Você abre um livro de poesia e, logo no início, num poema chamado "Ao Leitor", o autor avisa: "Na almofada do mal é Satã Trismegisto/ Quem docemente nosso espírito consola". Para não deixar dúvida, mais adiante ele reafirma: "É o Diabo que nos move e até nos manuseia!"
As Flores do Mal de Charles Baudelaire
Baudelaire nasceu em uma família rica, estudou Direito até 1840, mas abandonou os estudos para se tornar um poeta. Ele teve uma vida desregrada em Paris, tornou-se usuário pesado de ópio e haxixe e contraiu sífilis, doença que o mataria alguns anos depois. Ele gastou metade de sua polpuda herança em dois anos e, após isso, passou a receber quantias restritas por mês para não "torrar" todo o dinheiro.
ENIVREZ-VOUS
Il faut être toujours ivre. Tout est là: c’est
l’unique question. Pour ne pas sentir l’horrible
fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous
penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve.
Mais de quoi? De vin, de poésie, ou de vertu, à
votre guise. Mais enivrez-vous.
Et si quelquefois, sur les marches d’un palais,
sur l’herbe verte d’un fossé, dans la solitude
morne de votre chambre, vous vous réveillez,
l’ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez
au vent, à la vague, à l’étoile, à l’oiseau, à
l’horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit,
à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout
ce qui parle, demandez quelle heure il est; et le
vent, la vague, l’étoile, l’oiseau, l’horloge, vous
répondront: “Il est l’heure de s’enivrer!
Pour n’être pas les esclaves martyrisés du
Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De
vin, de poésie ou de vertu, à votre guise.
EMBRIAGUEM-SE
É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se!
Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
Em 1844, ele conheceu a bela Jeanne Duval, para quem escreveu "Vênus Negra", um ciclo de poemas de amor. Ele começou a escrever resenhas e críticas e se tornou amigo de artistas como Manet, Delacroix e Daumier. Baudelaire desenvolveu uma forte inclinação artística pelo macabro e descobriu Edgar Allen Poe em 1852.
Suas traduções ajudaram a popularizar Poe na França em uma época que o escritor norte-americano não era conhecido nem mesmo em seu próprio país. Neste mesmo ano, Baudelaire escreveu sua segunda série de poemas de amor, desta vez inspirado em Apollonie-Aglae Sabatier, sua "Vênus Branca", que foi seguido por uma terceira série, inspirada na sua "Vênus de Olhos Verdes", a atriz Marie Daubrun. Ele reuniu seus poemas em Flores do Mal.
Os poemas possuem um estilo lírico poético para descrever assuntos repugnantes. "Une Charogne", por exemplo, descreve um cadáver apodrecendo. Tanto Baudelaire quando o seu editor e o responsável pela impressão do livro foram julgados por obscenidade e punidos. Foi proibida a impressão do seu livro e somente após a morte do poeta é que ele foi reconhecido como um grande poeta. Largado na miséria, ele foi para uma série de palestras na Bélgica e ficou gravemente doente em 1866. Ele retornou para Paris, onde morreu nos braços de sua mãe em agosto de 1867, pobre, desprestigiado e com poucas poesias impressas.
No Brasil, destacam-se dois tradutores d'As Flores do Mal. Um é o paulista Guilherme de Almeida (1890-1969), que verteu 21 dos poemas, reunidos no livro Flores das "Flores do Mal" de Baudelaire (Edições de Ouro). O outro é o carioca Ivan Junqueira (1934-), que cometeu a monumental proeza de passar ao português todos os 167 poemas do volume. Eles estão em: Charles Baudelaire, As Flores do Mal, edição bilíngüe, tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira (Nova Fronteira, 1985).
Fontes:
seuhistory.com
google.com
wikipedia.org
algumapoesia.com.br
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