Vamos falar hoje da peça do grande dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues, Vestido de Noiva.
Vestido de Noiva é uma peça teatral brasileira, de teor psicológico, escrita por Nelson Rodrigues e encenada pela primeira vez em 1943.
Em seu cenário, a peça apresenta três planos que se intercalam: o plano da alucinação, o plano da realidade e o plano da memória.
PRIMEIRO ATO (Cenário - dividido em 3 planos: 1° plano: alucinação; 2° plano: memória; 3° plano: realidade. Quatro arcos no plano da memória; duas escadas laterais. Trevas.) MICROFONE - Buzina de automóvel. Rumor de derrapagem violenta. Som de vidraças partidas. Silêncio. Assistência¹. Silêncio. VOZ DE ALAÍDE (microfone) - Clessi... Clessi... (Luz em resistência no plano da alucinação. 3 mesas, 3 mulheres escandalosamente pintadas, com vestidos berrantes e compridos. Decotes. Duas delas dançam ao som de uma vitrola invisível, dando uma vaga sugestão lésbica. Alaíde, uma jovem senhora, vestida com sobriedade e bom gosto, aparece no centro da cena. Vestido cinzento e uma bolsa vermelha.)
(Assistência é sinônimo de ambulância)
Cria-se, dessa forma, na imaginação do espectador, a cena de um atropelamento. Acende-se o plano da alucinação, e Alaíde chama por Madame Clessi. Encontra-se com vários personagens desconhecidos, ele que, aos poucos, lhe informam que Clessi fora assassinada. Alaíde desespera-se.
O plano da memória registra o diálogo entre os pais de Alaíde a respeito de Madame Clessi, antiga habitante da casa.
No plano da realidade, o diálogo lacônico entre os médicos revela que Alaíde está sobre uma mesa de operação. Alternam-se os diálogos entre Alaíde e Clessi no plano da alucinação e cenas do passado no plano da memória. Alaíde diz a Clessi ter matado seu marido.
Aparece também a Mulher de Véu, cuja identidade Alaíde parece não querer revelar. Madame Clessi pede a Alaíde que recorde o dia em que se casou. Alaíde lembra-se de que sua futura sogra elogiou o vestido de noiva pouco antes de ela entrar na igreja. Relembra também que havia mais alguém com elas, mas não consegue identificar essa pessoa.
Alaíde é atropelada e já no hospital inconsciente lembra da brida com a irmã Lucia de quem rouba o namorado Pedro.
Os pensamentos se confundem e ela lembra do bordel de Madame Clessi onde rememora o seu casamento. Confusa ela mistura passado e presente realidade e alucinação. Vingança e morte se passam num cenário do Rio de Janeiro da década de 1940.
Segundo Ato
CLESSI - Olha, Alaíde. Antes de sua mãe entrar, quando você pediu o bouquet, tinha alguém lá? Sem ser
Pedro?
ALAÍDE (desorientada) - Antes de mamãe entrar?
CLESSI - Sim. Tinha que ter mais alguém. Já disse - uma noiva nunca fica tão abandonada na hora de
vestir!
ALAÍDE (como que fazendo um esforço de memória) - Antes de mamãe entrar... Só pensando. Deixa eu
ver...
(Luz no plano da memória. Alaíde, vestida realmente de noiva, está sentada numa banqueta. Agora o
espelho imaginário se transformou num espelho verdadeiro, grande, quase do tamanho de uma pessoa. A
grinalda não está posta ainda. Alaíde sozinha.)
CLESSI (microfone) - Ah! Quer ver uma coisa? Quem foi que D. Laura beijou na testa, depois que falou
com você?
(Diante do espelho, Alaíde está retocando a toilette, ajeitando os cabelos, recuando e aproximando o rosto
do espelho etc.)
CLESSI (microfone) - Ah! outra coisa! Quem foi que vestiu você? Foi sua mãe? Não? Pois é, Alaíde!
(Luz amortecida em penumbra. Entra uma mulher, quase que magicamente. Um véu tapa-lhe o rosto. Luz
normal.)
TERCEIRO ATO
(Começa o terceiro ato com o teatro em trevas: Clessi e Alaíde ao microfone.)
CLESSI (microfone) - Talvez você não tenha assassinado seu marido.
ALAÍDE (microfone) - Mas eu me lembro! Foi com um ferro - bati na base do crânio! Aqui.
CLESSI (microfone) - Às vezes, pode ter sido sonho!
ALAÍDE (microfone, com um acento doloroso) - Sonho - será? Estou com a cabeça tão virada! Pode ser
que tudo tenha ficado só na vontade!
CLESSI (microfone) - Então aconteceu o quê, na igreja?
(Luz no plano da memória. Estão Clessi e o seu namorado vestidos à maneira de 1905.)
ALAÍDE (microfone) - Estou sempre com a idéia que seu namorado tinha a cara de Pedro!
(Clessi e Pedro sentados, num recamier.)
CLESSI (com o mesmo vestido, mas sem chapéu) - Quer ver meus coelhinhos no quintal?
NAMORADO (frio) - Não.
CLESSI (meiga) - Tem uns tão bonitos! (levantam-se os dois. Ele olha-a, depois senta-se de costas para
ela. Clessi anda e volta)
CLESSI (com impaciência e dengue) - Ih! Você é criança demais!
Outra grande montagem de Vestido de Noiva foi de Antunes Filho para o programa Teatro 2 da TV Cultura com Nathália Timberg, Edwin Luisi, Lilian Lemmertz de 1974.
Nathália Timberg e Lilian Lemmertz
Fontes:
wikipedia.org
google.com
youtube.com
semac.piracicaba.sp.org.br
guiadoestudante.abril.com.br
portais.funarte.gov.br
folha.uol.com.br
telepadi.folha.uol.com.br
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