segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

 Vamos falar hoje do romance Ingleses de Gilberto Freyre.


Gilberto de Mello Freyre (Recife 15 de março de 1900 - Recife 18 de julho de 1987) foi um dos maiores intelectuais brasileiros.


Gilberto Freyre



Conhecido por sua obra "Casa Grande e Senzala", onde relata, de certa forma, uma explicação para miscigenação no Brasil, e criticada por vários sociólogos por criar o mito do poderoso senhor de engenho e do submisso negro escravizado, criando a miscigenação pacífica; o que ao contrário, criou uma desigualdade social muito grande, existente até os dias atuais. Ele também é conhecido por um enorme interesse e admiração da Inglaterra e seu povo, retratado na sua obra "Ingleses" de 1942.







A minha edição é a da Editora José Olympio de 1942 e tem o prefácio de José Lins do Rego.


Na página 21 de Ingleses ele escreve:

"Aos meus olhos, talvez turvados por amor físico e ao mesmo tempo místico à Inglaterra que resiste ao horror quase químico à companhia do inglês médio com todas as suas virtudes, a terra dos anglos me parece continuar, quase como nos velhos dias de Gregório, uma terra habitada também por anjos; ou, pelo menos, visitada por anjos e iluminada pela sua presença."


Em Ingleses de 1942 e Ingleses no Brasil de 1948, o autor demostra essa admiração ao povo anglo-saxão.






Muito na Inglaterra seduzia Freyre: a língua, a história, o comportamento do inglês, seu humor, sua fleuma e sua excentricidade são só uma pequena amostra do objeto de seus amores. 



A língua, por exemplo, o atraía pela sua simplicidade. "Sua gramática", diz Freyre no seu vívido estilo tão peculiar, "é quase um peixe sem espinhas para a boca dos meninos das quatro partes do mundo. Entretanto em inglês é que escreveram obras profundas, densa e complexas, poetas como Milton e Robert Browning, romancistas como Meridith e Joyce."  (1942a, p. 22).



Ao que tudo indica, essa admiração pela Inglaterra se dá muito cedo. Na verdade, a levar em conta depoimentos de seu pai, o juiz de direito, professor e diretor da Escola Normal de Recife, Alfredo Freyre, Gilberto nasceu numa família cujo patriarca já estava tomado de amores pela Inglaterra imperial. Filho da aristocracia rural de Pernambuco, Alfredo cultuava sua estirpe pernambucana de origem espanhola (foi ele que, cioso de suas origens, trocou o i pelo y do nome Freyre) e as tradições de sua região, na qual a presença inglesa tanto se fizera sentir, "londonizando a nossa terra", como dizia expressão local (citado em Veiga, 1980-1984, 4, p. 332). Seu aspecto físico avermelhado, nórdico como os seus antepassados Wanderley, já o fazia ser tomado por um inglês ou alemão, engano que, em absoluto, o desgostava. Quando jovem, não dispensava o uso do fraque, chapéu côco e bengala, como era de praxe na época para os de sua classe, o que seguramente completava seu tipo de gentleman inglês (A. Freyre, 1970, p. 142-143; Freyre, 1975, p. 180). Filho de pai e mãe severos e moderados no comportamento, ao estilo britânico, era, como eles, calado, discreto e, como Gilberto dizia, com "um seco de inglês" (A. Freyre, 1970, p. 93; Freyre, 1975, p. 5, 7). Dos pais Alfredo teria herdado uma "gravidade britanicamente apolínea" que contrastava com a sentimentalidade que guardava no íntimo, "como um inglês" (A. Freyre, 1970, p. 44, 31). Ele era um "romântico, embora encoberto, à inglesa", dizia o filho Gilberto (cf. A. Freyre, 1970, p. 235). Admirador da monarquia britânica e inimigo das oligarquias, seu "liberalismo à inglesa" não via incompatibilidade entre os sistemas monárquico e democrático (cf. A. Freyre, 1970, p. 52). Latinista com especial admiração pela cultura anglo-saxônica e predileção pelos autores ingleses, lembrava-se Alfredo com carinho dos dois livros que ganhara do pai quando ainda com 8 anos: Os Lusíadas e uma tradução para o português, ricamente ilustrada, do clássico inglês de Milton, Paraíso perdido (cf. A. Freyre, 1970, p. 69-70).




Império Britânico - 35 milhões de quilômetros quadrados, 1583 a 1997

Nunca houve um domínio maior que este, que começou sua expansão no século 16, com a conquista da Irlanda. Nos séculos 18 e 19, os britânicos se consolidaram como grande império. Dominaram parte da África e países como Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Índia, para onde levaram sua política, idioma e cultura. Em 1920, alcançou a ocupação de 23,84% do mundo.

Devia a seus muitos amigos britânicos, todos educadores em Recife, o aprofundamento de sua anglofilia. Com um deles em especial, Mr. Williams, "mestre anglicano e inglês muito inglês", Alfredo tinha uma dívida impagável que só podia reverter num extremo entusiasmo pela civilização britânica (cf. A. Freyre, 1970, p. 115). A hostilidade de seu filho Gilberto, já próximo de 8 anos, à leitura e à escrita era tanta, conta Alfredo, que a avó materna falecera quase certa que seu neto "era nada mais, nada menos, do que o que hoje se chama 'retardado mental'". Pois bem, pela "ação como que mágica, mas na verdade inteligente, psicológica e muito inglesa" de Mr. Williams, Gilberto começou a ler, escrever e contar! (cf. A. Freyre, 1970, p. 112). Não é a toa que esse mestre anglicano tenha sido qualificado de "figura angélica", pelo pai aliviado! (cf. A. Freyre, 1970, p. 155).


Gilberto Freyre e José Lins do Rêgo





É ela que seus escritores põem, modestamente e sem alarde, a serviço de pensamentos densos e profundos. Sua história também nos "espanta", pelo espetáculo das "revoluções brancas" que oferece ao mundo. "Depois da História Sagrada", lembra Freyre, "é a dos ingleses que mais nos surpreende com milagres" (1942a, p. 24). O humor britânico, o sense of humour tão reconhecidamente inglês, é igualmente um traço louvável. É ele que tem o poder de contrabalançar, de corrigir mesmo, o pedantismo, a arrogância e o etnocentrismo desse povo que sabe, mais do que nenhum, segundo Freyre, rir de si mesmo (cf. 1942a, p. 25-26).



Fontes:
wikipedia.org
google.com
scielo.br
recantodasletras.com.br
Ingleses,  Freyre, Gilberto 1942











Um comentário:

  1. Desde muito cedo o complexo de inferioridade do brasileiro destaca a sabujice peculiar em muitos de nossos patrícios. Antes da França, depois Inglaterra e agora nos Estados Unidos da América.

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