Vamos falar hoje do grande jornalista brasileiro Samuel Wainer.
Samuel Wainer, em russo Самуил Хаимович Вайнер, nascido Samuel Haimovich Wainer (Edinet, 19 de dezembro de 1910 — São Paulo, 2 de setembro de 1980) foi um jornalita e empresário russo-brasileiro, fundador, editor-chefe e diretor do jornal Última Hora.
Wainer tornou-se repórter dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, quando veio a entrevistar Getúlio Vargas em 1949, criando um gancho para o "queremismo", a campanha para a volta do ex-presidente ao comando da nação, tendo o petebista se candidatado e eleito em 1950. A amizade política entre eles, movida à base de interesses mútuos, viria a resultar na criação do Última Hora.
Vargas havia concebido a necessidade de um órgão de imprensa que pudesse sustentar as posições do populismo varguista contra uma imprensa anti-populista e anti-varguista. Sabendo da insatisfação de Wainer com o trabalho nos Diários Associados, onde estava sujeito às humilhações quotidianas que implicava o trato diário com Assis Chateaubriand e suas práticas amorais, Vargas sabia poder contar com a lealdade pessoal daquele a quem havia apelidado de "Profeta". Para tal, uma vez eleito, garantiu que o Banco do Brasil fornecesse um crédito a Wainer para a constituição do jornal em condições privilegiadas.
Embora formado em farmácia, jamais exerceu a profissão. Começou sua carreira de jornalista ainda estudante, no Diário de Notícias. Em 1938, após o golpe do Estado Novo (10/11/1937), fundou a revista mensal Diretrizes. Transformada, em 1941, em semanário, Diretrizes adotou uma linha de oposição ao regime ditatorial liderado por Getúlio Vargas, tendo diversas edições apreendidas.
Em 1944, Diretrizes publicou uma entrevista de Lindolfo Collor, na qual o ex-ministro do Trabalho afirmava esperar que o fim da guerra contra o nazismo na Europa fosse acompanhado pelo término da ditadura no Brasil. Em conseqüência, o suprimento de papel ao jornal foi suspenso. Obrigado a retirá-lo de circulação, Wainer partiu para o exílio, primeiro no Chile e depois nos Estados Unidos, onde trabalhou como correspondente de O Globo.
Foi o fundador do Jornal "Última Hora" que foi um grande foco de resistência à ditadura militar.
O jornal nasceu em 12 de junho de 1951, próximo a zona portuária do Rio, o jornal ''Última Hora''. Um marco no jornalismo brasileiro, chamava atenção pelo perfil ousado, era desenhado, tinha cores, com grandes fotos estampadas na capa e nova diagramação. Revolucionário para a época, entrou para a História também por sua influência política. Getúlio Vargas, que tentava voltar à Presidência da República nas eleições de 1950 mas não tinha o apoio da imprensa, ficou amigo do fundador do jornal e incentivou Samuel Wainer a criar o diário. Seu proprietário montou rapidamente dois jornais, um no Rio de Janeiro e outro em São Paulo - este começou a circular um ano depois, em 1952 -, além de comprar a Rádio Clube do Brasil.
Em 24 de agosto de 1954, dia em que Vargas se matou com um tiro no peito, em que Samuel Wainer publicou a manchete em edição extra: ‘’Matou-se Vargas!’’. Logo abaixo, publicando em letras garrafais a declaração de Getúlio, o diário carioca informava que ‘’o presidente cumpriu a palavra: 'Só morto sairei do Catete!'’’. E destacava, acima da manchete histórica, que o jornal de logotipo azul ‘’havia adiantado, ontem, o trágico propósito’’.
Nessa época, Wainer não esperava a fúria de Carlos Lacerda, ex-amigo e um ex-comunista que virou uma das principais vozes da conservadora União Democrática Nacional (UDN) e se tornou o inimigo número 1 de Vargas. Lacerda também viu no sucesso da ‘’Última Hora’’ uma ameaça ao seu jornal, a ‘’Tribuna da Imprensa’’ , fundado dois anos antes. Lacerda lançou uma campanha contra Wainer liderada pela ‘’Tribuna’’, acusando-o de favoritismo nas negociações com o Banco do Brasil, que culminou na criação, em abril de 1953, da Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as denúncias, tendo conclusão em setembro do mesmo ano desfavorável a Wainer. No mesmo período da CPI, Wainer lançou a revista semanal ‘’Flan’’, elegante, impressa em policromia, trazendo grandes intelectuais da época. O novo produto atingiu diretamente a concorrência no mercado de revistas.
Quando a ‘’Última Hora’’ foi fundada, seus jornalistas passaram a receber os melhores salários da imprensa brasileira, levando Lacerda mais uma vez a acusar Wainer, agora de prática de ‘’dumping’’, em meio ao sucesso do jornal carioca, que atraía verbas publicitárias volumosas. Pelo diário também passaram grandes repórteres, como Sérgio Porto e Nelson Motta. Wainer também convidou para o seu time o cartunista Lan e o artista gráfico paraguaio Andrés Guevara, responsáveis por inovações gráficas. Entre as célebres caricaturas de Lan está a do corvo com a cara de Carlos Lacerda, desenhada a pedido de Wainer. Para Lan, esse foi o pior desenho que já fez, mas o que lhe deu mais notoriedade.
A onda de modernização que tomava a imprensa brasileira fez o jornal de Wainer combinar um jornalismo brilhante, popular, com sofisticação cultural, reunindo colunistas como Nelson Rodrigues e Vinícius de Moraes. O diário inovou ainda ao pôr o futebol e as artes nas primeiras páginas e ao valorizar histórias em quadrinhos nacionais. A ‘’UH’’, como era conhecida, tratava de Cidade, Esportes, Carnaval, Artes e Política. A sua tiragem sempre esteve associada ao prestígio do getulismo. Tanto que no dia seguinte à sua morte, vendeu cerca de 700 mil exemplares, número jamais superado por suas rotativas. Na década de 50, sua tiragem chegava a 140 mil só no Rio, acrescidos de mais 70 mil exemplares em São Paulo. Já em 1991, período da extinção do jornal, a tiragem diária era de apenas 70 mil exemplares.
Durante o governo de Jânio Quadros, o jornal apoiou algumas iniciativas no campo da política externa, como a aproximação com os países socialistas. Após a renúncia de Jânio (25/08/1961), a Última Hora defendeu a posse do vice-presidente João Goulart, que na ocasião sofreu uma tentativa de veto por parte dos ministros militares. Durante o governo Goulart, o jornal manteve-se sempre ao lado do presidente, apoiando suas propostas de reformas de base.
Após o golpe militar de 31 de março de 1964, Wainer teve seus direitos políticos suspensos. Asilando-se na França, voltou ao Brasil em 1967 e reassumiu a direção da Última Hora. Vendeu o jornal em 1972. Trabalhou em diferentes órgãos da imprensa brasileira até o final da década de 1970.
Faleceu em São Paulo no dia 2 de setembro de 1980.
Foi casado três vezes e do matrimônio com Danusa Leão teve três filhos.
Samuel Wainer e Danuza Leão
Fontes:
cpdoc.fgv.br
wikipedia.org
google.com
acervo.oglobo.globo.com
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