Vamos falar hoje da origem do movimento revolucionário paulista que teve seu estopim em 23 de Maio de 1932.
A Proclamação da República, em 1889, ao contrário do que muitos imaginam não implantou a democracia em nosso país. Os bem intencionados republicanos do século XIX, como Benjamin Constant, Quintino Bocaiuva e José do Patrocínio, não imaginavam que por trás do golpe promovido pelos militares que surpreendeu Dom Pedro, que acreditava apenas na queda do gabinete chefiado pelo visconde de Ribeirão Preto, e não na monarquia. Por trás desse golpe havia fazendeiros e comerciantes ligados ao café paulista e às intenções de ampliar o comércio exterior.
São Paulo deixava de ser a província interiorana afastada dos negócios e dos interesses da capital federal. A partir da República, a metrópole insurgente passou a ser reconhecida como a “locomotiva do Brasil”, embora os políticos nordestinos rebatessem dizendo que a “locomotiva seguia puxando 20 vagões vazios”. Verdade é que durante os 41 anos da República Velha a política foi a mesma: se mudavam os presidentes, mas o objetivo era sempre o de defender a autonomia do café paulista e o leite mineiro cuja produção excedente era comprada pelo governo.
No caso do café, para se manter os preços no mercado internacional, queimava-se o que era produzido a mais. Pouco se fazia pelo povo e pouco pensava no povo. A política do café com leite promovia as eleições cujo voto precisava ser assinado pelo eleitor, ou seja, quem votasse contra um político próximo poderia ser descoberto. Era o voto de cabresto, sempre acompanhado das denúncias de fraude. O Partido Republicano Paulista – PRP, não tinha sequer um programa e atuava unicamente em benefício dos agricultores.
Interessante ver como a História se repete e nunca aprendemos os exemplos que ela dá.
Hoje em pleno século XXI se discute a volta do voto impresso, e o governo privilegia o agro negócio, em detrimento de uma população enorme que passa fome.
Nesse tempo, para se ter uma ideia de como a participação popular era diminuta, apenas 5% da população tinha direito ao voto. Na época da República Velha não havia grandes expectativas de progresso pessoal nem mesmo para a classe média que sem oportunidade de empregos via seus filhos seguirem para a carreira eclesiástica ou a carreira militar, daí a quantidade de tenentes, oficiais de menor patente mas em maior número que os oficiais mais graduados integrantes da burguesia.
Em 1929 a Bolsa de Nova York quebrou e o abalo na economia afetou os preços do café aumentando ainda mais o desemprego e a fome, especialmente no nordeste. Os fazendeiros de São Paulo se desentendem com os de Minas e Washington Luiz decide que o seu sucessor seria um outro paulista, Julio Prestes, mas os tenentes e os demais militares considerados praças, como – sargentos, cabos e soldados, que já haviam tentado destituir o governo, nos levantes de 1922 e 1924, se insurgem novamente, dessa vez dominando quartéis no Brasil todo.
Washington Luiz acaba destituído e enviado ao exílio e em seu lugar os tenentes colocam aquele que havia enfrentado os republicanos no pleito vencido por Júlio Prestes e perdido numa eleição considerada fraudulenta. Seu nome: Getúlio Vargas. Em São Paulo o PD – Partido Democrático que fazia oposição ao PRP – Partido Republicano Paulista apoia Getúlio que desfila em carro aberto pela cidade deixando nos integrantes do PD a esperança de que ele nomeasse para o governo do Estado um integrante do partido, o professor Francisco Morato.
Em vez disso Getúlio nomeia como interventor, João Alberto, um tenente pernambucano, deixando irritados os liberais paulistas.
João Alberto coloca seus colegas, tenentes de outros Estados, em cargos importantes do funcionalismo, abusando do poder e constrangendo pequenos comerciantes com atitudes como ir a uma barbearia e não pagar pelo serviço por ser do governo. Os nomeados por João Alberto costumeiramente almoçavam em restaurantes nobres e depois penduravam a conta em nome da revolução de 1930. Getúlio Vargas seguia governando por decretos, sem casas legislativas e sem uma constituição.
