sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Incidente Em Antares - Erico Verissimo




O livro de Érico Veríssimo publicado em 1971 é uma obra que mistura elementos do realismo fantástico com um tom profundamente político.

A estória se passa na fictícia Antares, no Rio Grande do Sul. A formação da cidade traz a rivalidade política de duas famílias: os Campolargos e os Vacarianos.

 O livro se divide em duas partes: Antares e segunda parte Incidente.

Antares:



Na primeira parte do romance de Érico Veríssimo ficamos conhecendo a pequena cidade fictícia de Antares, situada no Rio Grande do Sul, quase na fronteira com a Argentina.

A região era dominada por duas famílias que se odiavam profundamente: os Vacariano e os Campolargo. A descrição da cidade e do mecanismo de funcionamento social ocupa quase um terço do texto. Fica claro ao longo da leitura das páginas como as duas famílias que geriam a região tinham valores altamente questionáveis e se alfinetavam mutuamente.

Antares dá conta da genealogia da terra (os primeiros estrangeiros que lá estiveram) e também da genealogia das duas famílias mais importantes da região. O domínio do local começou com Francisco Vacariano, que durante mais de dez anos foi "autoridade suprema e inconteste na vila".

O conflito teve início quando Anacleto Campolargo, no verão de 1860, demonstrou interesse em comprar terras na região. Francisco Vacariano logo deixou claro que não queria intrusos na sua região.

Por fim, afrontando Francisco, Anacleto adquiriu as terras vizinhas fomentando o ódio que duraria gerações:


"A primeira vez em que Chico Vacariano e Anacleto Campolargo se defrontaram nessa praça, os homens que por ali se encontravam tiveram a impressão de que os dois estancieiros iam bater-se num duelo mortal. Foi um momento de trepidante expectativa. Os dois homens estacaram de repente, frente a frente, olharam-se, mediram-se da cabeça aos pés, e foi ódio à primeira vista. Chegaram ambos a levar a mão à cintura, como para arrancar as adagas. Nesse exato momento o vigário surgiu à porta da igreja, exclamando: 'Não! Pelo amor de Deus! Não!'”

Anacleto Campolargo foi se fixando na vila, erguendo a sua casa, fazendo amigos e fundando o Partido Conservador.

Chico Vacariano, para demonstrar logo a sua oposição, fundou o Partido Liberal. E assim, de pequenas em pequenas disputas, foi se constituindo a péssima relação entre as duas famílias.

Deixando de lado o conflito entre as duas dinastias influentes, Antares de não pequena quase não se percebia no mapa. Apesar de lá terem sido encontrados encontrados ossos fósseis da época dos dinossauros (os ossos seriam de um gliptodonte), a cidade permaneceu no anonimato, sendo mais lembrada a sua vizinha, São Borja.



Segunda parte: O incidente

O incidente, que dá nome à segunda parte do livro, aconteceu sexta-feira, dia 13 de dezembro do ano de 1963 e colocou Antares no radar do Rio Grande do Sul e do Brasil. Embora a fama tenha sido passageira, foi graças ao incidente que todos ficaram conhecendo essa pequena cidade ao sul do país.

No dia 12 de dezembro de 1963, ao meio-dia, foi declarada uma greve geral em Antares. A greve abrangia todos os setores da sociedade: indústria, transportes, comércio, central elétrica, serviços.

A greve começou com os trabalhadores das fábricas, que saíram para o almoço e não retornaram para o trabalho.

Depois foi a vez dos funcionários dos bancos, dos restaurantes e até da companhia de energia elétrica abandonarem os respectivos postos. Os funcionários da empresa que fornecia a luz cortaram a luz da cidade inteira, só pouparam os cabos que forneciam energia aos dois hospitais da região.

Os coveiros e o zelador do cemitério também aderiram a greve de Antares, causando assim um enorme problema na região.

O cemitério havia sido igualmente interditado pelos grevistas, mais de quatrocentos operários que fizeram um cordão humano para impedir a entrada no local.



Durante a greve morreram sete cidadãos antarenses que, com o protesto, não puderam ser devidamente enterrados. Os defuntos eram:
Prof. Menandro (que suicidou-se cortando as veias dos pulsos);
D. Quitéria Campolargo (a matriarca da família Campolargo que morreu de enfarto do miocárdio);
Joãozinho Paz (político, faleceu no hospital, com embolia pulmonar);
Dr.Cícero Branco (advogado das duas famílias poderosas, foi vítima de um derrame cerebral fulminante);
Barcelona (sapateiro comunista, não se sabe a causa da morte);
Erotildes (uma prostituta que morreu tísica);
Pudim de Cachaça (o maior beberrão de Antares, foi assassinado pela própria mulher, a Natalina).



