domingo, 22 de julho de 2018

Olá, pessoal!


Hoje vamos falar do filme "O ovo da serpente" de 1977,  produzido por Dino de Laurentis  dirigido pelo sueco Ingmar Bergman.

No elenco temos: Liv Ullman, David Caradine, Heinz Bennent, Gert Frobe e Christian Berkel.



                                     o ovo da serpente (trailer)


Se utilizando de um personagem americano, artista e judeu, ele mostra o lento “envenenamento” que ocorria na Alemanha. Algo inicialmente inexplicável, mas que, aos poucos vai ganhando uma conotação mais clara.


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Fala-se de um Lênin (líder da Revolução Russa) judeu, que castiga impiedosamente seus adversários, mostra-se pequenos grupos (milícias) se sobrepondo à estrutura militar para castigar a alguns nas ruas sem qualquer razão, ou seja, vai deixando-se evidente um quadro de medo e caos que parece tomar conta, lentamente, de todos. Como deter este medo e caos? Isto parece estar na cabeça de todos.

Essa situação faz lembrar alguma coisa ?

“O governo mostra-se impotente. Um confronto entre os partidos parece ser inevitável. Apesar de tudo isso as pessoas vão trabalhar, a chuva nunca para e o medo cresce como o vapor que emana das pedras. Pode ser sentido como um cheiro penetrante. Todos o suportam, como um veneno, um veneno de efeito lento, que se percebe apenas no pulso acelerado ou como um espasmo de náusea”

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Dessa forma, como reação, começa-se a falar em nome do “povo alemão” e logo os judeus (e diversos outros grupos sociais e étnicos) são identificados como os causadores de todo o risco de degeneração, como causadores do medo e do caos (cujo contexto é o da violenta crise econômica vivida).

Para muitos, há uma convicção, algo inovador estaria acontecendo em Munique. Um salvador teria surgido e a libertação estaria acontecendo. São rápidas referências aos movimentos de Hitler e seu grupo. Mas, seu golpe inicial fracassa, o que não é vista com surpresa por alguns:

“O Sr. Hitler não tem capacidade intelectual nem método. Ele não percebe as forças tremendas que ele está a ponto de conjurar. Ele será varrido como uma folha murcha no dia em que a tempestade vier… olhe para todas essas pessoas. São incapazes de uma revolução. Elas estão humilhadas demais, assustadas demais, oprimidas demais. Porém, dentro de dez anos, então os que têm 10 anos terão 20, os que têm 15 terão 25. Ao ódio herdado dos pais, eles acrescentarão o próprio idealismo e impaciência. Alguém vai se apresentar e colocar seus sentimentos em palavras. Alguém vai prometer um futuro, alguém vai fazer exigências. Alguém vai falar de grandeza e sacrifício. Os jovens e inexperientes darão sua coragem e sua fé aos cansados e inseguros. E então, haverá uma revolução…essas pessoas vão criar uma nova sociedade…É como o ovo de uma serpente, através das finas membranas, voce pode discernir claramente o réptil que já é perfeito.

Esta é a fala de um médico que bem poderia um legítimo Josef Mengele.

Um dos recados de Bergman me parece bem claro: Hitler é uma figura política que expressou e sintetizou o pensamento de uma parcela considerável da sociedade alemã. Então, é na sociedade, de forma muitas vezes difusa e complexa, que se gesta um sentimento perverso e tirânico.


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Nesse contexto, nenhuma democracia é tão forte contra situações como esta. É preciso estar atento. Não podemos superestimar a capacidade de resistência da democracia. O homem não é simplesmente bondade, como muitos desejam ou apregoam. Os “monstros” não nos atacam de fora, mas surgem de dentro. Por vezes, com nossa intolerância, com nossos preconceitos, nós somos o réptil que está tentando romper a casca, apenas não nos reconhecemos.

Neste filme, o dualismo da natureza humana é esplendidamente exposto: não somos essencialmente “bons selvagens” corrompidos pelas instituições, nem somos exclusivamente “lobos” que, se deixados à solta nos devoramos. Nossa natureza é complexa o suficiente para que estas duas características convivam e se manifestem, de uma forma ou de outra, episodicamente.

Uma das grandes contribuições freudianas neste ponto é mostrar o quanto a Cultura, entendida especialmente, como a capacidade de “viver juntos” é decisiva para nós, humanos. É através do esforço de convivência que podemos “submeter” nossos desejos mais egoístas à necessidade de o outro também ser livre. É a partir daí que buscamos outras formas de realização e satisfação, menos egoístas.

Por isso, talvez, a democracia seja o ambiente propício, por excelência, para a proliferação da Cultura e da capacidade de convivência, pois ela nos ensina o debate e o respeito ao outro. E, na democracia, não há espaço para “líderes”. Estes, quase sempre autoritários, personalistas, populistas, “salvadores”, são o melhor fruto desse veneno que se espalha, por vezes, nas sociedades, criando medos e ampliando o caos.


Por que será que a primeira medida de governos fascistas e reacionários é eliminar a Cultura, ou relega-la a um plano inferior ?

No Brasil, pós golpe, o Ministério da Cultura foi extinto e críticas severas contra Leis de incetivos foram destaque nas redes sociais e na mídia.


Fazer da democracia um valor universal é mais do que uma obrigação, é a única possibilidade de ampliarmos nossa capacidade de convivência e realmente fazermos jus àquilo que chamamos de razão. Fora disto, o que há além de rastejar, e dar botes, como répteis?

Para nós, hoje, é relativamente simples, “discernir, através das finas membranas, o réptil”, mas este é o grande problema, pois quando imersos em uma situação mais complexa de crise, torna-se muito difícil distinguir o “réptil” da “esperança”. Isso explica porque sempre detestei os usos do “medo” e da “esperança” na política, afinal, são irmãos gêmeos, se confundem, obscurecem nossa razão… e podem nos envenenar lentamente.

Como sempre, Bergman nos faz pensar.

O que se passa hoje no Brasil e no mundo. Vamos ao caso no Brasil: propaganda contra políticas sociais e de esquerda, enaltação de políticas econômicas que privilegiam o sistema financeiro e o chamado "mercado" em detrimento do sacrifício da maioria da população. Apresentação do neoliberalismo como única política capaz de efetuar profundas mudanças e crescimento sustentável. Negação da política e dos políticos, violência, desunião, divisão do país entre grupos de pessoas e intolerância.

E principalmente falta de informação ou informações manipuladas por grupos de comunicação hegemônicos ligados à elite do país.


Imagem relacionada

Estão criando "o ovo da serpente".


"...and therefore think him as a serpent's egg Which hatch'd, would, as his kind grow mischievous; And kill him in the shell."  (Shakesapeare - peça Julius Caesar - ato 2 cena 1)

"E, portanto, pensar nele como um ovo de serpente, que incubado, deverá, em sua espécie crescer travesso; E matá-lo na casca"



Deixo o link do filme completo no youtube (legendado)

https://www.youtube.com/watch?v=M0WqyFnNsiE

Bom divertimento!



Fontes:
youtube.com.br
google.com.br
estudosqualitativos.wordpress.com/filmes


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