Em 1º. de janeiro de 1931, uma quinta-feira, o jornal O Estado de S. Paulo publica um editorial propondo a realização de uma assembleia constituinte lembrando que já era hora do país retomar a normalidade democrática. Getúlio responde ao jornal através de um porta – voz de sua confiança, Juarez Távora, e diz que ainda era cedo para isso porque os antigos republicanos poderiam reacender a manipulação das eleições acrescentando que os paulistas só pensavam em si e não no Brasil. Ao atacar São Paulo, o porta – voz uniu os paulistas contra os tenentes e contra Getúlio.
Estudantes da faculdade de direito passaram a promover comícios propondo uma constituição e João Alberto deu início à repressão, tendo o cuidado antes de retirar as armas dos quartéis de São Paulo para evitar uma reação. As propostas constitucionalistas ganharam adeptos no Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. O Partido Democrático rompeu com Getúlio e criou uma frente única propondo um governador paulista. Em 25 de janeiro de 1932 houve um grande comício na praça da Sé e em várias partes do país havia descontentes porque os tenentes estavam mandando mais que os generais.
No Rio Grande do Sul e em São Paulo se iniciaram mobilizações visando a retirada de Getúlio do poder. Em São Paulo os generais Isidoro Dias Lopes e Euclides Figueiredo articulavam com o general Bertholdo Klinger, do Mato Grosso, um plano para destituir Getúlio. No Rio Grande do Sul, o general Flores da Cunha prometeu enviar tropas em apoio e o governo de Minas Gerais anunciava que também enviaria tropas contra o ditador. Essas informações chegaram até o gabinete de Getúlio que prometeu eleições e uma constituinte para o ano seguinte, mas já era tarde. Em 22 de maio, estudantes se municiaram de armas e se dirigiram à Praça da República para invadir a sede política dos tenentes que ali ficava.
Houve tiroteio e a batalha terminou na madrugada do dia 23 maio com quatro corpos de estudantes estendidos na calçada da Praça da República com a Rua Barão de Itapetininga, eram os de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Um deles tinha apenas 14 anos. Houve comoção popular e já no dia seguinte foi criado o movimento MMDC, com as iniciais dos estudantes, tendo por missão conclamar as pessoas à guerra por uma constituinte já.
Para uma revolução ganhar força necessita-se de heróis; melhor se forem estudantes. Na verdade Euclides Bueno Miragaia tinha na época 21 anos e trabalhava no cartório de seu tio na capital paulista.
Antônio Américo de Camargo Andrade tinha 30 anos, era casado e pertencia a uma família tradicional de cafeicultores da região de Amparo.
Martins
Mário Martins de Almeida tinha 26 anos na época e era filho de uma família tradicional de cafeicultores de Sertãozinho e tinha se formado no Mackenzie.
Dráuzio Marcondes de Souza, tinha 14 anos na época. Nascido na Rua Bresser na capital de São Paulo, era ajudante de seu pai na farmácia da família próxima ao local. Seguiu para a sede do Partido Popular Paulista na Praça da República com a Barão de Itapetininga mais por curiosidade e pela aglomeração.
Como pudemos ver, a exceção de Dráuzio, que poderia ser estudante na época, nenhum dos outros três estudavam. Claro que nem por isso pode ser justificada a sua morte por uma milícia armada.
Mais tarde constatou-se que um outro jovem, Orlando Alvarenga, também foi baleado no conflito e morreu meses mais tarde, fato que ensejou em alguns a reinvindicação de alterar a sigla de MMDC para MMDCA.
Orlando de Oliveira Alvarenga, nasceu em Muzambinho, MG, era casado tinha na época 32 anos e era escrevente juramentado de um cartório.
Dia 23 de Maio é um dia onde se comemora a luta contra a ditadura de Getúlio Vargas, que assumiu o governo federal com ajuda dos próprios paulistas, que já tinham ajudado no golpe militar contra D. Pedro II, derrubando o Império e proclamando a República, dentre outros motivos como retaliação à Abolição da Escravidão ocorrida em 1888.
Vale salientar que embora não fosse um desejo da maioria da população paulista havia alguns que queriam a secessão de São Paulo do Estado brasileiro, desejo que persiste numa minoria paulista até o dia de hoje.
Fontes:
history.uol.com.br
wikipedia.org
migalhas.com.br
google.com
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