segunda-feira, 7 de setembro de 2020



“O grito do Ipiranga”, Pedro Américo


Nesse conhecido quadro do pintor paraibano Pedro Américo, mostra uma visão romântica da Independência do Brasil, hoje completando 198 anos.

Na verdade a obra foi encomendada pela então província de São Paulo para enfeitar o Monumento do Ipiranga, hoje Museu Paulista ou Museu do Ipiranga.

Museu do Ipiranga | VEJA SÃO PAULO



Elementos que não correspondem ao momento retratado:

Cavalos: D. Pedro e seus acompanhantes não estavam montando cavalos; na época, em viagens longas, se utilizavam jumentos e mulas, mais resistentes.

Número de acompanhantes: a comitiva de D. Pedro era formada por poucos integrantes e não quarenta pessoas. 

Trajes: D. Pedro I e sua comitiva não viajaram com uniformes de gala que, aliás, sequer existiam na época; eles foram criados depois da independência, assim como os “Dragões”. 

Postura de D. Pedro: é improvável que o príncipe regente estivesse com uma aparência tão sadia e posição ereta uma vez que, naquele momento, estava sentindo fortes cólicas causadas pelo cansaço da longa viagem ou pelo jantar na noite anterior.

Casa do Grito: não existia na época; o casebre retratado no quadro foi construído por volta de 1884, portanto muito tempo depois da proclamação da independência aconteceu

Pedro Américo sequer tinha nascido quando  a independência, portanto, não foi testemunha do fato que só foi pintado décadas depois de ocorrido.





Como dito acima, a  situação  não foi tão romântica.

Segundo o escritor e jornalista Laurentino Gomes no seu livro 1822, D.Pedro.


D.Pedro e D.Leopoldina


“O destino cruzou o caminho de D. Pedro em situação de desconforto e nenhuma elegância. Ao se aproximar do riacho do Ipiranga, às 16h30 de 7 de setembro de 1822, o príncipe regente, futuro imperador do Brasil e rei de Portugal, estava com dor de barriga. A causa dos distúrbios intestinais é desconhecida”, escreveu Laurentino.


Proclamação da Independência do Brasil

De acordo com o escritor, a teoria mais aceita é de que o monarca havia ingerido algum alimento ou água contaminada no dia anterior, enquanto ele e sua comitiva estavam em Santos. 

“Testemunha dos acontecimentos, o coronel Manuel Marcondes de Oliveira Melo, subcomandante da guarda de honra e futuro barão de Pindamonhangaba, usou em suas memórias um eufemismo para descrever a situação do príncipe. Segundo ele, a intervalos regulares D. Pedro se via obrigado a apear do animal que o transportava para ‘prover-se’ no denso matagal que cobria as margens da estrada”, acrescentou.

Gomes também relatou quando o imperador fez uma parada em Cubatão devido aos problemas intestinais. “O príncipe refugiou-se na modesta estalagem situada à beira do porto fluvial da cidade. Maria do Couto, responsável pelo estabelecimento, preparou-lhe um chá de folha de goiabeira, remédio ancestral usado no Brasil contra diarreia”.

Não obstante, o chá fez com que duas dores sumissem temporariamente, o que lhe deu ânimo para continuar a viagem e, posteriormente, declarar a independência do Brasil.

Além disso, acredita-se a pintura do quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, não condiz com a verdade. De acordo com os historiadores, o imperador não estava montado em um cavalo, e sim em uma mula.

Quando o pintor acadêmico Pedro Américo recebeu a encomenda da família real, ele abusou de licença poética. Exceto pelo imperador brandindo sua espada e gritando, tudo no colossal Independência ou Morte é invenção do artista.

5 CURIOSIDADES SOBRE A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL Brasil Cultura

Mesmo a famosa frase "Independência ou Morte" é questionada pelo historiador.

No seu livro 1822 Laurentino Gomes escreve que após receber a mensagem de Paulo Bregaro, considerado hoje como patrono dos carteiros, D.Pedro tremendo de raiva arrancou a mensagem das mãos do padre Belchior.
Conta o padre Belchior (Belchior Pinheiro de Oliveira) confidente e  um dos integrantes da comitiva de D.Pedro II:

"D. Pedro caminhou alguns passos acompanhado por mim, Cordeiro (Major Antonio Ramos Cordeiro), Bregaro, Carlota (João Carlota, empregado de D.Pedro) e outros em direção aos animais que se achavam à beira do caminho. De repente estancou já no meio da estrada dizendo-me:

Padre Belchior, eles o querem, eles terão a sua conta. As corte me perseguem, chamam-me com desprezo de rapazinho e brasileiro. Pois verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossa relações. Nada mais quero do governo português e proclamo o Brasil  para sempre, separado de Portugal." (pag.36 - 1822).


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Américo transformou uma cena trivial e provavelmente bem feia num épico de batalha - colocando um regimento inteiro vestido em uniformes de gala, prestes a combater, alguns até em posição de combate, com seus cavalos em movimento. Era certamente a forma como a monarquia brasileira, invicta nas guerras que havia travado até então, preferia ser representada.

Mas, como o quadro, era mais pompa e circunstância que realidade: no ano seguinte à conclusão da obra, o imperador seria deposto num golpe militar. O Museu da Independência (Museu Paulista), para o qual havia sido encomendado, só seria aberto em 1895, já durante a República.

Ainda que o quadro certamente não retrate a vida real, ele é verdadeiro de certa forma. O que dom Pedro fez, seja lá como se sentisse dos intestinos, foi realmente um gesto heroico: ao ouvir que a monarquia portuguesa o havia tirado do cargo de regente do Brasil, ele imediatamente declarou guerra. 




A Independência do Brasil não resultou do descontentamento de dom Pedro com as exigências de Portugal, mas da combinação de interesses e pressões internas e inglesas.

E foi inédita no continente americano: ao contrário de todos os países de língua espanhola, a ruptura brasileira com a metrópole foi praticamente pacífica e manteve a estrutura política e social praticamente intacta.

A Independência do Brasil foi relativamente pacífica e sem grandes abalos. Ao contrário das guerras populares nos outros países americanos, aqui houve poucas reações de tropas portuguesas fiéis à coroa portuguesa.

O Brasil manteve a unidade territorial conquistada ainda no período colonial; a América espanhola fragmentou-se em várias nações.

No Brasil, não houve participação popular e também não se destacaram líderes, os chamados “libertadores” latino-americanos, como Simón Bolívar (Venezuela), José Artigas (Uruguai), San Martín (Argentina) e O’Higgins (Chile).

Para a maioria da população brasileira a Independência não trouxe grandes benefícios e sequer foi notada.

Ao proclamarem sua independência, as colônias espanholas da América optaram pelo regime republicano, seguindo o modelo norte-americano. O Brasil ficou com o regime monárquico, não porque fosse popular entre os brasileiros e nem pelo fascínio que a pompa e o luxo da corte exerciam nos colonos, mas sim por causa do processo político desencadeado pela instalação da corte portuguesa na colônia em 1808.


Fontes:
seuhistory.com
1822 - Gomes, Laurentino
D.Pedro, a história não contada - Rezzutti, Paulo
aventurasnahistoria.uol.com.br
ensinarhitoriajoelza.com.br
portalsaofrancisco.com.br
google.com

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