Vamos falar hoje sobre São Paulo antigo, do bairro do Brás, especialmente das Ruas Carneiro Leão, reduto de imigrantes espanhóis e Rua Caetano Pinto, reduto de imigrantes italianos.
Rua Caetano Pinto em 1956
Cortiço na Rua Carneiro Leão - 1942
Os espanhóis constituíram a terceira força imigratória vinda para o Brasil, só superada pela portuguesa e a italiana, verificando-se basicamente duas “ondas” nesse processo: as duas primeiras décadas do século XX e o pós-guerra, especialmente os anos 50.
Rua Caetano Pinto
Segundo o censo nacional de 1940, 81% dos espanhóis residentes no Brasil encontravam-se radicados no Estado de São Paulo1 . A maioria chegou ao Brasil no início do século XX, seduzida pela possibilidade de recomeçar uma nova vida.
O auge da economia cafeeira, a necessidade da mão-de-obra decorrente da libertação dos escravos e a idealização de um projeto nacional voltado para o branqueamento da população brasileira facilitaram a entrada de cidadãos ibéricos no Brasil, pois esses eram brancos e católicos por tradição. O aumento contínuo e intenso da população paulistana no século XX, fruto da expansão da economia cafeeira e das primeiras experiências industriais deve-se, principalmente, à imensa quantidade de imigrantes que optaram por residir naquela que passaria a ter o status de metrópole brasileira. Vinham à procura de realizar seus sonhos e em busca de uma vida melhor.
Ao contrário dos italianos, que se concentraram em determinados bairros paulistanos onde imprimiram suas marcas de identidade, os imigrantes espanhóis se espalharam pela cidade dificultando o mapeamento preciso de sua presença na “São Paulo da garoa”.
Mesmo assim, a concentração de espanhóis tornou-se visível nas principais ruas do Brás e da Moóca. Segundo estudos desenvolvidos por Maria Antonieta Antonacci e Laura Antunes Maciel, estes imigrantes preferiam as ruas Caetano Pinto, Carneiro Leão, Gasômetro e Ana Neri atuando tanto no comércio (cafés, hotéis, restaurantes, secos e molhados), como na circulação de mercadorias e nas indústrias.
Em São Paulo, este grupo integrou-se ao processo de formação de uma incipiente, mas já combativa classe operária. Referências dispersas nos possibilitam verificar a ação política dos imigrantes espanhóis nas décadas de 1910 e 1920. Em uma leitura cuidadosa dos estudos sobre a Greve Geral de 1917 encontramos menções aos operários espanhóis envolvidos com esse movimento de protesto que se fez sob forte influência do ideário anarquista.3 Muitos receberam ordens de expulsão, dentre os quais Florentino de Carvalho, autor do livro Da Escravidão à Liberdade. Este espanhol, conhecido também como “Primitivo Raimundo Suarez” já havia militado em São Paulo na primeira década do século XX, vindo a ser expulso em 1912. Mudou-se para a Argentina de onde também foi expulso em 1910, retornando ao Brasil. Como militante anarquista liderou a Greve Geral de 1917 e recebeu ordem de expulsão, mas conseguiu um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal.
Na década de 1930, voltou a atuar como “propagandista” e líder da Juventude Anarquista, além de colaborar com os jornais A Obra e A Plebe. 1 IBGE, A distribuição territorial dos estrangeiros no Brasil (Estudos de Estatística Teórica e Aplicada).
Os italianos deixaram seu país por motivos econômicos e socioculturais. O grande fluxo migratório italiano começou após a unificação da Itália, em 1870. A grande massa de italianos trabalhou em fazendas de café. A dificuldade de acumular capital fez com que imigrantes italianos partissem das fazendas para o centro da cidade. São Paulo chegou a ser conhecida como “cidade italiana”, pois esses imigrantes se ocuparam especialmente na indústria e nas atividades de serviços urbanos. Em 1901, italianos chegaram a representar 90% dos 50.00 trabalhadores nas fábricas paulistas.
Esses imigrantes tanto espanhóis como italianos saíram de seus países devido à miséria e a falta de oportunidades, querendo como diziam "fazer a América". Sem falar o idioma e sem saber ao certo o que era "essa Mérica"
Àqueles que não foram para as lavouras de café em São Paulo se instalaram na capital e serviram de mão de obra nas fábricas do Brás e da Moóca.
A Rua Caetano Pinto e Carneiro Leão com seus cortiços eram palcos de discussões, brincadeiras, muito trabalho e convívio social.
A história do Brás é rica e envolve a fé, o trabalho, as culturas e os transportes.
Foi inicialmente pelos trilhos e depois pelas várias linhas de ônibus que o bairro começou a engatar de vez em um ritmo de urbanização e crescimento.
No ano de 1867, quando foi inaugurada a “Ingleza”, a linha da São Paulo Railway, que liga Santos a Jundiaí, também começava a funcionar a estação do Braz (com Z na época), pertencente à ligação. A linha, idealizada pelo Barão de Mauá, Irineu Evangelista de Souza, foi criada para escoar a produção do café. Mas acabou servindo muito mais à urbanização e à indústria que aos poucos dava sinais na cidade de São Paulo, que ainda não mostrava aspirações para ser metrópole.
No caso específico da Estação do Brás, além do movimento natural de atração de empreendimentos e os primeiros adensamentos urbanos, característico a quase todas estações de trem, havia um outro fato: o encontro de culturas.
Muitos imigrantes vieram ao Brasil nesta época para trabalharem nas lavouras do Café. Quando desembarcavam dos navios, após meses de viagem, no Porto de Santos seguiam para a Capital, onde eram recrutados para as lavouras no interior.
O ponto de parada destes imigrantes, principalmente italianos, era o Brás, onde havia a Hospedaria dos Imigrantes.
Para muitos, era esta hospedaria o início de uma nova vida.
A Hospedaria dos Imigrantes do Brás foi fundada em 1887 pela Sociedade Promotora de Imigração, pertencente a associações de cafeicultores paulistas, que precisavam de mão de obra para as lavouras.
Os movimentos anti-escravidão se tornavam cada vez maiores e culminaram na abolição da escravatura em 13 de maio de 1888.
Os cafeicultores, antes mesmo da Lei Áurea, já viam a necessidade de encontrar outro tipo de mão de obra em seus negócios. Além disso, as plantações e vendas de café cresciam e apenas a mão de obra dos negros já não era mais suficiente.
De 1887 a 1920, a Hospedaria dos Imigrantes foi responsável por vender o sonho das Américas a mais de 3 milhões de pessoas nascidas em outros países, de cerca de 60 nacionalidades diferentes.
Para muitos era um sonho apenas, pois quando iam para lavoura, encontravam uma condição de trabalho difícil, poucos direitos e exploração. Muitos tinham de comprar, por exemplo, seus alimentos nos próprios armazéns das fazendas, cujos preços eram abusivos.
Mas esta população não se intimidava e mesmo não tendo o sonho das Américas realizado, conseguiam construir suas vidas e seus futuros com muito sacrifício.
Rapaziada do Brás - Carlos Galhardo
Fontes:
ribeiraopretoculturaljaf.blogspot.com
google.com
pinterest.com
Memória e História Política dos espanhóis na Pauliceia (1930-1945)
saopaulo.sp.gov.br
diariodotransporte.com.br
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