quinta-feira, 19 de novembro de 2020

"The story had held us, round the fire, sufficiently breathless, but except the obvious remark that it was gruesome, as, on Christmas Eve in an old house, a strange tale should essentially be, I remember no comment uttered till somebody happened to say that it was the only case he had met in which such a visitation had fallen on a child"

"A história nos mantivera em suspense em torno do fogo, mas à parte da óbvia reflexão de que era horrível, como essencialmente deve ser toda história estranha contada na véspera de Natal, numa velha casa, não me lembro que sobre ela se fizesse algum comentário, até que alguém lembrou que era o único caso assim sobre uma criança...."


Henry James


Assim começa "The turn of screw" em português"A outra volta do parafuso, do escritor americano Henry James. O título em si parece um pouco inexplicável, já no começo do livro o autor apresenta uma justificativa: " a child is menaced by some ghostly terror, a party guest suggests that the fact that the story's protagonist was a child is what gives a certain "turn of the screw" – that is, it tightens the dramatic tension".

Seria mais ou menos como quando ouvimos ou assistimos um conto ou uma cena de tensão, ou terror apertássemos algo com as mãos, um lençol, um travesseiro, a mão do/da acompanhante. Me lembro do filme "Um dia depois de amanhã onde o personagem no avião durante uma grande turbulência aperta a mão da garota ao seu lado.











Este clássico do terror conta a história de uma governanta que é contratada para cuidar de duas crianças em uma grande casa inglesa. Até que ela descobre que a casa é frequentada por fantasmas. O suspense aumenta: ela começa a desconfiar que as crianças, de uma beleza mais que terrena e bondade absolutamente incomum, não só enxergam esses espíritos, como também convivem com eles.





Na véspera de Natal, um narrador não identificado ouve Douglas, um amigo, ler um manuscrito escrito por uma antiga governanta a quem Douglas afirma ter conhecido e que agora está morta. O manuscrito conta a história de como a jovem preceptora fora contratada no passado por um homem que se tornara responsável por duas crianças, um sobrinho e uma sobrinha, depois da morte de seus pais, mas que não tivera interesse em criá-los, preferindo deixá-los a cargo de uma governanta. Ele vive em Londres, mas também tem uma casa de campo, Bly.






O menino, Miles, frequenta um colégio interno, enquanto sua jovem irmã, Flora, vive na casa de campo em Essex, aos cuidados da caseira, Mrs. Grose. O tio de Miles e Flora, o patrão da nova governanta, dá a ela o cuidado completo da educação das crianças, deixando-lhe ordens explícitas de não incomodá-lo com qualquer tipo de informação, em nenhuma circunstância, e a governanta então se muda para a casa de campo para iniciar seu trabalho.

Miles retorna para casa no verão, após a chegada de uma carta da direção da escola, informando que ele foi expulso. Miles jamais fala sobre tal acontecimento, e a governanta hesita em falar sobre a questão, pois teme que haja algum terrível segredo atrás dessa expulsão, e ao mesmo tempo sente-se cativada pelo adorável garoto, evitando pressioná-lo para descobrir mais. Começa, porém, a observar nos passeios na propriedade, a presença de um homem e de uma mulher que ela não conhece. Tais personagens vêm e vão sem serem notados por outros serviçais da casa, e são sentidos pela governanta como sobrenaturais. Ela descobre através de Mrs. Grose que a governanta sua predecessora, Miss Jessel, e um outro empregado, Peter Quint, tinham tido um relacionamento sexual, e percebe que, após suas mortes, Jessel e Quint costumam conviver com Flora e Miles, o que lhe convence do sinistro significado, de que as duas crianças estão secretamente conscientes da presença dos fantasmas.

Uma tarde, sem sua permissão, Flora deixa a casa enquanto Miles toca piano, e a governanta acompanhada de Mr. Grose a procura, indo encontrá-la à margem do lago, o que convence a governanta de que Flora foi falar com o fantasma da Miss Jessel, porém ao confrontar Flora, ela nega ter visto Miss Jessel. Por sugestão da governanta, Mrs. Grose leva Flora para seu tio, deixando a governanta com Miles, que naquela noite finalmente fala com ela sobre sua expulsão do colégio; o fantasma do Quint aparece para a governanta na janela. A governanta então protege Miles, que tenta ver o fantasma. A governanta percebe então que ele já não está controlado pelo espírito, mas morreu em seus braços, e o fantasma desapareceu.

No capítulo II o autor deixa muito claro a  displicência do tio das crianças que as deixou aos cuidados da governa e de outros criados sem nem mesmo querer saber noticias de ambos.




