Morte em Veneza de Thomaz Mann.
Thomas Mann (1875-1955) foi um escritor alemão. Autor de "Morte em Veneza", um dos clássicos da literatura moderna. Foi considerado um dos maiores escritores do século XX. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, em 1929.
Thomas Mann nasceu em Lübeck, Alemanha, no dia 6 de junho de 1875. Era filho do rico comerciante Johann Heinrich Mann e da brasileira Júlia da Silva Bruhns.
Em 1892, com a morte do pai, que deixou uma vultosa herança, a família mudou-se para Munique, centro das artes e da literatura, a fim de Thomas completar sua formação.
Em Munique, a família se instalou no bairro boêmio de Schwabing, onde sua mãe oferecia saraus literários e festas em sua casa e incentivava o filho para se dedicar à literatura.
Em 1893, Thomas Mann escreveu alguns textos para a revista "A Tempestade de Primavera". Nesse mesmo ano mudou-se para a Itália, para a cidade de Palestrina, onde morava seu irmão, o escritor Heinrich Mann.
Thomas Mann permaneceu na Itália até 1898. Nessa época começou a trabalhar no manuscrito do romance "Buddenbrooks".
De volta a Munique, trabalha como editor no jornal satírico/humorístico “Simplicíssimos”. Apaixona-se por Paulo Ehrenberg, sem ser correspondido, o que definiu mais tarde como “uma experiência central do seu coração".
Em 1905 casa-se com Katia Pringsheim com quem tem 6 filhos: Erika, Klaus, Golo, Monika, Elisabeth e Michael.
A obra "Morte em Veneza"
O romance “A Morte em Veneza”, de Thomas Mann revela que todos os pormenores foram extraídos da vida real, mas de forma parcial. Em março de 1911, padecendo de problemas de saúde, Thomas Mann decide fazer uma viagem à Itália com a mulher Katia e o irmão Heinrich Mann. Instalam-se em Brioni, uma ilha na costa da Ístria. Mas o ambiente formal repleto de aristocratas não agradou aos viajantes e, assim, a 26 de maio, resolvem se deslocar para Lido, perto de Veneza. Será nesse lugar que algumas coisas curiosas, impressões, e a busca no subconsciente de algo novo que gerasse alguma ideia produtiva, conduziram ao desenvolvimento da história de “A Morte em Veneza”. A princípio imaginou algo mais convencional, uma história de amor do velho Goethe pela jovem de 17 anos Ulrike Von Levestzow, evoluindo depois para um romance mais ousado, tendo em consideração os valores vigentes da época.
O modelo físico que inspirou Aschenbach, (protagonista da história) foi o compositor Gustav Mahler.
"O luto que se seguiu à morte de Mahler chocou meu marido a tal ponto que ao descrever as características físicas de Von Aschenbach fez praticamente um retrato de Mahler", escreve Katia Man..
Gustav von Aschenbach viveu toda a sua vida em função da construção de sua extensa obra literária. Desde muito cedo se dedicou inteiramente a esse propósito e privou-se dos mais comuns prazeres da juventude. Porém, na maturidade, tomado por um impulso desafiador, interrompeu o seu exaustivo trabalho e partiu em viagem pela Europa. Ele só não esperava encontrar em Veneza tudo aquilo que sempre procurou e sempre tentou expressar em sua arte: a forma perfeita e as proporções harmônicas do belo. Foi na figura de Tadzio, garoto polonês de apenas 14 anos, que Aschenbach, rendido à beleza do jovem, inicia um processo gradativo de decadência moral, levando-o a total anulação de alguns de seus mais preservados princípios.
Tadzio se encontrava de férias com a sua família em Veneza e estava hospedado no mesmo hotel que Aschenbach. A comunicação entre os dois é frágil ou praticamente inexistente, exceto por alguns olhares trocados. Porém, eles jamais chegam a se falar. Pouco a pouco, Tadzio vai, indiretamente, seduzindo o escritor que, perturbado, se sujeita às mais ridículas cenas.
A fixação de Aschenbach é o principal ponto de articulação da história, narrada apenas do ponto de vista do protagonista. Entretanto, embora se tenha indícios de que Tadzio também se sente atraído pelo escritor, o leitor não sabe o que se passa na mente do garoto, pois toda a agonia e todas as sensações apresentadas na novela são frutos apenas das observações de Aschenbach. Nada se sabe da natureza de Tadzio, a não ser aquilo que é apresentado pelo seu admirador. Por isso, o leitor pode se perguntar se não houve exagero em certas situações vividas no livro, se não há imaginações exacerbadas de um homem apaixonado.
Muito se fala sobre o caráter autobiográfico de A Morte em Veneza, já que aspectos da vida da personagem principal coincidem com os do autor, como o fato de ele também ter sido um escritor famoso, maduro e bem sucedido. Além disso, há boatos de que Tadzio - certamente um rapaz com outro nome, porém também polonês - teria realmente existido e que Thomas Mann o conhecera durante uma viagem feita à Veneza, em 1911, mais ou menos na mesma época em que se passa a história.
