Todos conhecemos a história da proclamação da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, às margens do riacho do Ipiranga.
Mas qual o motivo da viagem de D. Pedro I, do Rio de Janeiro para a província de São Paulo ?
A divergência entre os membros da junta do governo provisório, conservadores e liberais, que desde o ano anterior dirigiam os destinos da Província de São Paulo, resultou na eclosão, no dia 23 de maio de 1822, de uma revolta que depois ficou denominada a Bernarda de Francisco Ignácio.
A situação vinha se agravando há muito, o príncipe regente, em 10 de maio, requisitou a presença do presidente da junta do governo provisório de São Paulo, João Carlos Oeynhausen Grevembourg, para que fosse ao seu encontro na Corte e, nesse mesmo dia, foi nomeado governador das Armas o marechal de campo José Arouche de Toledo Rendon. Na ausência do presidente da junta ligado aos conservadores, assumiria Martim Francisco Ribeiro de Andrada, secretário do Interior e Fazenda da corrente política divergente, este liberal.
O termo “bernarda” designa um movimento político promovido pelas armas. A Bernarda de Francisco Inácio acontece em São Paulo, em maio de 1822, e decorre do conflito entre duas grandes forças políticas locais, postas a conviver e a dividir o poder no governo provisório da província de São Paulo. De um lado, os Andradas – especificamente, José Bonifácio e Martim Francisco Ribeiro de Andrada – e seus aliados; de outro, Francisco Inácio de Sousa Queirós e João Carlos Augusto de Oeynhausen, presidente da junta do governo paulista. O estopim da revolta é a convocação de Oeynhausen e Francisco Inácio para comparecerem perante o D. Pedro, no Rio de Janeiro. Nesta circunstância, Martim Francisco assumiria a presidência da Junta. Francisco Inácio e seus aliados impedem a saída de Oeynhausen. Martim Francisco, em consequência da bernarda, é demitido do cargo de secretário da Fazenda da província e segue para o Rio de Janeiro.
José Bonifácio, então ministro do Reino e de Negócios Estrangeiros, consegue a solidariedade de d. Pedro, que, tomando o partido dos irmãos Andrada, acaba ordenando a extinção desta primeira junta de governo provisório .
Outro fato grave ocorreu, por ocasião do enforcamento de 12 soldados que se haviam colocado à frente de seu batalhão na cidade de Santos, para pleitear a equiparação de soldos com os praças portugueses, a condenação dos envolvidos causou comoção na população paulista.
Em razão desses fatos, D. Pedro, príncipe Regente, revolveu vir à cidade de São Paulo e a Santos, a fim de apaziguar os ânimos. Em decreto de 13 de agosto de 1822, determinou que, em sua ausência, a princesa Leopoldina presidiria ao despacho de expediente e às sessões do Conselho de Estado; no dia seguinte partiu da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, com destino a São Paulo.
A vinda de Dom Pedro para a Província de São Paulo era estratégica. A união do Brasil era um tema que estava sendo muito pensado e discutido depois que Dom João 6º retornou a Portugal. O risco da fragmentação do Brasil em pequenas repúblicas, como ocorreu na América Espanhola, era possível", aponta o historiador Diego Amaro de Almeida, pesquisador do Centro Salesiano de Pesquisas Regionais e vice-presidente do Instituto de Estudos Vale-paraibanos.
Para evitar a submissão do Brasil a Portugal ou a desfragmentação do território, Dom Pedro precisava se mostrar um líder capaz de realizar um plano ambicioso de independência de um território de proporções continentais. E ainda precisava de apoio financeiro.
A viagem se deu por trilhas indígenas, onde hoje é a via Presidente Dutra, na época não passava de picadas abertas no meio da selva à margem do Rio Paraíba e rondeada pela Serra da Mantiqueira.
