Vamos falar hoje do romance do grande escritor baiano Jorge Amado - Terra dos sem fim.
O escritor baiano
Jorge Amado de Farias nasceu na Fazenda Auricídia, em Ferradas, município de Itabuna, Bahia, no dia 10 de agosto de 1912. Filho de João Amado de Faria e Eulália Leal Amado, fazendeiros de cacau.
Em janeiro de 1914 mudou-se com a família para a cidade de Ilhéus, onde passou a infância. Com 11 foi estudar no Colégio Antônio Vieira, em Salvador, onde aprendeu o gosto pela leitura com o padre Cabral.
Aos 12 anos fugiu do internato e foi para Itaporanga, em Sergipe, onde morava seu avô. Depois de alguns meses, seu pai mandou buscá-lo e sem desejar voltar para a escola, Jorge foi plantar cacau.
Depois de seis meses no meio do povo, tomou conhecimento da luta entre fazendeiros e exportadores de cacau, que iria marcar fortemente sua obra de romancista.
Em 1930, Jorge Amado mudou-se para o Rio de Janeiro. Em 1931 ingressou na Faculdade de Direito.
Em 1932, publicou seu primeiro romance O País do Carnaval, que narra a tentativa frustrada de um intelectual brasileiro, de formação europeia, de participar da vida política e cultural brasileira. Tendo fracassado regressa à Europa.
Em 1933 lança seu segundo livro Cacau, que teve vários exemplares apreendidos. Em 1936, Jorge foi preso, por pertencer à Aliança Libertadora Nacional, junto com outros intelectuais, entre os quais Graciliano Ramos.
Em 1937 publica Capitães de Areia, que retrata a vida de menores delinquentes da Bahia. A obra é apreendida pela censura do Estado Novo, e ele é novamente preso.
Em 1941 refugia-se na Argentina e começa a redigir O Cavaleiro da Esperança, que relata a vida de Luiz Carlos Prestes.
Filiado ao partido comunista se elegeu deputado federal em 1945, cassado três anos depois mudou-se para Paris.
O romance Terras do sem fim, foi escrito em 1942 durante um dos seus exílios em Montevidéu. Mais uma vez o autor de Gabriela e Capitães da areia retrata o sul da Bahia e as plantações de cacau.
" Há dez anos passados escrevi um romance, pequeno e violento, sobre o mesmo tema o cacau, ao qual volto hoje. Tinha eu então dezenove anos e iniciava a minha vida de romancista.Nesses dez anos escrevi sete romances, duas biografias, alguns poemas, centenas de artigos, dezenas de conferência. Nesses dez anos lutei diariamente, viajei, fiz discursos, vivi com meu povo a sua vida. Constato com imensa alegria que uma linha de unidade jamais quebrada liga não só toda a minha obra realizada nesses dez anos como a vida que durante eles vivi: a esperança - mais que a esperança, certeza - de que o dia de amanhã será melhor e mais belo. Em função desse amanhã, cuja madrugada já se levanta sobre a noite da guerra nos campos do Este europeu, tenho vivido e escrito."Montevidéu, agosto de 1942.
A exploração do cacau trouxe para a região de Ilhéus, no sul da Bahia, o desenvolvimento e com este os mais diversos tipos humanos que ali aportavam, atraídos pelas histórias de terras férteis e dinheiro em abundância. Para todos, que chegavam, Ilhéus era a primeira ou a última esperança.
Dentre as pessoas vindas de longe, iludidas por essa febre, encontravam-se, no mesmo navio, o lavrador Antônio Vítor que sonhava com uma roça de cacau só sua, o aventureiro João Magalhães, jogador de cartas trapaceiro e falso engenheiro militar, que se via ganhando muito dinheiro no carteado, graças ao "azar" dos velhos coronéis milionários, e a prostituta Margot que deixara Salvador para encontrar o amante, o advogado Dr. Virgílio que, na esperança de riqueza fácil, já se encontrava em Ilhéus, esperando colocar seu conhecimento de leis a serviço da ambição dos coronéis.
