terça-feira, 18 de maio de 2021

 Vamos falar da obra "Minha Formação" de Joaquim Nabuco.





Minha Formação figura como uma importante obra de memórias, onde se percebe o paradoxo de quem foi educado por uma família escravocrata, mas optou pela luta em favor dos escravos.

"No colégio eu ainda não compreendia nada disto, mas sabia o liberalismo de meu pai, e nesse tempo o que ele dissesse ou pensasse era um dogma para mim:" (p 10)

 

Inicialmente devemos entender que Joaquim Nabuco era antes de tudo um monarquista inexorável, fiel a família real e defensor de um parlamentarismo como o inglês. Politicamente liberal e progressista acreditava que a transição para a democracia no Brasil só poderia ser feita mediante atuação da família real, o que lhe garantiu a alcunha de reformista, uma vez que via com maus olhos as transformações abruptas defendidas por uma revolução.
Lutou por reformas (como a agrária), pelo abolicionismo, pelo parlamentarismo, pela família real e antes de tudo lutou pelos interesses do Brasil no exterior, graças a sua grande carreira diplomática. Foi um grande brasileiro.

O capítulo II do livro chama-se Bagehot e trata do conhecimento de Nabuco com a obra do jornalista britânico Walter Bagehot fundador da revista The Economist. Esse jornalista especializado  o mundo financeiro escreveu livros sobre a Constituição do Reino Unido, especialmente de seu Parlamento e sua Monarquia; outro sobre o Mercado Financeiro "A Description of Money Market" (1872). Joaquim Nabuco trata de sua correspondência com esse jornalista que lhe trouxe novas visões do liberalismo econômico inglês.

"A Constituição Inglesa de Bagehot é o livro de um pensador político, não de um historiador, nem de um jurista." (p..19)


Continua Nabuco na página 21: "As ideias que devo a Bagehot são poucas, mas  são todas elas, por assim dizer, chaves de sistemas e  concepções políticas, de verdadeiros estados do espírito moderno." 


Monarquista  convicto ele afirma:  "Eu via claramente nessa eletividade o segredo da superioridade do mecanismo monárquico sobre o republicano, condenado a interrupções periódicas, que são para certos países revoluções certas." (p.31).


Em tempos de paz:

1. O legislativo cria os impostos utilizados pelo executivo. Quando há rivalidade entre esses dois poderes o legislativo pode asfixiar o executivo, o que pode gerar crises. No parlamentarismo quando isso ocorre a câmara pode ser dissolvida. Na república a dissolução do poder é dramática uma vez que todas as legislaturas possuem um prazo pré-determinado.

2. A monarquia parlamentarista tem uma grande participação popular, já que o povo sabe que o que ocorre no parlamento tem influência direta em suas vidas. Ou seja, o povo se politiza, ou contrário do que ocorre na República em que a participação popular termina na hora do voto.

3. O antagonismo entre esses poderes enfraquecem tanto o legislativo quanto o judiciário.

Tempos difíceis:

1. Executivo e Legislativos cooperam.

2. Republicanismo tem o congresso dividido em facções rivais e todos os mandatos são pré-determinados, o que engessa a tomada de decisões, já que o governo republicano foi eleito e estruturado em um momento e a situação nacional pode se transformar durante este período.

O que Nabuco herdou de Bagehot foi esse entendimento da superioridade prática do governo de gabinete inglês sobre o sistema presidencial americano. Mostrando como uma monarquia secular de origens feudais, cercadas de traduções e formas aristocráticas, podia ser um governo mais popular do que a República.¹

Com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889, Nabuco se afasta da política, e segundo ele passa a ter uma visão mais globalizada e olhando menos para a política nacional.

Sou antes um espectador do meu século do que do meu país: a peça é para mim a civilização, e se está representando em todos os teatros da humanidade, ligados hoje pelo telégrafo. Uma afeição maior, um interesse mais próximo, uma ligação mais íntima, faz com que a cena, quando se passa no Brasil, tenha para mim importância especial, mas isto não se confunde com a pura emoção intelectual; é um prazer ou uma dor, por assim dizer doméstica, que interessa o coração; não é um grande espetáculo, que prende e domina a inteligência. A abolição no Brasil me interessou mais do que todos os outros fatos de que fui contemporâneo; a expulsão do imperador me abalou mais profundamente do que todas as quedas de tronos ou catástrofes nacionais que acompanhei de longe; por último, não experimentei nenhuma sensação tão cheia, tão prolongada, tão viva, durante meses ininterrompidos, como a última revolta, quando se ouvia o canhão da guerra civil no mar e o silêncio ainda pior do terror em terra. (P.41 e 42)


Nabuco saiu da academia monarquista e favorável a hereditariedade real. Segundo ele, a grande vantagem deste sistema era a não interrupção de um projeto de longo prazo, já que não há interrupções periódicas como na república. Se não fosse Bagehot, Nabuco seria republicano, pois era a moda da época.

Apesar de vir de uma família que tinha escravos ele tornou-se abolicionista. O movimento contra a escravidão no Brasil foi antes um movimento de caráter humanitário e social do que religioso, por isso o movimento não teve uma profundidade moral. Assim, a corrente abolicionista parou no mesmo dia da abolição e no dia seguinte recuava, sem se importar com o destino dos infelizes libertos, sem formação e sem emprego. Daí a enorme desigualdade racial e social no Brasil até os dias atuais.

Nabuco teve um encontro com o papa Leão XIII, um encontro curto,  de apenas 15 minutos. Como deputado e representando uma parcela do parlamento brasileiro pediu que fosse emitida uma súmula papal contra a escravidão. 

Devido ao conservadorismo da sociedade brasileira, essa encíclica só foi publicada após o final da escravidão no Brasil.

O capítulo XXVI, último do livro fala dos últimos dez anos (1889-1899). Depois do fim da Monarquia ele sai da política e reacende sua fé na religião.

Em 1891 ocorre a morte do imperador D. Pedro II. " de 1892 a 1893 há um intervalo, a religião afasta tudo o mais."(P.321)


"De 1893 a 1895 sofro o abalo da Revolta da morte de Saldanha ²,de que saem meus dois livros Balmacea e a Intervenção." (p.321)



"Olhei a vida nas diversas épocas através de vidros diferentes: primeiro no ardor da mocidade, o prazer, a embriaguez de viver, a curiosidade do mundo; depois, a ambição, a popularidade, a emoção da cena, o esforço e a recompensa da luta pra fazer homens livres (todos esses eram vidros de aumento)..." (p.322)


¹ - professor William.com
²   Joaquim Saldanha Marinho - professor de Direito Recife, jornalista.




Fontes:
Nabuco, Joaquim - Minha Formação - W.M.Jackson Inc.
wikipedia.org
literaturabrasileira.ufsc.br
profwilliam.com
google.com

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