O príncipe saiu da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro em 14 de agosto de 1822. Tinha uma comitiva de 30 homens e um roteiro pré-determinado, com paradas estratégicas ao longo da rota até São Paulo. "Entre os membros da comitiva, estava Francisco Gomes da Silva, também conhecido como o Chalaça ou a Sombra do Imperador
Fazenda em Bananal, hoje um hotel fazenda
A viagem levou doze dias, e a primeira parada para descanso foi ainda no Rio de Janeiro numa fazenda Santa Cruz, da família imperial.
Como dissemos D. Pedro I buscava apoio da elite cafeicultura paulista para a Independência, então a viagem foi usada também para contato políticos.
Mensageiros eram enviados antes anunciando a vinda do imperador nas diversas localidades visitadas.
Ao entrar em terras paulistas, o futuro imperador visitou o capitão Hilário Gomes de Almeida em suas terras, a então Fazenda Três Barras, em Bananal.
A parada seguinte, na Fazenda Pau D'Alho, em São José do Barreiro, se tornaria folclórica. Isto porque Dom Pedro, conforme os relatos da época, teria apostado corrida com os demais membros da comitiva e chegado antes do previsto, sozinho, à fazenda, então do Coronel João Ferreira.
Ele bateu palmas e, sem se identificar como príncipe, pediu comida para a proprietária da casa.
Ela o atendeu, mas pediu para que comesse na cozinha "porque a sala de jantar estava sendo preparada com toda a pompa e circunstância para receber o príncipe regente.
No dia 19 de agosto, o grupo partiu para Guaratinguetá, onde Pedro foi hóspede do capitão-mor Manoel José de Melo. Lá a comitiva teria aumentado, com a adesão de novos seguidores, em uma espécie de guarda de honra.
Dom Pedro tinha novo compromisso público: visitar a então capela de Nossa Senhora Aparecida, hoje no município de Aparecida.
Tratava-se de um importante ponto de peregrinação católica, pois o pequeno templo havia sido erguido justamente para abrigar a imagem da santa, chamada de Nossa Senhora Aparecida, encontrada ali na região em 1717 e, depois, proclamada padroeira do Brasil.
De lá, a comitiva partiu para Pindamonhangaba.
Ali, o príncipe se encontrou com o influente major Domingos Marcondes de Andrade. "Dentre as muitas histórias registradas em diários, conta-se que Domingos Marcondes de Andrade estava montando em um garboso cavalo. Dom Pedro, ao ver o belo animal, começou a elogiá-lo, como que esperando a reação do proprietário", narra o historiador Almeida.
"Quando mais o príncipe elogiava o cavalo, mais Marcondes de Andrade ficava mudo. Por fim, quando Dom Pedro foi mais incisivo, dizendo que lhe agradaria possuir um cavalo como aquele, Domingos Marcondes propôs um acordo."
O major teria dito ao nobre que todos sabiam ser costume de Dom Pedro dar aos cavalos que ganhava o nome de seu proprietário anterior. "Mas, enfatizou o homem, nenhum Marcondes até aquela data tinha sido cavalgado por ninguém. Então ele daria, sim, o cavalo ao príncipe, desde que ele escolhesse outro nome para o animal", conta o historiador.
Em Pindamonhangaba, dom Pedro se hospedou no sobrado do monsenhor Ignácio Marcondes de Oliveira Cabral, irmão do então capitão-mor. A residência não existe mais. Ali, foram tantos os que se ofereceram a integrar a comitiva, na chamada guarda de honra do príncipe, que há um monumento na praça central da cidade em alusão a este fato. E a igreja de São José guarda um panteão onde estão enterrados todos os pindamonhangabenses que integraram a guarda do nobre.
No dia 21 de agosto, Dom Pedro chegou a Taubaté, onde seria recebido na casa do cônego Antônio Moreira da Costa - construção esta que não existe mais. Na cidade, visitou o convento de Santa Clara e a Igreja do Pilar.
A parada seguinte seria Jacareí. Na época, havia uma balsa que ligava os dois municípios, em travessia pelo Rio Paraíba.