Após o desembarque, encontraram em Ilhéus e vilarejos adjacentes: Ferradas e Taboca, sociedades em formação, conturbadas pela ganância dos poderosos, onde a lei era a dos mais fortes e corajosos, tornando-se por isso selvagens e violentas. Depararam-se com o conflito entre dois grandes latifundiários: o Coronel Horácio e a família Badaró que, em busca de expansão do patrimônio e força política, lutavam pela posse das matas do Sequeiro Grande, que ficavam entre as duas propriedades.
Coronel Horácio, ex-tropeiro e empregado de uma roça no Rio-do-Braço, enriquecera plantando cacau. Como próspero fazendeiro, ajudara a construir a capela de Ferrada e a igreja de Taboca, mantendo assim sua força política no local. Viúvo, casara-se novamente com a bela e jovem Ester, que lhe deu um filho, seu orgulho. Tudo o que fazia era em nome de um futuro brilhante para esse menino. Seu grande amor era a esposa, mulher fina, inteligente e culta; falava o francês e adorava música. Era feliz pelo que ela representava. Ester, no entanto, não o amava. Para ela, a vida na fazenda era um tédio, um martírio; vivia apavorada com medo de insetos e cobras. Isso se refletia no frio relacionamento sexual com o marido, que tudo relevava, em nome da paixão.
Os advogados eram bem vindos em Ilhéus, onde faziam fortunas. Os grandes latifundiários, quando queriam se apossar de um roçado vizinho, para, gananciosamente, aumentar seu patrimônio, solicitavam de um advogado um "caxixe", documento falso de propriedade, que expulsava, o pequeno lavrador de seu roçado. Assim, de um dia para outro, este se via forçado a deixar sua lavoura, conquistada, na maioria das vezes, com muito sacrifício. Se, no entanto, punha resistência, era morto pelos jagunços do coronel que, em "tocaia", esperavam-no passar por uma das estradas solitárias do sertão.
Virgílio e Margot viviam em casas separadas para evitar comentários do preconceituoso povoado de Tabocas. Apesar disso, ele passava a maior parte do dia em companhia da amante. Pareciam felizes. Ao contratar os serviços de Virgílio para regularizar a medição e os documentos de posse das terras de Sequeiro Grande, o coronel Horácio convida-o para um jantar em sua casa. Durante esse evento, Virgílio conhece Maneca Dantas, compadre e amigo de Horácio, e Ester que, ao final, aceitara tocar piano para eles. Fica fascinado por ela que, por sua vez, encantara-se com a voz, a cabeleira loira, o olhar lânguido e as maneiras finas do jovem doutor. Nessa noite, Horácio se surpreendeu com a mudança da mulher na cama; mais calorosa e receptiva, entregava-se com paixão; achou que ela ainda o amava.
Terras do sem-fim é considerado por muitos críticos, entre eles Antonio Candido, como a mais alta realização literária de Jorge Amado. A força ficcional do romance concentra-se no retrato social profundo, inspirado nas experiências de infância e juventude do próprio autor, nascido em uma fazenda de cacau em Ferradas, distrito de Itabuna.
O livro integra, ao lado de Cacau (1933) e São Jorge dos Ilhéus (1944) o ciclo de romances de Jorge Amado que tematizam a cultura cacaueira. O desbravamento das matas do litoral baiano, as disputas em torno da posse da terra e a vida social das cidades da região marcariam de tal forma a vida do escritor que ele voltaria a esse universo, desdobrando o tema e mudando sua perspectiva, em livros como Gabriela, cravo e canela (1958) e Tocaia grande (1984), assim como nas memórias de O menino grapiúna (1981).
Terras do sem-fim foi o primeiro livro de Jorge Amado a ganhar as telas de cinema, em 1948, numa adaptação feita pela companhia cinematográfica Atlântida, com o título Terra violenta e direção do americano Eddie Bernoudy. O texto também viraria novela de TV: na Tupi, em 1966, e na Globo, em 1981.
Fontes:
wikipedia.org
Amado, Jorge - Terras do sem fim - Círculo do livro
google.com
ebiografia.com
nilc.icmc.usp.br/nilc/literatura/terrasdosemfim1
jorgeamado.com.br
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