A árvore do esquecimento.
No século XVIII, os escravos, provenientes da Nigéria e de outras cercanias, eram levados ao sul do Benim até o mercado de escravos de Uidá (também conhecida como Ouidá, Whidah, Hweda e Ajudá). Os cativos viajavam somente à noite, não apenas como estratégia de sobrevivência ao calor, mas também para que não memorizassem os caminhos e fugissem. É tão óbvio que nem é preciso dizer que durante o sinistro percurso muitos morriam de fome, sede, cansaço e doenças – como a saudade.
Mercadorias? Sim, aos olhos dominantes da época, um escravo não passava de uma mercadoria qualquer. Objeto sem valia. Coisa. O Coisa. A Coisa... Assim decidiam os outros...
Pois bem, chegando a Uidá, os escravos eram conduzidos ao espaço dos leilões, em praça pública, onde eram vendidos aos traficantes europeus.
Voltando à história, os escravos que sobravam acabavam sendo negociados pelos mercadores locais ou conduzidos a entrepostos. O mais renomado desses entrepostos ficou conhecido como Zomaï – “lá onde a luz não penetra”.
No trajeto do mercado ao porto, os cativos paravam em torno da “Árvore do Esquecimento”: os homens deviam passar nove vezes, e as mulheres, sete. Por que isso? Para que, no trajeto à América, esquecessem-se de sua terra, de suas origens, de sua história, de sua identidade. Cada volta representava a morte das memórias que cada um traz dentro desde o útero. Ação mística, prática em busca do sagrado. Profano e sagrado, tudo junto e misturado, como tudo que é África, como tudo que exala a riqueza imensurável desse continente mágico, exuberante, morada dos deuses mais alegres, ligados ao bruto da Natureza, guerreiros e musicais de qualquer panteão.
Essa árvore foi plantada em 1727 por Agadja, conhecido como “O Conquistador”, quinto rei do Daomé – atual Benim. Nos dias de hoje, em seu lugar encontramos uma estátua de sereia. Olha aí, Iara dominando a história dos homens... Sempre Iara, rainha das águas... Mas por que uma sereia no local? Porque ela, Iara, mora no mar, triste destino dos escravos. Ela, Mãe d’Água dos escravos, Odoiá Iemanjá!
O Memorial da Lembrança, no local da antiga vala comum, é um local de reflexões, recolhimento e meditação.
A Porta do Não-Retorno era o local de embarque da última viagem dos escravos.
Imaginem o sofrimento do cativo em saber que nunca retornaria à sua terra natal, nem para o convívio de seus parentes e amigos, que seria servo de outro homem para o resto da vida.
Eles sabiam que dali não haveria retorno. E é ali que todo dia 10 de janeiro, desde 1992, dia declarado feriado no Benin, ocorre a grande festa do culto Vodun, reabilitado como a religião majoritária dos beninenses e de grande parte do continente africano.
Imaginem o sofrimento do cativo em saber que nunca retornaria à sua terra natal, nem para o convívio de seus parentes e amigos, que seria servo de outro homem para o resto da vida.
Eles sabiam que dali não haveria retorno. E é ali que todo dia 10 de janeiro, desde 1992, dia declarado feriado no Benin, ocorre a grande festa do culto Vodun, reabilitado como a religião majoritária dos beninenses e de grande parte do continente africano.
Fontes:
aveianopulsoainda.blogspot.com
google.com.br
folha.uol.com.br
MALDITA HERANÇA!
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