sexta-feira, 3 de abril de 2020


Por que a gripe espanhola matou tanta gente no Brasil ?




A gripe espanhola foi uma doença provocada por uma mutação do vírus da gripe que levou à morte de mais de 50 milhões de pessoas, afetando toda a população mundial entre os anos de 1918 e 1920, durante a primeira guerra mundial.

A origem é desconhecida, mas o que se sabe é que os primeiros registros foram nos Estados Unidos, ainda durante a guerra. O novo subtipo do vírus Influenza chegou à Europa meses depois. Mas foi o governo da Espanha que notou que estava diante de uma doença grave, daí seu nome.

A primeira onda de casos ocorreu de março a maio de 1918. Foi apenas em agosto que a gripe espanhola começou a assustar. Mais virulenta, atingiu seu auge entre setembro e novembro, outono no Hemisfério Norte.



Além da Europa e dos Estados Unidos, o vírus circulou na Índia, Sudeste Asiático, Japão, China, África, Américas Central e do Sul. Estima-se hoje que a pandemia afetou, direta ou indiretamente cerca de 50% da população mundial, tendo matado de 20 a 40 milhões de pessoas – mais do que a própria Primeira Guerra (cerca de 15 milhões de vítimas) –, o que levou à classificação de maior pandemia de todos os tempos.

Foi nessa segunda onda que a doença chegou ao Brasil. Militares da Marinha, que estiveram em missão na África durante a guerra, retornaram em setembro. Pelo menos 100 marinheiros morreram na época.

O terror ocorreu em 1918, quando a gripe espanhola invadiu o Brasil. A violenta mutação do vírus da gripe veio a bordo do navio Demerara, procedente da Europa. Em setembro desse ano, sem saber que trazia o vírus, o transatlântico desembarcou passageiros infectados no Recife, em Salvador e no Rio de Janeiro.

No mesmo mês, navios que atracaram em estados da Região Nordeste ajudaram a disseminar ainda mais a doença, que alcançou a Região Norte, que registrou os primeiros casos em novembro. O vírus também chegou a São Paulo e à capital brasileira na época, o Rio de Janeiro.



A cidade do Rio de Janeiro contava com uma população de 910.710 habitantes no mês de setembro de 1918, sendo 697.543 na zona urbana e 213.167 nos subúrbios e na zona rural. Nesse período, apenas 48 pessoas morreram de gripe. No decorrer da epidemia, a cifra elevou-se a níveis nunca vistos, sendo que apenas no dia 22 de outubro de 1918 foram computados 930 óbitos de gripe em um total de 1.073 óbitos (Fontenelle, 1919). Ou seja, ocorreu um aumento na taxa de mortalidade no decorrer do evento de quase 2.000%.



A espanhola fez fenecer no Rio de Janeiro algo em torno de 15 mil pessoas, levando para o leito, segundo as fontes, seiscentos mil cariocas – ou seja, cerca de 66% da população local





O medo acabou criando um isolamento forçado de toda a população, já que o governo demorou a enfrentar o avanço da pandemia. Pelo menos 30 mil morreram em decorrência de gripe espanhola no Brasil. Só o Rio de Janeiro teve 12 mil óbitos em dois meses.

Mais uma vez vimos que a demora de ações governamentais causaram milhares de mortes.

Porto Alegre, na época com cerca de 140 mil habitantes, teve que construir um cemitério para enterrar seus 1.316 mortos. Em outubro, o governo federal finalmente reconheceu que teria dificuldades para diminuir o número de casos.

O presidente da República à época, Venceslau Brás, convocou o médico sanitarista Carlos Chagas para liderar a força-tarefa de combate à gripe espanhola na capital federal. A doença atingiu todas as classes sociais, sem distinção também de idade.

Uma das vítimas mais ilustres foi o presidente eleito Rodrigues Alves, que conquistou mais um mandato no fim de 1918. Morreu em 15 de janeiro de 1919, alçando o vice-presidente eleito Delfim Moreira ao cargo máximo do País.


Gripe espanhola matou o presidente eleito Rodrigues Alves em 1919 ...


Os parlamentares apresentam uma série de projetos de lei com o objetivo de, em diferentes frentes, combater a doença e amenizar seus efeitos. Uma das propostas determina a aprovação automática de todos os estudantes brasileiros, sem a necessidade dos exames finais.


Coronavírus resgata medidas restritivas da epidemia de gripe ...


Como 1918 já está chegando ao fim, o presidente interino Delfim Moreira acha mais prudente não esperar as votações do Senado e da Câmara e baixa em dezembro um decreto batendo o martelo de uma vez: aluno nenhum repetirá o ano letivo.




Essa pandemia acendeu um alerta para as autoridades de saúde. Não havia na época sistemas públicos de saúde nem campanhas de vacinação em massa contra a gripe, que vieram a ser implantadas nas décadas seguintes. As medidas hoje tomadas para combater a Covid-19 são um dos efeitos mais duradouros da gripe espanhola. 




Do mesmo modo abrupto com que chega ao Brasil, a gripe espanhola desaparece repentinamente. Em dezembro, já são raros os contágios. Foram tantas as pessoas infectadas entre setembro e novembro que o vírus praticamente não tem mais a quem atacar.


Gripe espanhola no Brasil: A outra peste | VEJA


Enfim terminado o filme de terror, os cariocas usam o Carnaval de 1919 como forma de exorcizar o fantasma da gripe espanhola. O Rio assiste, nos bailes e nos blocos de rua, àquela que talvez seja a folia mais desenfreada de que se tem notícia na cidade. Das marchinhas aos carros alegóricos, o tema da festa é um só: o “chá da meia-noite” — que não bota medo em mais ninguém.




Fontes:
tuasaude.com
correiodoestado.com.br
scielo.br
pfarma.com.br
google.com

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