Em 17 de agosto de 1945 a obra a A Revolução dos Bichos ("Animal Farm") era publicada na Inglaterra. Na fábula distópica de George Orwell, autor do também clássico 1984, um grupo de animais revolucionários toma o poder dos donos humanos de uma fazenda e organiza um regime igualitário e justo no local. O equilíbrio é ameaçado, porém, por uma dupla de porcos totalitários.
Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945 depois de ter sido rejeitada por várias editoras, essa pequena narrativa causou desconforto ao satirizar ferozmente a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista.
De fato, são claras as referências: o despótico Napoleão seria Stálin, o banido Bola-de-Neve seria Trotsky, e os eventos políticos - expurgos, instituição de um estado policial, deturpação tendenciosa da História - mimetizam os que estavam em curso na União Soviética.
"Ao fundo do grande celeiro, sobre uma espécie de estrado, estava o Major refestelado em sua cama de palha, sob um lampião que
pendia de uma viga. Com doze anos de idade, já bastante corpulento,
era ainda um porco de porte majestoso, com um ar sábio e benevolente, a despeito de suas presas jamais terem sido cortadas. Os outros
animais chegavam e punham-se a cômodo, cada qual a seu modo. Os
primeiros foram os três cachorros, Ferrabrás, Lulu e Cata-vento, depois os porcos, que se sentaram sobre a palha, em frente ao estrado.
As galinhas empoleiraram-se nas janelas, as pombas voaram para os
caibros do telhado, as ovelhas e as vacas deitaram-se atrás dos porcos
e ali ficaram a ruminar. Os dois cavalos de tração, Sansão e Quitéria,
chegaram juntos, andando lentamente e pousando no chão os enormes
cascos peludos, com grande cuidado para não machucar qualquer animalzinho porventura oculto na palha. Quitéria era uma égua volumosa, matronal já chegada à meia-idade, cuja silhueta não mais se
recompusera após o nascimento do quarto potrinho. Sansão era um
bicho enorme, de quase um metro e noventa de altura, forte como dois
cavalos. A mancha branca do focinho dava-lhe um certo ar de estupidez e, realmente, não tinha lá uma inteligência de primeira ordem,
embora fosse grandemente respeitado pela retidão de caráter e pela
tremenda capacidade de trabalho. Depois dos cavalos chegaram Maricota, a cabra branca, e Benjamim, o burro. Benjamin era o animal
mais idoso da fazenda, e o mais moderado."
Com o acirramento da Guerra Fria, as mesmas razões que causaram constrangimento na época de sua publicação levaram A revolução dos bichos a ser amplamente usada pelo Ocidente nas décadas seguintes como arma ideológica contra o comunismo. Muito embora regimes totalitários não tenham uma ideologia definida; assim como mesmo os regimes de aparência democrática podem ser totalitários quando expostos a governantes de índole ditatorial, onde as Instituições democráticas não são bem definidas.
O próprio Orwell, adepto do socialismo e inimigo de qualquer forma de manipulação política, sentiu-se incomodado com a utilização de sua fábula como panfleto. Depois das profundas transformações políticas que mudaram a fisionomia do planeta nas últimas décadas, a pequena obra-prima de Orwell pode ser vista sem o viés ideológico reducionista.
Mais de sessenta anos depois de escrita, ela mantém o viço e o brilho de uma alegoria perene sobre as fraquezas humanas que levam à corrosão dos grandes projetos de revolução política. É irônico que o escritor, para fazer esse retrato cruel da humanidade, tenha recorrido aos animais como personagens. De certo modo, a inteligência política que humaniza seus bichos é a mesma que animaliza os homens.
A Revolução dos bichos revela no autor uma aversão total de regimes totalitários sejam eles de esquerda ou de direita, comunista ou capitalista.
"Realmente, era uma discussão
violenta. Gritos, socos na mesa, olhares suspeitos, furiosas negativas.
A origem do caso, ao que parecia, fora o fato de Napoleão e o Sr.
Pilkington haverem, ao mesmo tempo, jogado um ás de espadas.
Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não
havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos.
As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um
homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas
já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco."
Fontes:
ccp.uenp.edu.br
revistagalileu.globo.br
etantevirtual,com.br
google.com
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