Olá, pessoal !
Hoje vamos falar de um dos ícones do Modernismo Oswald de Andrade e seu grande romance "Memórias Sentimentais de João Miramar"
Memórias Sentimentais de João Miramar é o primeiro grande
romance da prosa modernista brasileira. Redigido entre 1916 e 1923, foi
publicado em 1924. Composto de 163 episódios numerados, tem por
personagem principal João Miramar. A montagem fragmentária do
romance impossibilita uma leitura tradicional e linear da história. O
“enredo” se inicia na infância do herói, sugerida pela linguagem
propositadamente infantil dos primeiros capítulos. Ainda adolescente, e
com grande inclinação para a boemia, Miramar faz sua primeira viagem
à Europa, a bordo do navio Marta. O romance assumi, a partir daqui, a
forma de um verdadeiro diário de viagem, que acentua o cosmopolitismo
dos pontos turísticos da Europa. De volta ao Brasil, por causa do
falecimento de sua mãe, João Miramar casa-se com Célia, sua prima,
mantendo, ao mesmo tempo, um romance com a atriz Mlle. Rolah, o que
vai provocar seu posterior desquite. No final do romance, o herói fica
viúvo, é abandonado pela amante e vai à falência, devida à má
aplicação de fundos na indústria cinematográfica. Nos últimos
fragmentos, notamos o amadurecimento de João Miramar que,
retrospectivamente, redige as Memórias que o leitor está lendo.
Uma série de inventivos traços de estilo combinada a um agudo
senso crítico da sociedade da época fazem deste texto uma grande obra
da vanguarda. Nas palavras de Machado Penumbra, personagem
encarregada de prefaciar o romance: “Esperamos com calma os frutos
dessa nova revolução que nos apresenta pela primeira vez o estilo
telegráfico e a metáfora lancinante”. De fato, o estilo fragmentário e
sintético do texto é revolucionário na nossa prosa, assim como seu
caráter cinematográfico. Os episódios assemelham-se mais a
sequências de um filme do que a capítulos de romance. Há uma ênfase
muito grande no elemento visual e muitas das descrições adotam uma
linha geométrica e sintética, bastante próxima dos princípios cubistas,
que visa a apresentar fragmentos justapostos da realidade, numa
tentativa de captá-la na sua totalidade.
63. IDIOTISMOS
" Um crayon de um arquiteto de Paris que tínhamos visto
antes do casamento dera-nos a inveja desesperada de uma calma
existência a dois, com pijama e abat-jours, sob a guarda dos antigos
deuses do home.
Iríamos em tournée à Europa. E pela tarde lilás de Bois, ela
guiaria a nossa Packard 120 H.P. Sairíamos nas férias pelos
caminhos sem mata-burros nem mamangavas nem taturanas e
faríamos caridade e ouviríamos a missa dos bons curas nas
catedrais da Média Idade. E prosseguiríamos por hotéis e hotéis,
olhos nos olhos etc.
No rentrée, falar-nos-ia à noite a voz telepática da radiola do
foyer. Ou penetraríamos nos dancings a fim de fox-trotar com
sanfona e champagne. "
Reparem nesse trecho com o escrachado título, uma mostra da viagem de "lua de mel" de João Miramar e Célia, por Paris.
O jeito caipira e burguês e o deslumbramento típico do turista pelas novidades e o linguajar repleto de neologismos e palavras estrangeiras.
Infelizmente, isso tornou-se um traço de nossa cultura de submissão. Mesmos nos dias de hoje vemos a utilização de palavras e termos estrangeiros que associamos naturalmente ao nosso vocabulário.
47. SOHO SQUARE
"Picadilly fazia fluxo e refluxo de chapéus altos e corredores
levando ingleses duros para a música e talheres de portas móveis e
portas imóveis.
Elevadores klaxons cabs tubes caíam de avião na
plataforma preta de Trafalgar15
Mas nosso quarteirão agora grupava nas calçadas
casquettes heterogêneas penetrando sem nariz no whisky dos bars.
Bicicleta levantavam coxas velhas de girls para napolitanos
vindos da Austrália. E Isadora Duncan helenizava operetas no
Hipódromo."
Notem no texto acima a eliminação de qualquer nexo sintático, e a falta de pontuação, como num enumerar de diversos acontecimentos que Miramar presenciou em Trafalga Square (praça em Londres). Isso era uma das características do Modernismo de Oswald de Andrade.
48. CHUVA DE PEDRA
Estiadas amáveis iluminavam instantes de céus sobre ruas
molhadas de pipilos nos arbustos dos squares. Mas a abóbada de
garoa desabava os quarteirões.
E um dia o dinheiro chegou demais dentro dum telegrama
com resposta paga de minha rápida volta.
Nesse trecho termina uma fase da vida de João Miramar, uma fase mais boêmia e de rapaz rico sem responsabilidades, e inicia-se outra, onde ele volta para o Brasil para assumir suas responsabilidades de chefe de família depois da morte de sua mãe.
No final, João Miramar, termina com as finanças arruinadas, e abandonado pela mulher e pela amante.
De certa forma um retrato do autor, que também perdeu a fortuna com a crise de 1929, e teve diversos casamentos desfeitos, assim como algumas sólidas amizades como a dele com o escritor Mário de Andrade.
Oswald e Pagú
Oswald e Tarsila
Memórias Sentimentais de João Miramar, publicado em 1924, é tão importante para a literatura brasileira quanto Macunaíma, de Mário de Andrade, publicado alguns anos depois. Nos dois casos, nota-se o esforço de renovação da ficção brasileira, tanto na abordagem do assunto quanto em sua expressão verbal. Obra de leitura exigente, Memórias Sentimentais representa um dos pontos altos do radicalismo oswaldiano.
Mário e Oswald de Andrade
Fontes:
educacao.globo.com
sosestudante.com
repositorio.geracaoweb.com.br
google.com.br
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