No livro "A vida literária do Brasil - 1900" de Brito Broca, o capítulo IV é dedicado aos principais cafés "literários" da cidade do Rio de Janeiro, então capital da República, na última década do século XIX.
A confeitaria Colombo, na Rua Gonçalves Dias, e a confeitaria Pascoal, na rua do Ouvidor, além de outras eram os pontos preferidos da boêmia carioca no final do século XIX início do século XX.
"Foi na Pascoal que João do Rio ouviu numa tarde de grande movimento a Baronesa de Mamanguape exclamar:'- Sr. Olavo Bilac...' O adolescente voltou-se e pode ver pela vez primeira contemplar a fisionomia simpática do poeta aclamado. E era assim também que o provinciano vindo de Minas, do Sul ou do Norte, experimentava o alvoroço de reconhecer à porta de um desses estabelecimentos o poeta cujos versos sabia de cor, ou o romancista que tanto o impressionara." (p.33)
Em pouco tempo a confeitaria tornou-se um dos pontos mais concorridos da cidade, tendo sido frequentada por escritores como Olavo Bilac (1865 – 1918) e Machado de Assis (1839 – 1908), por jornalistas como Emilio de Menezes (1866 – 1918), por artistas como Villa-Lobos (1887 – 1959) e Chiquinha Gonzaga (1847-1935), e por políticos como os presidentes Washington Luís (1869 – 1957) e Juscelino Kubitschek (1902 – 1976). Algumas mesas trazem os nomes de alguns de seus clientes, como uma em homenagem ao empresário e político Assis Chateubriand (1892 – 1968), fundador dos Diários Associados. Em estilo art nouveau, a confeitaria tem em sua decoração vitrais franceses, espelhos importados da Bélgica, cadeiras feitas de palhinha e jacarandá por Antonio Borsoi (1880 – 1953), mesas em opalina azul com os pés de ferro, posteriormente substituídas por tampos de mármore, continua sendo um reduto de elegância e sinônimo de tradição no Rio de Janeiro. Em 1922, foram inaugurados o salão de chá em estilo Luís XVI, no segundo andar, uma claraboia vinda da França e um dos primeiros elevadores instalados na cidade.
Outros pontos da capital atraiam escritores e poetas como o Café Jeremias onde Lima Barreto frequentava e atraia grande número de jovens intelectuais. "Até certa época tomavam apenas café, segundo afirma Lima Barreto, pois a situação econômica dos parceiros, não dava para a cerveja e muito menos para o uísque." (p.35)
Ainda no livro de Brito Broca temos a citação sobre a importante Livraria Garnier.
A escritora Gina Lombroso Ferrero, autora do livro "Nell' America Meridionale (Brasile, Uruguay, Argentina) escreveu:
" A Livraria Garnier, do Rio, não é, na verdade, um simples estabelecimento comercial, mas um clube, uma academia, uma corte de mecenato" (p.41)
"Até pouco antes de recolher-se definitivamente ao leito para morrer, o romancista (Machado de Assis) não deixou de frequentar a Garnier. Nos últimos tempos, saía frequentemente acompanhado de Mário de Alencar, de quem se separara no largo do Machado" (p.42)
O cotidiano procurava imprimir o toque europeu. Senhores de fraque e cartola, acompanhando senhoras usando vestidos longos, armados e rodados, por ali circulavam, expondo a moda europeia. Também pequenos grupos compostos por políticos, boêmios, literatos e jornalistas, com motivações e interesses diversos, reuniam-se nessas confeitarias e nesses cafés. Alguns, diante das mesinhas forradas com alvas toalhas de linho, saboreavam o chá das cinco, hábito tipicamente inglês, não importando se os termômetros indicassem 40 graus. Outros, ao final das apresentações teatrais, buscavam os sorvetes ou uma coupe de champagne na Confeitaria do Senhor Déroche. Jovens escritores reuniam-se na Confeitaria Paschoal, frequentada pelo poeta Gonçalves Dias (1823-1864). Havia o grupo que preferia a Cailteau, famosa por servir o chope alemão de tonel.
Na época das festas carnavalescas, a animação tomava conta das ruas da cidade, como a do Ouvidor, que se enfeitava. Por ela, em desfile, ecoavam os sons ritmados dos que tocavam bumbos, chamados de zé-pereiras. E também carros alegóricos, mais refinados, em alegria despreocupada. Muitos risos e mascarados no meio da multidão. As palavras são do escritor Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882): ”Podem severos críticos achar de mau gosto o meu repetido recurso aos velhos manuscritos, mas hei de teimar nele: escrevo as Memórias da Rua do Ouvidor, que em seu caráter de rua das modas, da elegância e do luxo merece e deve ser adornada e adereçada condignamente”.
Fontes:
A vida literária do Brasil - 1900 - Brota, Brito - Liv.José Olympio
multirio.rj.gov.br
diariodorio.com
google.com
brasilianafotografica.bn.br
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