ACROBATA DA DOR
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche¹, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta...
Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! reteza os músculos, reteza² nessas macabras piruetas d'aço...
E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso³ e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.
1 - gaiato, esperto, matreiro
2 - enrijecer, contrair
3 - tempestuoso, ardente
Publicado no livro Broquéis (1893).
O poema acima é o do poeta brasileiro representante do movimento simbolista; João da Cruz e Souza.
O movimento simbolista brasileiro foi influenciado por escritores franceses, especialmente Charles Baudelaire com "As flores do Mal", já analisado nesse blog.
As principais características do movimento simbolista era se opor ao parnasianismo e sua estética acurada e bem formada. Ao contrário disso o Simbolismo era mais despojado e mais realista.
Os autores do Simbolismo não seguiam a estrutura de versos perfeitos, que era uma das principais características do movimento parnasiano. Eles desenvolveram um modelo que ironizava a objetividade do movimento anterior.
Livre
Livre! Ser livre da matéria escrava,
arrancar os grilhões que nos flagelam
e livre penetrar nos Dons que selam
a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.
Livre da humana, da terrestre bava
dos corações daninhos que regelam,
quando os nossos sentidos se rebelam
contra a Infâmia bifronte que deprava.
Livre! bem livre para andar mais puro,
mais junto à Natureza e mais seguro
do seu Amor, de todas as justiças.
Livre! para sentir a Natureza,
para gozar, na universal Grandeza,
Fecundas e arcangélicas preguiças.
CÁRCERE DAS ALMAS
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!
Publicado no livro Últimos Sonetos (1905).
No dia 19 de março de 1898 morria, na cidade de Sítio (MG), João da Cruz e Sousa, poeta e um dos pioneiros do movimento simbolista no Brasil. Também chamado de Dante Negro e Cisne Negro, ele foi vítima de tuberculose. Com seu livro "Broquéis", publicado em 1893, deu início ao simbolismo no país. Seus poemas são marcados pela musicalidade, individualismo e também pela cor branca. Nascido na cidade de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), no dia 24 de novembro de 1861, ele era filho de ex-escravos negros. Cruz e Sousa, contudo, cresceu sob a tutela de seu ex-senhor, o Marechal Guilherme Xavier de Sousa, de quem adotou o nome de família Sousa. A esposa de Guilherme, Clarinda, não tinha filhos, e, por isso, passou a cuidar de Cruz e Sousa. Desta forma, ele aprendeu francês, latim e grego, matemática e ciências naturais. Em 1885 lançou o primeiro livro, "Tropos e Fantasias". Cinco anos depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou no arquivo na Estrada de Ferro Central do Brasil, colaborando também com o jornal Folha Popular.
Cruze Souza casou-se com Gavita Gonçalves em 1893e tiveram 4 filhos, todos acometidos pela tuberculose morreram muito cedo, o que abalou a saúde mental da esposa de Cruz e Souza. Ele mudou-se para Minas Gerais após também contrair a doença, morrendo em 19 de Março de 1898 na cidade de Sítio - MG.
Fontes:
history.uol.com.br
escritas.org/pt
google.com
dicionario.priberam.org
todamateria.com.br
tribunadainternet.com.br
educamaisbrasil.com.br
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