"E então há uma outra anedota: a de que Dom Pedro, impaciente, não quis esperar a balsa e atravessou o rio a cavalo. Do outro lado, uma multidão o esperava, e ele, Pedro, sem pestanejar, saiu procurando alguém que usasse calças do mesmo tamanho que as dele, para propor a troca.
Conforme esses relatos, o "mérito" de ceder as calças ao futuro imperador teria ficado com um jovem pindamonhangabense, depois integrante da guarda de honra, chamado Adriano Gomes Vieira.
Em Jacareí, Dom Pedro ficou hospedado na casa do capitão-mor Cláudio José Machado.
Em Mogi das Cruzes, onde a comitiva chegou em 23 de agosto, Dom Pedro hospedou-se na casa do capitão-mor Francisco de Mello e assistiu à missa na então Igreja de Sant'Ana, hoje catedral homônima.
Penha de França, hoje parte do município de São Paulo, foi a última parada antes da capital paulista. Dom Pedro dormiu ali uma noite, do dia 24 para o dia 25, e assistiu a outra missa na igreja matriz.
O grupo chegou a São Paulo na manhã do dia 25 de agosto. Houve uma entrada oficial. Dom Pedro foi recebido por vereadores, religiosos e a população em frente à Igreja do Carmo.
Igreja do Carmo - São Paulo
Em São Paulo, D. Pedro I teve muito trabalho para acalmar os ânimos dos políticos locais até convocar novas eleições, ele governou São Paulo nesse período.
Nesse período em São Paulo ele conhece Domitila de Castro Canto e Mello, a Marquesa de Santos.
Em 5 de setembro, foi a Santos a fim de inspecionar as fortalezas e visitar pessoas da família de José Bonifácio, seu ministro de Estado. De regresso a São Paulo, no sábado, por volta das 16 horas, dia 7 de setembro de 1822, quando D. Pedro e comitiva se encontravam no alto de colina próxima do riacho do Ipiranga, dois cavaleiros em rápida carreira vão a seu encontro, eram o major Antônio Ramos Cordeiro e Paulo Bregaro - hoje Patrono dos Carteiros -, este, como correio-real da Corte, trazia diversas correspondências: cartas de sua esposa Leopoldina, de José Bonifácio; duas de Lisboa - uma de seu pai D. João VI e a outra com instrução das Cortes, exigindo o regresso imediato do príncipe e a prisão e processo de José Bonifácio, e a última de Chamberlain (amigo de confiança do príncipe D. Pedro).
D. Pedro que naquele dia sofria com fortes dores abdominais, fruto de alguma coisa que tinha comido em Santos, aproximou-se perto da guarda que descrevia um semicírculo e falou:
"Amigos! Estão, para sempre, quebrados os laços que nos ligavam ao governo português! E quanto aos topes daquela nação, convido-os a fazer assim.' E arrancando do chapéu que ali trazia, a fita azul e branca, a arrojou no chão, sendo nisto acompanhado por toda a guarda que, tirando dos braços o mesmo distintivo, lhe deu igual destino."
... "E viva o Brasil livre e independente!" gritou D. Pedro. Ao que, desembainhando também nossas espadas, respondemos: - "Viva o Brasil livre e independente! Viva D.Pedro, seu defensor perpétuo!" ...E bradou ainda o príncipe:"Será nossa divisa de ora em diante: Independência ou Morte!"
"...Por nossa parte, e com o mais vivo entusiasmo, repetimos: "Independência ou Morte!"
Fontes:
a.sp.gov.br
google.com
wikipedia.org
jornaltribunadonorte.net
mapa.an.gov.br
sao-paulo.estadao.com.br
g1.globo.com
obrabonifcacio.com
todamateria.com.br
Rezutti, Paulo - D. Pedro a história não contada - ed. São Paulo Leya - 2015
Gomes, Laurentino - 1822 - Editora Globo - 2015
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