempo passado, trazidos ao presente pelas forças da história.

Cine Insônia 

- Duas meias-entradas para poltronas de primeira classe.
A coragem de pedir tudo aquilo num tom positivo e calmo era privilégio do mano mais velho. Eu ficava meio de lado, encolhido, aguardando os efeitos da longa frase, estudada em casa, para maior garantia de clareza." (Meyer - 1966 p.31)

"Paraíso (cine Paraíso), se bem me lembro, era o Cinema Odeon, em frente da Livraria do Globo."(Meyer - 1966 p. 31).



Em 1966, as Edições O Cruzeiro, do Rio de Janeiro, lançaram a Coleção Tempo e Memória, de reminiscências, diários e confissões, cabendo a Augusto Meyer a inauguração desse novo empreendimento com o livro Segredos da infância (1949), a que se seguiu No tempo da flor (1966). Essas duas obras memorialísticas apresentam o relato de Meyer sobre os primeiros anos de sua vida, transcorridos em Porto Alegre.

No tempo da flor, o autor vale-se de um dos pontos mais marcantes da cidade – a Praça da Matriz, para não só descrever esse "locus" de especial recordação para ele, como para tecer considerações sobre o tempo e sua passagem. Se as praças mudam, é lógico que as pessoas também mudam, expressa o narrador:

"Nesse jogo vertiginoso, mudam as cousas por dentro e por fora, e, ao passo que as paisagens lentamente se desmancham, recompostas noutra forma, também o espectador vai trocando de alma e de pele, apesar de conservar o mesmo nome, confiado nas certidões de registro civil."

Meyer registra que a cidade está sempre mudando, e ele com ela está sempre em movimento. Relata Porto Alegre através da visão do autor no período de sua infância e juventude entre as décadas de 1910 e 1920.


"Faz de conta que houve uma praça da matriz no meu tempo de infância e  outra praça da matriz, mais tarde,  no tempo da flor."  Escreve o autor.


No Epílogo ele escreve:

"Mudou muito Porto Alegre. Em vão procuro reconstituir a fisionomia familiar e rústica de certos arrabaldes, reconhecer algumas ruas que agora só existem no traçado de uma planta subjetiva, dentro de mim mesmo." (Meyer-1966 - p.135)


Às vezes me sinto assim também procurando espaços e lugares que só existem em minha mente e em minha recordações, da cidade e do bairro em que nasci e onde atualmente moro em São Paulo.

No "segredo da infância (1949)" e "No tempo da flor"(1966), Augusto Meyer narra uma autobiografia de seus tempos de infância e de sua juventude, à procura de lugares e de si próprio e do tempo perdido, numa narrativa que tem como alvo a praça Matriz.

"Era o tempo da flor, na Praça Matriz, em Porto Alegre. Como exploramos então, sentados num banco da praça, os quatro cantos do mundo! Como sabíamos corrigir os poetas e refutar os filósofos!"




Fontes:

wikipedia.org
biblio.com.br
google.com
diaalnet.portoalegredosescritores
paginasmovimento.com.br
dominiopublico.gov.br
No tempo da flor - Meyer, Augusto - Ed. Cruzeiro-RJ 1966


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