A linguagem de Thomas Mann é tradicional e aparentemente não traz grandes influências das correntes modernistas da época. O texto é cheio de pequenas cenas que, de princípio, parecem estar desvinculadas da história principal e apresentam certo ar profético, mas que no fim ganham sentido para o bom observador. Exemplo disso pode ser percebido quando o gondoleiro clandestino some sem receber o seu dinheiro e sustenta a expressão: "você pagará", porém sem mencionar em qual moeda se fará esse pagamento; ou quando o velho rejuvenescido sofre críticas de Aschenbach durante a viagem à Veneza.
Há quem diga que essa passagem do gondoleiro faz menção à Caronte, o barqueiro que leva as almas para o Hades através do rio Estige; a quem deve se pagar uma moeda. Por isso o costume na Grécia Antiga de colocar uma moeda nos olhos do morto.
A morte está em Veneza, uma epidemia de cólera é uma ameaça real. Aschenbach sabe disso através de informações e pelo cheiro podre que invade a cidade doente, mas conclui que deve ficar.
"Desde de alguns anos, a cólera hindu havia demonstrado uma tendência a alastrar-se e emigrar. Originada dos pântanos quentes do delta do Ganges, aparecendo com alento mefítico daquele exuberante-inútil mundo antediluviano e ilhas selvagens." (pag 157)
Não há palavras para morte. O segredo da cidade de Veneza, que estava doentiamente contaminada, coincide com o seu obscuro segredo onde guarda a sete chaves. Absolutamente extasiado pela beleza de Tadzio sabia que não o veria mais, pois o garoto estava de pronto para partir; e o que seria de Achenbach quando isso acontecesse?
Desde a partida de Tadzo, a quem Achenbach, seguia como uma adolescente envergonhado, e às escondidas, Veneza passou a ter o fedor da doença, dos canais pútridos que o calor exalava. Nota-se então que ele está doente.
"Sua cabeça ardia, seu corpo estava coberto de um suor pegajoso, sua nuca tremia, uma sede insuportável atormentava-o." (pag 166)
“A Morte em Veneza” é um romance construído sobre um contexto de referências à mitologia grega. Essas referências estão em Nietzsche e seu estudo sobre a tragédia grega. Ele estabelece a diferença entre o apolíneo e o dionisíaco em seu livro “O Nascimento da Tragédia”. Nietzsche aponta para a tragédia como o auge da perfeição cultural grega, após ter juntado a forma apolínea com a embriaguez dionisíaca. Depois desse apogeu, temos o declínio da cultura grega, que se deu através de um novo fator, ou seja, da entrada do racionalismo crescente.
Apolo é apresentado por Nietzsche como o deus do sonho, das formas, das regras, dos métodos, dos limites individuais. O apolíneo é a aparência, a individualidade. É a representação da força da imagem, da metáfora, isto é, da dissimulação. Apolo incorpora também o equilíbrio, a moderação dos sentidos.
Dionisío simboliza as forças obscuras que emergem do inconsciente, pois se trata de uma divindade que preside a liberação provocada pela embriaguez. Dionísio em poucas palavras retrata as forças de dissolução da personalidade: as forças caóticas que se apoderam tantos dos indivíduos como das multidões arrastadas pelo fascínio como até mesmo a embriaguez da loucura. E Dionísio pune todos aqueles que não lhe rendem o culto, ou que desprezam.
Entre Apolo e Dionísio reside a ordem e a razão e a loucura e o caos. Juntos eles dão certo equilíbrio ao ser humano.
Nietzsche afirma que a relação conflituosa entre Apolo e Dionísio será a criação, pois a eterna luta entre eles cria sempre coisas novas, eis o ponto no qual a arte se insere. Segundo Nietzsche, só a arte é capaz de levar o homem ao encontro do seu nirvana. Dessa forma, o apolíneo e o dionisíaco são avaliados como saídas estéticas.
A Morte em Veneza é uma obra curta, completa e fascinante. E mesmo que seu desfecho deixe a desejar, talvez por ter se tornado um pouco óbvio, é capaz de causar sensações, no mínimo, interessantes e curiosas no leitor, o que faz a sua leitura valer a pena.
"O observador ali estava sentado, como em outra oportunidade o estivera, quando, pela primeira vez, este olhar cinza-alvorada correspondera encontrando o seu. Sua cabeça, encostada no espaldar da cadeira, seguira vagarosamente os movimentos daquele que andava lá fora; agora ergueu-se como que de encontro ao olhar, e caiu sobre o peito, de modo que seu olhos viam por baixo, enquanto seu rosto apresentava a indolente, afetuosa e meditativa expressão do sono profundo." (pag 170)
Fontes:
skoob.com.br
ebiografia.com
google.com
Morte em Veneza - Mann, Tomaz - tradução Deling, Maria - Editora Abril 1979.
bosnlivrosparaler.com.br
wikipedia.org
universodafilosofia.com
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