"The postbag, that evening—it came late—contained a letter for me, which, however, in the hand of my employer, I found to be composed but of a few words enclosing another, addressed to himself, with a seal still unbroken. “This, I recognize, is from the headmaster, and the headmaster’s an awful bore. Read him, please; deal with him; but mind you don’t report. Not a word. I’m off!” I broke the seal with a great effort—so great a one that I was a long time coming to it; took the unopened missive at last up to my room and only attacked it just before going to bed. I had better have let it wait till morning, for it gave me a second sleepless night. With no counsel to take, the next day, I was full of distress; and it finally got so the better of me that I determined to open myself at least to Mrs. Grose.

“What does it mean? The child’s dismissed his school.”


"O correio - que chegou com atraso - trouxe-me uma carta de meu patrão. Continha poucas  palavras e encerrava outras palavras que não tinha sido aberta, endereçada para ele próprio. Logo reconheci a letra do diretor do colégio. Dizia-me o meu patrão - ele é uma pessoa enfadonha, leia a  carta e entenda-se com ele. Mas não me diga nada, nem uma palavra, estou de viagem. Abri com dificuldade o envelope lacrado, não querendo lê-lo de imediato. Levei-o para o meu quarto e li antes de dormir, talvez fosse melhor ter deixado para lê-lo no dia seguinte. Passei mais uma noite em claro."

"O que significa isso ! A criança foi expulsa da escola ?"


O livro de Henry James se passa na era vitoriana, de costumes rígidos e pragmáticos. A governanta, pouco a pouco, vai descobrindo o mistério em torno das duas crianças que se relacionam com dois ex empregados da casa a Sra. Jessel e Peter Quint.

A casa com ares sombrios também ajudava a tornar o ambiente carregado e fantasmagórico.

O especialista em literatura inglesa Oliver Elton  escreveu em 1907 que “Há... dúvida, levantada e mantida em suspenso, se, afinal, os dois fantasmas que podem escolher para quais pessoas eles aparecerão, são fatos, ou delírios da jovem preceptora que narra a história”. Edmund Wilson foi outro que propôs o questionamento da sanidade da governanta, postulando a repressão sexual como a causa de suas experiências. Wilson eventualmente mudou sua opinião, após considerar a descrição pormenorizada de Quint do ponto de vista da governanta. John Silver, porém, salientou questões na história que levariam a creditar que a governanta poderia ter conhecimento prévio da aparência de Quint de forma não-sobrenatural. Isso induziu Wilson a retornar à sua opinião original, de que a governanta estava delirando e que os fantasmas existiam apenas na sua imaginação.

William Veeder vê a eventual morte de Miles como induzida pela governanta. Em uma complexa leitura psicanalítica, Veeder conclui que a governanta expressa a raiva reprimida por seu pai e pelo mestre de Bly sobre Miles.

Outros críticos, no entanto, têm defendido a governanta. Eles defendem que as cartas de James no prefácio da Edição de Nova Iorque, e o seu Notebooks of Henry James não contêm nenhuma evidência definitiva de que The Turn of the Screw tenha sido concebido como algo diferente de uma simples história de fantasmas, e James certamente escreveu outras histórias de fantasmas que não dependem da imaginação do narrador. Por exemplo, Owen Wingrave inclui um fantasma que causa a morte súbita de seu personagem-título, embora ninguém realmente possa vê-lo. James, em seus Notebooks indica que ele se inspirou originalmente em um conto que ouvira de Edward White Benson, o Arcebispo da Cantuária. Há indícios de que a história referida por James foi sobre um incidente ocorrido em Hinton Ampner, quando em 1771 uma mulher chamada Mary Rickettsse mudou de sua casa depois de ver as aparições de um homem e uma mulher, dia e noite, olhando através das janelas, curvando-se sobre as camas e fazendo-a sentir que seus filhos estavam em perigo.

Há vários filmes adaptados e baseados na novela. O criticamente aclamado The Innocents (1961), dirigido por Jack Clayton, e o filme de Michael Winner, The Nightcomers (1972) foram dois exemplos dessa adaptação ao cinema. 

Os inocentes - 1961 - trailer




Outras adaptações para o cinema foram The Turn of the Screw de Rusty Lemorande, em 1992; o filme em língua espanhola de Eloy de la Iglesia, Otra vuelta de tuerca (The Turn of the Screw, 1985); e ainda os filmes Presence of Mind (1999), dirigido por Atoni Aloy; In a Dark Place (2006), dirigido por Donato Rotunno e o filme em língua portuguesa de Walter Lima Jr. Através da Sombra (Through the Shadow, 2016). The Others (2001) não é uma adaptação, porém possui alguns elementos em comum com a obra de James. Em 2018, a diretora Floria Sigismondi filmou uma adaptação da novela, denominada The Turning, na Kilruddery House, na Irlanda.


Os Outros 2001




Fontes:

cafeinaliteraria.com.br
companhiadasletras.com.br
wikipedia.org
gutemberg.org
shmoop.com
queridoclassico.com
google.com
youtube.com

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