domingo, 7 de outubro de 2018

Mulher de trinta anos  - Honoré de Balzac.


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A mulher de trinta anos é talvez o título mais conhecido de Honoré de Balzac. Foi este romance que originou o termo "balzaquiana" para designar mulheres mais maduras. Neste livro o autor penetra de maneira ampla e generosa na alma feminina, a ponto de merecer de sua amiga Zulma Carraud as seguintes linhas: "Você tem uma inteligência do coração das mulheres que nunca foi dada a nenhum outro homem... nunca um homem conseguiu entrar mais fundo na existência delas...". Balzac, em A mulher de trinta anos, foi um precursor do feminismo, ao mostrar Julie, a infeliz heroína, às voltas com problemas fundamentais da vida amorosa e sentimental das mulheres e com o fracasso do casamento.

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Honoré de Balzac nasceu em Tours, França, em 1799 e morreu em Paris em 1850. Autor da célebre A comédia humana, conjunto da sua obra reunido a partir de 1842 representando um grande painel da sociedade francesa, da Revolução ao fim da monarquia. Mais de dois mil personagens compõem uma sociedade dominada pelo poder do dinheiro, entregues a paixões devoradoras e que são descritos em 90 romances concluídos. Entre eles: Gobseck (1830), A pele de Onagro (1831), A mulher de trinta anos (1832), Eugénie Grandet (1833), O pai Goriot (1834-1835), O lírio do vale (1835), Ilusões perdidas (1837-1843), La Rabouilleuse (1841), O primo Pons (1847).

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Os personagens Julie e Charles têm a mesma idade – 30 anos – mas ele é considerado um “rapaz”, e ela uma mulher “mais velha”. Começo assim este texto para chamar a atenção para o fato de que Balzac, em seu romance mais popular, não estava fixando um teto baixo para a busca da realização amorosa pelas mulheres; ao contrário, o escritor estava elevando significativamente     
esse teto. Na época em que o livro – parte das “Cenas da vida privada” da “Comédia humana” – foi concluído, em 1842, na vida real como na ficção o amor era prerrogativa das muito jovens: muitas se casavam aos 15 anos, e a vida ficava difícil para quem não se arrumasse até os 20 e pouquinhos. Como afirmaram os críticos Gabriel Hanotaux e Georges Vicaire, "Balzac prestou às mulheres um serviço imenso, que elas nunca lhe poderão agradecer suficientemente, pois duplicou para elas a idade do amor... Curou o amor do preconceito da mocidade". “Balzaquiana”, portanto, não devia ser um estigma, e sim um elogio.

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É importante lembrar que a grande novidade afetiva da sociedade burguesa retratada na “Comédia humana” foi a disseminação do casamento por amor, num momento em que ainda prevaleciam as uniões por interesse e conveniência. Isso criou a necessidade de uma nova gramática amorosa, que Julie domina de maneira exemplar; com uma sabedoria rara e talvez impossível nos dias de hoje, ela seduz Charles pelo recato e pela atitude casta e humilde – qualidades então indispensáveis às mulheres de boa família.


Em um momento de transformações sociais aceleradas na França pós-revolucionária, Balzac ousou fazer, em “A mulher de 30 anos,  o elogio da mulher “madura”, que ele descreve como mais equipada para seduzir e amar que as novinhas de seu tempo. Ao longo do texto, ele faz uma série de comparações entre as duas categorias, e a balzaquiana se sai melhor em todos os quesitos: “Uma mulher de 30 anos tem atrativos irresistíveis”, escreve. “A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido.” E ainda: “(...) obedece a um sentimento consciente. Escolhe... dando-se. A mulher experiente parece dar mais do que ela mesma, ao passo que a jovem, ignorante e crédula, nada sabendo, nada pode comparar nem apreciar”; “Chegando a essa idade, a mulher sabe consolar em mil ocasiões em que a jovem só sabe gemer.” Balzac, aliás, se relacionou com diversas mulheres mais velhas, atribuindo a essas experiências o seu profundo conhecimento do coração feminino.

O enredo é bem conhecido: ainda adolescente, apaixonada por Arthur, um coronel do exército napoleônico, Julie contraria a vontade do pai e decide se casar. Logo tem uma filha, mas rapidamente percebe que fez bobagem, sentindo-se presa a uma vida conjugal sem graça e à maternidade. Infeliz, quase sucumbe à paixão por outro homem, Lord Arthur Grenville, mas a relação não prospera: o dever do casamento a impede de concretizá-la. "Não quero ser uma prostituta nem a meus olhos nem aos olhos do mundo. Se não pertenço mais ao sr. d’Aiglemont, também não pertencerei a nenhum outro", afirma.

As convenções morais da época parecem condená-la a uma infelicidade eterna. Consciente da razão de seus sofrimentos e revoltada contra a instituição imperfeita do matrimônio, depois de enviuvar Julie decide viver confinada (e deprimida) num castelo no interior. Mas, aos 30 anos, “ápice poético da vida das mulheres”, ela conhece o diplomata Charles de Vendesesse e se entrega intensamente a essa nova paixão, em circunstâncias que pouco a pouco desenham um destino trágico, começando pela morte do seu filho. Mas o que importa é que Balzac estabelece aí os fundamentos de um relacionamento moderno, que respeita o direito da mulher de ser feliz. Segundo Julie, agora livre para amar, "o casamento, a instituição sobre a qual se apoia hoje a sociedade, só a nós faz sentir todo o seu peso: para o homem a liberdade; para a mulher os deveres. Devemos consagrar aos homens toda a nossa vida, eles nos consagram apenas raros instantes... O casamento, tal como hoje se pratica, parece-me ser uma prostituição legal. Daí nascerem os meus sofrimentos. Mas, entre tantas criaturas infelizes... só eu sou a autora do mal, porque quis o meu casamento.”

Primeiro grande retrato da mulher mal casada, "A mulher de 30 anos" não é a história particular de Julie, e sim a da mulher de seu tempo, na qual convergem os movimentos, conflitos e contradições de um modelo social em transformação. Balzac trata não de um amor de folhetim, mas do destino da mulher e da instituição do casamento no mundo burguês.





Fontes:

lpm.com.br/site/default.asp
g1.globo.com
google.com.br

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