Erico Veríssimo, por meio da história do personagem João Paz e de sua esposa, expõe uma realidade, infelizmente, corriqueira ao longo da Ditadura Civil-Militar Brasileira (1964-1985): a tortura.

Entre os torturados, encontram-se opositores do regime, familiares de tais opositores e até mesmo diversos inocentes. 

O intuito da tortura era empregar a violência como forma de fazer adversários do governo revelarem os nomes de outros oponentes. No entanto, torturar pessoas é um método que, além de cruel, é ineficaz; pois o sofrimento da vítima é tamanho que ela comumente acaba fazendo qualquer coisa para pôr fim à dor - por exemplo, confessando crimes que não cometeu e dizendo nomes de "aliados" que,na realidade, não têm qualquer envolvimento com a oposição. É o que ocorre na narrativa.

"Em 1963, João foi preso pelo delegado de Antares, Inocêncio Pigarço, frente à acusação de chefiar o "grupo dos onze", um grupo de guerrilha de ideário comunista que, supostamente, estaria atuando às escondidas no município. Logo após essa prisão arbitrária, João foi submetido à tortura, para que revelasse quem seriam os demais guerrilheiros. Considerando que o prisioneiro era inocente, não disse nenhum nome, não havia guerrilha alguma. Assim, a tortura prosseguiu, intensificando-se para tentar fazê-lo falar. Isso culminou na morte de João."


"João foi encaminhado para o Hospital Salvator Mundi, onde o Dr. Lázaro forjou um atestado de morte no qual constava embolia pulmonar como causa mortis. Era também praticada, durante a ditadura militar, a divulgação de causas da morte falsas."

Impossibilitados de serem enterrados diante da greve, os sete caixões ficam à espera com os seus corpos dentro. Os mortos, então, se levantam e seguem em direção à cidade.

Como já estão mortos, os corpos podem entrar em todos os lugares e descobrir detalhes da condição em que morreram e da reação das pessoas com o recebimento da notícia do falecimento.

Os mortos se separam e cada um segue em direção à sua casa para reencontrar os parentes e amigos. Para não se perderem uns dos outros, eles marcam um encontro para o dia seguinte, ao meio dia, no coreto da praça.

Ao meio dia lá se encontram os sete mortos que, sob os olhares da população, começam a fazer denúncias contra alguns dos vivos sem temer qualquer tipo de represália. Afirma Barcelona:


"Sou um defunto legítimo e portanto estou livre da sociedade capitalista e dos seus lacaios."

O objetivo desses falecidos, ao, de certa forma, retornarem parcialmente à vida, era exigir um enterro digno.

Mais uma vez Érico Veríssimo faz menção à ditadura onde diversos opositores foram mortos e seus corpos desaparecidos sem terem direito a um enterro.


Incidente em Antares | Resumos de livros | Literatura | Educação

O político Joãozinho Paz, por exemplo, denuncia o enriquecimento ilícito dos poderosos da região e deixa transparecer a situação da sua morte (ele fora torturado pela polícia).

A prostituta Erotildes também aproveita a ocasião e aponta alguns dos seus clientes no meio da multidão. Barcelona, que era sapateiro e ouvia muitos dos casos na sua sapataria, também acusa os adúlteros da cidade.

Diante do caos provocado pelas denúncias, os grevistas resolvem atacar os mortos que estavam no coreto. Os defuntos, por fim, conseguem seguir para o cemitério e são enterrados como era suposto.



A história dos mortos-vivos ganha fama e Antares se enche de repórteres que querem escrever notícias sobre o assunto, mas nada consegue ser provado.

As autoridades locais, para acobertarem o caso, dizem que a história foi inventada para promover uma feira de agropecuária que aconteceria na região.


Incidente em Antares – Memória


Em 1994, a Rede Globo apresentou a minissérie Incidente em Antares, adaptada por Charles Peixoto e Nelson Nadotti, e baseada no romance de Érico Veríssimo. A minissérie teve a direção de José Roberto Sanseveriano e contou com os atores Regina Duarte, Fernanda Montenegro e Paulo Betti no elenco, entre outros.



Incidente em Antares – Memória

Incidente em Antares foi o último livro publicado por Érico Veríssimo, que faleceu em 28 de novembro de 1975.




Fontes:
culturagenial.com
canalcienciascriminais.com.br
passeiweb.com
wikipedia.org
google.com

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