segunda-feira, 22 de março de 2021

 Vamos falar hoje do romance 1919do escritor norte-americano John dos Passos.





Escritor modernista norte-americano, John Roderigo Dos Passos nasceu em 1896, em Chicago. Oriundo de uma família de origem portuguesa, era fruto de uma relação ilegítima entre o seu pai, o advogado John Randolph Dos Passos, e Lucy Sprigg.


John dos Passos



Estudou na Choate School (atualmente Choate Rosemary Hall) em Wallington, Connecticut em 1907, tendo viajado posteriormente com um professor particular numa viagem de 6 meses pela França, Inglaterra, Itália, Grécia e Médio Oriente para estudar arte clássica, arquitetura e literatura.





Licenciou-se em Harvard em 1916, partindo depois para Espanha para estudar arte e arquitetura. Em 1917 voluntariou-se para se juntar às tropas americanas durante a Primeira Guerra Primeira Guerra Mundial, ao lado dos amigos E.E.Cummings e Robert Hillyer, como condutor de ambulâncias. Regressando aos Estados Unidos, publicou a sua primeira obra, One Man's Initiation, em 1919. Com Manhattan Transfer (1925), romance que retrata em episódios a vida na cidade de Nova Iorque, obteve o reconhecimento da crítica. Publicou ainda a trilogia U.S.A., incluindo The 42nd Parallel (1930), 1919 (1932) e The Big Money (1936).

Vamos tratar aqui do livro 1919, segundo livro da Trilogia USA, mantém a lógica de John dos Passos de reconstruir a história recente norte-americana, nesta obra ao longo dos anos de 1910 (Paralelo 42 focaria especialmente nos anos de 1900). Como o próprio período abrangido sugere, o cenário da 1ª Guerra Mundial é o pano de fundo para todo o desenrolar da narrativa.

Da mesma maneira que em Paralelo 42, 1919 não tem um personagem principal, mas sim uma narrativa que se baseia na história de 5 personagens, um narrador em primeira pessoa e recortes de jornais e notícias da época. O que pode parecer uma confusão, é um enriquecedor de toda a trama, que nos transporta diretamente para o local-tempo do que foi os Estados Unidos na década de 1910. Os personagens, sendo a maior parte deles relacionados com os que já aparecerem em Paralelo 42 como coadjuvantes - irmãos, amigos - são todos de alguma maneira relacionados a Guerra, seja como voluntários, como membros da Cruz Vermelha ou apenas como Revolucionários/Socialistas contrários a guerra (em um sentido, muito próximos a narrativa de Philip Roth em "A Pastoral Americana").


Os ricos estavam ficando mais ricos, os pobres estavam ficando mais pobres, pequenos fazendeiros estavam sendo expulsos. Os trabalhadores trabalhavam até doze horas por dia, o  lucro  ia  para os ricos; a lei era para os ricos, a policia para os pobres


O primeiro desses personagens é Joe Williams antigo marujo que vivia num mundo decadente com reminiscências dos tempos de glória.

"Quando penso na bandeira que os nossos navios arvoram, a única pincelada de cor, a única coisa que se move, como que possuída por um espírito naquela sólida estrutura, parece-me avistar tiras de pergaminho nas quais estão escritos os direitos de liberdade e de justiça, alternada com faixas de sangue derramado na defesa desses direitos, e depois - no canto - uma previsão de sereno mar azul onde pode navegar toda a nação que combater por tais coisas." (1919 - p.8)

Segundo volume da trilogia USA, de John Dos Passos, 1919 foi originalmente publicado em 1932 e centra-se na Primeira Guerra Mundial, o conflito que enterrou as esperanças de bem-estar e progresso do advento do novo século. Se em Paralelo 42 o personagem dominante era J. Ward Moorehouse, o pai do ofício de relações-públicas, em 1919 é o presidente Woodrow Wilson, entusiasta da beligerância, quem fornece a motivação da narrativa.

Utilizando os mesmos recursos técnicos empregados no primeiro romance da trilogia — "o olho da câmera" e "jornal da tela", por meio dos quais desfilam informações sobre personalidades, a sociedade americana e o mundo —, Dos Passos apresenta o confronto entre o idealismo oficial e popular e o "hedonismo histérico", nas palavras do crítico Alfred Kazin, de jovens cavalheiros que veem a guerra pela porta dos fundos: são os que se divertem no serviço de ambulâncias. Diz Ed Schyler, um deles: "Isso não é guerra: é um prostíbulo".

Assim, personagens históricos e fictícios, como o andarilho Joe Williams, irmão de Janey, secretária de Moorehouse, cruzam-se para formar o painel desses anos de farsa, compondo, como definiu o próprio John Dos Passos, uma "crônica contemporânea".


Dos Passos, que foi um adepto do Socialismo no início de sua vida (tendo sofrido uma drástica mudança ideológica após a Guerra Civil Espanhola) nos traz um panorama completamente inovador de movimentos subversivos norte-americanos, com agremiações sindicais-socialistas tentando promover diversas modificações nas bases estadounidenses. Em um dos personagens, inclusive, traz o impacto da Revolução Soviética e a expectativa que o mesmo se alastrasse para todo Ocidente - EUA inclusive.


Misturando ficção com fatos históricos, 1919 apresenta os reflexos dos movimentos que alteraram a paisagem sociopolítica dos Estados Unidos no começo do século XX: o modo como os socialistas comemoraram a vitória da Revolução Russa (1917), a repressão da polícia, como o presidente Woodrow Wilson criticava a esquerda norte-americana que adotava a política de não participação na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a consequente marginalização dessa mesma esquerda na sociedade. Segundo livro da trilogia USA, 1919 dá continuidade à composição do painel político e social dos EUA, iniciado em Paralelo 42 e que se completa com O Grande Capital. Uma época de grande ebulição, marcada por guerras e revoluções e pelas oportunidades que se criavam. Neste livro, é possível acompanhar o desenvolvimento de muitos personagens que estavam em Paralelo 42, bem como conhecer novos atores. Por meio deles, John dos Passos mostra a repercussão da Primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa na vida norte-americana. Admirado desde sua publicação em 1932, pelas inovações literárias que apresenta, 1919 é também um romance que carrega muitas das crenças dos anos de depressão que se seguiram.

Desde 1980 existe o Prêmio John dos Passos, conferido pela Universidade de Longwood, atribuído anualmente ao melhor, ainda pouco reconhecido, escritor norte-americano.




Fontes:
wikipedia.org
travessa.com.br
livelo.com.br
google.com
megaleitores.com.br
Dos Passos, John - 1919 tradução Daniel Gonçalves - 1980 - Ed. Abril

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