Nesse conhecido quadro do pintor paraibano Pedro Américo, mostra uma visão romântica da Independência do Brasil, hoje completando 198 anos.
Na verdade a obra foi encomendada pela então província de São Paulo para enfeitar o Monumento do Ipiranga, hoje Museu Paulista ou Museu do Ipiranga.
Elementos que não correspondem ao momento retratado:
Cavalos: D. Pedro e seus acompanhantes não estavam montando cavalos; na época, em viagens longas, se utilizavam jumentos e mulas, mais resistentes.
Número de acompanhantes: a comitiva de D. Pedro era formada por poucos integrantes e não quarenta pessoas.
Trajes: D. Pedro I e sua comitiva não viajaram com uniformes de gala que, aliás, sequer existiam na época; eles foram criados depois da independência, assim como os “Dragões”.
Postura de D. Pedro: é improvável que o príncipe regente estivesse com uma aparência tão sadia e posição ereta uma vez que, naquele momento, estava sentindo fortes cólicas causadas pelo cansaço da longa viagem ou pelo jantar na noite anterior.
Casa do Grito: não existia na época; o casebre retratado no quadro foi construído por volta de 1884, portanto muito tempo depois da proclamação da independência aconteceu.
Pedro Américo sequer tinha nascido quando a independência, portanto, não foi testemunha do fato que só foi pintado décadas depois de ocorrido.
Como dito acima, a situação não foi tão romântica.
Segundo o escritor e jornalista Laurentino Gomes no seu livro 1822, D.Pedro.
D.Pedro e D.Leopoldina
“O destino cruzou o caminho de D. Pedro em situação de desconforto e nenhuma elegância. Ao se aproximar do riacho do Ipiranga, às 16h30 de 7 de setembro de 1822, o príncipe regente, futuro imperador do Brasil e rei de Portugal, estava com dor de barriga. A causa dos distúrbios intestinais é desconhecida”, escreveu Laurentino.
De acordo com o escritor, a teoria mais aceita é de que o monarca havia ingerido algum alimento ou água contaminada no dia anterior, enquanto ele e sua comitiva estavam em Santos.
“Testemunha dos acontecimentos, o coronel Manuel Marcondes de Oliveira Melo, subcomandante da guarda de honra e futuro barão de Pindamonhangaba, usou em suas memórias um eufemismo para descrever a situação do príncipe. Segundo ele, a intervalos regulares D. Pedro se via obrigado a apear do animal que o transportava para ‘prover-se’ no denso matagal que cobria as margens da estrada”, acrescentou.
Gomes também relatou quando o imperador fez uma parada em Cubatão devido aos problemas intestinais. “O príncipe refugiou-se na modesta estalagem situada à beira do porto fluvial da cidade. Maria do Couto, responsável pelo estabelecimento, preparou-lhe um chá de folha de goiabeira, remédio ancestral usado no Brasil contra diarreia”.
Não obstante, o chá fez com que duas dores sumissem temporariamente, o que lhe deu ânimo para continuar a viagem e, posteriormente, declarar a independência do Brasil.
Além disso, acredita-se a pintura do quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, não condiz com a verdade. De acordo com os historiadores, o imperador não estava montado em um cavalo, e sim em uma mula.
Quando o pintor acadêmico Pedro Américo recebeu a encomenda da família real, ele abusou de licença poética. Exceto pelo imperador brandindo sua espada e gritando, tudo no colossal Independência ou Morte é invenção do artista.
Mesmo a famosa frase "Independência ou Morte" é questionada pelo historiador.
No seu livro 1822 Laurentino Gomes escreve que após receber a mensagem de Paulo Bregaro, considerado hoje como patrono dos carteiros, D.Pedro tremendo de raiva arrancou a mensagem das mãos do padre Belchior.
Conta o padre Belchior (Belchior Pinheiro de Oliveira) confidente e um dos integrantes da comitiva de D.Pedro II:
"D. Pedro caminhou alguns passos acompanhado por mim, Cordeiro (Major Antonio Ramos Cordeiro), Bregaro, Carlota (João Carlota, empregado de D.Pedro) e outros em direção aos animais que se achavam à beira do caminho. De repente estancou já no meio da estrada dizendo-me:
Padre Belchior, eles o querem, eles terão a sua conta. As corte me perseguem, chamam-me com desprezo de rapazinho e brasileiro. Pois verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossa relações. Nada mais quero do governo português e proclamo o Brasil para sempre, separado de Portugal." (pag.36 - 1822).
Américo transformou uma cena trivial e provavelmente bem feia num épico de batalha - colocando um regimento inteiro vestido em uniformes de gala, prestes a combater, alguns até em posição de combate, com seus cavalos em movimento. Era certamente a forma como a monarquia brasileira, invicta nas guerras que havia travado até então, preferia ser representada.
Mas, como o quadro, era mais pompa e circunstância que realidade: no ano seguinte à conclusão da obra, o imperador seria deposto num golpe militar. O Museu da Independência (Museu Paulista), para o qual havia sido encomendado, só seria aberto em 1895, já durante a República.
Ainda que o quadro certamente não retrate a vida real, ele é verdadeiro de certa forma. O que dom Pedro fez, seja lá como se sentisse dos intestinos, foi realmente um gesto heroico: ao ouvir que a monarquia portuguesa o havia tirado do cargo de regente do Brasil, ele imediatamente declarou guerra.
A Independência do Brasil não resultou do descontentamento de dom Pedro com as exigências de Portugal, mas da combinação de interesses e pressões internas e inglesas.
E foi inédita no continente americano: ao contrário de todos os países de língua espanhola, a ruptura brasileira com a metrópole foi praticamente pacífica e manteve a estrutura política e social praticamente intacta.
A Independência do Brasil foi relativamente pacífica e sem grandes abalos. Ao contrário das guerras populares nos outros países americanos, aqui houve poucas reações de tropas portuguesas fiéis à coroa portuguesa.
O Brasil manteve a unidade territorial conquistada ainda no período colonial; a América espanhola fragmentou-se em várias nações.
No Brasil, não houve participação popular e também não se destacaram líderes, os chamados “libertadores” latino-americanos, como Simón Bolívar (Venezuela), José Artigas (Uruguai), San Martín (Argentina) e O’Higgins (Chile).
Para a maioria da população brasileira a Independência não trouxe grandes benefícios e sequer foi notada.
Ao proclamarem sua independência, as colônias espanholas da América optaram pelo regime republicano, seguindo o modelo norte-americano. O Brasil ficou com o regime monárquico, não porque fosse popular entre os brasileiros e nem pelo fascínio que a pompa e o luxo da corte exerciam nos colonos, mas sim por causa do processo político desencadeado pela instalação da corte portuguesa na colônia em 1808.
Fontes:
seuhistory.com
1822 - Gomes, Laurentino
D.Pedro, a história não contada - Rezzutti, Paulo
aventurasnahistoria.uol.com.br
ensinarhitoriajoelza.com.br
portalsaofrancisco.com.br
google.com
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